Curitiba, 7 de fevereiro de 1988
LAÍS PERETTI, Sra. Milton Gurtenstein, artista plástica, vem acumulando prêmios desde 1979. Graduada em Pedagogia e na Escola de Música e belas Artes do Paraná, participou de salões e coletivas. Expôs na Coletiva Perfil Paraná-Ohio, nos Estados Unidos, e no 29? Salão Paranaense. Expôs também em Santa Catarina, São Paulo e Pernambuco. Realizou inúmeros projetos na coordenação da Casa da Gravura, da Fundação Cultural de Curitiba.
Implantou a oficina de xilogravura. Além disso, Laís organizou a Bienal Internacional de Cabo Frio, a I Mostra de Cartazes sobre o índio, a IV Mostra da Gravura “Cidade de Curitiba”, Pan Americana. Participou da Comissão de Análise de Exposições da Fundação Cultural, da Comissão de Análises de Exposições
do Banco do Estado do Paraná Foi membro do Júri para Análise de trabalhos do Concurso Artístico da Associação dos Servidores Municipais de Curitiba, da Comissão Organizadora da IV Mostra da Gravura. É membro da Associação dos Artistas Plásticos e da Pro-Música de Curitiba. Atualmente, é presidente da ACOA. Dedicada a seus ideais, lutadora, bom astral, esta é Laís.
IZZA – O quer seria ACOA?
LAÍS – ACOA é Associação de Creches e Obras Assistenciais. Iniciou devido a diversos pedidos da comunidade em relação às nossas crianças. É um grupo de pessoas, unindo esforços para ajudar a suprir tais necessidades. Assim nasceu a ACOA, angariando recursos para poder manter a ajuda às creches comunitárias e aos projetos que a própria comunidade nos traz. Dentro de nossas diretrizes, estamos conscientes de que essa tarefa não cabe somente ao governo, e sim à sociedade como um todo. As pessoas têm cooperado e tudo é muito planejado e organizado. Inclusive, aproveito a oportunidade para agradecer às pessoas que estão cooperando e me dando força para continuar, pois existem seres humanos maravilhosos, sempre dispostos a ajudar e colaborar num trabalho social.
IZZA – O teu programa de rádio, sei que está fazendo sucesso.
LAlS – Eu adoro, “Terra da Gente”. No ano passado estava em terceiro lugar em audiência. Realmente, estou sentindo uma grande receptividade por parte dos ouvintes. E um programa descontraído, onde sinto contato direto com o público. É uma experiência muito rica, porque todo o dia aprendo alguma coisa. E através desses contatos dou receitas, simpatias, oriento quando me pedem, e faço comentários sobre os mais diversos assuntos.
IZZA – Como você se sente, sendo considerada pela revista “Quatro Estações” a artista plástica do ano?
LAÍS – É o reconhecimento de um trabalho que venho desenvolvendo há mais de dez anos. O começo não foi fácil, pois quando fiz vestibular para Belas Artes eu já tinha três filhas, Maria Gabriela, Sabrina e Deborah, e uma casa para cuidar. Mas valeu a pena, pois esse curso foi muito importante para minha carreira, me deu uma boa base, e realmente, a convivência com os colegas, professores, artistas, é importantíssima: a troca de informações com pessoas com os mesmos objetivos, nos impulsiona a um maior desenvolvimento dentro das artes, dá amplitude.
Aconselho as pessoas que querem ser artistas que façam belas artes. Eu adorei. Comecei como gravadora, sempre desenhei, e sempre estou buscando novos caminhos, aquarela, lápis-cera. São anos de trabalho e dedicação. Sou grata pelos anos e pelas amizades. A coisa mais feliz da vida é sabermos que existem amigos. Através da obra, a gente é amada, e quem não gosta de se sentir prestigiada?
IZZA – De política, você gosta?
LAÍS – Sou uma pessoa preocupada com o contexto sócio-econômico existente atualmente no Brasil. Infelizmente a classe política está sem credibilidade, e isso dificulta o trabalho de pessoas que querem dar a sua contribuição para uma sociedade mais justa.
IZZA – E a mulher na Constituinte?
LAÍS – Existe uma grande dificuldade de serem discutidos em plenário os projetos apresentados tanto pelas mulheres constituintes como também pelas associações de mulheres em geral. A grande maioria dos constituintes são homens, e consequentemente, se toma difícil para as minorias a priorização de seus projetos.
IZZA – Existe uma discriminação quanto à mulher na política?
LAÍS – Realmente essa discriminação existe, por uma grande parte dos homens políticos, pois eles se sentem ameaçados pelos bons trabalhos que hoje são executados pelas mulheres que exercem funções públicas. Mas existem muitos que apoiam e confiam no trabalho da mulher.
IZZA – Sendo você uma pessoa de objetivos pré-determinados, de onde provém toda essa força?
LAÍS – Na minha vida aprendi a transpor barreiras que foram colocadas. Através da disciplina consegui viver com os bons e maus momentos. Essa palavra “disciplina” funciona para mim como um incentivo. Acredito também que a minha força provém do apoio que recebo de todos os meus familiares, a todo tipo de atividades que me proponho desenvolver. Algumas delas são realmente uma batalha, a qual, sem tal apoio, se tornaria muito difícil de vencer. Realmente, meus pais sempre acreditaram no trabalho. A minha educação sempre foi direcionada para que eu tivesse uma profissão, e fosse um ser produtivo dentro da sociedade.
IZZA – Você pretende expor futuramente?
LAÍS – Sim, estou começando uma nova etapa em meu trabalho artístico. Tenho experimentado novas técnicas, e procurado novos caminhos. A vida é uma contínua transformação, sendo assim transmito para o papel a sensibilidade de nossas vivências.
IZZA – Voltando às artes, Laís, como surgiu essa sua paixão pela gravura?
LAÍS – Meu primeiro contato foi através de Lenice, minha irmã, que na época estudava na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, com o Calderari. Fiquei impressionada e fui me familiarizando cada vez mais com a técnica. Coincidentemente, na ocasião estava se formando um grupo de gravadores no Centro de Criatividade, liderado por Fernando Calderari. Participavam Uiara Bartira, Denise Roman, Mazé Mendes e eu. Depois passamos a trabalhar na Casa da Gravura.
IZZA – Sobre sua última exposição, foi sucesso?
LAÍS – Fiquei muito feliz com o apoio dos meus amigos e com o sucesso, principalmente por poder imprimir as minhas fitos aqui mesmo em Curitiba, na gráfica da Jussara Age, Dario Aiveira, Mareia Arruda e todo o grupo, que nada fica a dever às outras gráficas do país, e também pelo apoio dos irmãos Brotto da DelPArte, que curtem, apoiam e prestigiam os artistas paranaenses.
IZZA – Litografia, você curte?
LAÍS – Sempre gostei muito, é um amor antigo. Para mim é uma constante descoberta, um desafio trabalhar na pedra, na textura. Tenho amigos maravilhosos que me incentivaram na carreira artística, Aurélio Benitez, Adalice Araújo, Janete Fernandes e Eivo Damo. Posteriormente, em meu atelier, criavamos aula de litografia, e o grupo era ótimo: Jussara Age, Guilmar Silva, Edila Feu, Nichelle Behar, Celina Bini, Ligia Nocera. Expusemos no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos de Curitiba e depois em diversos estados brasileiros e no exterior.
IZZA – E a Laís mulher?
LAÍS – Sou canceriana, muito exigente comigo mesma, não com os outros. Consigo conciliar tudo, mesmo que às vezes isto seja difícil. O mais importante é que, quando tenho um objetivo, um ideal, vou em frente.