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“TUDO TEM A SUA HORA E SEU TEMPO” expressa Judy Nunes

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Curitiba, 15 de julho de 1989

JUDY NUNES. Sempre foi dinâmica, gosta de trabalhar, de esportes e de curtir decoração. Hoje ela atua em seu show-room “Decorstudio Judy
Nunes”, recém-inaugurado, trazendo para Curitiba o legítimo estilo inglês. Presença obrigatória nos acontecimentos sociais, elegante e simpática está é Judy, 
Sra. Jaime Guelmann.

IZZA – Judy como vai o teu trabalho?

JUDY – Acho maravilhoso pode trabalhar e sei que se me oferecessem o dobro para que eu não o fizesse, mesmo assim eu continuaria. O que eu consegui com o meu trabalho é uma coisa minha que ninguém me tira, mérito meu, não tirando em absoluto a contribuição de meu marido Jaime, que me incentivou muito, desde o início há 11 anos atrás, inclusive a me aprimorar em Nova Iorque.

Me sinto feliz a cada passo que vou avançando, principalmente quando as pessoas me procuram para fazer a decoração de sua casa daqui ou da praia. Perante os meus filhos, sei que eles devem me valorizar mais porque reconhecem que, se eu não estou em casa, é porque estou trabalhando, fazendo o que gosto.

IZZA – Sobre o seu aprimoramento em Nova Iorque, quando foi?

JUDY – Logo que eu comecei em 81. Lá aprendi como se trabalha, o que se usa e o que não se usa. É lógico que a reciclagem diária é essencial, porque sempre são lançados novos produtos, materiais de acabamento, a gente sempre tem que usar novos recurso. Bem, mas o curso demorou três meses e foi fascinante. Neste período circulei, pesquisei tudo o que poderia me interessar. Conheci Nova Iorque de ponta a ponta. A experiência foi valiosa.

IZZA – Como é que você chegou a se interessar pelo estilo inglês?

JUDY – Há algum tempo eu vinha pensando em ir para a rua, digo, abrir um espaço com placa na porta, no qual as pessoas viessem me procurar, conhecessem a minha maneira de decorar, mas o tempo foi passando, montei o “Humberto Tecidos” que depois continuou sozinho. Quando vi este imóvel, achei enorme porque a minha pretensão era um ambiente pequeno. Fiz uma pesquisa no Rio e em São Paulo e notei que os decoradores lá têm um espaço próprio onde comercializam obras de artes, tapetes, objetos ou simplesmente mostram o seu trabalho.

Em Curitiba, ninguém fez isso até hoje, então se eu fosse entrar para valer, gostaria de fazer algo pouco comum, pensei… Sempre gostei da tendência inglesa, acho que para o nosso clima curitibano é muito aconchegante. É o cantinho com detalhes, minúcias, etc. Apesar de eu ter estudado em Nova Iorque, onde predomina o “clean”, que eu acho que faz um estilo, porque de repente, em determinado ambiente cai bem, um piso de mármore claro com um móvel bom, uma lâmpada e nada mais (porque aquilo por si só já fala), por outro lado, vejo este ambiente: hoje está uma noite super fria e aqui há calor, o aconchego de muito tecido, um cantinho com mesa, um banco antigo, aquele baú que traz histórias, é muito mais aconchegante.

IZZA – Qual é o objetivo da Decorstudio?

JUDY – Fazer com que as pessoas que me procuram, não adquiram objetos, ou móveis descartáveis. Comprar uma cômoda antiga, inglesa com certificado de autenticidade nos dá a certeza de que este móvel permanecerá anos, e irá de pai para filho, personalizando o ambiente. Eu acho extremamente importante. Adquirir coisas para toda a vida é uma forma de sabedoria. A decoração européia que vemos nas viagens ou mesmo nas revistas, nos mostra muitas vezes que eles curtem até aquelas cortinas velhas, aquela cadeira de canto reciclada, isso personaliza o ambiente. Partindo desta ideia e do questionamento sobre as coisas muito “clean”, ou sem personalidade, tive a ideia de abrir um espaço inglês.

IZZA – E a aquisição destas peças como é feita?

