Curitiba, 2 de fevereiro de 1989
MARILENA CHIQUITA DE OLIVEIRA. É dona de uma personalidade marcante. Extrovertida, dinâmica e muito querida no meio social, por seu temperamento vibrante. Marilena fala com segurança sobre o que pensa da vida, de seu trabalho e de si mesma. Esta é Marilena, Sra. Laertes Bonetto de Oliveira.
IZZA – Marilena eu soube que você é psicóloga.
MARILENA – Fiz Psicologia e, quando terminei o curso, tentei trabalhar como psicóloga. Me lembro que na época e que me formei, a maioria aspirava, tinha como ideal trabalhar com crianças, mas infelizmente o salário era um pouco baixo, então o curso para mim serviu mais como cultural geral. Lá aprendi muitas coisas ótimas para a vida toda. Depois disso fiz instrumentação cirúrgica, porque medicina sempre foi meu ideal. Como sou agitada e tenho pique, cheguei a fazer cursinho para Medicina, mas não passei e a fase terminou.
IZZA – Você sendo extremamente dinâmica, a qual atividade se dedica atualmente?
MARILENA – Sou rápida para tudo e sei que, quando trabalho faço o que quatro pessoas juntas talvez não fizessem. Atualmente trabalho com peças consignadas, jóias, prata, ouro. Adoro vendas, sou uma geminiana autêntica, me dou bem com atividades que me ponham em contacto com as pessoas e me considero segura com as amizades.
IZZA – Já que estamos falando de você, vamos fazer uma pausa para que você nos conte um pouco do seu temperamento.
MARILENA – Gosto, de fazer as coisas sozinha porque sempre acho que assim sai melhor. Sou super extrovertida, gosto de amizades e sou sincera quando sinto reciprocidade. Gosto de ajudar as pessoas quando precisam, por isso algumas vezes esqueço um pouco de mim. Acredito em tudo, mas não creio em nada. Não tenho uma religião definida, mas creio um pouco, em cada coisa. Sempre fui assim. Sou contra as pessoas que acreditam em tudo e se escravizam. Por exemplo, conheço pessoas que fazem a cabala e não dão um passo sem consultar o que é bom e o que não é, em determinada hora.
Para que as coisas deem certo, é necessário muita luta e muito trabalho, ê isso que determina para mim o sucesso. Sei que sou temperamental e explosiva, mas me dedico ao que faço. Apesar de não acreditar em nada, curto conhecer o lado místico, descobrir a fundo para saber o que cada coisa envolve. Umbanda, cromoterapia, etc. destas coisas místicas tento tomar conhecimento sem acreditar. Sei que é estranha esta forma de pensar. Acho que sou cética, muito racional, apesar de ser emotiva e sentimental.
IZZA – A que você atribui tantos conhecimentos e amizades?
MARILENA – Acho que a minha sensibilidade. Nunca consegui chegar a julgar uma pessoa que tenha feito uma coisa errada pelo lado do julgamento da sociedade. Penso e consigo entender a razão e cada pessoa tem em seu procedimento. Sou muito simples e não gosto de esnobação, acho desnecessário. Muitas pessoas gostam de impor sua presença conforme o que possuem. Para mim isso não tem a mínima importância. Freqüento os locais que aprecio e não compareço onde acho que não vou me sentir bem. O que adoro é inventar programas de última hora, como sair finais de semana, ir jantar e Florianópolis, tudo no improviso. E assim que me sinto feliz.
IZZA-E os filhos?
MARILENA – Tenho dois, a Janaina com treze anos e o Laertes com dez. Tento dar a eles total liberdade para o mundo de hoje para que encontrem o seu caminho. Eles são ótimos, não me incomodam. Veja, antigamente a educação era bem diferente, as crianças não eram orientadas para a vida. Existiam muitos tabus, bloqueios. Eu dou minha liberdade para eles, mas me preocupo e quero que eles saibam escolher seu próprio caminha Meu filho sai, brinca fora de casa. Claro estou sempre dando uma olhada. Fora de casa eles aprendem a viver. Vêem muita coisa errada, mas eles têm que conviver com amigos da mesma idade.
Criar filhos atualmente é difícil, mas o que vai acontecer às vezes não se pode evitar. Temos que mostrar o que é certo e o que é errado. As coisas mudaram. Antigamente era tudo tão complicado, principalmente para a mulher que vivia enclausurada, não aprendia nada porque a proteção exagerada era prejudicial castrava. Tudo era errado, de repente acontecia o casamento e até você adaptar tudo aquilo que era tido como errado, ficava difícil. Era necessário criar outra cabeça, começar a viver tudo de novo para poder se moldar àquela vida. Não é assim que eu quero criar meus filhos. Cada um tem que seguir o seu caminho dento da moral.
IZZA – E, quanto a liberação da mulher atual?
