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“SER ELEGANTE É MAIS QUE VESTIR-SE DE ACORDO COM A MODA” explica Celinha Domakoski

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Curitiba, 14 de fevereiro de 1988

 

CELINHA, estilista, atua no campo da moda, onde ocupa espaço significativo, por seu extremo bom gosto e criatividade. Dedica-se especialmente a confecção de roupas infantis exclusivas e dammes d’honneur. É assim que ela se realiza profissionalmente e dá vazão à sua criatividade. Celinha tem três filhos. Bianca, Henrique e Nicole. E esposa do empresário Marcos Domakoski.

IZZA – Celinha, você é uma mulher de muita projeção social; como vê a participação da mulher na sociedade?

CELINHA – O papel da mulher ganhou mais importância em função da conquista de um espaço profissional e do aumento de suas responsabilidades. Em consequência das maiores dificuldades do mundo atual, ela, com bravura e coragem, enfrenta esses desafios, se propondo à busca de soluções.

IZZA – E a posição mãe e filhos no mundo de hoje?

CELINHA – Como mãe de três filhos, Bianca de 5 anos, Henrique de 3 anos e Nicole de dois anos, sei que há muito o que “ensinar” e o que “aprender”, buscando sempre novos caminhos e novas maneiras. Sinto que existe uma diferença muito grande de geração para geração, pois, se a nossa, por um lado, oferece mais liberdade, por outro, o risco é muito maior, e consequentemente, a formação, a educação dos filhos deve ser envolta por muito amor. E sempre será um desafio constante e árduo.

IZZA – Com sua vivência internacional, como você sente o Brasil?

CELINHA – Fico perplexa ao tomar conhecimento do desejo de grande parte dos brasileiros de abandonarem este País. Penso que isto nada mais é do que a conseqüência da# irresponsabilidade daqueles que nos dirigiram nas últimas décadas. E inadmissível que a oitava economia do mundo, com o potencial de riquezas inesgotáveis, passe pelo estado de insegurança, pobreza, insatisfação, em função, não da falta de talento dos brasileiros, mas sim, das irresponsabilidades de seus governantes.

IZZA: Parlamentarismo ou presidencialismo?

CELINHA – Pelo que eu tenho sentido nas atitudes dos contribuintes, fica realmente difícil imaginar um governo parlamentarista, em função das características mercantilistas do nosso Congresso Nacional. O problema do País não está no tempo de duração do mandato presidencial, e sim na necessidade de uma inovação de quadros políticos com o surgimento de novas lideranças, descompromissadas com o passado e comprometidas com o futuro.

IZZA: Celinha, sei que você já viveu em São Paulo. Em tua opinião, onde se vive melhor?

CELINHA – Esta resposta depende da associação de dois fenômenos: do estágio em que a pessoa se encontra e da sua situação financeira. Indiscutivelmente São Paulo é uma das cidades que mais tem a oferecer em todos os sentidos, quer profissionalmente, quer culturalmente ou socialmente. A minha experiência dentro dessa cidade, considerando a associação favorável dos fatores acima, foi extremamente positiva, levando em conta que tive, juntamente com meu marido e filhos, praticamente tudo o que a cidade tinha a me oferecer. Todavia, não conseguia ver em São Paulo a cidade para me radicar definitivamente, por não ser lá o lugar ideal para criar meus filhos quando esses atingissem a adolescência, pela violência e pelo perigo. Curitiba, por sua vez, além de bela. Aprazível e agradável, está somente a uma hora de São Paulo.

IZZA: Você que morou na Grã-Bretanha, poderia fazer um parâmetro entre a mulher brasileira e a européia?

