Curitiba. 17 de julho de 1988
VILMA SANTOS SABÓIA é uma mulher extremamente simpática e charmosa. Em sua forma simples e descomplicada de ser, demonstra toda sua autenticidade
conhecida pela arte de bem receber, Vilma é caseira e confessa, um pouco tímida. Vejamos o que ela pensa e o que nos transmite nessa entrevista. Esta é Vilma, Sra. Celso Valente Sabóia.
IZZA – Vilma. Você é curitibana?
VILMA – Não. Sou de Santana do Livramento e vim parar aqui. Não foi fácil, meu pai era militar e nos mudamos para Londrina. Conheci o Celso na Lapa, meu primo é casado com a prima dele. As coisas acontecem assim, rápidas, casei muito cedo, após um ano somente de conhecimento. Depois viemos para cá, adorei apesar de não ser curitibana. Uma cidade limpa, uma capital com vida de interior. Gosto de tudo e me dei bem, com o esquema daqui essa vida mais caseira. Me sinto feliz.
IZZA – Vocês são proprietários dos hotéis Clímax e Ouro Verde. Como tiveram a ideia de entrar nesse ramo?
VILMA – Foi assim de repente, uma ideia que deu certo. Inclusive moramos no Ouro Verde durante doze anos, e foi muito gostoso. Mudamos porque, morando em hotel, se perde um pouco a privacidade, o movimento é constante. Acho de suma importância termos o nosso próprio canto e por isso decidimos sair, vir para o nosso próprio apartamento. A vida é feita de fases, e essa foi uma boa fase que passou.
IZZA – Nesta época você trabalhava? Qual era o seu setor?
VILMA – Eu tratava da parte humana, no tocante a parte de pessoal, creio que é a mais difícil, mas atuei doze anos nesse setor. É um trabalho discreto, es- condido. Mas em minha vida, tudo aconteceu tão rápido, de repente meus filhos já estão casados, e atualmente até me sinto só, porque cada um casa, toma seu rumo e eu reconheço, não tive ainda tempo de me conscientizar, mas estou pensando seriamente em reiniciar minhas atividades.
Na época, deixei, porque minha família, meus filhos necessitavam muito de mim, me absorviam. A Adriana tinha somente três anos. Penso em começar de novo, mas mesmo estando afastada em parte, quando me solicitam, compareço. Acho o trabalho uma das coisas mais importantes da vida, e as mulheres também devem atuar porque a vida ociosa é terrível, as pessoas acabam ficando tristes. O trabalho motiva, dá força, ocupa a mente e faz com que sejamos úteis.
IZZA – Vilma, você me disse que é extremamente tímida, sendo dona de hotel, essa timidez não te atrapalha?
VILMA – Não. Eu participei muito, pois, como te disse, sempre tínhamos um esquema de trabalho. Por exemplo, no Ouro Verde, um bar muito agradável que até foi um dos primeiros e muito bem frequentado. Lindo, bem decorado com gotas de cristal, etc. Inclusive lá conheci alguns colunistas, o Kalil Simão, o Dino Almeida. Eu sempre frequentava para que os casais se animassem também a ver, conhecer frequentar. Valeu a pena.
IZZA – O que você pensa sobre colunismo social?
VILMA – Aprecio e muito, desde que as pessoas não sejam deslumbradas com isso. Através do jornal, da coluna social, as pessoas se conhecem, te conhecem. É importantíssimo para uma série de coisas. Acho válido, bonito porque veja, você lida com o ser humano e isso é lindo. Seu eu não fosse tímida, talvez adorasse trabalhar nisso, porque vocês descobrem as pessoas, na amizade, no relacionamento, sua forma de ser. O colunista vive num meio em que se aprende muito. Curto o que escrevem.
IZZA – E a vida social:
VILMA – Aprecio, mas não sou atualmente muito de badalar. Também se- ria impossível comparecermos a tudo. As vezes temos muitos convites, mas selecionamos e vamos a um só, não por antipatia, absolutamente, mas porque sou do tipo mais caseiro, gosto de curtir minha casa e me desligar um pouco do resta Acho a sociedade, curitibana muito fechada e também é por isso que a gente acaba se afastando. Veja bem, existe muita repetição de papos, de pessoas. Adoro o ser humano, mas deveria haver uma variação. Renovar é importante porque a vida já é uma renovação e conseqüentemente as coisas se tomam um pouco repetitivas e pouco atrativas.
O paranaense é mais fechado, talvez pela sua origem européia. Outra coisa que me chama a atenção, é que, homens e mulheres se dividem em grupos e eu não acho isso bom. A mulher é maravilhosa, eu adoro ser mulher, e se tiver que voltar em outras vidas, e se isso for real, gostaria de vir sempre mulher. Elas próprias não se misturam. É tão bom conversarmos todos, homens e mulheres, além de ser bem mais interessante porque eles são mais abertos, livres, e têm sempre algo a acrescentar. Deveria haver mais abertura também nas amizades, elas enriquecem também os casamentos, assim sempre temos novidades para contar um ao outro. O enriquecimento a dois é importante.
