Curitiba, 13 de novembro de 1988
SUELI SANSON. Independente do seu talento, ela atinge a naturalidade em seu trabalho, aliando a espontaneidade com seu estilo personalíssimo. Afirma Sueli nesta entrevista que: os estúdios limitam o clima além do espaço e que prefere as fotos externas que possibilitam a fina sintonia do que pretende apresentar com a cumplicidade da modelo. Esta é Sueli.
IZZA – Quando uma fotografia é artística?
SUELI – Contando a técnica, a sensibilidade e a harmonia, se tem uma foto artística, e ela é artística quando tem arte, independente da técnica. Juntando esses três elementos, ela será artística, e jamais será necessariamente boa se não soubermos, entendermos o que a compõe.
IZZA – Por que razão você prefere fotografias externas?
SUELI – Bem, eu tiro fotos de estádios e externas, mas o espaço físico de um estúdio é pequeno e a descontração da pessoa fica limitada, não podemos desenvolvê-la além das limitações, ao passo que numa foto externa, o caso é outro e o espaço é ilimitado, e podemos contar com a luminosidade natural, insubstituível.
IZZA – O que seria necessário para se obter uma foto de qualidade?
SUELI – Seriam muitos os fatores. A qualidade do filme, da revelação, da câmara, da lente, do assunto a ser fotografado, da inspiração do fotógrafo e da descontração do momento.
IZZA – Para que uma foto saia perfeita, o equipamento fotográfico influência?
SUELI – Depende. Muita gente conseguiu e consegue fotos magníficas com câmaras simples, sem nenhum recurso ou sofisticação, ao passo que outros, mesmo utilizando câmaras espetaculares, nada conseguem. E ainda existe um fator interessante, para muitos a câmara moderna não ajuda, mas sim atrapalha.
IZZA – Que tipo de foto você mais aprecia fazer?
SUELI – Izza, eu comecei fazendo fotografias de comercial, fazendo produção para uma agência de propagandas e depois iniciei mesmo no ramo e sempre prefiro pessoas, porque acho mais misterioso e interessante. Sempre temos coisas para descobrir. Me especializei em “Portrait”, e adoro fotografar mulheres e crianças.
IZZA – Para você foi fácil o entrosamento social?
SUELI – A partir do momento em que a pessoa leva esse trabalho com seriedade e não precise viver dele, é fácil chegar onde se quer, mas se eu dependesse dele para sobreviver, não daria certo, porque eu estaria sempre correndo atrás da máquina. Eu comecei como hobby, talvez por isso dê certo. O profissional que precisa, passa isso para os clientes. Justamente por pensar assim, comecei o meu trabalho por distração e por gostar muito. Eu cobrava bem, mas de repente não dependia, estava amparada. Eu determino horários e acho importantíssimo que eu goste da pessoa a ser fotografada, porque seria difícil fotografar alguém que não me fosse simpática.
IZZA – E Curitiba é um bom campo?
SUELI – Acho que sim, para a fotografia e para tudo, porque é a cidade teste. Tudo o que você fizer aqui e der bom resultado, com certeza dará certo em outros lugares. Eu já fiz isso, já passei em vários lugares e foi um sucesso. As exposições deram certo. O pessoal aqui é rígido e justamente por isso acho bom.
IZZA – Sei que você tem nome fora de Curitiba. Como foi esse processo?
SUELI – Eu comecei aqui e só depois trabalhei em outros lugares e reconheço que foi fora de Curitiba que o meu trabalho se reforçou. Fiquei mais conhecida e isso me impulsionou.
IZZA – Você acha que as pessoas de fora valorizam mais nosso trabalho?
SUELI – Acho que é igual. Em cada região que vou, faço um certo estilo de fotos porque cada pessoa de um determinado lugar tem um nível de cultura, e um estilo de vida distinto. Daí vem a necessidade de desenvolvermos o trabalho de acordo, próprio para o estilo de vida de cada um.
IZZA – Mas então para tirarmos uma foto é necessário um estudo?
SUELI – Penso que é necessário entendermos até um pouco de psicologia para sabermos onde estamos entrando, exatamente o que vamos fazer e as necessidades de cada pessoa. Quem fotografa, deve ter um pouco de sensibilidade para poder sentir isso. Primeiramente traço o perfil psicológico da pessoa para vero que ela deseja que eu faça.
IZZA – E quando a cliente não gosta do trabalho?
