Curitiba, 15 de janeiro de 1989
MARIA CECY CARON – Tem uma simpatia contagiante. Muito querida por sua espontaneidade. Falante, transmite em cada gesto, a segurança de quem sabe o que quer. Está sempre de bem com a vida, porque valoriza cada momento. Ela nos conta hoje como pensa, o que pretende e como é a sua vida. Esta é Maria Cecy, Sra. Dr. Marco Antonio Caron.
IZZA – Você é curitibana, mas morou um tempo fora, não é?
MARIA CECY – Nós casamos e o Marco adquiriu dois hospitais no Norte do Paraná, em Ivatuba, adiante de Maringá uns trinta quilômetros. Lá nós iniciamos a nossa vida maravilhosa, graças a Deus. Nasceram as crianças. Sete anos de hospital de interior. Ele estruturou tudo. No início foi difícil a mão-de-obra, mesmo enfermeiras, então eu passei a ser além de esposa a enfermeira dele. Fazíamos tudo juntos. Neste período auxiliei bastante porque acho que as pessoas do interior são mais calorosas, mais quentes. Lá existe um pouco mais de humanidade apesar da simplicidade. Mais do que aqui infelizmente.
Eu achava mais fácil. Nestes 7 anos construímos o Country Club de Ivatuba, uma sociedade fechada, e como eu adoro movimento, eu organizava bailes de debutantes, e sempre quando ia para Maringá algum conjunto, importante, imediatamente levávamos para lá. Movimentávamos um pouquinho a nossa vida de interior. Foi muito gostoso e me valeu como experiência porque acho essencial quando se inicia uma vida a dois, ficamos despojados de família etc. porque a união se concretiza mais. O casal fica mais unido. Vínhamos para cá na medida do possível. Fomos para lá com tudo esquematiza- do, o nosso plano era voltar para Curitiba quando as crianças estivessem em idade escolar. Apesar de Maringá ser um centro excelente, mesmo socialmente falando, acho que o estudo é a coisa mais importante que podemos deixar para nosso filhos e não há quem tire isso.
IZZA – Vocês resolveram voltar primeiramente, por causa dos filhos?
MARIA CECY – Foi. O Marco já tinha Campina Grande do Sul como um lugar para a volta, porque ele tinha tido uma clínica em Quatro Barras durante o sexto ano de medicina dele, onde fez uma clientela muito grande, e quando regressamos ele quis reestruturar aquilo que tinha deixado. Nós encontramos um apoio enorme do prefeito de Campina Grande do Sul, Nivaldo Bernardi, que nos deu um incentivo fantástico para o projeto do hospital. Depois que o hospital estava para ser acionado, voltamos para ativar o funcionamento. Construímos tudo, desde o começo. Aparelhamos, e agora ele está excelente, bem estruturado. O Hospital Angelina Caron tem uma UTI imensa, com 10 leitos, é bem aparelhado devido aos inúmeros acidentes que acontecem na estrada de São Paulo. A Polícia Rodoviária, inclusive, já tem como referência o nosso hospital. O movimento é extraordinário. Fica em Campina Grande do Sul há 1 quilômetro da BR.
IZZA – Qual seria a especialidade do Marco Antonio?
MARIA CECY — É ginecologia e obstetrícia, mas ele também é clínico geral em função do próprio hospital, que ele e o irmão sócio, o Pedro Ernesto Caron, dirigem juntos.
IZZA – Você continua participando ativamente do trabalho do Marco?
MARIA CECY – Atualmente não. O meu hobby mesmo, são meus filhos, minha casa. Curto muito meus filhos e vivo para eles. Moramos na chácara que tem seis alqueires e muita coisa para ser administrada. Temos tudo o que as crianças necessitam, um mini-clube. Isto tudo por causa da distância porque para nós é importante estarmos próximos do hospital. E depois, adoramos receber amigos, e as crianças também. Já nos estruturamos para isso. As pessoas (nossos amigos) que vivem aqui no centro adoram nos visitar nos finais de semana. São apenas 25 quilômetros e o ar é puro, tudo é muito bonito. Os funcionários e médicos do hospital já estão começando a construir lá também. Assim fica bem mais fácil. Vamos ver se levamos as pessoas para aquele paraíso.
