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“O MAIS IMPORTANTE É O QUE A PESSOA APRECIE O QUE ESTÁ ADQUIRINDO” fala Helena Pereira de Oliveira

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Curitiba, 2 de março de 1988

HELENA PEREIRA OLIVEIRA. Adora arte e há seis anos convive diariamente com ela. À frente da galeria “Bico de Pena”, juntamente com Carlinhos Almeida tem se destacado por seu desempenho, e pelas promoções que organiza. Helena nasceu em Florianópolis, mas desde criança mora em Curitiba. Diz ser Curitibana de coração. Hoje ela nos conta como optou pelas artes e como desenvolve seu trabalho. Confiram.

 

IZZA – Desde quando a arte faz parte de sua vida?

HELENA – Eu sou formada em Economia, mas não exerço a profissão. Estou atuando na área do mercado de artes há seis anos. Sempre gostei e fiz vários cursos sobre o tema. Adoro desenho, e pesquisei muito, mas não me dedico atualmente. Estive em Paris em 78, fazendo um curso de história da arte, no Louvre, e desde essa época, não parei mais.

IZZA – Como a “Bico de Pena” começou a acontecer?

HELENA – A galeria é minha e do Carlinhos Almeida. O início foi bem ocasional. Eu estava na Artestil levando alguns quadros para emoldurar, quando o Fabiano Campos me falou que ele e Carlinhos estavam prestes a abrir uma galeria, me convidaram para a sociedade. Aceitei, nos reunimos e começamos a buscar o ponto, etc. Isto em 86. Em outubro, alugamos a casa, começamos a reforma e em dezembro o Fabiano se afastou e nós continuamos. Em março, a casa estava pronta e a inauguração foi marcada para o final de maio. E a inauguração foi marcada para o final de maio.

IZZA – E esta casa maravilhosa, bem antiga não trouxe problemas para a reforma?

HELENA – E realmente interessante. E tombada para preservação histórica. Não mexemos na fachada, somente no interior. Ela foi construída no final do século passado e o pé direito não foi rebaixado por isso é gostosa e arejada.

IZZA – Vocês fazem muitas vernissages aqui. Qual seria a próxima?

HELENA – No ano passado fizemos uma que marcou e promete ser sucesso novamente. Em março aconteceu a “Parabéns Curitiba” que foi no dia 29 de março em comemoração ao aniversário da cidade. Quarenta artistas expuseram alguma coisa ligada a Curitiba. O Rubens Esmanhoto fez o “Bar Palácio”, a Betti Pizzani pintou o “Passeio Público”, o Marcos Bento fez a “Áurea da cidade”. O Armando Merege fez um trabalho de colagens com o mapa de Curitiba, a Cidade Industrial. Álvaro Borges fez “Arredores da Cidade”, o Zimermann fez o “Bolo de Aniversário”, foi fantástico porque mexeu com a criatividade deles.

Todos fizeram alguma coisa vinculada ao tema. Achei que o sucesso foi tão grande que decidimos repetir este ano. O “Parabéns Curitiba” acontecerá de novo. Eu ligo para os artistas e geralmente a ideia é bem aceita a não ser que o estilo seja bem distinto e realmente o faça sair do seu tema principal. O Calderari por exemplo só faz marinhas, mas ele participa porque é imprescindível. Se ele não participasse, haveria uma lacuna. Eu pessoalmente acho que ele é um Nisio do futuro, porque é difícil um artista pintar “Marinas” como ele pinta a perspectiva e a profundidade que ele dá é uma loucura. Eu curto muito. E além do lado artístico é uma pessoa maravilhosa.

IZZA – Você acha que uma pessoa precisa entender de arte para fazer uma boa compra?

HELENA – O mais importante é que a pessoa goste do que está comprando porque diariamente ela estará convivendo com aquela tela e quando não é do agrado, ela passará a implicar. O valor não importa. O ideal seria unir o nome ao gosto pessoal. A pintura deve agradar aos olhos. Se você entende, melhor ainda, mas se não, deve adquirir somente o que gosta. E como comprar uma roupa, não adianta ter o que não nos cai bem. Ás vezes um pintor que agrada a maioria, não nos agrada, isto é normal, cada pessoa tem seu gosto pessoal que deve ser respeitado. Comprar pelo status ou porque está na moda, ter fulano de tal em casa, sem gostar do quadro, é bobagem.

IZZA – Em matéria de quadros existe moda?

HELENA – Quem não é bom, não se estabelece. Faz sucesso por deter- minado tempo, porém cai rapidamente. Eles não conseguem se manter. E há, os que não têm consideração com o público. Explico, alguns começam, estudam, se dedicam, e de repente cansam, param e abandonam, só que neste período em que atuaram, venderam, formaram a clientela e de uma hora para outra, deixam de pintar. Acho isso uma falta de consideração para com aqueles que prestigiaram no começo. Não pára por aí, daí a dois anos resolvem recomeçar, não se dão conta que a arte é evolutiva e necessita dedicação pelo menos duas horas por dia. Assim como qualquer coisa na vida, você tem que se dedicar para amadurecer, evoluir, crescer.