CELINHA – É muito difícil uma comparação generalizando a mulher européia e a brasileira. Dentro dos meus círculos de convivência, constatei que a mulher européia em função de uma vida profissional mais definida, dispensa menos tempo para a moda, porém, preocupa-se mais com a qualidade da roupa que veste. Por uma condição climática a sua preocupação com o corpo também é menor, mas indiscutivelmente superior à da mulher brasileira, já na última década era inconcebível a uma jovem da classe média inglesa a não conclusão de um curso universitário, bem como, raras eram as jovens inglesas que não dominavam mais de um idioma estrangeiro. As circunstâncias econômicas na Inglaterra permitem à mulher uma vida mais planejada, organizada e metódica, sem grandes surpresas e sem grandes emoções.

IZZA: Sendo você uma mulher elegante, defina elegância.

CELINHA – Ser elegante é mais do que vestir-se de acordo com a moda. Está ligada ao bom gosto, à educação, à correção moral e ao apuro social. A mulher elegante não se veste apenas com elegância, vive num estado de elegância, em harmonia consigo, com o próximo, com seu tempo e com o mundo em que vive. No meu parecer, os melhores segredos da boa aparência são: vestir-se com naturalidade e simplicidade, criar e manter uma percepção segura e descomplicada do seu estilo pessoal.

IZZA: A moda está relacionada com a auto expressão das pessoas?

CELINHA – A moda é um fato cultural, que vai contra ou a favor da pessoa em questão, além de definir a qualidade da vida social de quem a usa. Segundo Sant Laurent, “a moda é uma obra de arte em movimento”. E considerada também a expressão social de uma época, um reflexo de heranças culturais e das idéias correntes. É uma maneira de comunicar-se emitindo sinais por meio de roupas e tecidos. “Existe uma infinidade de modas, e cada pessoa absorve aquela que mais aprecia”.

IZZA: Como estilista, existe uma diferenciação entre moda infantil, infanto-juvenil e adulto?

CELINHA – Há alguns anos atrás, a moda infantil e a moda infanto-juvenil se mesclavam. Uma ocupava o espaço da outra, ou seja, as meninas de 10 a 14 anos se vestiam como crianças e não se sentiam bem com isto. Devido a esta lacuna, eu comecei então o “Baby Atelier”. Só fazíamos roupas específicas para cada faixa etária, onde eu usava minha criatividade, não só em coleções, mas também em “dammes d’honneur” exclusivos. Devido à nossa ida a São Paulo, eu me desvinculei do Baby Atelier, e fiquei algum tempo pesquisando e estudado a moda. Atualmente, me dedico praticamente à confecção de roupas infantis exclusivas e “dammes d’honneur”, que na realidade é como me realizo profissionalmente e dou vazão à minha criatividade.

IZZA: E quais foram suas atividades anteriores à moda?

CELINHA – Logo que me casei, fui morar na Grã-Bretanha, onde aperfeiçoei o meu inglês e frequentei cursos de história da moda. Depois de dois anos, voltamos, e na Cultura Inglesa, onde lecionei, entrei em contato com o grupo teatral “Nine 0’Clock Theather”, onde me envolvi com atividades culturais inglesas, as quais fizeram com que, até hoje, em mantenha vivo o meu interesse cultural por aquele país. E logo em seguida, comecei a trabalhar com moda, fazendo com que meu espaço profissional fosse preenchido com vontade, capacidade e amor.

IZZA: Nas suas inúmeras viagens, o que realizou e para onde voltaria?

CELINHA – Na minha opinião, viajar é adquirir conhecimentos, é trocar experiências, é ganhar amigos e enriquecer o viver. Eu gosto muito de viajar, e quando posso, vou com minha família ou somente com meu marido. Dentre os países que conhecemos me identifiquei com a Escócia, pois durante os dois anos em que lá vivi, o sentimento misterioso que aquela terra me transmitiu, foi muito positivo. Em termos de modo de vida, me identifico muito com a metrópole de Nova Iorque. A sensação de intimidade é muito intensa, envolta pelo desejo de misturar-se com a vida nova-iorquina. Lá existe o que há de melhor no mundo: lá existe moda, finanças, acontecimentos. Portanto, quando há a possibilidade de voltar a algum lugar, eu sempre penso: Nova Iorque.

 

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