Márcia de Novais Teles tem uma longa história a contar desde que saiu de seu estado natal, Minas Gerais. Proveniente de uma família de 13 irmãos, mora no exterior desde 1976. França, Senegal, Filipinas e Califórnia foram só algumas das paradas ao longo de sua peregrinação pelo mundo, até fixar residência na França. O roteiro dos sonhos traçado para a sua vida lhe rendeu, mais do que uma considerável bagagem cultural, experiências e histórias dignas de um livro. Entretanto, nenhum desses momentos de dificuldade abalou a tranquilidade dessa mineira, cujas principais caraterísticas são o bom humor, a coragem e a sensibilidade. Atualmente, Márcia mora em Lille, onde é conhecida por seu talento artístico. Retrata em suas telas, o naif e o primitivo que encantam os colecionadores e o público, nas exposições que faz em diversos países.
Ela descobriu sua intimidade com as artes plásticas quando conheceu uma profissional francesa que morava em Manila. Com ela, Márcia montou um ateliê e aprendeu tudo o que era necessário para se tornar a pintora que é.
Quando começou a pintar, recorda-se de que a obra de sua tutora era perfeita, mas, para Márcia, um pouco triste. A profissional francesa entendia absolutamente tudo sobre teoria e esses conhecimentos foram fundamentais para a formação de Márcia. No entanto, resolveu seguir uma linha um pouco diferente: confeccionar obras alegres, que transmitissem esse sentimento para as pessoas.
Sua intenção é, assumidamente, passar um pouco de alegria para quem vê os seus trabalhos. É comum encontrar flores, pássaros, múltiplos personagens, vidas simples e tranquilas, retratados nessas telas, que percorrem França e Brasil em exposições.
Uma das facilidades do início de carreira foi a compra de materiais. Márcia conta que nas Filipinas, onde morava quando começou a sua arte, tudo era muito barato, como as tintas japonesas. Já na França, onde reside atualmente, os artefatos necessários para o seu trabalho têm altos custos. A solução foi criar, ela mesma, os materiais de que se utiliza. Em seu ateliê, fabrica até as molduras dos quadros.
Suas telas se caracterizam pela riqueza de detalhes. Dentro do gênero naif e primitivo, a obra de Márcia impressiona pelas cores alegres e pela originalidade: um perfil que não foi surgindo por acaso. Pelo contrário, ela sempre soube os rumos que queria dar a cada traço de suas obras, consciente do significado desse traço.
Essas peças só são expostas e, posteriormente, vendidas, após passar por um rigoroso processo crítico da artista. Extremamente perfeccionista, Márcia atende à peculiaridade de cada detalhe, para certificar-se de que o resultado esperado foi alcançado, e só depois se desfaz da obra.
Primeiro, no entanto, a obra tem que lhe agradar esteticamente, para depois passar pela aprovação do público.
Suas obras só chegaram ao Brasil recentemente, para que os tupiniquins amantes da arte tivessem a oportunidade de entrar em contato com o mundo naif de Márcia.
Ela confessa que nunca havia pensando em expor no Brasil e que tudo aconteceu ocasionalmente. Quando seu irmão lhe pediu alguns quadros, ela não imaginava que isso pudesse resultar em uma mostra. Mas foi o que aconteceu. As pessoas tiveram conhecimento do seu trabalho e ela foi convidada a expor em São Paulo. Acabou chegando a Curitiba, onde expôs, com sucesso, no Centro Cultural Brasil-Espanha.
MÁRCIA
Tenho familiares em Curitiba, onde, adolescente, morei três anos, mas foi no Rio de Janeiro, onde vivi outros dez, que pude associar prática e teoria ao mesmo tempo, trabalhando e estudando. Trabalhei 8 anos na Sata, subsidiária da Varig e terminei meus estudos concluindo o curso de assistente técnico de empresas. Foi um período de vida intensa e maravilhosa. Resolvi largar tudo para estudar em Paris. Foi um momento difícil. Dei aulas de português, atuei como costureira e babá, entre outras atividades.
Por problemas familiares, tive que voltar para o Brasil. Fixei residência em São Paulo, onde conheci meu ex-marido, então Conselheiro Comercial do Ministério das Finanças. Moramos 8 anos em São Paulo, onde tivemos três dos nossos quatro filhos. Tive meu quarto filho em Curitiba. Após esse período, embarcamos para Dakar. O Senegal foi o ponto de partida para a peregrinação por alguns outros países do hemisfério Norte durante anos e que culminou com a minha escolha pela França, onde estou até hoje.
O sucesso não veio por acaso. Além da preparação e do aperfeiçoamento estético pelo qual passei, através de muitos anos em contato com o que há de mais refinado nas nações desenvolvidas, dedico-me apaixonadamente àquilo que faço. Quando acordo, tomo café da manhã e corro para meu ateliê, de onde, às vezes, não saio nem para almoçar.
Macia
tel: 03.28.36.00.58