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“O QUE HÁ DE MAIS IMPORTANTE E A FAMÍLIA” afirma Débora Dias

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Curitiba, 8 de maio de 1988

DÉBORA, primeira-dama, esposa e mãe, dispensa maiores apresentações. Em tudo o que diz e faz, deixa transparecer, em sua forma simples de ser e acontecer, sua dedicação carinhosa por Álvaro Fernando e Carolina. Neste dia, de homenagem a todas as mães, Débora deixa a sua mensagem.

 

IZZA – Você é vista como mãe exemplar. Apesar de todos os compromissos como consegue dividir toda essa atividade e ao mesmo tempo dar atenção aos filhos?

DÉBORA – Se eu dissesse que divido, estaria mentindo. É quase impossível conseguir conciliar. Infelizmente, sempre um lado sai perdendo, e para os meus filhos, eles são o lado perdedor. Estamos empenhados num trabalho social, colocando em prática as propostas do governo Álvaro Dias. Assim, a gente acaba parando pouco em casa, e às vezes, quando chega com a cabeça preocupada, não consegue ser a mãe dos sonhos num espaço muito grande. Não é fácil estar com a cabeça em ordem e principalmente fazer com que os problemas do trabalho não afetem essa convivência com as crianças. Por isso, principalmente, eu levo a Carolina onde posso. É uma maneira de compensar essa falta e também de mostrar a ela que eu não minto jamais quando digo que vou sair para trabalhar.

Foi ótimo porque ela começou a participar e a entender e consequentemente, não cobrar tanto como vinha fazendo algumas vezes. Mas, mesmo assim, sempre existe aquele lado não compreendido. Por exemplo, Carolina sempre reclama, diz que as mães das amiguinhas vão buscá-las, e para mim isso é uma coisa muito difícil, porque são dois horários complicados. O nenê ainda não fala, mas como passa o dia todo em casa, sei que preferiria estar comigo, e quando chego, faz uma festa, ri, bate palminhas. Eu me sensibilizo e vejo como é difícil quando a gente se propõe a realizar alguma coisa séria. Por isso, tanto com o Provopar como primeira-dama, tenho sempre pedido às pessoas que compreendam e marquem as programações durante a semana, para que eu possa reservar os finais de semana para os meus filhos, levá-los a algum lugar, passear com eles no Parque Barigui, no Passeio Público ou em casa de parentes para brincarem com outras crianças.

IZZA – Você acha importante que a Carolina participe, acompanhe?

DÉBORA – Muito, desde bem pequena, sempre saiu conosco, também porque era a única filha. Agora levar os dois seria mais difícil. Não a levo em tudo. Só quando é possível. Ela sempre foi uma criança super aberta, viva, se comporta bem e nunca estranhou as pessoas, não me incomoda e transmite muita alegria. Conhece todos os secretários de Estado pelo nome e até os seguranças do Palácio. Além disso, é uma companhia, faz o papel de amiga, me dá apoio. Acho que, por intuição, se algum dos meus filhos seguir a carreira política, será ela. A convivência com adultos é benéfica, pois ela já sabe que existem pessoas menos favorecidas. Já viu e conhece crianças que, por infelicidade, não possuem o que ela tem. Aprendeu a valorizar e entender que o que há de mais importante é a família, e ter noção de determina- dos conceitos, mesmo tendo somente quatro anos, por conviver, escutar falarmos das carências, da fome, do frio. É uma criança acessível. Se deseja alguma coisa, e é possível, tudo bem. Se não, também está bem.

IZZA – Quem mima mais, você ou o Álvaro?

DÉBORA – Eu até estava comentando com algumas esposas de políticos sobre esse assunto. E complicado porque o marido está geralmente ausente, e quando retoma de viagens, comícios, etc., estão saudosos e com imensa vontade de agradar. E isso atrapalha um pouco o nosso lado da educação, porque fatalmente nesse período, a gente acaba educando sozinha, e eles permitem tudo, trazem presentinhos. Coruja, nós dois somos. Mas o Álvaro mima mais, até permite que às vezes ela durma conosco. Ele é mais acessível do que eu. Quando é preciso, brigo, mas sou contrabater porque acho que a força não é necessária. Por isso falo com ela e quando a chama de Carolina (porque costumo chamá-la de Carol) ela já sabe que a coisa está feia.

IZZA – O que você considera ideal em questão de educação?

