Curitiba, 18 de fevereiro de 1989
ANITA PASINI. Quando falamos com Anita, entendemos rapidamente porque ela tem sido constantemente homenageada como pessoa e como executiva. Simples, realista, confessa adorar o que faz. Dedicada ao ramo da decoração, Anita em apenas três anos tornou-se um nome expressivo e conquistou seu espaço. Esta é Anita, Sra. Lucyr Pasini.
IZZA – Quanto tempo faz que você se dedica à decoração?
ANITA – Há mais de vinte anos. Antes, quando eu ainda não tinha a Pasini Decorações os amigos solicitavam o meu auxílio e eu decorava graciosamente. E assim foi indo até que foi feito um prédio com uma loja embaixo, e meu surgiu a ideia de abrir a minha firma, e não me arrependo, porque estou fazendo o que gosto. O meu ramo é decoração porque é ligado à construção. Uno o útil ao agradável: as pessoas vêm aqui, já decoram, e adquirem os objetos, tudo sai completo. Esta loja já foi projetada quando o edifício começou, foi feita como eu idealizei. As coisas bonitas me atraem. Ficou de acordo com meus planos.
IZZA – No tocante à decoração você acha que Curitiba oferece opções?
ANITA – Aqui tem tudo em todos os setores, já se foi o tempo que tínhamos que buscar recursos fora. A concorrência é grande, mas acho que existe espaço para todos porque Curitiba também é grande. E no mais, me baseio por mim. Nossa cidade ainda tem costumes, veja por exemplo, eu, compro há muitos anos em determinadas lojas, de preferência até com a mesma pessoa que sempre me atendeu e me atende. Não costumo trocar as coisas, e quando me habituo a comprar no mesmo lugar, dificilmente mudo e aqui felizmente está acontecendo o mesmo. Pessoas que compravam na primeira loja que tive, continuam frequentando e me prestigiando nesta. Pedem por telefone, eu mando. E um atendimento mais personalizado e reconheço que somos bem acessíveis. Os clientes tornaram-se nossos amigos e atendemos da melhor forma possível.
IZZA – Você atribui este sucesso também a sua equipe?
ANITA – Claro que sim, pois aqui trabalha minha filha, uma amiga e uma prima. Sempre trabalham comigo pessoas de meu relacionamento e mais um rapaz. Assim não existem problemas e pelo conforto oferecido aos amigos, a clientela cada vez aumenta mais, porque nos preocupamos em pesquisar o gosto de nossos clientes, consequentemente já sabemos o que será bem aceito pela pessoa que nos procura. O que for possível a gente faz. Como experiência própria, acho desagradável quando vamos comprar alguma coisa e a vendedora tenta fazer a nossa cabeça. Por isso, aqui cada um tem seu gosto e é respeitado sem pressões. O que predomina é o gosto do cliente.
IZZA – Para iniciar um projeto de decoração o que seria primordial?
ANITA – Primeiramente respeitar o gosto de cada um. Algumas pessoas são esportivas, outras mais clássicas. Temos que levar em conta a personalidade e a forma de vida de cada um.
IZZA – Como decoradora, qual seria o teu estilo preferido?
ANITA – Eu pessoalmente gosto mais dos móveis clássicos que não caem de moda. Dosar é importante também, porque somente móveis clássicos deixariam o ambiente pesado demais. Hoje em dia é tudo misturado, bem mas temos que considerar como falei, a maneira de viver de cada um. Obras de arte, eu adoro, e quando viajo, em vez de comprar um vestido, prefiro um quadro. Isso me realiza, eu curto.
IZZA – A decoração atual obedece modismo?
ANITA – Ela obedece, porém não em linha reta, é muito variada. Como expliquei na resposta anterior, primeiramente verificamos o modo de vida, depois dosamos. Pelo poder aquisitivo de hoje, não podemos nos basear em modismos porque o moderno às vezes é muito cansativo e as pessoas preferem o que fique sempre na moda, o que varia muito são os tecidos. O estilo inglês é muito procurado atualmente. Decorar uma casa ou apartamento não é barato e às vezes sai mais do que o próprio imóvel, então temos que ser práticas, decorar com objetos que não cansem e que estejam bem por anos e anos.
IZZA – Você faz o projeto da decoração pessoalmente?
ANITA – Eu dou toda a ideia, só não desenho porque tenho uma pessoa especializada para isso mas o que eu quero e idealizo colocar, eu digo. Faço um esboço que é passado para a prancha. Assim dá para mostrar para o cliente como vai ficar o ambiente. E trabalhoso, mas gratificante porque procuramos combinar a harmonia com o gosto da pessoa. A decoradora tem que ter sensibilidade suficiente e saber escolher as cores, de preferência os tons pastéis, neutros que não enjoam. No decorrer do tempo podem ser mudados, enfeites, abajures etc., mas o importante que o básico dê com tudo e não canse.