IZZA – Você tem algum hobby?
VILMA – Adoro fazer tapeçaria e faço muito. Caminho bastante, detesto andar de carro. Faço seis quilômetros por dia. Creio que a mulher de uns tempos para cá está se cuidando mais e isso até está começando tarde, quando deveria ter acontecido antes. No Japão as pessoas fazem ginástica antes de começarem a fazer qualquer atividade, cuidam do corpo em primeiro lugar. Penso que cuidar do corpo é como cuidar da casa, do carro, é até um caso de bom senso, pois não nos cuidamos para os outros, mas sim primeiramente para nós mesmos.
Adoro me olhar, e sentir-me bem, e quando estou gorda, me odeio e conseqüentemente fico triste. Acho que as pessoas que se cuidam demonstram inteligência. Um bom físico é essencial. A roupa não importa muito quando se tem a certeza de estar de acordo com os nossos padrões. Veja, antigamente, uma mulher de quarenta anos, já era vovó, só dentro de casa, tricô, cadeira de embalo, chalé nas costas, ela se sentia bem assim. Atualmente não, as mulheres estão cheias de vida, trabalhando, amando, e isso é uma coisa linda porque “quem não ama, vive nas trevas”. Temos que amar cada vez mais, mesmo que isso seja difícil.
IZZA – Você fala em amor, o que é o amor em sua opinião?
VILMA – Amor para mim, é enfrentar a incompreensão alheia. Os outros nunca compreendem o amor de outras pessoas.
IZZA – E os filhos, Vilma?
VILMA – Tenho três, todos casados. Quatro netos e adorei a experiência. Amo meus netos, curto muito minha família, demais. Ê válido e muito gostoso. Meus netos são lindos, três meninos e uma menina e outro a caminho, da Adriana, minha filha mais nova. Sou coruja em tudo, sou feita de amor, por isso curto com mais intensidade. Luís Ornar é meu filho mais velho, depois vem Maria Rita e Adriana que já mencionei.
IZZA – Como é seu relacionamento com seus filhos?
VILMA – Como toda a mãe, com altos e baixos, mas o saldo ê mais positivo do que negativa Amo meus três filhos, são queridos, maravilhosos e inteligentes e também minha nora e genros são ótimos. Não poderia dizer que sou completamente realizada, porque o ser humano nunca se realiza totalmente, estamos aqui em busca de alguma coisa, a procura é constante de algo mais. Sou feliz por muitas coisas dentro desse contexto, partindo do princípio que “felicidade são momentos que temos na vida”, pois totalmente feliz, ninguém pode ser, seria também egoísmo de nossa parte almejarmos tanto, já que até Jesus veio para ser feliz e não foi, que direito feríamos nós, de querer a perfeição? As coisas acontecem para darmos maior valor às boas, o amargo depois o doce.
IZZA – Você notou ultimamente o grande número de mulheres se candidatando a cargos políticos? O que você pensa disso?
VILMA – Eu, pessoalmente não me interesso muito. Acompanho para estar atualizada e acho maravilhoso quando a mulher ocupa o seu espaço porque ela é inteligente, corajosa, persistente, perspicaz. Acho também o homem sensacional porque, na vida de uma mulher, um completa o outro, mas, me perdoem, eu admiro mais a mulher porque ela conquista, é carinhosa, e é superior em muitos pontos, basta dizer que ela dá a vida. Ela se acomodou por muito tempo, talvez pela própria educação Sempre a menina foi mais castrada, mais reprimida, mas ela tem capacidade e todo o direito de ter o seu lugar.
IZZA – Vilma, posso notar que você se amarra em astrologia, não é?
VILMA – Eu adoro, curto muito, e estudo. Acho que sou perfeccionista, sou realmente amiga. Gosto das coisas bem-feitas. Sou vaidosa, ciumenta e gosto de mudar as coisas. Mudo de casa constantemente, adoro me cuidar, me arrumar e estar sempre bem, nem que seja num Training simples. Creio que isso é muito importante, sentir-se bem consigo mesma. Não bebo e não fumo, só tenho um vício, chimarrão, mas também não me importo que fumem a meu lado. Sou mais natura- lista, tomo muito chá, sou tranquila e estou sempre bem. Às vezes peco por excesso de positivismo, digo o que pensa Pena que algumas pessoas não admirem isso.
IZZA — Mas você não acha que nos dias de hoje isso é um privilégio?
VILMA – Sou muito sincera, direta e espontânea. Quando gosto de uma pessoa, ou a acho bonita, ou não gosto, faço o que acho, mas muitas pessoas parecem que não curtem assim as coisas diretas. Todo o ser humano gosta de ser adulado, talvez por isso, as observações diretas, mesmo que extremamente sinceras, sejam mal interpretadas ou levadas erroneamente. Acho que o mundo seria bem melhor se todas as pessoas agissem assim.