Curitiba, 21 de julho de 1991.
Como escrever uma carta de amor à Curitiba? Já é tão difícil tratar sobre amor, que dizer falar do amor à cidade que nasci, na velha Maternidade São Francisco, na rua de mesmo nome nem tão antiga e tradicional como hoje naquele primeiro de abril – pleno dia da mentira – há trinta e quatro anos passados.
Curitiba que na minha infância era toda calma, pureza, tranqüilidade, amizade, encanto!
A cidade grande com jeito vila do interior. Trânsito tranqüilo na Rua XV das tardes frias (como gosto de nosso inverno, é a melhor das estações em Curitiba), tomar chá no Schaffer, comer sanduíche no Cometa, os cinemas, as gincanas (a turma do Los Angeles integrava o “Lês Paxa”) que agitavam a cidade.
O Colégio Santa Maria (lá estudei 15 anos), onde o trânsito ficava engarrafado na hora da saída das aulas. Jogos de futebol, torcidas do Coxa e do Atlético, rivalidade imperando entre amigos. Bandeiras coloridas, ondeando o ar. Sou atleticano por falar nisto.
Curitiba menina que de repente cresceu e se transformou em mulher. Deixou de lado sua modéstia e passou a ser mencionada e comparada com outras metrópoles como São Francisco, Roma, Londres e Estocolmo, grandes centros que também aprendi a amar.
Modelo para outras cidades, clima invejado, povo exigente, cultura a expandir-se, pessoas bonitas, ipês florindo, alamedas sombreadas por árvores seculares, céu azul de brigadeiro, noites frias e estreladas manhãs confeitadas pelo espetáculo da geada sobre os telhados, flores que vão colorindo todos os caminhos, garoa de inverno sobre o transeunte apressado.
Cheiro gostoso do cafezinho da Boca Maldita, olhando para o Palácio Avenida.
Amar Curitiba é tão fácil, basta apreciar em nossa volta para sentir que entre a menina dos anos sessenta e a mulher de hoje, existe um elo que as fez serem uma só. É o sentimento de paz, de beleza, de vontade de lutar para ser a melhor. Não a melhor pela competição, mas a mulher é melhor em tudo aquilo que possa oferecer ao seu povo: saúde, paz, cordialidade, entendimento, espaço, beleza, conforto e amizade.
Amo você, Curitiba, porque aqui o pinheiro enfeita o azul, as crianças ainda brincam nas praças, os velhos sentam ao sol para relembrar o passado, os jovens lutam em busca de um mundo melhor, a flor enfeita a rua. E na composição deste belo quadro no qual cada um deixa sua marca, está bem visível o amor dos curitibanos pela sua cidade.
ALCYR RAMALHO FILHO (in memorian)
Jornalista
Diretor Presidente da “A Folha da Imprensa”