SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO
Regina é objetiva, falante e se expressa com clareza. Não poderia ser diferente uma vez que ela domina em sala de aula às vezes mais de duzentos alunos pré-vestibulandos. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná, ela está há dois anos como responsável por uma das áreas de Biologia no Terceiro Milênio. Uma das primeiras mulheres a ocupar esse cargo, acompanhando perfeitamente o ritmo acelerado dos cursinhos. Fascinada pela sua profissão, o seu dia é voltado ao trabalho onde conquistou o respeito e a admiração dos que a conhecem de perto.
REGINA – sou agitada, preocupada com a questão social. Sou muito cristã, respeito as pessoas. Não tolero qualquer forma de preconceito. Consigo harmonizar bem as minhas atividades. Continuo de olho na casa. Atendo o meu marido e sou bem participativa na administração do lar. É só organizar bem e saber delegar poderes.
O PRECONCEITO AINDA EXISTE. Verifiquei o assunto constatando que até hoje muitos cursinhos contam com mulheres, mas somente como assistentes. Talvez por pensarem que o chamado sexo frágil não tenha pique para resistir a aulas pela manhã, tarde e noite para grande número de alunos.
QUANDO FOI MONTADO O TERCEIRO MILÊNIO me chamaram para dar aulas. Comecei no ano passado, quando um dos professores se aposentou e eu entrei em seu lugar. Muita gente se admirou por eu entrar perante tanta concorrência. Os companheiros me receberam muito bem, sendo eu a única mulher. Tratam-me de igual para igual, descontraídos como deve ser.
SINTO-ME MUITO BEM, porque este era o meu objetivo. Os alunos já estão saindo da adolescência e a responsabilidade do vestibular é maior e o interesse é grande.
O PROFESSOR tem que fazer o aluno se interessar pela aula. Claro que as brincadeiras surgem para amenizar a responsabilidade de horas e horas de atenção.
A IDEIA DO PRÉ VESTIBULAR está mudando atualmente porque o vestibular já mudou, já não é mais só decorar. Até os próprios professores das universidades estão entendendo este fato.
SE A AULA FOR BOA, tanto faz falar para 50 ou para 90 alunos.
PARA SE CHEGAR LÁ temos que ter competência, saber muito, porque o aluno exige, quer saber além do que vem.
TODOS OS ANOS OS ALUNOS MUDAM, eu mudo também, mas me sinto eternamente jovem.
TENHO AULAS TODOS OS DIAS, quando não tenho, há a revisão e também os Festivais de Biologia, uma coisa a mais e depois os simulados, as gravações de aulas para os alunos terem em casa. Televisão, matérias para o Jornal, rádio etc. Depois o Centro de Convenções com 2000 alunos e fora disso há muita festa e comemorações para arejar a cabeça.
UMA DAS PREOCUPAÇÕES era a possibilidade de rejeição da parte dos alunos por eu ser mulher, mas eles sentiram que a aula é a mesma. Temos uma enquete e é feito um levantamento para ver como está o desempenho e a aceitação do professor. Nenhum comentário negativo foi feito em relação a minha pessoa.
SEGURAR A DISCIPLINA NÃO É PROBLEMA. Os jovens só perceberam que não havia mulher no cursinho quando eu entrei, o que prova que o preconceito não era da clientela em si, mas da própria sociedade.
DE NOVEMBRO A FEVEREIRO não sei de nada porque o pique do vestibular é terrível. Em novembro começa a revisão do superintensivo, dezembro tem o vestibular da Federal com revisão de véspera, intervalo de Natal, depois a Católica. Esperamos o resultado, depois o trote e descansamos. Em fevereiro e em março começam as aulas.
NO BRASIL O QUE AINDA FUNCIONA para que o aluno entre na faculdade é o vestibular. As novas propostas de sua reformulação projetam-se para médio e longo prazo. A qualidade do estudo teria que existir desde cedo na escola. Se as escolas e a base não forem boas, o aluno não alcançará aquela média necessária para entrar numa Faculdade.
VENCI OBSTÁCULOS no tocante a minha independência e credibilidade. Tenho a minha profissão e um ideal e me sinto vitoriosa por ser reconhecida pelo que faço.
GRATIDÃO tenho em relação as pessoas que me ajudaram e que acreditaram em minha eficiência me dando essa oportunidade. Considero-me hoje uma pessoa de sucesso.
ME DOU BEM COM OS JOVENS porque sou direta e explico o porquê das coisas. Vejo que eles também são objetivos e descomplicados. Só quero saber do que pode dar certo.