MARILENA – Eu não acredito nisso. Não aceito porque a mulher que é livre faz as coisas pela sua própria cabeça. Se ela tem que impor, pedir direitos já deixou de tê-los. Ela própria tem que impor os seus direitos, começando pela sua própria casa. E importante que ela veja isso não necessitando ser escorada. Ficam tentando tanto, liberar o aborto para que seja mais aceito. O Brasil não aceita, mas acredito que se a pessoa não quer ter aquele filho ela vai achar que o local para fazer e, faz.
Não é por causa de algumas placas ou movimentos que ela deixará de executar o que quer, não necessitando de lei nenhuma para realizar o que convém. Eu penso assim. Não adianta lutar por algo que não sabemos se vai dar certo ou não, porque aquilo tem que valer para você e para as pessoas que estão ao redor. A partir do momento em que a gente sabe o que quer, é livre intimamente, não precisamos de lei nem de movimentos feministas. Temos uma simpática ministra mulher que atua em casa, produz tanto quanto o homem, e está se impondo.
IZZA – Conte-nos sobre o seu trabalho.
MARILENA – Depois que fiquei algum tempo como instrumentadora, resolvi trabalhar com jóias consignadas e fui em frente. Comecei a ligar para minhas amigas, para as amigas de minha mãe Aríete Chiquita, mostrar, e aos poucos fui progredindo e tendo muitas freguesas. Arranjei vendedoras, organizei tudo e me sinto gratificada por ter conseguido por mim mesma No final do ano passado até organizei um desfile no Clube Curitibano que foi um sucesso. Muitas pessoas chiquérrimas compareceram e me apoiaram. Tenho pique para organização. Foi muito bonito, o Cadinhos Nunes me ajudou a fazer a coreografia Ficou perfeito. Quando eu decido fazer alguma coisa, realizo.
IZZA – Qual seria seu hobby?
MARILENA – Primeiramente viajar. Gosto muito também de escrever. O que eu sinto, meio poesia meio não. Sempre saem coisas bonitas. Fora isso, trabalhar.
IZZA – Em seu trabalho, como você contorna a crise?
MARILENA – Para mim está bom, porque minha clientela sempre compra e constantemente compra mais, mesmo nesta época de férias. Vendo coisas diferentes extravagantes. E disso que elas gostam, depois meu círculo de amizade, é muito grande.
IZZA – Você é considerada uma mulher extremamente elegante, o que é ser elegante em sua opinião?
MARILENA – Sou sofisticada na minha maneira de vestir. Combino cores que normalmente as pessoas não usam. Uma mulher elegante não precisa estar impecável, na última moda. Ela pode ser simples, porém saber usar um cinto, uma jóia, ter postura, saber conversar, a elegância é um geral. Três mulheres para mim definem por si só a elegância, Alba Cavalcanti Pequeno, Vilma Sabóia e Anita Pasini. Elas sempre estão e são elegantes, em todos os momentos. Acho que existem muitas mulheres elegantes, mas como falei, estas três são admiráveis.
IZZA – E sobre o Plano Verão como você pensa a respeito?
MARILENA – E mais uma tentativa muito válida. O que depender de mim para ajudar, controlar e fazer eu faço. A situação já estava ficando insuportável e as conseqüências seriam mais sérias. De repente acho que estava em cima da hora de se tomar novas atitudes. Concordo com tudo porque para que as coisas caminhem, cada um tem que ceder um pouco. Já que o governo se propôs a ajudar cortando os supérfluos, a situação deve melhorar. Não que eu ache que a solução ideal foi encontrada, mas creio que é um começo. Temos que dar um voto de louvor para o presidente, embora ele também sofra pressões.
Tomou a decisão na hora certa, do contrário não sei o que iria acontecer. O povo brasileiro gosta mesmo é de criticar em primeiro plano e como critica e conselho são grátis, eles aproveitam. Temos que ver que algo está sendo feito visando melhoras e o presidente é humano e como qualquer pessoa está sujeito a errar ou a acertar, mas para isso ele precisa de crédito e cooperação. Há uma esperança, se bem que tudo foi congelado demasiadamente alto. Tudo encareceu bastante. O brasileiro é muito conformado e não leva nada a sério. Agora chegou a hora de cada um ceder e lutar para ajudar para que tudo dê certo.
IZZA – Você falou que adora vendas. Não quis entrar no ramo da família?
MARILENE – Achei que a laminaço seria para mim, um ramo muito pesado: lidar com cabos de aço, lâminas para trator, etc. Não daria porque eu tenho que adorar o que estou vendendo, curtir a peça, por isso estou bem em meu campo e a veia de vendedora nasce com a gente. O mais importante é fazermos o que gostamos e cada um tem uma preferência. E, eu sempre desde pequena fui independente nas minhas idéias. E tive abertura para isso.
IZZA – Para finalizarmos quais seriam seus planos para o futuro?
MARILENA – Não tenho nada a esperar. Planos são o que acontece hoje. Não planejo porque não gosto de esperar o que eu não sei se virá. Não tenho um objetivo a longo prazo porque está ótimo como estou e se tiver que continuar assim, está bem. Não que eu não tenha ambição porque todo mundo tem. Plano é o que está vindo. Eu estou plantando, semeando e o que vier só tem que ser bom. Tudo acontece naturalmente.