Quando viemos do interior o Marco tinha a intenção de construir aqui no Jardim Social que seria saída para ele, mas eu pensei concluirmos juntos que pela instabilidade de horários dele que pode ser chamado a qualquer momento, seria bem mais cômodo estarmos perto. Eu gosto muito de ter o meu marido junto comigo pela vida que tivemos no interior sempre juntos. Então decidimos construir lá mesmo. O meu compromisso são as crianças e o meu horário fica em função deles, de colégio, das atividades extra classes que eles têm. Dá tudo certo. Ele pode atender melhor seus compromissos e as crianças eu atendo no que precisarem, as vezes vou a Curitiba três vezes num dia só, mas foi opção nossa e já nem acho mais a distância grande, porque estou habituada.
IZZA – E quanto a esta ampliação do hospital que vocês estão realizando no momento?
MARIA CECY – Realmente estamos ampliando. Estão sendo construídos mais quase mil metros. Depois de cinco anos de funcionamento, é a segunda reforma. Primeiro fizemos uma ala nova onde fica a UTI e as 4 suítes de alto padrão, porque, às vezes temos pessoas de alto nível acidentadas. Agora estamos ampliando a frente onde vão ser instaladas mais 2 consultórios novos e o estacionamento está sendo todo reestruturado porque já não está comportando o número de carros. Pretendemos mais tarde construir um hotel de pequeno porte, uma pousada para os familiares, acompanhantes dos acidentados que têm dificuldades em vir até o centro de Curitiba, fica difícil pela distância. O terreno já foi adquirido, bem na frente do hospital, e não temos a data marcada para o início. Por enquanto, são planos. Vai ser uma coisa simples, bem agradável.
IZZA – Você pretende atuar nesse novo projeto?
MARIA CECY – Eu já tentei fazer bastante coisas mas nós achamos que no momento estou empenhada em tomar conta da casa, dos três filhos, o que já não é pouco, mas quem sabe, mais tarde. Sempre ajudo no que é preciso, inclusive naquele toque feminino, mas ativamente não participo.
IZZA – É difícil ser esposa de um médico?
MARIA CECY – Não é difícil, mas fácil também não é. Não sei se é porque tenho um marido excepcional que vive em função da família Realmente, porque ele é muito caseiro e adora crianças. Por ele acho que eu teria no mínimo 6 filhos. Não sei se posso falar como esposa de médico, porque não ficamos distantes, eu o acompanho sempre e ele sempre dá um jeitinho de estarmos juntos. Às vezes atrasamos um pouco nossos compromissos por necessidade dele, mas nunca deixamos de comparecer a nada que tenhamos vontade. Gostamos muito de vida social. Ele mudou bastante porque antes era um pouco tímido, mas eu com a minha espontaneidade, acho que o contagiei. Foi uma troca Ele me passou um pouco da timidez dele e eu passei um pouquinho de minha espontaneidade para ele, por isso a coisa ficou equilibrada Adoramos estar com amigos e procuramos, na medida do possível atender aos convites.
IZZA – E os filhos?
MARIA CECY – Temos três. Caroline, que vai fazer 12, Marco Filho com 10 e o Bernardo Augusto com três anos e meio.
IZZA – Você é uma pessoa muito desinibida com muita facilidade de se expressar, isso facilita inclusive socialmente não é?
MARIA CECY – Quando eu conheci o Marco, estudava no Cajuru e na época sempre me escolhiam para ser oradora de turma Gosto muito de falar em público, isso não me incomoda, tanto faz se estiverem presentes três ou mil pessoas. Me lembro que na época de estudante sempre era eu que falava. Agora recentemente na 1ª Comunhão da Carolina também queriam que eu dissesse algumas palavras. Acho que esta facilidade nasce com a pessoa
IZZA – E nas suas horas de folga?
MARIA CECY – Como falei, curtir os meus filhos. Me acho até uma super-mãe o que não deveria, pois atualmente a gente tem que criar os filhos para o mundo. Eu sou preocupada com tudo, nem precisaria ser tanto, porque meus filhos são ótimos. Mesmo a Caroline, sendo menina. Acho que essas coisas de cocota já não estão em voga. Ela é uma menina adulta Foi a primeira neta de ambos os lados, criada no meio de adultos. Vai super bem, é estudiosa, tirou o 1º lugar na escola Claro que isso é uma coisa dela Participou de uma campanha enorme e pode contar com meu total apoio. Quando o Marco Filho tem prova, eu estudo com ele. Sei que apoio integralmente e isso me deixa feliz.
