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“ADMIRO A SIMPLICIDADE” fala Liliana Vargas Ribas

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Curitiba, 3 de junho de 1989

LILIANA VARGAS RIBAS – Tem um incrível bom astral. Glamurosa e esportiva, transmite autenticamente nos mínimos detalhes. Ela é descomplicada, dedicada ao lar e ao seu trabalho. Vamos saber um pouco de sua vida. Esta é simplesmente Liliana, Sra. Dr. Nilson Ribas.

 

IZZA – Você é uma pessoa conhecida e admirada socialmente, como é a Liliana mulher, no dia-a-dia?

LILIANA – Sou super simples, vivo à vontade. As pessoas me cobram o fato de eu ser colunável etc, mas no dia-a-dia admiro a simplicidade, ando sempre de Training, de tênis. Porque eu me produziria para ir ao supermercado? Além disso, tenho três filhos pequenos, é uma vida normal. Só me produzo quando vou a alguma festa, aí sim, me arrumo e gosto de curtir uma roupa bonita, como toda a mulher.

IZZA – Você já foi Glamour não é?

LILIANA – Sim, em 1981. Foi bom e marcou muito para mim. Foi no ano do centenário do Clube Curitibano e minha família me deu todo o apoio.

IZZA – Me contaram que você adora praticar esportes:

LILIANA – Adoro. Faço muita ginástica aeróbica diariamente, e quando posso, chego a ir à aula, até duas vezes por dia, de manhã e à noite, porque isso me faz bem. Jogo também tênis duas vezes por semana, inclusive venci o último campeonato.

IZZA – E a casa, você curte?

LILIANA – Bastante, só não sou muito de cozinhar. Não é o meu ponto forte. O restante faço com prazer. Sou eu quem providencia o que falta para as crianças, para a casa, supermercado etc. Gosto de tudo isso e faço com prazer.

IZZA – Socialmente você badala muito?

LILIANA – Claro que não consigo ir a todos os lugares, a todas as festas. Aprecio um jantar, às vezes uma exposição ou receber amigos, mas de vez em quando, não sempre.

IZZA – E a odontologia, você atua nesta área?

LILIANA – Segundas, quartas e sextas vou a Quatro Barras e a Borda do Campo. Logo que casei, comecei a trabalhar na prefeitura de Quatro Barras fazendo a parte de prevenção nas crianças. Há algum tempo atrás, realizei um plano de saúde, fui de escola em escola, passei slides nas salas de aula e posteriormente implantei o flúor. Foi difícil porque tivemos que reduzir os doces das crianças. Fizemos reuniões com as professoras para esclarecimentos. Foi muito interessante.

IZZA – Este método foi bem aceito?

LILIANA – Difícil foi implantar a escovação nas escolas, então eu e a equipe fizemos assim: como sabíamos que na escola não existem escovas, e que as crianças não tinham escovas também em casa, orientamos para que, na escola, pelo menos uma vez por dia, elas escovassem os dentes. Conseguimos convencer as professoras a dedicarem alguns minutos para isso. Começamos a partir da escola porque é o básico. A única coisa que ainda não consegui é o flúor na água, mas acredito que até o final do ano, este problema esteja resolvido. Você sabe que na odontologia a maior parte é prevenção, e que o flúor na água resolve sessenta por cento dos casos de cárie?

IZZA – Por que Quatro Barras?

LILIANA – Porque meu marido, Nilson Ribas, trabalha no hospital de Quatro Barras, e quando me formei seis anos atras, já comecei a trabalhar. As vezes passo no hospital para dar uma ajudazinha. E um trabalho lindo porque lá não existiam dentistas. Quando comecei, fiquei assustada com as condições das crianças, por isso continuei, e agora é gratificante porque podemos ver os resultados com rapidez.

IZZA – Você não acha que a orientação deveria começar pelos pais?

LILIANA – Claro que seria ótimo se eles fossem esclarecidos. A maioria pensa que o dente de leite dispensa maiores cuidados porque vai cair mesmo, o que é um erro. Na realidade, o dente de leite vai preparar um espaço para o dente permanente que vai nascer. Se for feita uma extração antes do tempo, a movimentação dos dentes fecha o espaço para o dente que viria, por isso ocorre o problema de oclusão. Geralmente, a mãe chega querendo que arranque o que está cariado, de leite, quando na realidade ele tem que ser tratado. Muitas vezes, os pais confundem o molar permanente que nasce com os seis anos com dente de leite, e assim acontece o estrago. Quando chegam até mim, ele está todo cariado e às vezes sem recuperação.

IZZA – Lá vocês têm condições para resolver todos os problemas que surgem?

