Curitiba, 15 de abril de 1989
GISLENE DE OLIVEIRA MACEDO – é sinônimo de dinamismo. Assessora jurídica do Tribunal de Justiça, advogada, consegue distribuir maravilhosamente bem
o seu tempo, entre o lar, o trabalho e a vida social intensa. Gislene é esposa de José Macedo Neto.
IZZA – Gislene, em que campo você atua?
GISLENE – Sou assessora jurídica do Tribunal de Justiça do Estado, e presto serviços para o Gabinete do Corregedor Geral da Justiça.
IZZA – Você acha o trabalho importante para a mulher?
GISLENE — Muito, porque a mulher que trabalha está sempre bem informada. Ela adquire uma visão do mundo diferente daquele que é ficar dentro de casa, uma visão mais real dos fatos, principalmente na área econômica, sem falar da cultura que vai se tomando mais apurada. Ela toma-se mais participante em todas as faixas etárias de sua família. Quanto a mim, estou no Tribunal de Justiça, desde 1970. Em 1975 resolvi fazer Direito porque até ai, eu só tinha o curso de Magistério. Nesta época eu já trabalhava na Assessoria de Imprensa do TJ.
Em 1979 me formei em Direito pela PUC e em seguida fiz concurso para ingressar na carreira de assessor jurídico do Tribunal de Justiça. Passei em 1ª lugar. Fui então convidada para assumir a chefia dos serviços do protocolo da Corregedoria Geral da Justiça onde estou até hoje respondendo por três serviços de protocolos, sendo dois cíveis e um criminal. Estes serviços estão localizados em locais diferentes. Um no edifício Montepar, no Fórum Cível e os outros dois no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil.
IZZA – O que você faz precisamente, nestes setores?
GISLENE – Reviso todas as petições que dão entrada durante o dia, vejo se não faltam documentos, assinaturas, confiro tudo e encaminho para os juizes dos fóruns cíveis e criminais. Sou a única assessora neste setor. Tenho comigo sete funcionários, todos jovens e estudantes ainda. O meu serviço não é difícil, mas de muita responsabilidade, pois lidamos com prazos jurídicos. Por isso tenho que estar sempre atenta.
IZZA – É este o motivo desta sua vida tão corrida?
GISLENE – Sim. Sendo a responsável por estes serviços de protocolos, e estando cada um deles em um local da cidade, eu fico bastante dividida de um para outro, e isto toma o meu dia corrido. As vezes penso que seria maravilhoso se o dia tivesse mais horas para eu poder realizar tudo o que preciso.
IZZA – Como é que você divide o seu tempo? O que sobra para você?
GISLENE – Durante o dia o meu tempo fica entre a casa e o Tribunal. A noite, atendo meus compromissos e minha família.
IZZA – Fale-me de tua família.
GISLENE – Há vinte e três anos sou casada com José Macedo Neto. Tenho dois filhos, James Hamilton com 22 anos, casado desde janeiro com lone Alues Macedo de tradicional família de Pernambuco. Ele cursa Direito em Umuarama e trabalha no Fórum tocai. Minha filha Giselle está no 2- ano de Jornalismo na PUC e atualmente é assessora de Gabinete da diretoria do Departamento Administrativo do Tribunal de Justiça. Recentemente esteve na Europa em Lisboa, onde fez estágio na área de Comunicação Social.
IZZA – O que vocês acha do casal ter a mesma profissão, o que é o teu caso?
GISLENE – Acho muito bom. É um motivo a mais a nos unir, pois estamos sempre conversando e trocando idéias sobre as nossas funções. José gosta mais da parte cível, e eu da parte criminal O interessante é que sempre trabalhos trocados, ele com o crime e eu com a cível, e isto nos aproxima ainda mais porque um consulta o outro freqüentemente. José no momento está no Egrégio Tribunal de Alçada, após 35 anos de Tribunal de Justiça onde se aposentou como diretor do Departamento Judiciário.
IZZA – A família Macedo Portugal é conhecida por ter muitos juízes e desembargadores não é?
GISLENE – É mesmo. A família é composta de advogados, juízes e desembargadores com pouquíssimas exceções. Entre eles, os saudosos desembargadores Clotário de Macedo Portugal, avô de José, que foi presidente do TJ por muitos anos. E meu sogro James P. de Azevedo Portugal Já a minha família, que é de Ponta Grossa é toda composta por economistas. Hamilton Lazzarotto de Oliveira foi por muitos anos professor de Economia, e eu, depois de casada optei também pelo campo jurídico.
