Curitiba, 17 de janeiro de 1988
MARGOT BETTEGA CANET, senhora João Canet Neto, presidente do Conselho Permanente da Mulher Executiva, proprietária da Joy Boutique, é nome expressivo de nossa sociedade. Por seu dinamismo, classe e competência, nos diversos setores em que atua com brilhantismo, Margot não poderia deixar de ser entrevistada por Izza.
IZZA: Margot, quando você iniciou suas atividades no comércio?
MARGOT – A Joy foi fundada em 9 de setembro de 1961, portanto há 26 anos. Eu comparo comércio com política; é um vicio, porque oferece uma abertura muito grande: é uma escola onde se aprende, se adquire vivência e exige comunicação, porque aprendemos a lidar com vários tipos de pessoas. E uma experiência gratificante. Antes eu ficava diariamente atendendo às exigências da boutique; agora minhas atividades mudaram desde que entrei na Associação Comercial. Fico na boutique somente na parte da tarde. E sagrado, a não ser que surja algum compromisso importantíssimo. Acho que o controle é necessário.
IZZA: Não é difícil para você exercer tantas atividades?
MARGOT – Não é fácil. Tenho que dosar e não posso ir fundo em nenhuma das coisas, mas sou dinâmica, sempre gostei de trabalhar, e comecei cedo. Fiz biblioteconomia, estagiei na faculdade de Engenharia, mas não me dei bem como bibliotecária. Ficar quietinha, fazendo fichas não combinou muito com o meu temperamento e minha forma de ser. Sempre fui extrovertida, gosto de conversar, falar estou sempre inventando e creio que, quando a gente trabalha muito, sempre arranja tempo para tudo. Em primeiro lugar, minha casa, meu marido e meu filho, depois a Joy e a Associação Comercial. Tenho conseguido dividir, equilibrar. A organização e o planejamento são essenciais.
IZZA: E quanto ao Conselho da Mulher Executiva?
MARGOT – Faço parte do Conselho, desde que ele foi fundado. A primeira presidente foi Lá Engel. Eu assumi em agosto de 1986. Passei a presidir, depois da escolha em lista tríplice. Estou tentando dar uma abertura maior à Mulher empresária. Creio que a Associação até hoje foi considerada fechada, e muitas mulheres têm receio de não serem bem recebidas ou bem aceitas, mas felizmente isso é passado. Hoje ocupamos um espaço bem significativo aqui dentro, e o nosso relacionamento com o Dr. Carlos Alberto é excelente. Ele nos dá o maior apoio e força. Tenho a impressão de que as dificuldades já passaram.
IZZA: O Conselho Permanente da Mulher Executiva foi iniciativa de quem?
MARGOT – O Dr. Carlos Alberto e seu assessor na época Luiz Groff, convidaram um grupo de senhoras para paticiparem de uma reunião em 1983. Algumas não tiveram interesse, desistiram, outras ficaram e a atual Diretoria permanece pioneira, trabalhando juntas desde essa época. Mais tarde, como falei, fui eleita Presidente por votação e atualmente somos 20 membros da Diretoria, eu e 19 vice-presidentes. Temos um Conselho Consultivo com 40 membros e o cadastramento é grande. Ativamente, este ano foi difícil: as reuniões não foram tantas, tivemos quatro importantes. Houve uma palestra com o Dr. José Carlos Gomes de Carvalho, outra com o antigo secretário Fernando Miranda, e depois com Max Rosenmann que falou sobre a Constituinte e as nossas reivindicações junto a ela. E finalmente, com o economista que expôs a atual forma de conduzir o marketing.
IZZA: Vocês tornaram-se conhecidas e respeitadas, não é?
MARGOT – O nosso trabalho está sendo visto com bons olhos. Estamos participando tanto na fase empresarial não só das mulheres, como na parte de entrosamento de empresários. Realizamos um trabalho de base que vai nos favorecer futuramente. Trabalhamos há quatro anos e estamos conquistando nosso espaço gradativamente. As coisas não acontecem rapidamente, mas a mulher é perseverante e está acostumada a esperar, por isso talvez consiga tudo o que quer.
