LÁ AUN ENGEL – Formada em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, com pós-graduação em Parapsicologia, presidente do Banco da Mulher, com curso profissionalizante em massagem oriental e ocidental, é atualmente estudante de astrologia. Ela tem muito a nos contar. Vejamos.
IZZA – Como é que você chegou a ser presidente do Banco da Mulher?
LÁ – Bem, isso foi conseqüência de ter sido presidente do Conselho da Mulher Executiva da Associação Comercial. Tudo começou em 1983, quando fui chamada pela Associação, eu e mais um grupo de empresárias. Alguns de seus diretores tinham ido até Minas Gerais, é que o pessoal do Rio de Janeiro tinha criado um Conselho de Mulheres Executivas, que lá estavam presentes e convidavam a todas que abrissem em suas federações, um conselho deste tipo. Gostaram muito e chamaram um grupo de empresárias, e eu, na época tinha um atelier de roupa de couro e fui chamada também. Como já conhecia a dinâmica da Associação Comercial, e por circunstâncias (na verdade a primeira presidente era para ser a Fani Lerner, mas na época, não tinha condições) acabei eu fazendo parte daquele conselho.
Ana Lucia Sartori Maia, que era presidente no Rio de Janeiro, a primeira mulher a criar esse tipo de conselho, já tinha trazido a ideia do Woman’s World Bank para o Brasil, mas ele foi criado no primeiro Ano Internacional da Mulher na Holanda. Daí a dois anos realmente se efetivou. De lá para cá foi crescendo no mundo inteiro, mas nós levamos aqui alguns anos para conseguirmos adaptar legalmente o Banco da Mulher, que em alguns lugares do mundo funciona como um Banco mesmo. Aqui a gente empresta o dinheiro às pessoas que necessitam de desenvolvimento comercial, para mulheres de baixa renda, e o fundo desse banco é feito de doações, de pessoas físicas, jurídicas, empresas, de embaixadas, associações, de fundações, de todo o mundo que dispõe de dinheiro para desenvolvimento social, e pode empregar essa verba no Banco da Mulher, cuja ideia é o desenvolvimento e apoio à mulher de baixa renda. Na época não existiam linhas de crédito diretamente, no seguinte sentido, se você quisesse, teu marido teria que avalizar. Sem sua assinatura, nada acontecia, e o propósito era conceder o empréstimo sem o aval do marido, para as pessoas que tivessem necessidade de desenvolver uma produção, que fizessem coisas em casa, artesanato, etc. Quando conseguimos viabilizar isso aqui no Brasil, foi criada então, a matriz no Rio de Janeiro e a primeira filial aqui em Curitiba.
IZZA – Essas doações são solicitadas diretamente?
LÁ – Sim, em geral solicitamos. Em Nova Iorque existe a agência-mãe. Não mais na Holanda, porque Nova Iorque é a esquina do mundo, eles dirigem as coisas. Fundações como a Inter American Information tiveram notícias da gente através da casa-mãe e, nossos primeiros “dinheiros” do fundo vieram da Inter American Information. A matriz procura fundos de grande porte e esse fundo ela divide entre as filiais, entre as seções, e nos serve de garantia (uma vez que não podemos fazer um empréstimo diretamente por não termos uma carta patente e não sermos um banco, somos uma Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Mulher – Banco da Mulher) então pegamos esse dinheiro, chegamos num Banco Comercial, no caso aqui fomos ao Bamerindus com o propósito de aplicarmos e solicitarmos uma linha de crédito especial para mulheres de baixa renda com juros menores, sem correção monetária etc, etc. Esse dinheiro nos dá moral para negociarmos com um banco comercial, é uma garantia. O Bamerindus nos concedeu essa linha especial. Nós já emprestamos a primeira leva: as mulheres já devolveram. Foi um sucesso, uma coisa muito bonita, porque chegamos onde queríamos, os nossos alvos foram todos atingidos, claro que com algum sofrimento. Levou muito tempo.
IZZA – A procura deve ter sido enorme, não é?