IZZA- E quanto à época, houve alguma mudança?
ANITA – Realmente a época afetou o ramo de todos, mas continuamos com força total. Temos peças em todo o mundo. Aqui vêm muitos estrangeiros que adoram levar peças bonitas, e para eles não são caras, porque em termos de dólar é baratíssimo, mas para nós quando vamos para lá, é incrível, nos sentimos pobres porque tudo é muito dispendioso. Lá para comprar um relógio, quadros que eu adoro, mas não roupas, porque tudo o que é bonito, custa muito muito, por isso às vezes prefiro trazer um quadro do que um vestido. No caso trago o tecido, que não é tão caro.
IZZA – Neste ramo a pesquisa tem que ser constante? Ou nada muda muito?
ANITA – Tenho que estar sempre atualizada. Os últimos lançamentos em tecidos, nos mandam, pesquiso em revistas estrangeiras e quanto tenho oportunidade de ir a alguma Feira, como esta que vai acontecer em Milão, eu participo sempre que posso.
IZZA – Você é uma mulher muito homenageada não é?
ANITA – Tenho muitos amigos, é isso, e me gratifica muito. Às vezes até fico sem graça por isso. O Trevo de Ouro, recebo há três anos e admiro muito o Nelson Faria que é uma pessoa maravilhosa. Na última ocasião. ele me fez chorar, porque me surpreendeu com palavras lindas que me emocionaram. O que acho mais importante na vida são os amigos. Quando abri a loja, deu para sentir mais de perto, porque todos me prestigiaram e continuam me apoiando. Quando recebi a homenagem de “Mulher Charme” no ano passado, me surpreendi porque jamais imaginei que receberia este título. Eu pensava que as pessoas eram comunicadas neste caso e não estava preparada, mas fiquei muito feliz. O importante na vida é fazermos alguma coisa, simples ou complicada que mereça respeito. Só vence quem é forte e temos que mostrar nossa capacidade.
IZZA – O que você pensa sobre o relacionamento humano na atualidade, você acha que as pessoas estão muito individualistas?
ANITA – Acho que eu tenho sorte, porque as pessoas que participam do meu dia a dia e da minha amizade são maravilhosas. Reconheço que atualmente as pessoas correm bastante e que as coisas estão difíceis, por isso elas se preocupam como o seu tipo de vida, porque está difícil manter o nosso nível e se conseguimos isso, dois anos atrás para cá, já merecemos ser heróis. Observo que primeiramente os que tinham o poder aquisitivo médio eram felizes, mas sinto uma preocupação profunda em todas as classes, instabilidade geral. Quem tem, está inseguro, quem não tem está preocupado porque não sabe como sobreviver e como me dou com todas as classes, sinto isso de perto.
IZZA – O que você acha de nossa situação?
ANITA – Tenho notado que as praias e os aeroportos estão lotados porque em minha opinião o brasileiro cansou e está aproveitando o que ainda pode porque não sabe daqui para a frente como vai ficar a situação.
IZZA – Em tua opinião como vai o Plano Verão?
ANITA – Por ser tão recente está havendo muita confusão. Para o plano dar certo isso deveria ser evitado. Para que sonegar se estamos numa época tão delicada? Se alguém tem que perder, que as pessoas percam um pouco, mas que acreditem e se empenhem. Todos continuam preocupados principalmente com a poupança, se vai ou não render alguma coisa e creio que estão com medo de comprar. Lembra do último plano em que as pessoas gastaram muito e ficaram sem o capital? Agora estão com receio que ocorra a mesma coisa.
O brasileiro é o melhor povo do mundo e veja que eu já andei pelo mundo todo, e cheguei a essa conclusão. Naquela época, do último plano, o povo acreditou e foi feliz por três meses e a parte mais triste foi tirar a ilusão de todos, porque realmente o povo apoiou de todo o coração e alguém falhou, nada deu certo. Tiraram a esperança do brasileiro que é um povo muito esperançoso. Quem não sabe que aqui é o maior País do mundo e que é o País do futuro? Todos sabem, mas está demorando muito a chegar. Seria importante que houvesse uma acelerada. Quando esperamos muito uma coisa e ela chega em nossas mãos, ficamos felizes, mas essa felicidade durou somente três meses e por isso não existe mais credibilidade se bem que agora o governo está se empenhando para que o plano tenha sucesso.
Temos que compreender que sempre que se toma uma medida por mais que cuidemos, sempre alguma coisa escapa, creio que tudo estará em seu lugar com paciência. Eu acredito porque moro aqui adoro ser brasileira. Teria que dar certo, e temos que compreender que quando se toma uma medida por mais que se cuide alguma coisa escapa, mas com certeza aos poucos tudo se arruma. Eu tenho fé porque se não tivesse, me mudaria para outro País, mas eu amo o Brasil e os brasileiros que se emocionam quando vêem o Ayrton Senna exibir nossa bandeira, que quando viajam para fora ficam sensibilizados ao verem outro brasileiro.
