Curitiba, 12 de junho de 1988
MERI BUSCHLE, é um nome que dispensa apresentações Estilista talentosa, conhecida e respeitada, dona de extrema sensibilidade, bom gosto e muita criatividade. E isso tudo despontou há algum tempo, pois ela demonstrava seu potencial vestindo divinamente sua filha, desde muito pequena. Em seu amplo e bem decorado atelier de alta costura, onde atua há 10 anos, exemplifica com dinamismo e inteligência o que é viver no fascinante mundo da moda. Com dois filhos: Ceuna Buschle Domakoski e Evaldo Buschle Neto. Conte-nos um pouquinho de seu mundo. Esta é Meri, esposa do empresário Udo Buschle.
IZZA – Como está o Paraná em relação à moda?
MERI – O Paraná, como o maior produtor de algodão do país não poderia ficar para trás. Aproveitou o potencial em matéria-prima e vem investindo na indústria da confecção.
IZZA – E os costumes em relação ao clima?
MERI – Com uma população de costumes que se identificam com o clima do sul do país, as pessoas passaram a assumir um estilo próprio de viver e conviver. As confecções conseguiram captar esse estilo próprio e muitas, que têm o privilégio de serem bem administradas, vão indo admiravelmente bem.
IZZA – Você sendo uma mulher atualizadíssima, como vê a indústria têxtil sob o ponto de vista econômico do Estado?
MERI – Bem, o Paraná, vem buscando fortalecer as indústrias têxteis e de moda que já estavam instaladas no Estado. Atualmente já está viabilizando a instalação de um Pólo Nacional de Moda e Confecções. Vejo esse movimento como progressivo e promissor.
IZZA – Fala-se com frequência em falta de matéria-prima no Paraná. Isso afetaria esse promissor desenvolvimento?
MERI – Acho realmente que não, pois só nos últimos seis meses, mais de seis indústrias de fiação e tecelagem aportaram em território paranaense, o que por ora é tranquilizante.
IZZA- Meri, você que é mulher atuante, de projeção social, pontifica e recebe com freqüência, acompanha seu marido e trabalha fora. Como é que desempenha e sente todo esse papel?
MERI – Dinâmico, porque faço tudo o que gosto. Adoro os acontecimentos sociais, sempre os frequentei. Receber amigos, acompanhar meu marido e trabalhar na minha área, são fatores positivos e permanentes. Sinto, apesar do acúmulo, um grande prazer.
IZZA – Você, sendo uma mulher viajada e conhecendo realidades diferentes para onde voltaria novamente?
MERI – Viajar para mim é cultura. Experiência, maturidade, oportunidade e lazer. De todos os lugares que conheci voltaria com prazer a passeio para Paris, Milão, Roma, São Francisco (Califórnia e Nova Iorque).
IZZA – E nas horas de lazer, o que você aprecia fazer?
MERI – Adoro ler. Acabei de ler e gostei muito de “As brumas de Avalon” de Marion Bradley. Já iniciei também Perestroika do líder soviético Mikail Gorbachev.
IZZA – E o casamento, Meri, com tantas mudanças e variações de conceito como é que fica? Falaremos do seu ponto de vista.
MERI – Ninguém nasce casado. Esse ato, em princípio voluntário, quando imposto, deixa de existir. Quando duas pessoas se casam, juram amor eterno, que às vezes conseguem, às vezes não. No dia-a-dia surgem obstáculos de formação de personalidade, de circunstância, enfim, de barreiras que se tornam intransponíveis. Por- tanto, indissolúvel o casamento e, enquanto dura a decisão interna de mantê-lo e a realidade concreta de crescermos nele com a permanência dos sentimentos.
IZZA – Com sua experiência de mulher, mãe, dona de casa, esposa e estilista, quais as providências básicas para a indispensável melhoria do mercado profissional feminino?
MERI – Deveria haver mais união das mulheres. É preciso saber ponderar para ser uma profissional competente. Não se pode ceder ao mito mulher-maravilha. Ninguém pode ser eficiente no trabalho, bonita, elegante, gueixa, etc. Isso não existe. Antes de mais nada, a mulher tem que abandonar de uma vez por todas a idéia de que foi feita exclusivamente para servir e agradar aos outros. O mercado de trabalho feminino pode ser melhorado e muito, na condição de que todas as mulheres coloquem seriedade, prioridade e profissionalismo acima de qualquer coisa. Ao chegar ao ambiente de trabalho temos que ser somente profissionais, mais nada.
IZZA – E a Constituinte, qual seria a sua posição?
MERI – Não me agrada falar no assunto. Enfim, às vezes me desencanto, me surpreendo, frequentemente, me decepciono.
IZZA – E quanto ao Brasil e sua atual situação?
MERI – Triste, não?
IZZA – Por quê?
MERI – Estamos perdendo a capacidade de invenção para resolvermos os problemas que nós são colocados por crises profundas. Precisaríamos de novo assumir nossos conflitos, já que estamos deserdados pela confiança. Não há compromisso, não há segurança, não há estabilidade.
IZZA – Com sua vivência internacional como você sente esse problema?
MERI – Fico perplexa ao tomar conhecimento do desejo de grande parte dos brasileiros de abandonarem este país. É inadmissível que a 8º economia do mundo, com potencial de riquezas inesgotáveis, passe pelo estado de insegurança, pobreza, insatisfação em função, não da falta de talento dos brasileiros, mas sim pela situação atual do país.
IZA – Deve ser gratificante para você, ver sua filha Celina seguir pelos seus passos e se sair tão bem no mundo a moda. Não é?
MERI – Me sinto orgulhosa, pois é muito compensador sentir e ter mina filha ao meu lado, dando continuidade a um trabalho, desenvolvendo tendências dentro do segmento infanto-juvenil e com muita
competência.
IZZA – E a experiência de ser avó? É uma experiência dignificante, não é?
MERI – Você colocou bem, Izza. Dignificante. Ser avó é para mim sem dúvida, minha maior vitória. Senti já a experiência com meus netos Bianca, Henrique e Nicole e continuo sentindo com muita intensidade o meu novo neto que chegará brevemente.