DÉBORA – Atualmente é muito difícil educar os filhos pelo momento que o mundo inteiro está vivendo. Por exemplo, como é que explicamos a uma criança o que se passa em uma novela que até mesmo choca aos adultos. Para ela não choca. É informação porque não tem preconceitos. Está aberta, capta como informação, e se aquilo é normal, para ela também passa a ser. Então fica muito complicado discutir com uma criança de 4 anos coisas que ela vê na TV o tempo todo. Temos que entrar em uma questão, que ela não está bem desperta para determinados pontos que desencadeiam às vezes um processo porque não tem preparo para assimilar. Eu acho que tudo tem sua hora certa, o momento em que ela pergunta. A informação através da televisão dificulta o processo na idade deles. Carol me perguntou sobre o Édipo, se era filho da Jocasta, e eu lhe respondi que sim, e ela argumentou, “como é que ele gosta da mãe dele?”. Difícil explicar. De repente, até um crime de incesto, e o pior é que isso na cabecinha da criança começa a ficar meio normal.

Então temos que fazer a contra-informação e isso é ainda mais difícil, porque ela vivência a novela diariamente. Desligar a TV ou proibir não seria indicado porque assim chamaríamos mais uma vez sua atenção para o ato, que geraria uma curiosidade ainda maior, que a faria buscar fora. Por isso eu digo que não é fácil educar atualmente. Acho que na minha geração, minha mãe só começou a ter esses problemas quando eu fiz dez anos. Hoje tudo está muito adiantado. Tenho esperança que essa juventude, por ter mais abertura, mais informação, possa reciclar mais facilmente e formar outra juventude, nem tão liberal, nem tão reacionária, uma coisa mais normal, mais de natureza, sem chocar nem obrigar as pessoas a seguirem conceitos.

Essa geração de agora, brincar com bonecas, mas não está só a fim de brincar de bonecas. O vocabulário é diferente, inclui termo que gerações anteriores à minha, até desconheciam até o casamento. Acho que a gente tem que ser mãe para conseguir entender nossos pais em relação a uma série de coisas. Quando se é mãe, a percepção muda, começamos a querer podar um pouco as influências e, no meu caso, pior ainda porque para pouco em casa e não tenho condição de acompanhar o dia-a-dia da evolução da Carol, porque os horários às vezes não coincidem. Eu acho, ela vai ao ballet, volto, ela ainda não chegou, saio novamente e quando retomo ela já dorme.

IZZA – Você sempre gostou muito de crianças, não é?

DÉBORA – Comigo, criança é uma coisa muito engraçada, porque o primeiro nenê que peguei no colo foi a minha filha. Eu tinha medo da reação das crianças comigo, acho que não tinha vivência nenhuma por ser filha única. Quando peguei minha filha venci todos os preconceitos que tinha em relação a externar afetivamente. Sempre adorei, mas não tinha coragem de chegar, com medo de ser rejeitada. Talvez por não ter aprendido quando criança a conviver com outras crianças. Eu era extremamente ciumenta com meus pais. Com a Carol, modifiquei minha estrutura de pensamento.

Ela me tirou essa barreira de relacionamento. Até o primeiro banho, dei sozinha sem ter nunca visto antes, ou aprendido. Foi como se a Carol fosse necessária nessa transição sem dor, e vi que tudo era normal. Um nenê necessita de carinho e de cuidados, choram quando tem fome, é altamente instintivo. Venci tudo e a criei muito livre. Eu a levava junto a ginástica e quando tinha algum compromisso a deixava na minha mãe. Acho que é por isso que ela é independente. Se eu não posso acompanhá-la, ela logo arranja uma outra pessoa. A dependência dela comigo não é física, e sim emocional.

IZZA: Nunca existiu ciúme da parte dela para com o irmãozinho?

DÉBORA – Nunca. Ela adora o irmão e é uma das poucas pessoas que consegue tirar gargalhadas dele, que é um pouco sério. Ela beija, abraça, cuida e até as vezes me chama a atenção. É engraçadíssimo quando vou sair, diz: “Você tem um nenezinho em casa para cuidar”. Bem, quando ela nasceu, o Álvaro era senador e não tinha tantos compromissos como agora. E o nenê tem menos a nossa presença do que Carolina teve. E quando era pequenininha, eu estava na faculdade e ela dormia enquanto eu estudava, e só acordava quando eu chegava. O Álvaro Filho é diferente, dorme muito cedo e acorda cedo também. Quando o pai chega, ele está dormindo e quando o Álvaro sai, ele também está dormindo, consequentemente, o Álvaro só o vê mais nos finais de semana e sente muita falta disso.

IZZA- E você, como filha única, foi muito mimada?

DÉBORA – Fica difícil a gente reportar no tempo. Acredito que, quando eu era menor, reclamava a falta de companhia. Agora acho que foi positivo ser filha única, porque tanto meu pai como minha mãe voltaram sua atenção para uma pessoa só. Meu pai era professor, advogado, trabalhava na Prefeitura, na sua especialidade que era direito municipalista, e dedicou toda sua carga cultural e de vivência para mim. As crianças de minha idade não gostavam de ler e ele sempre me incentivou muito, ficava horas e horas me dando atenção e isso me deu uma formação cultural e emocional muito boa. Naquela época eu reclamava.

