Curitiba 5/6 de dezembro de 1987
IRONITA, e simples, descomplicada dedica-se há 20 anos à filantropia auxiliando os mais carentes. Como passatempo curte escrever ou pintar paisagens de flores. Casada com Abdo Dib Abage, tem três filhos, Fabiana, Adriana e Rafael. Nesta conversa ela nos conta como é, como pensa e o porque do seu sucesso.
IZZA – O que a impulsionou realmente a se dedicar à filantropia?
IRONITA – Comecei no curso de Física na Faculdade de Filosofia, Ciências Sociais onde fazíamos pesquisas, e como a minha parte era a pesquisa social, fazendo levantamento nas favelas, me interessei, vendo a carência das pessoas, em ajudar e daí para frente procuro auxiliar atendendo onde acho necessário, sem vínculos com entidades ou movimentos. Eu sempre digo que esta é uma coisa que faço para mim, uma questão pessoal.
IZZA – Como você organiza esses eventos?
IRONITA – A organização varia, dependendo da necessidade do momento. Procuro com os amigos uma ajuda e promovo, dependendo do que seja preciso. Quanto ao órgão a ser beneficiado sempre é aquele que eu “pinto”, bate na hora, é instintivo. Faço o que acho que tem que ser feito. Este ano fiz um desfile para a Saza Lattes, foi um sucesso, estavam realmente necessitando de auxílio. Tenho tido sucesso neste campo em todos os sentidos. Posso me considerar uma pessoa muito feliz por isso, porque sempre me auxiliam e cooperam com os meus objetivos.
Felizmente até hoje não tive nenhuma decepção e sempre consegui alcançar as minhas metas. É um alívio e uma satisfação quando conseguimos concretizar o nosso propósito, e cada promoção é diferente da outra. Trabalhar em cima de alguma necessidade do próximo é lindo e quando sinto que tenho condições, me jogo de cabeça e a recompensa é maravilhosa, uma coisa muito pessoal.
IZZA- E de política, você gosta?
IRONITA – Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Sempre participei desde a época de ginásio, de movimentos estudantis. Participei de grêmios na Escola Normal e também na Faculdade de Filosofia. Quanto a nossa situação atual, a coisa está muito confusa, o Brasil precisaria ser repensado, reavaliado. Acho que o nosso problema consiste em não termos líderes e penso que existem alguns homens muito despreparados politicamente. Infelizmente a verdade é esta.
IZZA – À parte do campo filantrópico, você se dedica a alguma outra atividade?
IRONITA – Não tenho feito nada especialmente, mas a minha preocupação hoje está voltada aos movimentos ligados à mulher. São importantes porque há uma grande desunião entre elas e é por isso que às vezes não alcançam seus objetivos. As campanhas que envolvem mulheres deveriam ser mais prestigiadas para que haja mais educação nesse sentido. O problema é que elas se envolvem com outras tarefas e se desunem. Outro ponto são os homens que deixam pouco espaço para elas. Não sei, pode ser o medo da concorrência, machismo, se bem que a nova geração já apresentou melhora. O “porquê” do pouco espaço só eles poderiam responder.
IZZA – Como você vê a situação da mulher na atualidade?
IRONITA – Acho que o progresso foi muito pequeno, apesar dos movimentos realizados e falados. Tanto no sentido profissional como na questão de espaço, a mulher caminhou pouco, por isso acho que esses movimentos feministas não ajudaram em nada, muito peto contrário, a coisa ficou mais confusa. Por exemplo, no trabalho, ela continua sendo discriminada nos salários, lembro muito das mulheres em época de campanhas eleitorais, quando acaba essa cooperação ela continua na mesma, muitas vezes sem o cargo prometido. Não podemos negar que a mulher é capaz de tudo o que ela queira fazer: trabalha dentro, fora de casa, para comunidade, para a sociedade e sempre arranja um lugar em qualquer espaço, tempo e hora. Sua capacidade, apesar de não ser reconhecida, é às vezes maior do que a dos homens. Ela é a mola mestre da família e a família é a base. Aquele ditado, “Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher” hoje em dia mudou, porque atualmente ela está a seu lado.