Em qualquer profissão acontece o mesmo. Alguns artistas aqui de Curitiba mesmo, pararam no tempo, inclusive deram aulas para outras pessoas que os superaram. O artista tem que estar sempre se dedicando, e se parar um mês, ele regride. Eu senti isso de perto. Confesso que algumas vezes pego no pé, e incentivo esta evolução. Admiro pessoas que, apesar de terem vida familiar e outros problemas, seguem com toda a foiça e sempre conseguem um tempinho para desenvolver a sua arte. Quanto mais tempo você precisa, mais você arranja, é o lema. Eu poderia citar muitas, mas acho que a Carmem Pizzani é um exemplo de evolução e dedicação. Ela fará a 1ª individual conosco em setembro. Gosto de sentir que as pessoas jamais vão desistir. E que são conscientes daquilo que querem. Eu como vendedora também não posso parar.

IZZA – Para ter uma galeria é muito importante que a dona ou uma das donas tenha uma noção ampla sobre pintura?

HELENA – Claro. Eu não tenho o dom da pintura mas tenho o do desenho, e já possuo uma vasta vivência sobre artes. Estudei, aprendi, tive muitas aulas e diversos cursos que me deram uma boa base e principalmente vivência. Tive aulas com o Kennedy etc. Mas sei que dou mesmo para o desenho, e reconheço que, o desenho, somente o papel é muito difícil de vender porque as pessoas não valorizam. Aquarela e bico de pena são geralmente caros, mas as pessoas aqui preferem comprar um óleo. Na Europa é diferente porque lá, dão mais valor, conseqüentemente vende mais.

IZZA – O gosto curitibano é mais propenso a que tipo de pintura?

HELENA – Acho que o público varia. Existe o que adora artistas nossos e que só compra telas paranaenses. Há o que compra arte em geral, respeitando sua própria opinião, o que compra aqui porque confia, e ainda existe o outro público que só compra telas de São Paulo e Rio porque acham que aqui não existe mercado. Consequentemente quando quiserem vender, terão que ir para lá. Temos muitas pessoas que se acostumaram a comprar somente aqui e os que vêm, gostam e levam sem interessar preço, nome, nada. Vendemos muito para Santa Catarina, eles nos procuram. Por isso acho que o mais importante é a minha presença, estou aqui para atender aqueles que confiam e esperam comprar de mim. Acho interessante que a maioria sabe o que quer.

IZZA – Como está o mercado atualmente?

HELENA – Não sei dizer, porque não tenho parâmetros para comparar. Vamos fazer dois anos de galeria, o primeiro ano não conta. Antes as pessoas ainda não conheciam nosso trabalho, pois como em todo o ramo, no 1º ano tem que haver divulgação. Este segundo ano vai contar. Para mim está sendo muito bom desde o começo, por isso não sei como comparar. Dezembro foi sensacional. Janeiro também. Temos que considerar que nestes dias, as pessoas estão mais preocupadas em iniciar novamente suas atividades, comprar material escolar para os filhos etc. Acho que isso é normal.

IZZA – Você não acha que ultimamente muitas galerias estão sendo abertas?

HELENA – Penso que, quem é bom, fica, e quem não é, fecha. Quando começamos a “Bico de Pena”, abriram vinte mas permaneceram quinze.

IZZA — Qual seria teu gosto pessoal?

HELENA – Seria impossível enumerar todos. Como já falei, adoro o Calderari, o Zimermann, o Merege, que tirou o primeiro lugar no “Curitiba Arte 4″ e foi para Paris. A Betti Pizzani, Claudia Guimarães, Érico da Silva que fará uma individual em abril de sua nova fase, Marcos Bento, Una Uiara e muitas outras de grande futuro.

IZZA – Você que viveu fora do Brasil, o que, na nossa maneira de encarar a arte se diferencia da Europa?

HELENA – E totalmente diferente. Lá não existe aquele artista que de repente ê artista porque resolveu ser. Eles têm todo um curriculum atrás deles. Estudam. Em todos os colégios uma vez por semana eles saem para visitar museus, contactar de perto com a arte. Na Europa, quem estipula preço é o mercado e não o próprio artista. Todos respeitam a tabela. Se os quadros vendem valem, se não valem menos. Quanto mais vender, mais o preço sobe. Existem também muitos leilões que acho fantástico porque diz exatamente quanto vale o artista e termos de merca- do e eles brigam por determinadas obras. Eles colocam quadros ótimos em leilões, vale a pena.

IZZA – Como funciona o consórcio de quadros?

HELENA – É necessário ter uma licença do Ministério. Mas este sistema no tocante a obras de arte não é propriamente um consórcio porque não existe lance, é um clube. Você paga um X por mês sem reajuste e todo o mês uma das pessoas retira o quadro no valor total. E como se fosse uma prestação.

IZZA – Como está a tua agenda para este ano?

HELENA – Em abril, a exposição de Érico da Silva. Em ma» talvez a gente faça um leilão, que acho ótimo. Em junho a exposição com Marcos Bento. Em final de julho uma exposição itinerante “o dia nacional da cor”. Várias capitais usarão o mesmo tema. Em setembro a individual da Elizabete Pizani, em outubro a da Adriana Banfi de São Paulo, que faz muito sucesso, já fez até individual na Itália. Por enquanto são estas as perspectivas.

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