Curitiba, 22 de abril de 1989
NADYEGGE ALMEIDA. É apaixonada por tudo o que faz. Super autêntica, confessa ser tímida, mas ao mesmo tempo expõe com desenvoltura e segurança suas opiniões que demonstram sua forte personalidade. Jornalista, escritora elegante e simpática. Esta é Nadyegge, Sra. Dino Almeida.
IZZA – Como é ser esposa de um colunista?
NADYEGGE – Sabe que eu nunca fiz uma avaliação profunda sobre isso, talvez porque estejamos casados há 30 anos. Existe o lado bom, mas também existe o da solidão, porque o Dino sempre foi uma pessoa que trabalha demais e que adora o que faz. Os compromissos são muitos, e às vezes temos que deixar dos nossos, para que ele atenda os seus, que são importantíssimos para ele. Acho que minha vida se parece um pouco com a de uma esposa de médico. Nada pode ser programado com antecedência porque de última hora pode surgir algo importantíssimo que exija a presença de meu marido. Eu poderia acompanhá-lo, mas penso que até poderia atrapalhá-lo profissionalmente.
Meu temperamento é diferente, não sou muito de circular em festas porque sou tímida, introspectiva e sei que quando o acompanho ele tenta dividir as atenções comigo. Outro ponto é que, quando o acompanho geralmente na casa de pessoas amigas, adoro ficar até mais tarde, e ele frequentemente tem mais de um compromisso, por isso não pode se estender muito e às vezes circula rapidamente. Você sabe Izza, que nós mulheres demoramos algum tempo para nos amimarmos para uma festa, por isso, quando vou, gosto de ficar. Mas acho que ser mulher de um colunista é uma coisa muito boa, ainda mais quando compreendemos e apoiamos o trabalho dele.
IZZA – Fora os compromissos sociais do colunista, você o requisita muito?
NADYEGGE – Sabe Izza acho que a vida é feita de fases e ocasiões. Quando a gente tem uma vida muito ativa, a tendência é deixar o parceiro desenvolver ao máximo sua atividade, mas se começarmos a baixar nossa atividade automaticamente começamos a requisitar mais o companheiro. Creio que no início de cada casamento existem mais cobranças neste sentido, o desejo de ter constantemente o marido ou a esposa ao lado. No próximo período, isso já não é tão constante porque os afazeres aumentam, os filhos, e uma série de coisas. Vejo por mim, tive uma fase de muito trabalho, já tive um caderno social e conforme fui diminuindo minha atividade comecei a cobrar mais a presença do Dino, porque já não temos mais filhos em casa e atualmente não trabalho mais no jornal.
IZZA – Me recordo que o teu caderno era excelente, por que acabou?
NADYEGGE – Realmente “O Caderno da Mulher” era ótimo. Começou com uma página feminina e só depois virou caderno, e durou dez anos. Acabou porque entrou a parte comercial e começaram as divergências. Me lembro que foi o primeiro caderno feminino que safa dia de semana, às quartas-feiras, por isso marcou, foi uma proposta minha. Dava muito trabalho, mas eu adorava. Acho que agora tudo é muito mais fácil em matéria de notícias, informações, na ocasião em que eu trabalhei nisso, as notícias eram mais raras.
IZZA – E o Bebedouro?
NADYEGGE – Foi uma fase deliciosa. Durou três anos. Acho que ele existiu na época errada, muito antes do tempo. Se existisse hoje, seria fantástico. Digo época errada porque naquele momento ele sobreviveu, e se fosse agora, daria lucro. Eu supervisionava pessoalmente todos os dias. Quando o movimento era intenso, era muito gostoso. O melhor foi a experiência.
IZZA- Quantos filhos Nadyegge?
NADYEGGE – Temos a Ana Adalgisa, o Tarso, que mora em Porto Alegre, depois a Nadyesda e o Dino José, o caçula.