Mas hoje sou grata porque assimilei um hábito que tenho até hoje e que pretendo cultivar nos meus filhos. Tive e tenho muito carinho e dedicação de minha mãe, que quando eu era pequena, até parou de trabalhar para cuidar de mim. Eu era terrível, queria sua presença o dia todo. Agora, a ligação que eu tenho com ela é muito estreita, continua sendo a minha mãe e a avó de meus filhos. Sempre está por dentro de tudo, bem informada, e quando fica com Álvaro Filho e com a Carolina, saio tranquila porque sei que estão bem amparados.

IZZA – Você mencionou no início desse bate-papo sua timidez. Como consegue falar tão bem e desembaraçadamente em uma entrevista?

DÉBORA – Quando o encontro é agradável, e descontraído sim, eu adoro conversar. Sou tímida diante de muita gente, porque tudo é tão cobrado e tenho sempre que ter uma postura X. Às vezes estou com uma vontade imensa de ficar em casa com os dois pequenos e sou obrigada a sair. Não existe neve, sol, nada. No início sofri muito com isso porque sempre fui independente. Eu dançava, dava aulas, estudava Direito e Débora Almeida era uma pessoa normal. Foi difícil, no início, encarar o peso do sobrenome “Dias”. De repente mudou até a visão, tive que aprender a ter paciência. Antes eu dependia só de mim. Agora, já lido com toda uma estrutura para que as coisas aconteçam. Comecei a ver as coisas de outra forma, mudei os meus conceitos em relação à responsabilidade, porque antes, para mim, responsabilidade era um coisa muito “eu” e depois tive que assumir em termo de “coletivo”.

Trabalho com uma comunidade e se ela não corresponde ninguém responsabiliza a própria comunidade e sim quem está à frente desse trabalho. Então observei que não dependia só do “eu” e eu teria que aprender a trabalhar com “nós” e tentar incutir também nas pessoas essa questão de responsabilidade. Vi que se eu tivesse que fazer algo que me omitisse, isso refletiria em outras pessoas. Confesso, em determinadas horas eu gostaria de me omitir por estar envolvida com o problema ou por não estar preparada emocionalmente para conviver com aquele problema. Na época da gravidez foi dificílimo, porque eu tinha uma agenda a cumprir e tinha me proposto a isso. Trabalhamos com excepcionais e no auge de minha sensibilidade, de sete meses de gravidez, eu voltava para casa arrasada, me sentindo tão impotente diante de tantas carências. Sabia e sei que posso fazer, mas a longo prazo. Sempre fui contra a postura do assistencialismo pura e simplesmente, mas em determinados casos temos que abrir exceções. Sou muito sensível.

IZZA – Você acha que o fato de ser jovem facilita o relacionamento com as pessoas ou faz com que elas te achem mais acessível?

DÉBORA – Isso talvez não dependa da idade. É uma questão de cabeça e de formação. Tanto o Álvaro como eu, temos noção exata do poder, sabemos que é transitório. Hoje ele é governador, eu, primeira- dama, esposa do governador, e Álvaro Filho e Carolina, filhos de governador. Daqui a três anos, isso não será mais uma realidade. Se fôssemos diferentes, vivêssemos uma fantasia num mundo imaginário, nos tornaríamos inacessíveis sem os pés no chão, uma coisa absurda.

Encaramos esse período como missão e trabalho, e nada mudou por termos entrado nesse esquema, humana e intimamente. A mudança ocorreu somente em questão de trabalho, responsabilidade. Gosto de ter a possibilidade de mostrar trabalho na esfera profissional e isso tudo não deixa de ser um trabalho, uma profissão. Não estou nessa como amadora, faço tudo para me profissionalizar e acho que nem o Estado merece uma amadora. Somos voluntárias, eu e as esposas dos secretários. Em meu casamento, foi a receita ideai, porque cada um tem sua individualidade para um bem comum, sem interferir no trabalho do outro.

IZZA – Débora, o que você gostaria de transmitir para as mães, especialmente nesse dia?

DÉBORA – Que elas continuem amando seus filhos, porque o maior dom, a melhor bênção da vida que ela pode dar ao filho é fazer com que ele aprenda a amar e saiba o que é o amor. Acho que fora disso é difícil dar conselhos ou mensagens porque as mães estão ligadas diretamente a Deus e não a outras pessoas. É o que eu sempre achei da minha e é como eu me sinto em relação aos meus filhos. Sempre procurei falar e mostrar que a coisa maior na vida é saber amar de todas as maneiras possíveis par alcançar a felicidade. Esse é o grande papel das mães: mostrar a seus filhos o que é o amor, que ele existe para que sejam crianças felizes, homens felizes e, depois pais felizes ainda e mães que já aprenderam e possam transmitir isso a seus filhos.

 

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