SUELI – Eu refaço, mas dificilmente acontece, e se por acaso ocorrer, eu mesma já sinto isso. Na hora que fotografo, já sinto se vai dar certo ou não.
IZZA – Você não tem dificuldades com algumas pessoas que idealizam aparecer de certa forma e aparecem de outra?
SUELI – Todo o inundo espera ficar melhor do que é. Se de repente a pessoa tiver uma ruguinha, uma marca ou etc, que não queira que apareça, cabe ao fotógrafo despistar, ser o Pitanguy da fotografia. As imperfeições não devem aparecer e se aparecerem, que seja discretamente. Tudo é uma questão de ângulos, de filtro etc. Às vezes, até molhar o cabelo da pessoa e deixá-la mais à vontade, é
bom.
IZZA – Existem pessoas não fotogênicas?
SUELI – Creio que todas as pessoas têm o seu lado bonito, e o meu objetivo em meu trabalho é ressaltar esse lado, consequentemente para mim todas as pessoas são fotogênicas.
IZZA – Quem é mais vaidoso, o homem ou a mulher?
SUELI – Os dois são vaidosos, mas existe um certo preconceito em relação aos homens, em frente a uma câmara fotográfica.
IZZA – Por que o custo das fotos é tão elevado?
SUELI – Pelo próprio material usado, que é caríssimo, e também pela manutenção do equipamento, bastante dispendioso, mas se levarmos em conta, que em uma foto deixamos registrado um momento de nossa vida, não há preço que pague.
IZZA – O que te levou a partir para esse campo?
SUELI – Foi naturalmente, quase brincando. Todo o trabalho que fazemos descompromissadamente sempre dá bom resultado. Não senti dificuldades. Traço sempre uma linha e tento chegar no ponto final.
IZZA – Conte-nos sobre a tua exposição mais recente: “Mulher Fotografa Mulher”
SUELI – Foi muito gratificante ter feito esse trabalho porque pude criar livremente. Transformei, abusei das cores e do espaço, tudo feito com muito carinho. No convite, tive o prazer de contar com uma poesia feita por minha amiga Mary Schaffer que escreve maravilhas.
IZZA – O que marcou nesse período de trabalho?
SUELI – Foi realmente uma fase importante pelo próprio trabalho desenvolvido e também pelas pessoas maravilhosas que conheci e que hoje em dia são minhas amigas.
IZZA – E quanto ao apoio da família?
SUELI – Como sempre, tive e tenho o apoio de minha família. Meu marido sempre me acompanha e me incentiva para que cada vez mais, eu possa fazer melhor o que gosto.
IZZA – E a concorrência?
SUELI – Não vejo os outros profissionais como concorrentes porque o trabalho de cada um é único e pessoal. Cada profissional o desenvolve de acordo com a sua visão do mundo e das coisas que o cercam e da intensidade e sensibilidade de cada um. Sendo assim, ninguém é concorrente de ninguém. Eu admiro os bons profissionais.
IZZA – Qual seria o teu sistema de trabalho?
SUELI – Procuro antes de mais nada conhecer a pessoa com quem vou trabalhar e juntas criamos um bom clima, agradável e descontraído. Isso é muito importante.
IZZA – Fotografia é cultura?
SUELI – Sim. Existem muitas pessoas que não conseguem avaliar uma boa foto e eu vejo isso como falta de cultura e informação. Geralmente, tudo que supere o convencional chega a ser estranho e ousado. Quanto a mim, particularmente gosto de correr esse risco.
IZZA – Você já tem outra exposição marcada para breve?
SUELI – Estou pensando em fazer agora “Mulher Fotografa Homem” e mais adiante “Mulher Fotografa Criança”. Será uma seqúência. Já tive dois estúdios e pretendo não partir para essa novamente. Quero todos os meus trabalhos externos. Sei que para isso só dependo do sol, lindo e radiante.
IZZA – Você se realizou nesse campo. Era isso que você realmente queria?
SUELI – Sim. É exatamente o que eu queria e eu não vou parar por aqui. Quero aprender muito mais com os grandes mestres da fotografia, ler muito e desenvolver um trabalho e pretendo que esse trabalho tenha uma marca registrada e todos conheçam as minhas fotos sem ler o meu nome, simplesmente pelo estilo delas. Creio que em todos que realizei até hoje, consegui demonstrar esse estilo.