IZZA – Nenhum pretendeu seguir a carreira do pai?
NADYEGGE – A Nadyesda trabalha com o Dino, faz assessoria, se formou em Arquitetura. O Dino José gosta de música. Acho que este dom nasce com a pessoa. A Ana Adalgisa e o Tarso também não demonstraram queda para o jornalismo. Se gostassem, teriam feito a Faculdade de Jornalismo. Quem sabe algum neto demonstre esta vontade.
IZZA – Mas você gosta de escrever não é?
NADYEGGE – Gosto e muito, lembra-se do “Asilo Provisório?” Sempre fui muito de escrever, mas ficava naquilo, escrevia, rasgava, ou escrevia e guardava e assim fui indo até que chegou uma época que deu vontade de publicar, houve a necessidade de pôr para fora. São poesias, crônicas e foi lançado há um ano. Reconheço que o livro poderia ter acontecido muito mais do que aconteceu, por mim, porque sou uma pessoa que depois que acaba algum projeto este mesmo projeto já faz parte do passado, não me apego ao ponto de estar sempre voltando. Sei que os acontecimentos relativos ao livro dependem essencialmente de minha pessoa. Eu teria que badalar mais, fazer mais noites de autógrafos. Acho que tudo aconteceu muito de repente e rapidamente.
Em menos de três meses ele estava pronto. Se eu fosse lançar hoje outro livro, e te confesso que já tenho planos quanto a novo lançamento, essa parte terá mais dedicação de minha parte, tudo vai ser mais bem tratado e resolvido dentro de minha cabeça. Quando lançamos o primeiro, há muita empolgação eu fiquei bem adolescente, deslumbrada, no próximo vai existir mais razão mais consciência e menos ansiedade. Em tudo o que fazemos, deve haver paixão.
Só sei que o primeiro foi o embrião, curti, adquiri experiência, o que é fundamental e brevemente parto para outro, com mais planejamento. O mais importante é que eu nunca paro de escrever, o que para mim é um prazer muito forte. Publicar é fantástico, mas escrever é ainda melhor. Agora que já tive as duas experiências, posso contar sobre elas: uma de escrever durante dez anos no anonimato e a outra de publicar. Depois que aconteceu, me senti completamente drenada, é como se tivessem me tomado alguma coisa e fiquei então durante oito meses sem escrever nenhuma linha. No final do ano passado é que comecei a rabiscar alguma coisa e agora estou me sentindo novamente muito feliz e com toda aquela inspiração para escrever.
IZZA – O que você sentiu no dia do lançamento?
NADYEGGE – Primeiro passei três dias chorando de preocupação, tensão etc. No dia do lançamento é muito bom, emocionante. Quando a gente vê uma fila de pessoas esperando para pegar o teu autógrafo, a sensação é incrível, vale a pena. Me arrependi de não tê-lo publicado antes porque agora talvez já tivesse lançado o segundo ou terceiro, mas em todo o caso, sempre ê tempo e eu disponho agora deste tempo. Se eu tivesse prazo marcado para entregar o material, jamais conseguiria escrever uma linha. Admiro as pessoas, escritores famosos as vezes que conseguem escrever em determinado horário por dia. Eu já tentei me disciplinar, uma época tentei escrever todos os dias das 21 às 23 horas e foi muito bom porque eu até conseguia fazer alguma coisa, mas depois pensei, que o melhor para mim seria não forçar a inspiração porque ela não obedece a horários, então parei.
IZZA – Para escrever um poema, como você procede?
