Curitiba, 22 de julho de 1989
KARIN KLASSEN. Esportista, charmosa, arquiteta de grande projeção atualmente. Karin gosta de viajar e especialmente procurar novidades, que acrescenta em seu trabalho. Atuante há seis anos em arquitetura, Karin nos conta hoje, sobre a sua recente viagem no Canadá e como desenvolve a sua atividade.
IZZA – Há quantos anos você é arquiteta?
KARIN – Sou formada há cinco anos. Meu curso terminou no final de 84, na Universidade Federal. No tempo de escola, eu já trabalhava bastante principalmente com interiores, inclusive trabalhei um ano e meio com o França e depois fui para a Shell como estagiária e acabei sendo efetivada. Paralelamente, comecei a desenvolver um trabalho de arquiteta como autônoma, tanto arquitetura de interiores como projetos, e um cliente começou a chamar outros e os projetos foram se avolumando e em março sai da Shell e em junho viajei para o Canadá, Estados Unidos para pesquisar um pouco por lá, visitar alguns escritórios, etc.
IZZA – Como foi a tua viagem ao Canadá?
KARIN – Aproveitei unir o útil ao agradável. Pesquisei, descansei conheci o Leste e o Oeste do Canadá. Fui até Vancouver pelas montanhas rochosas. Confesso que se eu estivesse recém formada e não tivesse uma estrutura aqui, até que pensaria em me mudar para lá. O padrão é muito bom mas é uma vida difícil e cara também. Se você consegue desempenhar bem a tua profissão aqui no Brasil existem boas possibilidades de crescimento, e lá eu teria que começar do zero, e na verdade eu jogaria para o alto tudo o que batalhei aqui nos últimos anos. Por isso acho que no meu caso, não valeria a pena esta mudança.
IZZA – E quanto a arquitetura do Canadá?
KARIN – E literalmente fantástica, super moderna. E um país grande com potencial ilimitado, provavelmente, tanto quanto o Brasil em termos de recursos naturais. As boas perspectivas são infinitas, inclusive tenho um tio que mora lá a quinze anos e se deu superbem. Existem também pontos negativos como o inverno, 40 graus abaixo de zero na região central. Bem, eu estive no final da primavera e tive a sorte de pegar um tempo igual ao daqui atualmente, como hoje. Conheci a sistemática do trabalho deles e basicamente a arquitetura. Tudo o que eu pude ver sobre arquitetura contemporânea canadense eu pesquisei.
IZZA – O sistema de trabalho dos canadenses é muito diferente daqui?
KARIN – Essencialmente não, agora estão pelo menos quinze anos na frente na parte de projetos. Aqui no Brasil ainda se monografa, se desenha em nanquim, no Canadá tudo é feito manualmente, a grafite o que facilita as correções. A integração das empresas com os escritórios é fabulosa em termos de amostras. Se quisemos alguma coisa aqui no Brasil, temos que ir a loja, pedir um catálogo para depois de dois meses termos em mãos o que solicitamos. Lá, sistematicamente as empresas mandam para os serviços os escritórios amostas de materiais, inovações, catálogos completos sempre renovando toda a amostragem de produção mesmo no tocante a projetos, e depois está entrando cada vez mais a parte do desenho através do computador direto. Você faz o input dos dados, pode desenhar com mouse na tela e você tem o desenho pronto em questão de minutos.
Quer dizer que o que um arquiteto levaria dias para concluir, sai imediatamente. No Brasil isto, está surgindo lentamente, principalmente pelo custo caríssimo porque as pranchas de desenho são demasiadamente grandes, é uma coisa bem mais complexa dos que os formulários que se usam usualmente. Em termos de construção, nem se fala, os custos no Canadá em matéria de mão-de-obra são caríssimos porém altamente especializada. Eles trabalham bastante com formas deslizantes para estrutura de concreto o que dá uma enorme precisão, uma vez que, aqui no Brasil, ainda se trabalha muito com madeira. A construção no Canadá, pode ser comparada â fabricação de automóveis. A coisa sai, pré-montada, pronta, para ser encaixada e montada simplesmente.
Também pelo aspecto do clima, que como é desfavorável no inverno, as construções geralmente são agilizadas no verão. Tudo é previamente programado. O interessante é que a medida que um edifício vai crescendo, já vai sendo concluído o acabamento em baixo, não é como aqui que se levanta a torre toda, para depois começar o acabamento. Infelizmente aqui a mão-de-obra especializada é muito difícil. Alguns quando chegam na obra não sabem fazer absolutamente nada, fazem, quebram novamente até chegar exatamente no que se precisa porque não existe uma escola técnica. E um problema porque é um desperdício de material e de mão-de-obra.
IZZA – Como você encontrou o Canadá?
KARIN – Eles foram extremamente rigorosos com o meu visto. Eu consegui o visto americano por quatro anos e o canadense somente até outubro. Existem muitos brasileiros indo para lá e ficando ilegalmente. Com os brasileiros na faixa de até 30 anos e sem vínculos, solteiros, a coisa é mais complicada. O Canadá é lindo, porque é uma associação da cultura européia com o avanço tecnológico americano. As cidades são grandes mas não tão super populosas, não existe pobreza, lixo nas ruas, terrenos baldios abandonados. Quando existe um terreno assim, mal cuidado, a prefeitura se encarrega da limpeza e inclui no imposto os gastos de limpeza. O mesmo acontece com os jardins porque não existem muros então ficam integrados com a rua.
IZZA – Você é apaixonada pelo o que faz não é?