LILIANA – O único problema é que não temos condições para tratarmos canal, por falta de material disponível e conseqüentemente temos que fazer uma extração num dente, que às vezes poderia ser salvo. Eles não têm condições financeiras para pagar um dentista particular. E muito difícil a saúde pública fazer um tratamento de canal por ser muito demorado, o custo ê elevado principalmente no tratamento de molar. A solução é atacarmos pela prevenção, uma vez que os tratamentos são dispendiosos porque o material é importante. O flúor é barato e resolve, e se nas escolas houvesse flúor, escovação e menos doces, a situação melhoraria. Uma orientação mais completa como a maneira certa de escovar, horário. Isto previne.

IZZA – É verdade que o Brasil é o campeão mundial em cáries?

LILIANA – De cáries e de desdentados também, devido a alimentação incorreta. Aqui quase não comemos fibras, que ajudam na limpeza das gengivas. Outro motivo é a má nutrição da população que baixa as defesas do organismo, falta de higienização, falta de flúor na água, são vários os fatores. Uma coisa puxa a outra, os problemas às vezes começam desde muito cedo e são encarados com displicência, por isso se agrava. Por ignorância, as pessoas só procuram solução quando já estão na fase terminal.

IZZA – Isso tudo nos dá a certeza de que no Brasil a parte da saúde é muito precária, não é?

LILIANA – Claro que sim. Seria importante se fosse montado um esquema, não só na parte de odontologia, mas de modo geral. Eu adoraria montar um grande plano de prevenção, e este trabalho começaria a nível de conscientização primeiramente das professoras nas escolas. A televisão também poderia auxiliar muito.

IZZA – Qual seria o principal problema destas crianças, cáries ou gengivas?

LILIANA – Problemas de gengivas e de dentes porque a placa que se forma pode evoluir para um problema gengival ou para a cárie. Então, como a criança não tem higiene e uma alimentação incorreta, as cáries acabam atingindo todos os dentes. A situação é grave.

IZZA – Como é que você chegou a optar pela odontologia?

LILIANA – Meu avô foi dentista e eu sempre gostei desta área biomédica. Até cheguei a fazer vestibular para Medicina na Federal, mas não passei, então decidi fazer Odontologia. Achei melhor porque a medicina é muito desgastante, são 6 anos, mais o período de residência, não é fácil. Acho que acertei porque é mais tranqüilo. Podemos fazer nosso horário de trabalho e não estamos mexendo com vidas como é o caso da medicina, a responsabilidade é enorme. Na Odontologia, aprecio mais a teoria do que a prática, adoro a parte cientifica, preventiva. Pretendo fazer um curso de especialização brevemente.

IZZA – E a fase que atravessamos, o que você pensa sobre ela?

LILIANA – Tenho um pouco de medo especialmente no que toca a educação de nossos filhos. A televisão influi muito e o que ela quer passar, consegue. As crianças de hoje são bem mais ativas e muito mais ligadas em tudo. Certas coisas eu não acho bom, ainda mais quando comparo com a educação que tive. Hoje as crianças questionam tudo e às vezes nem os adultos estão preparados para responder sobre alguns assuntos. Uma criança de cinco anos não tem ainda capacidade para entender certas coisas e estão muito avançadas no tempo. O caminho é o diálogo, orientação.

Esta liberação excessiva da mulher eu também acho muito errada, porque ela está se promiscuindo. Deveria ser mais recatada porque, do contrário, é ela mesma quem acaba sofrendo, ainda mais quando não tem base nem preparo. Veja o número de abortos que está acontecendo na faixa dos quatorze anos, um absurdo. Como é que estas pessoas vão ter maturidade para enfrentar um filho? Dizem que o número de abortos nesta fase está terrível. Claro que em relação ao trabalho acho que a mulher tem os mesmos direitos que o homem, mas ela ainda é o sexo frágil, porque é ela quem espera o neném, o homem não. Agindo do contrário, acho que ela não chega a ser feliz.

IZZA – Se você fosse política, o que mudaria?

LILIANA – Tantas coisas, mas começaria com o planejamento familiar. Quase ninguém fala nisso e acho que seria uma excelente solução. Pessoas que convivem com a classe menos abastada, vêem que eles nem têm condições de comprar um litro de leite. Eu penso que deveria ser tomada uma resolução. Veja as favelas, algumas mulheres têm sete ou oito filhos, sem terem condições de criá-los. A proliferação de favelas é galopante sem a mínima noção de higiene. Creio que o planejamento familiar seria necessário para que os problemas fossem resolvidos com mais facilidade. As crianças abandonadas existiriam em menor escala. Neste sentido, alguma coisa deveria ser feita.

IZZA – Para finalizarmos, conte-nos seus planos profissionais?

LILIANA – Talvez mais tarde, quando as crianças crescerem, mais um pouco, eu atue no Sir Laboratório, com minha família. Ainda não entrei, porque sei que lá a dedicação tem que ser integral, mas acho que eu adoraria.

 

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