IZZA – Dentro de todo seu dinamismo, qual seriam seus objetivos?
IRONITA – Acredito no trabalho, e acho que e a realização vem através dele, e também acredito no amor ao próximo que me leva a cumprir meus objetivos. Ainda não me sinto realizada profissionalmente, pretendo ter alguma atividade com os meus filhos, talvez comércio. Não me defini ainda, só sei que é este o meu objetivo. Trabalhando e produzindo, a gente cresce.
IZZA – Eu soube que você gosta muito de escrever e de arte.
IRONITA – Adoro escrever. Jornalismo é a carreira que eu gostaria de ter seguido a princípio, mas no anos 60 havia uma descriminação muito grande quanto à mulher jornalista, então optei por Ciências Sociais, mas cheguei a escrever vários artigos que foram publicados. Quanto à arte, no ano passado tive uma experiência muito válida, trabalhei com o meu cunhado NASSIB ABAGE FILHO, “Canvas” e fizemos sucesso e muitas promoções. Sempre adorei a pintura, por isso participei constantemente de cursos, pesquisas e estudo. A arte faz parte de mim e já vem há anos de família. O meu hobby inclusive é
a pintura e o desenho. Como passatempo, pinto paisagens e flores.
IZZA – Vamos falar de educação. Qual seria a sua opinião, é difícil educar?
IRONITA – Tenho três filhos e acho que, quando existe diálogo, não existem problemas. Somos abertos, conversamos sobre tudo. No momento, a maior dificuldade é a falta de segurança porque a gente acaba tolhendo saídas e diversões. Os assaltos, drogas, tudo é preocupante, mas eu não posso me queixar, meus filhos sempre me ajudaram, inclusive em minhas promoções. Conto com elas e, se não tivesse este auxílio, acho que não conseguiria fazer sozinha. Disponho de uma equipe familiar e quando viajo cada um tem sua tarefa, a casa continua em ritmo normal. Desde pequenos cada um tem responsabilidades, independência e cooperação.
IZZA – Você é uma pessoa elegante, que sabe receber em alto estilo, a que atribui seu sucesso?
IRONITA – Gosto de festas, de receber amigos aqui em casa e isto é uma constante em nossa vida, um hábito porque sou extrovertida e não saberia viver sozinha. Posso dizer que sou muito amada, sinto, por isso dou valor e curto minha família e meus amigos. O lado efetivo é importante. Não sei se tenho sucesso, é espontâneo, desde que você faça aquilo que gosta tem que dar certo. Receber bem é uma arte. O princípio disto é a espontaneidade, sinceridade e a naturalidade. Sou uma pessoa transparente e dou importância a esses fatores porque hoje em dia tudo está diferente pela insegurança e pela amargura, acho que isso gerou um bloqueio.
IZZA – Sei que é difícil falarmos de nós mesmas, mas como você definiria a IRONITA mulher?
IRONITA – Sou crítica, e exigente comigo mesma. Tenho necessidade de me aprimorar sempre porque procuro fazer tudo da melhor maneira possível. Já vivi uma fase em que inclusive dentro de minhas promoções, quando tudo terminava, eu me entristecia achando que poderia ter feito mais e melhor; me questionava como se isso fosse um defeito até que cheguei à conclusão de que era uma qualidade. Essa busca constante é típica de pessoas dinâmicas. Não existe perfeição, somos apenas seres humanos. E no mais me considero uma pessoa sincera, prática, objetiva e muito romântica. Estou numa
boa fase, de bem com o mundo, comigo mesma. Não sei se é a idade ou a vivência, mas me sinto assim, apegada, curtindo a vida e tudo o que ela me proporciona.