KARIN – Eu trouxe novidades que agora tenho que aplicar em meu trabalho tanto na parte de projetos quanto o de interiores. Tenho uma amiga também é arquiteta que trabalha como em determinados projetos e estou desenvolvendo com dois arquitetos um projeto enorme para a cidade industrial. Tenho que ampliar o meu espaço porque estou lotada de trabalho atualmente. Faço a parte arquitetônica, projetos de residências, indústrias, depósitos, tenho que orientar a parte elétrica, hidráulico estrutural, acompanhar, com os profissionais, da área para que os pontos da luz estejam no lugar correto, sobre o tipo de aquecimento que vai ser feito, a colocação dos aquecedores. Arquitetura, para quem não gosta, não dá. Todos os alunos da Escola de Arquitetura, no final do primeiro ano, pelo menos 20% desistem porque é um curso extremamente trabalhoso. Tudo é muito detalhado, medido e pensado.
IZZA – Quanto tempo você demora para concluir um projeto?
KARIN – Não dá tempo estipulado, depende muito do estado de espírito, inspiração. Se você desenvolve um estudo e ele agrada pela primeira vez o cliente, a gente consegue desenvolver rapidamente, mas muitas vezes temos que fazer a refazer, até chegarmos onde o cliente quer. Eu sou da opinião que arquitetura, você faz para o cliente então as suas aspirações devem ser atendidas sem no entanto irmos contra nossos princípios profissionais. Às vezes é uma coisa difícil por que tem que se satisfazer como profissional e simultaneamente satisfazer o cliente, isso demanda certos estudos até se chegar a um resultado final favorável e em função disso não existe um prazo certo. As vezes um projeto pode sair em uma semana. Depende da pressa do cliente também.
Eu praticamente não gosto de projetos apressados porque acho que os projetos amadurecidos saem melhores, porque são enriquecidos até a sua implantação. Eu sou bastante detalhista, quanto mais informações a gente confere ao projeto, mais fácil ele se toma posteriormente. Este trabalho é como nas outras áreas, 10% de inspiração e 90% de transpiração. E um, não por existir sem o outro. De nada adianta ter uma excelente inspiração se não somos bons técnicos e não conseguimos materializar isso. Existem trabalhos com o desenho e móveis, que à medida que vamos projetando, vamos desenhando. Para explicar para outra pessoa, dificulta, porque é um assunto tão complicado e rico em detalhes, que perderíamos o dobro do tempo explicando ou reconferindo o trabalho. E um trabalho gostoso o de interiores porque o resultado vem logo. E uma profissão linda porque as pessoas trabalham procurando o belo. Quem não quer ter um espaço agradável para ficar? Eu não trocaria de profissão. Desde criança sempre gostei de pesquisar, ficar em obras vendo os detalhes.
IZZA – Esta profissão de arquiteto não é muito antiga não é?
KARIN – Atualmente na escola as mulheres predominam. No Brasil não é realmente uma profissão muito antiga. Os grandes arquitetos paranaenses, hoje famosos como Luiz Forte Neto, Roberto Candolgi, Sandro Teni, enfim toda essa escola, são na grande maioria engenheiros-arquitetos. Acho que foi na década de 60 que aconteceu a cisão entre a engenharia e arquitetura. Quanto à atuação da mulher, acho que ainda a sociedade é muito machista. Elas tem que se provar muito para Integrarem o mercado, principalmente em obras grandes. Elas têm ficado muito na parte de interiores, e depois, há outro aspecto, a maioria quando sai da Faculdade se forma, casa, tem filhos e demora para se projetar profissionalmente.
IZZA – Qual é a tua preferência pessoal quanto ao estilo?
KARIN – Pessoalmente eu gosto do moderno, não muito rebuscado. Acho que o bonito são as formas puras, porque elas resistem ao tempo e é fácil dar um novo visual ao ambiente somente mudando alguns objetos, tecidos, vasos etc. Acho interessante peças antigas mescladas porque a gente não pode negar tudo que aconteceu antes do moderno. Atualmente se fala muito em pós-moderno, a volta das colunas neoclássicas, uma mistura de estilos. A responsabilidade de um arquiteto é muito grade porque na construção de uma obra ele deve saber que no caso de um shopping ou de um edifício ele permanecerá ali pelo menos durante cinquenta anos.
IZZA – Qual seria a tua especialidade?
KARIN – O que eu sei fazer muito bem por ter feito por seis anos, são postos de gasolina, porque na Shell, desenhei todos para o Paraná e Santa Catarina. O tema é bastante repetitivo e os padrões são importados da Inglaterra e adaptados as nossas condições locais. Agora que saí da companhia, devo projetar novos postos, mas também trabalhar mais em outras áreas. Atuar na Shell, foi uma experiência interessantíssima e como profissional me trouxe grandes amizades, conhecimentos, experiência. Foi ótimo trabalhar lá. Mas o sonho de cada arquiteto é ter o seu próprio escritório e seus próprios projetos, fazer o seu horário, por isso estou montando a minha estrutura.
IZZA – E, nas horas de descanso o que você curte fazer?
KARIN – Adoro o dia, jogar tênis algumas vezes por semana no Santa Mônica, fazer ginástica aeróbica e dormir bem. Nos finais de semana, ir à praia ou ao campo. Nas férias vou a Angra dos Reis ou Búzios que acho fantástico e às vezes gosto também de mergulhar. O esporte é importante para manter a saúde física. Depois de passar tantas horas sentada o esporte é essencial.
IZZA – O que você está pretendendo no momento?
KARIN – Me consolidar como profissional, continuar trabalhando no maior ritmo possível, terminar o escritório em breve para realmente ter condições físicas para executar tudo o que pretendo.