Curitiba, 15 de setembro de 1991.
“ENTRE LAMBREQUINS E BOTEQUINS,
A ALMA DA MINHA VELHA CURITIBA”.
Passeio pela XV e vejo uma Curitiba que não é mais a mesma. Aquela, de Sincas, carroças e bondes, não existe mais.
Não vejo aqueles senhores, sempre tão distintos, de chapéus, e guarda-chuvas, lendo os seus vespertinos – ah, os vespertinos – enquanto um moleque engraxa, ávido, seus sapatos.
Não vejo as senhoras, ainda tímidas e recatadas, passeando aos pares em frente às confeitarias ou a piazada fazendo troça, soltando raia e rindo pelos cantos.
Olho em volta, e vejo pessoas correndo, olhando o vazio, indo sempre a lugar nenhum.
Expressos se cruzam, jovens conversam aos montes, rebeldes, espalhados por sobre os bancos da velha rua. Buzinas no ar, filas de banco, acrílicos, TV. Tudo muda, Curitiba mudou. E soube como poucas, enfrentar os desafios de uma super população, da miséria e falta de emprego. Uma novidade em cima da outra. Táxis laranjas, ônibus amarelos, consciência verde. Curitiba ganhou mais cor, é verdade.
Mas eu sinto falta dos botequins e cafés. De jogar conversa fora. Falar do amor perdido e do outro que já está começando. Das discussões acaloradas, das amizades sinceras.
Sinto falta dos sorrisos nos lábios, da vontade de vencer sempre, dos sonhos de Abdus, Joaquins, Genaros e Davis, sinto falta dos lambrequins.
Os lambrequins, é claro, resistem, heroicos, nos confins dos bairros mais distantes. Estão lá, simbólicos e fortes como os colonos mais antigos. Simbolizando um tempo que já passou. E uma esperança que precisa voltou. A da minha velha e querida Curitiba.
DECO FARRACHA (in memorian)
Advogado
Presidente do Graciosa Country Club