IZZA: Você falou sobre o desenvolvimento de um trabalho em prol das executivas. O que o Conselho vem fazendo e qual seria esse trabalho?
MARGOT – O nosso primeiro passo foi chamar para junto da Associação Comercial todas as empresárias que pudessem atuar em qualquer ramo dentro da economia da iniciativa privada, das confecções, artesões, etc. procurando orientar, incentivar e ajudar de todas as formas possíveis. Em certa época nos dedicamos a conseguir um financiamento para o pequeno artesão e o conseguimos por intermédio do BADEP e fizemos o repasse. O sucesso foi absoluto. No 2º ano nos dedicamos mais às confecções, procurando orientar e atualmente já contamos com muitas fantásticas. Antigamente, as lojas quase não trabalhavam com mercadorias confeccionadas em Curitiba, atualmente dispomos de maravilhas como a MS de Marta Schulmann, a Kazuco Prêt-à-porter, Maria Maria, e muitas outras a nível de competição com outro centro. Passou a época em que tínhamos que viajar e pesquisar no Rio ou em São Paulo. Eu pessoalmente, prestígio muito, não só na minha loja como aqui na Associação.
IZZA: Quantos Conselhos estão implantados no Interior?
MARGOT – Contamos com dez ou doze. Em Paranaguá foi implantado há pouco tempo com uma Diretoria super dinâmica. Também em Foz do Iguaçu, Campo Mourão, Maringá, Palmeira, Londrina, Paranavaí, Ponta Grossa, Pato Branco, Palmas e Cascavel o que muito no alegrou porque estava desativado, e em vista do sucesso alcançado pelo Conselho solicitou reabertura. Isto é gratificante. As senhoras atuam e seguem as normas de Curitiba. Trabalham em todo o tipo de comércio empresárias, executivas e liberais. A repercussão está sendo ótima porque elas conseguem fazer um bom trabalho e, às vezes, superam as expectativas. Aqui em Curitiba, segundo pesquisas feitas por jornalistas, 52,47% das mulheres trabalham.Fazemos 54% do eleitorado brasileiro.
IZZA: Você tendo comércio, sente de perto os problemas atuais. Em sua opinião quais seriam as dificuldades nesta área?
MARGOT – A falta de capital de giro. Com a inflação de quase 460% ao ano, inexiste empresário ou empresária que não necessite recorrer ao sistema bancário. Juros altíssimos geram dificuldades e o Governo Federal é o grande tomador de dinheiro porque é ele que controla mais ou menos os juros. Ele é o culpado desta alta e da inflação. Os custos, tantas obrigações, problemas com o FMI, geram despesas e nos leva o dinheiro e a contenção de gastos do próprio Governo se torna importante.
IZZA: Que tipo de medidas deveriam ser adotadas para aliviar estes problemas com a crise que o País está enfrentando?
MARGOT – Essa crise vem de muito tempo. A nossa dívida externa rolando, tomando-se cada vez maior. Entramos num círculo vicioso. Acho que o ideal seria haver uma união, uma parada para pensar e vermos realmente o que podemos fazer para contermos tudo isso, porque se continuarmos assim, o ano de 88 será muito difícil, pior que 87. A contenção teria que ser enorme em todos os setores, principalmente na esfera do Governo. Acho que essas obras dispendiosas, como a Norte-Sul, levam muito dinheiro e nós não temos perspectivas de volta nem saída.
IZZA: E quanto à situação da mulher?
MARGOT – A mulher por si só se descrimina. Pela gravidez, ela se afasta muito tempo, 80 dias e ainda está lutando na Constituinte por um prazo maior de 180 dias. Qual é a firma que pode dispor de uma funcionária por 5 ou 6 meses? Por isso acho que ela se descrimina. Em vez de tudo isso, os Constituintes deveriam lutar por creches melhores nas grandes firmas particulares e estatais em vez de afastarem as mulheres. Devido a esse fator, não ocupamos cargos maiores ou melhores.