NADYEGGE – Para escrever um poema coloco ele todo em minha cabeça, corrijo antes de passá-lo para o papel. E um processo complicado. Depois que ele está correto escrevo à mão e só depois bato â máquina. Consigo guardar tudo. E uma coisa que vem toda e não pode ser brecada e tem o seu momento, por isso não posso obedecer horários. E um impulso, não sei como funciona com as outras pessoas. Cada um deve ter o seu sistema. E, depois, a mulher tem um péssimo defeito, como quer atender a tudo ao mesmo tempo, acaba não obtendo perfeição nas coisas, ou não atendendo melhor a determinada área na qual ela poderia se destacar muito porque ela possui o domínio da casa, da família etc e se dispersa. Quando a profissional é solteira, canaliza tudo para o seu trabalho que é o maior compromisso de sua vida. Claro que é ótimo estar casada, ter filhos e netos, acho que sem isso a vida não seria tão boa.
IZZA – E Nadyegge avó?
NADYEGGE – Não sou uma super avó, não interfiro na educação deles porque já eduquei os meus quatro filhos. E prazeroso sair com eles, conversar. Veja o que seria a condição de avó? São mais pessoas novas que chegaram e que nos dão a oportunidade de aprender coisas novas e que nos dão a certeza que somos capazes de passar inúmeras informações que não tivemos tempo de repassar para nossos filhos. Por exemplo, se meu neto me pergunta como é que se faz uma caixa de fósforo, eu tenho a maior paciência de me sentar com ele e explicar detalhadamente o processo dentro do meu conhecimento, e na época em que meus filhos eram pequenos eu responderia: ligue para a fábrica e pergunte, porque na ocasião eu não dispunha de tempo para explicar. A grande vantagem que os netos levam sobre os filhos é a maior dose de paciência e experiência dos avós.
Porque é muito mais fácil repassar para os netos do que para os filhos. Se dizemos para um filho: t melhor desta forma, ele pode até usar dois porcento desta experiência, mas ele vai sempre se conduzir pela sua própria intuição que é uma coisa inerente, querer fazer do nosso jeito. Parece que precisamos errar muito para fazermos o acerto depois, por isso não acredito no “aprendi muito com determinada pessoa que é muito experiente”. Claro que existem determinadas pessoas que têm grande capacidade de assimilar mais as experiências e informações do que as outras. Na maioria das vezes corremos o risco de jogarmos conversa fora porque cada um quer a sua própria experiência, isso faz parte do ser humano. Quanto aos netos, é divino vermos a terceira geração surgindo. Tenho a cabeça boa porque fui avó com 37 anos e eu ainda tinha adolescentes em casa por isso demorei para me enquadrar na condição de avó. Tive minha primeira filha com dezesseis anos.
IZZA – Pelo nosso bate papo vejo que você é uma pessoa muito realista.
NADYEGGE – Sou e muito e sei que quando tive meus filhos tudo era mais fácil. Se tivesse que criá-los agora não sei se saberia. Atualmente a qualidade de vida está muito mim, a cultural, afetiva, financeira, etc. etc. Sou uma pessoa muito jogada para o hoje e não para o futuro, não dimensiono as coisas e não penso como vai ser daqui a dez anos, digo no plano pessoal. Acho que devemos viver as coisas a medida que vão se apresentando porque se pensarmos bem, o Brasil sempre foi complicado, politicamente, economicamente, a instabilidade é total. Já vivemos num regime autoritário etc.
O Brasil é muito calmo e não tem instinto de esquerda. Tudo vai se encaminhar com o tempo. Pelo que tem acontecido, vemos que o temperamento do brasileiro é passivo. Tenho pena da pessoa que vai ganhar para presidente porque todas as coisas que estão acontecendo vão recair sobre ele, não vai ser fácil porque milagre ninguém faz. Eu adoro o Brasil, ainda é um País ótimo de se viver. Claro que admiro a cultura a civilização de outros países, mas quando retomo sinto-me extremamente feliz. O Brasil é uma potência e muita coisa pode ser feita. Curitiba é uma cidade linda, ê ótimo viver aqui. Também cabe às pessoas fazer com que a vida fique agradável, porque se esperarmos que as pessoas façam com que ela fique assim, as coisas não acontecem. As soluções estão todas aí para quem quiser usar. Para mim tudo é interessante.