IZZA – Você é uma mulher sempre lembrada e tem sido bastante homenageada principalmente como mulher executiva que é. Como divide o tempo entre o trabalho e os compromissos sociais?
ANITA – Trabalhar e ter uma vida social intensa é impossível. Digo, no meu tipo de trabalho porque para ir a uma festa tenho que estar descansada e principalmente não ter compromisso para o outro dia como normalmente tenho. Eu trabalho muito e quando chega a sexta-feira eu quero mais é descansar. Às vezes, apesar de cansada compareço pela consideração que tenho por meus amigos, mas para mim é difícil porque o dia seguinte se torna pesado. Acho importante que eu cumpra sempre meus afazeres ou aquilo que prometo. Há um mês estive em Guarapuava fazendo uma decoração, eu e minha equipe, saí daqui às seis horas da manhã e voltei às três horas da manhã, e no dia seguinte estava inteira, este é o meu pique porque faço o que gosto e tenho que me dedicar para que tudo saia bem.
IZZA – O que você admira mais nas pessoas?
ANITA – A dignidade, temos que ter sempre, não importa o nível ao qual pertencemos. Você pode ser simples e digno e também pode ser a pessoa mais rica de Curitiba e não ter dignidade. Mil fatores in- fluem para que você fique rico e se você trabalhar bastante ficará, mas não é tudo, o mais importante é você poder andar de cabeça erguida sem ninguém estar te cobrando nada. A hora que o ser humano perde a dignidade está perdido.
IZZA – Teus filhos seguiram o ramo dos pais, decoração e construção?
ANITA – Tenho três filhos. A Kati sim, me dá uma mão muito grande aqui, o Lucyr Júnior está entrando no ramo de construções e a Jaqueline está ainda estudando e curtindo a vida, sempre de bom astral.
IZZA – A família Pasini é conhecida e há muito atua no ramo de construção não é?
ANITA – A família do meu marido era de muitos madeireiros e há mais ou menos vinte anos iniciaram no ramo de construções, o meu filho está agora junto com o pai, cada um tem a sua construtora e brevemente vamos iniciar construções assinadas pela Construtora Lucyr Pasini. Quando iniciamos, o nosso objetivo principal foi o bom acabamento e nós alcançamos nosso objetivo. Além do preço ser bom, o acabamento é impecável, padrão Pasini. Conseguimos nosso espaço e o respeito dos compradores, felizmente. O que é mais gratificante tanto neste ramo como na decoração é quando a gente vê que a pessoa confiou em nós e que correspondemos à altura, que o cliente gostou do que fizemos. Para mim é o melhor pagamento. Eu pessoalmente gosto de criar coisas e trabalhei em construções durante vinte anos. Só saí há três anos para iniciar meu negócio próprio.
IZZA – Como era trabalhar em construções?
ANITA – Agora continuo dando meus palpites. Quando eu atuava, a minha parte era fazer o prédio. Me lembro que eu subia vinte andares a pé quatro ou cinco vezes por dia. Agora é meu filho que faz esta parte. Eu sempre adorei trabalhar e como sou preocupada com o que faço, fiquei até com úlcera, mas me dei bem e sempre fui decidida. Quando o prédio ficava pronto eu ficava orgulhosa e nem acreditava que mais uma etapa estava terminada e vencida. É muito trabalhoso encontrar mão-de-obra especializada por isso, é tudo demorado e desgastante, consequentemente só faz isso, quem gosta muito do ramo. Geralmente quando eu terminava uma etapa, viajava, mas quando retornava já estava ansiosa para iniciar outra obra. Sou maleável e me adapto bem a qualquer trabalho.
IZZA – Sei que você está com muitos planos futuros. Para finalizarmos você poderia falar sobre eles?
ANITA – Estou começando uma nova etapa com a Construtora Lucyr Pasini, só nossa, e tenho esperança de fazermos bastantes edifícios bonitos obedecendo ao mesmo padrão de acabamento que tínhamos. Quanto à minha loja, com obras de arte e peças alusivas tenho somente o intuito de fazer com que as pessoas tenham mais disponibilidade. Gostaria que as pessoas entendessem que a minha intenção tendo obras de arte e peças exclusivas é de somente fazer com que os fregueses tenham mais acesso a estas peças. Nunca tive a intenção de esnobar. Sei que tenho ainda muita coisa para fazer por isso acho a saúde uma dádiva. E tenho esperança no Brasil e sei que isso é muito importante porque, quando temos segurança trabalhamos melhor. É só isso que eu quero da vida.