IZZA – Na Constituinte, quais os assuntos que estão tendo ou não a devida atenção?
MARGOT – Esse que acabamos de citar da maternidade, e a instabilidade no emprego, em minha opinião perigosa para o bom empregado. Há uma descriminação de salário e temos que lutar para que aquele bom empregado, que está há mais tempo no emprego tenha mais incentivo, um prêmio. Sou contra a igualdade de salário. O bom merece ser melhor remunerado. Temos que lutar por isso. A Constituinte está encarando muito essa instabilidade e a redução da jornada de trabalho. Em um país como o Brasil, com tanto desemprego, teremos que pensar como no Japão: trabalharmos até aos domingos. Curitiba é a única cidade do mundo que proíbe os Schoppings de abrirem sábados à tarde e eu não vejo o porquê dessa diferença. Trabalhando e produzindo mais, geramos mercado, chances de emprego e o pior é que o problema está sendo visto somente como redução.
IZZA: Você não acha absurdo o limite de idade estabelecido para concursos, emprego, etc?
MARGOT – Acho que esse problema é decorrente da existência de muitos jovens recém-formados sem perspectivas, por isso há discriminação. Ela existe para favorecer, dar maior chance aos jovens no mercado de trabalho. Temos que incentivar a livre iniciativa e o Governo Federal está contrário a isto. A chance de emprego diminui dia a dia. Não podemos depender só das estatais. Este é um problema sério que estamos enfrentando no Brasil. Estão acabando com todo o empresariado. E não estou falando só do pequeno, mas do grande também.
Em Curitiba, São Paulo, etc, inúmeras firmas grandes reduziram e essa recessão no emprego, inclusive de mão-de-obra, cada vez mais se toma sério. Gerar mão-de-obra especializada para gerar mais emprego resultaria em um número bem maior de pessoas trabalhando. Conter os gastos, mas nunca a livre iniciativa e a iniciativa privada. Sem elas quem poderia gerar empregos? Os incentivos fiscais cada vez maiores. O empregado custa muito mais do que recebe, os encargos são muitos. Eu tenho somente 4 empregadas na boutique, poderia ter mais, mas não há condições, porque tudo gira em tomo dos aumentos: cada vez pagamos aluguel mais alto, luz, telefone, água. Isso tudo tem que sair do custo da mercadoria, não há como repassar. A inflação está sempre mais alta e o giro cada vez menor. Assim repor a mercadoria é quase que impossível, o lucro é ilusório, e aí está novamente o círculo vicioso porque o encerramento também seria dispendioso. Não dá para parar, nem fechar e além disso o empregado trabalha descontente, por achar o salário baixo. Não há condições.
IZZA: Pessoalmente qual é o tipo de moda que você aprecia?
MARGOT – Gosto de tudo que enfeita que deixa a mulher feminina e que vai de acordo com os meus princípios. Existem coisas perigosas que não ficam bem em determinadas mulheres, e ela não deve mostrar jamais o que não tem de bonito, muito pelo contrário. Acho que essa moda muito ampla faz com que a mulher se acomode e esqueça de sua plástica. De repente chega o verão, ela tira a roupa e se assusta porque engordou, perdeu as formas, etc. O nosso clima é ingrato, porque esconde a mulher por vários meses. Ela tem que ser feminina, cheirosa e se diferenciar do homem.
A curitibana é elegante e bem arrumada. Hoje em dia, a moda chega rápido até nós, e a brasileira é linda porque conseguimos adaptar tudo o que há de bom. Estamos avançados. Antigamente levávamos quase um ano para acompanharmos, agora não. O que estão lançando para o verão europeu, nós, às vezes, adaptamos ao nosso verão. De repente é o sucesso da exportação brasileira. Nós temos essa versatilidade, alegria colorida graciosa. Estive na Europa e não comprei nada, o que havia de bonito era muito caro e o acessível não tinha bom acabamento. Aqui nós temos tudo de primeira linha e isso dá um excelente caimento. O brasileiro crítico e exigente, evolui, cresce, cria e transforma com facilidade.