IZZA – Quais são os planos para esse período de férias?
MARIA CECY – O ideal seria sairmos os dois, o Marco, e eu, devido à atividade dele e o envolvimento com reformas etc., mas agora é impossível, então pretendemos passar uns quinze dias em Camboriú com as crianças. Depois pretendemos ficar uns dias em Caiobá. Viagem para o exterior creio
que só daqui a dois anos porque o Bernardo ainda é muito pequeno e não tenho coragem de deixá-lo aqui. Mais adiante iremos todos.
IZZA – O que você pensa sobre a movimentação das mulheres atualmente para a conquista de seu espaço?
MARIA CECY – Acho que já estava na hora da mulher adquirir o seu lugar. No mundo inteiro está acontecendo uma revolução total neste sentido e nós também temos que participar. Lógico que se me surgisse alguma oportunidade, talvez até ou participaria mais ativamente, talvez fosse candidata a deputada. Não sei.
IZZA – Por quê? Você gosta de política?
MARIA CECY – Acho que tenho um pouquinho no sangue. Meu pai sempre foi muito político, então eu gosto bastante, inclusive o Marco foi convidado várias vezes para a prefeitura de Campina, mas ele não quer misturar as coisas; ele é médico de alma e de coração. Voltando ao interior, (falo, porque foram anos que me marcaram) eu presidi o Comitê Feminino, organizávamos comícios, fazíamos músicas, mil idéias que me surgiam, executávamos. Aqui em Campina não me envolvi muito. O nosso candidato venceu, são pessoas maravilhosas.
IZZA – Você acha difícil educar os filhos hoje, devido à época?
MARIA CECY – Acho e bastante. Creio ser mais difícil manter os padrões normais do que é liberdade e o que é aprender muito. Esse meio termo, a diferença existente entre a liberdade e o aprender muito, toma-se difícil de explicar. Eles já chegam a uma idade, que desejam ser independentes. Não podemos prender demais, porque senão não saberiam se manter nesse mundo agitado, e acho que não podemos soltar demais, pelas coisas que acontecem por aí. Mesmo que a gente saiba onde estão e com quem, é bastante difícil saber transmitir o que é certo e o que é errado. Para isso é necessário muito diálogo. É a melhor forma.
Só assim se consegue alguma coisa Outro ponto importante é fazer com que os filhos sejam amigos dos pais. Eu ensino o diálogo aberto, são amigos dentro do respeito necessário. Eles têm as coisas que desejam na medida do possível, digo, as coisas materiais. Sei que nós fomos educados num sistema mais rígido, mas reconheço que tive uma educação fabulosa dentro das falhas normais da época. De lá para cá a mudança foi radical, pois eu me considero evoluída, mas existem coisas que não consigo aceitar na atualidade. Não sou quadrada, mas é necessário a estrutura familiar ser mantida.
IZZA – Estamos iniciando um novo ano, o que você teria a dizer para finalizarmos?
MARIA CECY – O que está faltando no mundo é amor. Seria maravilhoso se as pessoas se amassem mais, e que não existisse tanto esse senso competitivo que impera mesmo dentro da sociedade. Que as pessoas fossem mais humanas, mais elas mesmas, assim a coisa seria mais fácil de ser levada e o mundo seria melhor. Que houvesse mais fé porque as pessoas estão distantes de Deus, não importa a religião. Eu diria que lembrassem que existe um ser superior porque temos tanto que agradecer, pela nossa vida, nossos filhos. Por maior que seja o problema, sempre existe uma coisa boa. Essa falta de amor, essa frieza não podem existir, e sim o calor humano. Todos estão muito materialistas, claro que a vida atual conduz a isso, mas antes disso existe lá em cima um figura maior e o que conseguimos devemos a Ele. Diante de tudo o que vejo, me considero feliz. Claro que tenho também problemas, mas eles são pequenos diante de muitas outras coisas que acontecem atualmente. É o que sinto.