CARMEN FREGONESE
Ela chegou ao Brasil no final de 1953 com seu marido Rino.
Vieram da Itália depois da guerra, triste por deixar a sua família, mas alegre por conhecer um novo país.
Gostaram de Curitiba e em pouco tempo tinham amigos.
Começou a costurar para si mesma e rapidamente já contava com grande número de pedidos. São 25 anos de dedicação e alta costura e um atelier que recebe diariamente grande clientela que valoriza o seu trabalho.
CARMEN – Sou leonina e criei fama de brava porque digo na frente o que tenho a dizer. Pela maneira certa, sou a melhor amiga que alguém possa ter, pois quando gosto, tento entender e compreender a pessoa nos mínimos detalhes. Considero-me uma pessoa verdadeira, emotiva e sensível. Adoro a casa e se não me dedicasse a costura certamente seria decoradora. Leio muito e acompanho o que acontece no mundo. Tenho um filho, o Mauro e três netas, a Silvia que mora na Itália, a Mikaela e a Patricía . Considero-me uma super nona, adoro as três. Preciso ter raízes e sou preocupada com tudo e, principalmente com as pessoas que amo.
LEMBRANÇAS- Eu e Rino nos casamos na Itália em julho, e em dezembro viemos morar no Brasil. A família dele veio também. Quando a gente é jovem e curiosa, sempre fascinada por história e geografia, achamos tudo uma aventura. Fiquei triste por deixar a minha família da qual tive todo o incentivo, mas feliz por conhecer um novo país. Gostamos de Curitiba por ser uma cidade tipicamente europeia e me chamou a atenção o otimismo das pessoas. O brasileiro é sempre alegre.
MORÁVAMOS-Atrás do Jardim Botânico em uma chácara e me recordo que sempre havia festa em casa nos finais de semana. Nos reuníamos com os italianos que aqui moravam e nos divertíamos em família, com os brasileiros que acabávamos de conhecer.
DOM -Venho de uma família onde todas costuravam, menos a minha irmã. A minha mãe já fazia as nossas roupas, assim como a minha tia.
CRIAÇÃO – Ao ver um tecido já estou criando o modelo, o meu trabalhar veio com os tempos difíceis que atravessamos por necessidade, a princípio, mas assim descobri o meu maior divertimento.
MUDANÇA – Por dificuldades financeiras tivemos que nos mudar para um pequeno apartamento e na mesma semana abri a minha máquina na área de serviço. Como sentia falta do jardim, mandei pintar de verde a área imitando grama e avisei a todos que estava costurando e minha empregada me ajudava com o trabalho manual. Eu embarcava para São Paulo, ia nas fábricas e trazia duas malas de tecidos. Chegava, fazia os desenhos e chamava as clientes. Depois peguei uma costureira. e depois outra, e jamais parei. Faz 25 anos.
CLIENTELA Nunca pedi para ninguém me mandar clientes, elas sempre vieram através de amigas ou parentes que já haviam costurado comigo.
SIMPLICIDADE -Hoje podemos ver quem realmente sabe costurar. Você tem que mostrar trabalho, porque os vestidos são simples na aparência mais difíceis de montar. O corte tem que ser perfeito e charmoso.
MODERAÇÃO- Agora pedem menos bordado, com exceção das noivas e debutantes. Sempre uso o bordado com moderação, apenas detalhes delicados, A minha costura tem classe, não muitos detalhes.
INSPIRAÇÃO- É o meu instinto. Todos os anos vou à Itália onde assisto desfiles de alta moda. Não digo que não aprecio a moda francesa, mas o meu gosto pessoal tende mais para a moda italiana.
EQUIPE- Em meu atelier conto com quatro costureiras, um bordador e um rapaz que corta e toca bastante esta parte do trabalho. Valorizo os profissionais que trabalham comigo pelas suas qualidades. Faço parceria, gosto que progridam e fico feliz que tenham boas condições de vida .. A vida é urna troca. Você faz, eu reconheço e você cresce.
QUEM FAZ A MODA – São tendências que passam rapidamente, Nunca esteve tão ligeira, às vezes nem sabemos o que é moda. Por um lado, isso é bom, pela praticidade. Por outro lado, ela não marca, tornou-se relativa e abstrata.
FICO FELIZ- Quando consigo captar e executar fielmente o que a pessoa quer. No tocante a noivas e debutantes, elas jamais esquecerão de você, se tiverem neste dia tão importante para elas, o traje que idealizaram porque são ocasiões inesquecíveis em suas vidas.