Curitiba, 10 de janeiro de 1988
Solange é leonina, de forte personalidade. Nasceu em Ribeirão Claro, no Norte
Pioneiro. Aprecia uma boa conversa, e defende a total liberdade de diálogo e opinião. Solange é casada com o empresário Gilberto Menezes.
IZZA – Solange, conte-nos um pouco de você.
SOLANGE – Nasci em Ribeirão Claro, no Norte Pioneiro. Família unida, meus pais sempre quiseram dar o melhor para os filhos, principalmente em matéria de estudo. Somos em seis irmãos. Minha irmã mais velha foi estudar em Londrina, e eu, com onze anos, vim para Curitiba, estudar no Sacre Coeur de Jesus. Somente nas férias voltava para casa e assim o tempo foi passando, até o término do Normal. Quando entrei no cursinho, passei a morar com meu irmão, que atualmente reside no Canadá. Logo conheci o Gilberto, meu marido. Em seis meses namoramos, noivamos e casamos. Apareceu uma oportunidade de trabalho e comecei a lecionar em um colégio pequeno, chamado “Ermelino de Leão”. Foi bom porque eu queria trabalhar, fazer alguma coisa, gostei muito. Depois vieram os filhos, então tive que deixar porque a criança exige muito a presença constante da mãe.
Tenho o André, com 13 anos; o Alexandre, com 10 anos. São ótimos, fazem muito por mim. O André estuda pela manhã e trabalha à tarde. Isto partiu dele mesmo. Certo dia estávamos conversando sobre a dificuldade de arranjarmos um caixa para o estacionamento, e ele se prontificou. Ficamos admirados e um pouco receosos que esse fato prejudicasse seus estudos, mas ele nos surpreendeu porque, no terceiro bimestre, já estava com as notas fechadas. Acredito que ele vai ser um grande homem, porque com sua pouca idade já é muito responsável. Estou aprendendo muito com meus filhos. Não me dão trabalho e tenho certeza de que o menor seguirá o mesmo caminho, já que tem o exemplo bem próximo.
IZZA: Você não acha que isto é o resultado da boa base de educação dada por você?
SOLANGE – Sim, principalmente porque desde pequenos conversamos muito com eles. Existe muita participação, e eles são conscientes de que têm que crescer por si próprios. Meu marido começou assim. Este diálogo participativo é excelente porque nos dá a oportunidade de nos conhecermos e nos respeitarmos em qualquer situação. Conversamos de igual para igual. Quanto à educação, ela mudou por- que a época também é outra.
Por exemplo, eu e várias mulheres de minha faixa fomos educadas para o lar. Os valores eram outros. Os cursos e o trabalho não eram essenciais, o principal era a educação e o preparo para ser boa esposa e mãe. Atualmente, existe mais individualidade, mais liberdade de opinião e de diálogo, compartilhamos idéias com o marido, os filhos. É importante saber o que cada um pensa, para chegarmos a uma conclusão. Felizmente sou casada com um homem de ótima cabeça, aberta. Tenho o privilégio de concordar ou não, de externar minhas opiniões com clareza e objetividade, e o mais importante: e ser ouvida com atenção.
IZZA: Você é muito extrovertida, não é?
SOLANGE – Sou do signo de Leão, não acomodada. Me recordo sempre de um ditado que diz: “Sempre temos que procurar um caminho, nunca podemos deixar de buscar, porque só quem busca encontra”. Estou procurando o meu caminho, acho muito importante. Não sei quando vou encontrá-lo, mas estou buscando. Eu gostaria de trabalhar, mas ainda não me defini. Por exemplo, uma coisa em que às vezes penso, é atuar na área de organização de festas. Não sei se em Curitiba haveria campo para isso. Sempre gostei. Lembro que no ano passado, em Caiobá, organizamos a festa do papel crepom. O sucesso foi tão grande que este ano estão cobrando novamente. Foi interessantíssimo, porque cada um tinha que bolar a sua roupa. Uma ideia diferente que deu certo.
IZZA: Sendo de outra cidade, você se adaptou facilmente em Curitiba?
SOLANGE – Adoro Curitiba, acho que ainda é a melhor cidade para morar. Um pouco fechada, tive um pouco de dificuldade no início. Quando casamos, morávamos em um apartamento, e eu, muito conversadeira, sempre tentei fazer amizade com os vizinhos, mas senti que existiam pessoas que nem sequer conheciam quem morava ao lado. Bem, acho que agora já é um pouco diferente. Adoro conhecer pessoas ligadas a outros círculos ou a outras atividades, isto torna o acontecimento mais interessante. Novas idéias, novas amizades, as- sim sempre estamos aprendendo.
IZZA: Pelo que posso ver, você gosta muito de receber?
SOLANGE – Adoro. O Gilberto curte fazer festas grandes. Eu, prefiro as menores, porque assim tenho a oportunidade de atender melhor os convidados. Até 100 pessoas, consigo dar atenção a todos.
IZZA: Qual o seu conceito de elegância?
SOLANGE – Ser elegante não é seguir a moda à risca. Logicamente, podemos captá-la, adaptando-a ao nosso tipo físico, conforme a ocasião. A mulher pode ser elegante sem roupas dispendiosas, e sim com trajes simples, é um todo. Também não acredito que alguém esteja elegantérrima sem estar bem consigo mesma. O brilho interior e a segurança são essenciais.
IZZA: Solange, você é vaidosa?
SOLANGE – Não poderia dizer que não, porque estaria mentindo, porém não em demasia. Quando acontece alguma programação de última hora. Jamais deixo de participar por não estar produzida. Claro que gosto de me cuidar e estar bem. Me preocupo, mas isso não é tudo. Não existe maquiador e cabeleireiro que consiga esconder a falta de brilho interior. A mulher, além da beleza que é superficial, tem que ter algo a acrescentar. Força, carisma, segurança, são qualidades mais importantes do que somente uma estampa. .
IZZA: Acho você uma pessoa segura, transmite paz. Qual é o seu segredo?
SOLANGE – Estou de bem com a vida e só poderia transmitir coisas boas. Dentro de minha maneira de ser e de viver, me preocupo sempre com meu interior. Na época em que estudava, li um livro que me marcou, nunca mais esqueci. Era um livro de Heman Hesse, que dizia: “É preciso sair da casca. Todos nós somos e temos uma casca ao nosso redor, que é preciso romper”. A gente nunca pode deixar que o tempo passe em vão. Não podemos nos fechar em nós mesmos. A pessoa fechada não consegue transmitir seu ar. Quando surge algum problema, sempre penso: “Não dá hoje, mas amanhã será outro dia”, e não me martirizo. Sou otimista e meu marido também. “O Poder do Pensamento Positivo” é meu livro de cabeceira.
IZZA: Você sempre foi evoluída, ou cresceu lentamente?
SOLANGE – Eu cresci lentamente. O meu casamento coincidiu com o meu processo de crescimento, porque com ele comecei a me questionar mais e consequentemente passei a ser mais eu, me soltar, fiquei mais segura e definida.
IZZA: E a Solange mulher?
SOLANGE – Falar sobre qualquer pessoa seria fácil, mas sobre nós mesmas é sempre muito difícil. Primeiramente, porque não sei como as pessoas me vêem. Vou tentar. Sou uma pessoa realizada, feliz, porque estou bem comigo mesma. Procuro sempre crescer buscando, porque, para encontrar o sentido para a vida, é preciso nunca cessar a busca.