LÁ – Eu inclusive não fiz muita divulgação do trabalho do Banco, porque por enquanto temos pouco dinheiro, então não adiantaria fazer uma divulgação muito grande e depois não termos fundos para beneficiarmos todas. Eu sinto isso como uma agressão às pessoas, você proporcionar a possibilidade do sonho realizado e depois ter que dizer: “Eu sinto muito, mas não posso cumprir, porque não há dinheiro suficiente agora”. Nós usamos um critério para esse primeiro empréstimo, que as pessoas fossem artesãs cadastradas no Programa Nosso, porque assim nós teríamos uma certa segurança para esse primeiro passo, porque essas pessoas cadastradas, já têm pedidos e estão trabalhando. Futuramente, quem sabe, a gente possa até financiar o sonho, porque, por enquanto não vemos condições de risco com essa verba por estarmos muito no início.
Então temos que investir em quem realmente já está produzindo e não esteja conseguindo cumprir com suas promessas de pedidos. Assim sabemos que esse dinheiro vai ser aproveitado do primeiro ao último cruzado. Atualmente estamos abertos à admissão de novos sócios porque esse fundo do Banco é composto inclusive da mensalidade dos sócios, pessoas físicas, jurídicas que queiram inclusive doar quantias para que possamos aumentar o nosso fundo e tenhamos assim mais condições para ajudarmos outras pessoas. Claro é um trabalho social e os doadores não terão vantagens especiais, mas felizmente temos tido boa receptividade. Todos que têm uma verba para aplicar em desenvolvimento social tem condições para fazer isso conosco. As chances de crescermos são muitas. Foi tão bonito fazermos uma visita a essas pessoas beneficia- das, tão felizes com os resultados.
IZZA – E a tua clínica, “Baglis” há quanto tempo ela existe?
LÁ – A clínica está aberta há dois anos e pouco, mas eu comecei a me dirigir para esse outro tipo de atividade já há uns cinco anos. A minha formação é Filosofia e depois resolvi estudar Parapsicologia e percebi as atividades do espírito de uma maneira mais formal. Eu queria saber como é que tudo funcionava, as linhas da espiritualidade e as linhas da terapia pelo seguinte: hoje no mundo inteiro a filosofia mais contemporânea é a filosofia do Olimpo que vem do grego, e é uma coisa bastante lógica porque no século passado até meados deste século, se dava uma importância muito grande ao que era científico, o respeito ao que pode ser provado etc. De meados do século para cá, a psicologia trouxe uma outra perspectiva interior do ser humano, mas que não é tudo.
Então é psicossomático, você começa a olhar os problemas da pessoa humana sobre dois aspectos, o físico e o psíquico, e agora, já neste final de século começa a ver uma síntese de tudo isso, olhar o corpo, a psiquê e o espírito porque não são coisas dissociadas e sim integradas. Por causa dessa coisa do científico, do comprovado, a religião, o lado místico das pessoas ficou bastante esquecido durante esses anos todos, e agora há esse ressurgimento deste lado tão digno que é a sua própria alma, que é o seu espírito. Estudando tudo isso eu fiquei encantada com a maneira nova dentro da filosofia, então eu e um grupo de pessoas, a Tania Ribas que é minha sócia aqui, mais o Roberto Cesar Leite, que é médico homeopata nos unimos e fizemos essa clínica que tem esse tipo de filosofia. Nós usamos métodos bem interessantes como Iridologia, um exame através da íris, massagens, temos um fisioterapeuta, acupuntura, hidroterapia, tratamento através da água, muito usado na Europa, onde temos condições através de formas naturalistas, de restabelecermos uma pessoa. O forte da clínica é a desintoxicação em geral. Temos também uma cozinha naturista. A pessoa vem pela manhã e sai à tarde.
IZZA – Qual é a tua função na clínica?