JUDY – Tenho um excelente amigo que mora em Londres, e juntos trouxemos um Contêiner de móveis e objetos, gravuras etc. Já que me propus a seguir este estilo, tudo deve ser de acordo, do princípio até o fim.

IZZA – Você só decora neste estilo inglês?

JUDY – Absolutamente. Tenho clientes que não apreciam, então faço de acordo com o que preferem. Uma amiga minha viveu na Europa muitos anos, por isso, já cansada deste estilo, me solicitou a decoração mais no estilo moderno. Eu fiz e ficou lindíssimo. Claro que coloquei duas cadeiras de estilo, que personalizam, e ficou incrível. O que é extremamente moderno pode um dia cair de moda.

E como aquela roupa moderníssima que você sente vontade de usar, mas que logicamente não combinará com todos os ambientes que você frequenta. É sempre necessário termos aquele vestido pretinho, ou aquele tailleur, um colar de pérolas que nunca cai de moda e é imprescindível. Tudo tem a sua hora e seu tempo.

IZZA – Quanto ao estilo inglês, você não teve receio da reação das pessoas?

JUDY – Confesso que no princípio sim. Tive receio de que o estilo não fosse bem aceito, mas me surpreendi com a vibração das pessoas. Não sei se também o clima não está ajudando, porque os clientes chegam aqui e se sentem à vontade, confessam que era bem aquilo que queriam. É uma delícia. À tarde sirvo um chá para os clientes e me preocupo bastante com os detalhes. Sou extremamente organizada.

IZZA – Sobre os seus móveis, você os manda confeccionar aqui, somente seguindo o estilo?

JUDY – Não tenho nada feito aqui, nada é cópia, e para cada pessoa que adquiria algum deles, eu dou certificado de autenticidade, com a fotografia e tudo. Se esta pessoa, daqui a um ou dois anos quiser trocar este móvel por outro, eu aceito a troca deste que ele esteja em bom estado. O meu estoque nunca é muito grande porque não existem aqui duas peças iguais. E, algumas vezes por ano tenho que ir a Londres pesquisar novidades.

IZZA – É muito dispendiosa uma decoração total neste estilo?

JUDY – Feliz de quem puder entrar aqui e comprar a decoração inteira seguindo o mesmo estilo, mas a minha proposta não é essa. É ter um living, uma peça, uma mesa, uma escrivaninha, cadeiras, gravuras. A meta é complementar ou personalizar os ambientes. A verdade é que esses móveis são investimentos, não desvalorizam; muito pelo contrário, investir na casa é muito importante, principalmente para quem trabalha e gosta de curtir a casa nos finais de semana como eu.

IZZA – O que você faz nos finais de semana?

JUDY – Como falei, trabalho aqui todos os dias, até à noite, e nos finais de semana até curto fazer aquelas coisas domésticas como pôr a mesa, esquentar a comida, eu o meu marido e os filhos. Ponho um Training, fico à vontade e passo o domingo feliz.

IZZA – Qual é o seu esquema no dia-a-dia?

JUDY – De manhã eu passo nas obras, verifico marceneiro, carpinteiro, etc. Duas vezes por semana faço ginástica, e duas, jogo tênis. Faço pessoalmente o supermercado, e venho para a loja ao meio-dia, e fico a hora que for necessário. Me habituei a não almoçar. Trago sempre uma fruta de casa ou um pacote de bolachas.

IZZA – Você faz também a parte de arquitetura de interiores?

JUDY – Faço. Mando derrubar paredes etc. Acho esta parte muito gostosa. Abrir espaços, ou pôr uma parede que dívida ambientes; trocar uma bancada de banheiro; substituir materiais, o processo de mudança é fascinante. Tenho uma equipe montada para isso, ou várias equipes, conforme o gosto do cliente. Por exemplo, para quem quiser um serviço excelente, com matéria-prima de primeira, mão-de- obra impecável, disponho de pessoas capacitadas. Para quem quiser um serviço bom, porém não tão impecável, também disponho, com preço mais acessível. O requinte sempre é mais dispendioso e o barato sai caro.

IZZA – O que você acha da matéria-prima brasileira?