IZZA — Quando você cursou Direito, os seus filhos eram pequenos, como você fez para conseguir ir até o fim?
GISLENE – Naquela época eu trabalhava somente à tarde. Pela manhã eu atendia as crianças em casa, porque criança pequena necessita da mãe se possível vinte e quatro horas por dia. A tarde elas iam para o colégio, então eu trabalhava no TJ e a noite eu ia para a faculdade. Confesso que nunca deixei meus filhos com pessoas estranhas e quando precisavam ficar com alguém, eu os deixava com a minha mãe ou com minha sogra. Se por acaso elas não estivessem disponíveis no momento, nós não safamos, ficávamos todos em casa. Sei que hoje em dia é diferente. A vida é mais atribulada e a disponibilidade de todos é menor, fazendo com que as mães recorram a terceiros, como as babás. Na época que meus filhos eram pequenos o sistema de vida era diferente, ainda dava para se contar mais com os avós. Hoje, elas também são muita ocupadas. Não foi uma fase fácil, mas passou muito rápido e deixou saudades.
IZZA – Mas você já teve outras atividades não é?
GISLENE – Já atuei ao lado de José em várias presidenciais, com a do Lions Clube Curitiba Cabral, Associação de Pais e Mestres. Fui assessora jurídica por muitos anos dos cursos de Atualização da Mulher. Hoje além do meu serviço, faço parte ativa da diretoria de duas entidades a escola Epheta e a Boca Rouge.
IZZA – Como vai a Boca Rouge?
GISLENE – Eu era secretária, depois fui para a Comissão de Sindicância. Ela foi criada em 1984 por um grupo de mulheres atuantes e desde 84 faço parte da executiva. A Boca Rouge é uma entidade que procura homenagear anualmente as mulheres que de fato trabalham de alguma maneira pela sua comunidade, como médicas, professoras, jornalistas, empresárias, etc… Mulheres batalhadoras que além de suas atividades no lar e sociais ainda são grandes profissionais. É uma entidade apolítica. Por sinal, você é uma das mulheres a ser homenageada com a comenda este ano, por seu importante serviço no colunismo social paranaense.
IZZA – E a vida social?
GISLENE – Gostamos muito e temos uma vida social bastante intensa. Meus filhos também adoram. Temos até que fazer uma agenda, e um só toma conta, senão chegamos a marcar mais de um compromisso numa só noite.
IZZA – Qual é a sua opinião sobre as próximas eleições?
GISLENE – Francamente não vejo perspectiva alguma de melhora. Não sou pessimista, mas muito realista. A situação está preta, porque a corrupção existe em todos os setores. Este País vai levar ainda muito tempo para apresentar melhoras. Temos políticos demais e este fato não está contribuindo para nada. Acho que precisamos de tecnocratas no governo, de homens honestos porque de corruptos estamos fartos. Claro que existem exceções, mas poucas, tão raras que as poucas que existem nada podem fazer.
IZZA – Você tem uma personalidade marcante, qual seria a sua característica principal?
GISLENE – Justamente o detalhe. Sou muito detalhista em tudo o que faço, em todos os sentidos. Pra organizar uma festa, para me vestir, me preocupo em cuidar para que nada fique destoante.
IZZA – Dentro de todo este dinamismo, qual foi a época que mais a marcou?
GISLENE – A época em que as crianças eram pequenas e eu confeccionava fantasias infantis de luxo e originalidade para eles. Eu adoro bordar pedrarias. Foram cinco anos consecutivos de primeiros lugares para cada uma das crianças. Eles desfilavam em concursos infantis que naquela época era uma coisa muito séria. Muita gente participava e as fantasias eram lindíssimas. Concorreram nos canais 4, 6 e 12 e no Clube Curitibano. Até ganharam a foto da capa da revista do clube, além de muitos prêmios de valor. No Sírio Libanês eles eram Hours Concours. Os dois eram muito requisitados no Carnaval para se apresentarem em vários locais. A noite safam nos carros alegóricos do Rei e da Rainha. As fantasias foram tão admiradas que até eu fui convidada para fazer para outras cidades, Ponta Grossa, Guarapuava, etc… Mas por absoluta falta de tempo não pude aceitar. Foi bom enquanto durou.