LÁ — Eu faço um tipo de relaxamento, a minha função é a de explicar o tipo de tratamento que a pessoa vai fazer, para que serve, como é que vai ser, a terapia alternativa, a medicina natural. Depois as pessoas estão aqui porque elas pensam, se ela pensa de uma forma o corpo vai reagir desta forma mesmo, e se ela muda esta forma de pensar o corpo também vai mudar. Nós nos alimentamos não somente do que comemos, mas sim também do ar que respiramos e das coisas que pensamos. Temos essa cozinha que cuida da parte dos alimentos, o ar, a gente orienta as pessoas, que saiam, vão ao campo, à praia onde há mais ar puro. Quanto ao que a pessoa pensa, quando ela nos procura geralmente está com a cabeça precisando de ajuda, idéias confusas, então eu como professora de Filosofia que sou, faço a orientação nesse sentido. Então conversamos sobre o que é a auto-conscientização do corpo.
É fundamental que a pessoa se conheça por dentro, o que é com o seu espírito, o seu psiquê, etc. Falando na teoria da polaridade, há, além da anatomia física, a anatomia energética que foi estudada por civilizações bastante antigas como os chineses, os indianos, que chamam chacras esses pontos grandes de energia.
Os chineses chamam de meridianos, que são canais energéticos, tanto que se faz o do in e a acupuntura usando esses pontos. Muito mais contemporaneamente nos Estados Unidos, o dr. Rudolf Stone começou com essa teoria da polaridade olhando o homem como um imã, com polaridade negativa e positiva, e a partir daí, chegando à conclusão que toda a disfunção, qualquer tipo de tensão etc. são entupimentos dessas vias de energia e que é possível a realização de certo tipo de estimulação para que essa energia flua mais correntemente através do campo eletromagnético de outra pessoa. Como a mão esquerda e a direita têm polaridade diferente, a gente usa as duas mãos para estimular essa passagem de energia de determinados pontos. Existe pouca literatura no Brasil sobre isso, inclusive tem um só livro que se chama “A cura pelas mãos”, de Richard Gordon, americano que veio ao Brasil algumas vezes dar explicações sobre esse tipo de trabalho, é um campo muito novo onde se faz um balanço do campo eletromagnético da pessoa. É interessantíssimo, mas é impalpável.
Às vezes uma só seção, alivia a tensão, a polarização deixa a pessoa tranquila. Primeiramente a gente não toca na pessoa porque o toque é muito leve, a distância é de dois ou três centímetros, porque é no campo eletromagnético, não é no físico. É uma massagem psíquica. Atualmente eu estou fazendo um curso profissionalizante de massagem.
IZZA — Você é muito mística, não é?
LÁ — Vou contar alguma coisa que aconteceu nessa minha caminhada. Eu fui fazer esse curso de Parapsicologia e conheci muitas pessoas interessantes que já trabalham com espiritualidade há mais tempo em muitas linhas. Eu, como fui criada dentro da Igreja católica, tive alguma dificuldade para me inteirar disso tudo por uma questão de preconceito e tudo o mais, mesmo porque eu tenho a formação católica muito forte que não poderia negar e eu tinha que adequá-la e essa foi a parte mais difícil. Essa foi a maior mudança pela qual tive que passar. Estudei muitas outras linhas e continuo uma pessoa católica no fundo. O que acontece nessas lidas místicas, mais esotéricas, a gente tem condição de ver que todas as linhas espirituais, cada uma na sua faixa de vibração (porque cada uma é feita por um grupo de pessoas). A gente se atiniza com alguma linha porque a nossa vibração está dentro daquela faixa, então por isso há um número tão grande de maneiras para se chegar a Deus, por que cada um de nós está numa faixa e cada um se adéqua a uma maneira de chegar a Ele.
Todas as religiões são válidas porque todas visam a elevação do espírito, e foi muito bonito perceber isso. De repente, como jovem eu deixei a religião e agora madura, entendendo todas elas e inclusive a minha religião-mãe, muito mais profundamente. Claro, a gente tem restrições da forma que a religião é ensinada, mas eu entendo que a gente esteja vivendo um momento de mudanças nessa área também. Falávamos sobre anjos, querubins e serafins, era uma coisa tão longínqua porque nunca foi nos explicado nada.