JUDY – Acho que nestes cinco ou dez anos as coisas melhoraram muito em questão de qualidade, mas também acho que está tudo mais caro. Para o poder aquisitivo do brasileiro em geral, as mercadorias estão totalmente fora de preço. As indústrias perderam um pouco a noção. Às vezes levo um cliente para ver alguma coisa e me assusto com os preços. De repente uma cama de casal ai o mesmo do que uma roupa. É um disparate. Tudo, em comparação ao salário mínimo é inconcebível.

O que não entendo é que, de repente se paga por um traje um absurdo, mas não se paga por um móvel belíssimo, que faz a parte da casa onde todos os dias as pessoas se reúnem. Acho que um pouco, é não ter noção; e um pouco, é não curtir porque as pessoas que gostam de morar bem sabem e pagam o valor equivalente. A casa não deve ser agradável para os outros, mas sim para as pessoas que convivem nela.

IZZA – Qual seria a sua característica como decoradora?

JUDY – Não é que eu faça uma decoração extremamente conservadora, faço uma decoração atual, porém com um toque de eterno. O importante é fazer com que o cliente fique feliz, depois saber, no espaço disponível, criar tudo o que o cliente necessite para viver; e em terceiro lugar, conseguir um resultado que seja totalmente agradável aos olhos, um conjunto, e para isso o decorador deve ser extremamente sensível. Às vezes, de um pequeno detalhe criamos muito. Se houver sintonia entre o decorador e o cliente, ele cresce junto conosco, e ele deve transmitir para o decorador tudo o que ele deseja e espera.

IZZA – Você acha que com a nova realidade de vida o estilo da decoração mudou?

JUDY – Hoje a filosofia é outra, geralmente mais voltada a casa, principalmente se o casal trabalha fora. As famílias curtem seus afazeres num só ambiente, e as visitas serão recebidas no mesmo ambiente, participando assim da vida dos moradores. Não será com certeza naquele living todo branco, só aberto nos dias de festas ou noites de natal, ou de ano novo. Eu acho que isso se adapta muito aos novos apartamentos que estão surgindo, porque o preço do metro quadrado está bastante caro para termos salas fechadas, somente abertas para certas ocasiões.

Também a mão-de-obra está difícil: imagine arranjar alguém para polir as pratas. Atualmente temos que tornar a vida mais prática, mas de acordo com a situação do momento. E é gostoso, a família se reunir, porque geralmente durante o dia estão trabalhando ou desenvolvendo atividades diferentes. Essa é a tendência do brasileiro especialmente entre os mais jovens. Todos participam.

IZZA – Você se sente realizada com a abertura da Decorstudio Judy Nunes?

JUDY – Agora estou com este espaço que acho bonito, com coisas muito boas, móveis, tecidos, papéis maravilhosos. Claro que em Curitiba existem mais espaços fantásticos, mas não no mesmo estilo atualmente. Talvez daqui a dois anos existam outras, mas há lugar para todos. Já ouvi de pessoas bastante experientes e viajadas que, neste estilo há poucas no Brasil. Aqui não há vitrine, é um show room, com ambientes completos.

Segui o estilo da Europa, onde as lojas de decoração não têm vitrines e quando o cliente entra, é tudo uma agradável surpresa. Foi uma ideia nova, e fiquei feliz pelas pessoas terem entendido o espírito da proposta. Inclusive os decoradores têm possibilidade de ver as coisas montadas e escolher. Tudo é muito dinâmico e estou feliz porque os decoradores têm me visitado e apoiado. A classe deve ser unida em prol do melhor para o cliente. Em outros centros maiores este sistema é muito usado. Respeito os decoradores porque sei que a luta é grande, muita pesquisa, muito trabalho, etc.

IZZA – O que você considera gratificante?

JUDY – Meus filhos, de dezoito anos, uma de quinze anos e um menino de onze e o meu trabalho que cresceu pelo meu dia-a-dia, pela minha luta, pelo meu amanhecer nem sempre fácil, pelos amigos que me querem bem. Devagarinho construí e fiz amizades que muito aprecio. O meu marido que sempre me deu a maior força durante todos estes anos.

IZZA – O que você pretende fazer brevemente?

JUDY – Eu pretendia viajar, mas não será possível este ano. A minha grande meta é o meu programa agora, é deixar a minha loja, meu escritório funcionando perfeitamente e que os profissionais da área me prestigiem.

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