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Calixto Haquim

“O nosso namoro ficou mais firme”, diz Calixto Haquim

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Calixto Haquim

Curitiba, 28 de julho de 1991.

  

QUERIDA CURITIBA.

SAUDAÇÕES

 

Faz tanto tempo que não te escrevo que provavelmente já não te lembras de quando nos conhecemos, março de 1951, no Internato Paranaense, dos Irmãos Maristas, à rua Bispo Dom José.

Eu, com 11 anos, procedente de Joaquim Távora, norte pioneiro e tu já grande,  bonita, cobiçada em bem mais tranquila que hoje.

O nosso namoro demorou um pouco a começar não tanto pela minha timidez quanto pelos teus ardorosos admiradores,filhos da terra, que podiam ser simpáticos em alguns assuntos, porém,nunca em se tratando de dividi-la com forasteiros.

A tua atração, no entanto, me dominava e aos poucos fui me aventurando pelo teu corpo e conhecendo as tuas intimidades. Quem sabe se ao relembrar alguns detalhes possamos vivê-los juntos hoje,  novamente, com mais amor e menos paixão.

O trajeto até o centro podia ser feito a pé, de bonde ou lotação, dependendo do que se tinha para gastar naquele domingo.

O bonde, com seu “plim plim” característico, era sempre um bom programa a ser atrapalhado somente pelo cobrador que, chocalhando as moedas, insistia demais na sua função não nos dando nenhuma chance.

Uma corrida rápida pela Voluntários da Pátria, Avenida João Pessoa e Praça Zacarias já nos fornecia os filmes, seriados e desenhos animados em cartaz nos principais cinemas  (Avenida, Ópera, Odeon, Luz, Ritz e Curitiba).

Escolhido o programa da tarde era a vez de ir jantar, as manhãs comendo pipocas e admirando os fascinantes animais do Passeio Público. No caminho era impossível não saborear os mini-pastéis do “Ton Jon”, na Dr. Murici em frente a Farmácia Colombo.

O nosso namoro ficou mais firme durante os tempos de adolescentes no Colégio Estadual do Paraná, de 55 a 58, com um ensino eficiente, disciplinado e um corpo docente de elevado padrão.

Consegui conquistá-la finalmente, nos tempos de universitário, Faculdade Federal, com as tardes dançantes da Thalia, Círculo Militar, Danc, CÉU, etc.

Tu eras jovem, alegre, cidade “sorriso”, com os rapazes perfilados pela João Pessoa e Rua XV até a Barão, sempre do lado esquerdo, fazendo pose de artista para as moças que, em interessante “footing”, afluíam em maior número no final da manhã  da tarde após o término das aulas.

A noite o desfile continuava, agora de automóvel, indo pela XV e voltando pela Deodoro com a família toda.  O pai a mostrar o “carrão”, bem polido, faixa branca impecável e a mãe ao lado, toda orgulhosa, a orientar discretamente as charmosas filhas acomodadas no banco traseiro e especialmente arrumadas para a ocasião.

E a boa vida de estudante não parava aí, havia ainda o chopp no Bar Cometa com a famosa empadinha, o camarão abraçadinho do Bar do Arthur na José Loureiro, a pizza e o bom papo da Guairacá  etc…acumulando energia para o turno da boemia.

Naquele tempo Tu eras mais pacata permitindo que a percorrêssemos à pé, sem medo, a qualquer hora.  Hoje, estranhos alienígenas nos amedrontam e nos tolhem os movimentos.  Em cada sinaleiro uma contribuição, uma agulha, uma fruta além de um exército de guardadores de carro.

Nem por isso te amo menos do que quando te desposei ao concluir o curso de Medicina e, juntos, juramos para sempre fidelidade e harmonia na alegria e na tristeza.

 

Beijos…

 

  

CALIXTO HAQUIM

Vice-Presidente da Cruz Vermelha Brasileira – PR

Responsável pelo Serviço de Oncologia do Hospital N.S. das Graças

Membro da Academia Paranaense de Medicina

 

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