Quando a gente começa a perceber estudando por outras fontes, de outras maneiras, que realmente todos eles existem e que existe muito mais do que isso, é uma maneira toda nova de perceber não só as coisas do espírito, ou as que estão numa outra dimensão, mas as coisas da natureza que também culturalmente a gente ainda não entendeu, não aprendeu a compreender a desfrutar. Veja como nós ocidentais estamos longe da natureza, a gente não sabe como fazer uma reintegração com a terra, com as plantas. Eu fui sentir a vida real das plantas de uns anos para cá, o que a natureza pode devolver para nós, energeticamente, me ajudar no equilíbrio físico, não só tomando chazinho mas estando junto da planta, é uma questão de campo elétrico e campo magnético fácil uma interação química e física, é uma coisa que culturalmente a gente não recebe, de casa, da cultura em geral. Essa reintegração dos quatro elementos, da água, do fogo, da terra, do ar, de como se integrar de novo com eles, é tudo uma coisa nova, altamente integrada e absolutamente antiga, porque estavam aí antes da gente, mas fomos nos distanciando disso tudo, então vivemos de plástico, inclusive alimentação de baixíssima qualidade, enlatados. Na verdade, o nosso corpo é muito frágil, os nossos ancestrais podiam até viver menos, mas eram mais fortes.
IZZA – Mas você não acha que as pessoas estão voltando ao início? Em termos de coisas saudáveis?
LÁ — Sim, eu entendo isso como essa volta à natureza, a nossa geração está tendo essa característica, essa procura às coisas fundamentais que no fundo é uma pergunta filosófica, o que somos, o que estamos fazendo. Isso é o princípio da filosofia, estamos tentando trazer para a terra, para a vivência, para o cotidiano, aquilo que a gente respondeu filosoficamente: “Vamos ver dentro da natureza o que podemos fazer”.
IZZA — E a astrologia?
LÁ – Quanto à astrologia eu sempre tive um pouco de preconceito, por causa de horóscopo, etc, eu achava que tinha alguma coisa a ver, mas por nunca ter estudado, eu não chegava muito perto por uma questão de ignorância minha. Aí eu percebi, fazendo um mapa astral, que um mapa é uma coisa muito séria e que a astrologia faz parte do acervo cultural da humanidade, e não do acervo cultural do povo em geral. Um acervo cultural das lideranças dos povos, porque os astrólogos eram os conselheiros dos reis, faraós, imperadores, então o astrólogo não é um sábio qualquer, e os conhecimentos de astrologia passavam de boca em boca, fazem parte do acervo cultural da humanidade, e têm o mínimo que ser respeitado e o local certo. O mapa astral é de anos. O horóscopo pode ser uma coisa precisa desde que a pessoa que faça, tenha a hora do nascimento, minuto e o local certo. O mapa astral é importante para o autoconhecimento, porque às vezes acontecem coisas que não entendemos, e o mapa pode dar dicas precisas. Cada um tem uma aptidão e o mapa mostra.
IZZA – Qual seria a diferença entre cabala e mapa astral?
LÁ – A cabala trabalha com números, o mapa trabalha com os astros e os arquétipos, por exemplo, Vênus é um planeta, mas significa na mitologia grega, o arquétipo feminino, então quando dizemos que uma pessoa é regida por Vênus, isso quer dizer que toda essa força do arquétipo está agindo mais nessa pessoa do que em outras. A cabala também, trabalha com numerologia, é um estudo lindíssimo desde que seja bem feito. O curso que estou fazendo, de astrologia, faço por curiosidade, é uma forma de conhecer mais profundamente as pessoas, mas especialmente porque cada pessoa é um instrumento de melhor autoconhecimento. A astrologia tem muito a ver com a terapia em geral também porque cada planeta rege uma parte do corpo. Dependendo do signo, dá para fazer toda uma referência.
IZZA – E conciliar tudo isso?
LÁ – Teve uma época em que eu costumava dormir muito tarde. Agora tenho uma nova dinâmica, deito cedo e acordo de madrugada porque é o único tempo que disponho para estudar. De manhã estou na clínica, à tarde na astrologia e depois volto à clínica. Dou aula também no curso de atualização da mulher, uma vez por semana. Não me queixo de monotonia.