Curitiba, 4 de agosto de 1991.
CURITIBA
À cidade nunca faltaram vocações poéticas, melhor ou piormente resolvidas, que lhe fossem buscar símiles femininos, porém tenho para mim que, se Curitiba for mulher, não será a moçoila dos bailes da Engenharia doutros tempos ou a menina que vi bebendo Coca-Cola na lanchonete do Batel, e sim alguma senhora zelosa de seu jardim e de sua horta.
Uma senhora que, com ser caseira e prosaica, é cosmopolita um pouco italiana, um tanto alemã, ou polonesa e mais um quê de muitas etnias, tudo sem arredar o pé de seu quintal, por quê o faria, se o solo é bom para plantar árvores, repolhos, família?
Curitiba ainda conserva essa coisa doméstica cujo projeto prevê churrasqueiras de domingo, amigos de truco, chinelos-de-dedo, o jornal tombado ao lado da espreguiçadeira.
Os de fora dizem que somos pouco sociáveis, mas o que somos mesmo é comedidos, e por certo acreditamos em coisas como trabalhar, criar filhos e ter amigos sem que precisemos ficar nos exibindo no meio da via rápida.
Curitiba é passarinho na gaiola, café na Boca, o “marchand”do Triângulo, festa polaca no Bosque do Papa, novena do Perpétuo Socorro, toalhinha de renda, pinguim em cima da geladeira. São os ipês da Praça Tiradentes, as quatro estações num dia (para o desespero do japonês da meteorologia), o “não saia sem agasalho”, “será que chove?”,
“que tempo, heim?”.
Curitiba é, melhor do que falar dela, viver Curitiba do jeito caseiro, sem muito compromisso que não o de estar vivo deixando a vida correr sem grandes filosofias ou grandes festas.
A senhora que cuida do jardim e da pequena horta vai bem, obrigado.
O jardim e a horta também.
JOSÉ LUIZ ALMEIDA TIZZOT
Empresário e Hoteleiro