Curitiba, 1 de julho de 1989
EULEZIA BRAMBILA ALARCON. E a sócia diretora do Grupo Orbram. Conhecida e admirada por sua incrível competência como empresária, d. Eulézia nos transmite nesta entrevista sua enorme força de vontade e otimismo que fazem dela o destaque que é. Esta é Eulézia, Sra. Ricardo Alarcon.
IZZA – Dona Eulézia, como vai a sua vida?
EULÉZIA – Atualmente estou aposentada, com 37 anos de serviço, mas é claro que continuo atuando porém não tão intensamente. Há doze anos conto com a ajuda de minha irmã e meu cunhado à frente da ORBRAM. Sempre trabalhamos juntos. Bem, vou contar desde o começo.
IZZA – Como foi o início da Orbram?
EULÉZIA – Eu sou de Capinzal, Santa Catarina. Trabalhei desde os quatorze anos. Quando me casei, viemos morar em Curitiba. Senti que apenas o serviço da casa não me contentava, e além disso desejávamos uma renda familiar melhor. A princípio, eu e minha irmã começamos uma confecção de roupinhas de criança bordadas à mão e chegamos a ter 14 lojas como clientes, mas o tempo foi passando e não me sentia realizada com este trabalho. Então, certo dia, eu soube que havia em São Paulo uma empresa de limpeza, e comecei a pensar em entrar no ramo. Meu marido era fiscal do IBC e viajava bastante e confesso que ele não estava muito entusiasmado princípio, mas foi aceitando. Ele cuidou da parte de papéis, e eu do resto, e contratamos cinco empregados para começar.
IZZA – Quais foram os primeiros contratos?
EULÉZIA – O nosso primeiro contrato foi com o Banco Nacional. Começamos com muita vontade e coragem, porque não tínhamos a mínima experiência, mas o mais importante foi a vontade de vencer. Me lembro que, quando as empregadas faltavam, nós mesmos limpávamos o local para cumprirmos o contrato de acordo. Nós fiscalizávamos tudo e pela manhã o banco sempre estava limpo. Financeiramente foi também muito difícil porque na época não tínhamos capital de giro; não tínhamos crédito, pois havíamos nos mudado para cá há pouco tempo e ainda não tínhamos conhecimento do mercado de trabalho. Foi uma luta tremenda e a primeira loja que nos deu crédito foi a lojas Nasser, onde compramos a princípio uma enceradeira.
Cheguei lá, e com franqueza expliquei a situação, sempre tendo em mente os ensinamentos de meu pai que sempre dizia: “O importante é sermos honestos e corretos com tudo”, por isso abri o meu coração para o sr. José Nasser que acreditou em mim e nos deu o crédito. E, assim foi, compramos uma, depois três, seis, doze e não paramos mais. Claro que algumas vezes tínhamos que atrasar um pouco o pagamento da prestação, mas neste caso eu me dirigia pessoalmente à loja explicando a situação. Dar uma satisfação é importante, e é quase meio pagamento. Assim me tomei uma boa cliente e, com a indicação deles, pude partir para outras lojas com bom crédito.
IZZA – Como vocês conseguiram vencer as dificuldades todas?
EULÉZIA – Meu marido, Ricardo, dividia seu salário. Uma parte ficava para a nossa manutenção e com a outra comprávamos o que necessitávamos para o nosso negócio. Com economia e planejamento e muita fé, fomos em frente. Depois conseguimos vencer uma concorrência do INPS, e os contratos foram surgindo e o quadro teve que ser ampliado rapidamente. Hoje contamos com oito mil funcionários.
IZZA – E a Orbram de Porto Alegre?
EULÉZIA – Bem com o nosso sucesso aqui, decidimos abrir uma firma em Porto Alegre onde tomamos conta da praça. Minha irmã Euclair e seu marido dirigiam a firma, mas com o tempo, quando o trabalho tomou-se muito para mim aqui, decidimos vender a Orbram de Porto Alegre e o casal e mudou para Curitiba. Eu continuo atuando e todos os dias faço expediente das 13:30 em diante.
IZZA – Quais são os serviços que a Orbram oferece?
EULÉZIA – Começamos com limpeza, e em 69 montamos a vigilância bancária, depois o transporte de valores. Temos o serviço de tesouraria. A escola de formação de vigilantes, onde eles recebem diversas orientações, como defesa pessoal; aprendem a atirar; adquirem as noções necessárias para trabalharem no ramo; adquirem realmente uma profissão porque sem isso não são admitidos. Temos mais de quatro mil vigilantes formados e a escola é na Cidade Industrial. Atualmente estamos formando vigilantes femininas que estão sendo bem aceitas. Agora vamos lançar a segurança eletrônica, um sistema novo, muito interessante.
IZZA: Em que consiste este sistema de segurança eletrônica?
EULÉZIA – O aparelho é colocado no banco. Cada botão dá assistência em caso de roubo, incêndio, assalto ou problemas de saúde, necessidade de atendimento médico. O progresso é uma coisa fantástica. Este serviço é mais caro, mas muito eficiente, está em fase de implantação. Depende de uma série de testes ainda.
IZZA – Quantas agências existem atualmente?
EULÉZIA – Orbram estendeu-se em Santa Catarina e Paraná. Temos onze filiais aqui e dez em Santa Catarina: Florianópolis, Joinville, Blumenau, Joaçaba etc. Completamos 26 anos de atividades. Com o passar dos anos, montamos uma estrutura fabulosa, todos os departamentos necessários e as pessoas certas nos lugares certos. Temos funcionários que estão conosco desde a fundação da empresa e todos os anos fazemos uma homenagem especialmente para eles.
IZZA – Como é o relacionamento patrão/empregado na Orbram?
EULÉZIA – A nossa maneira de administrar é diferente das grandes empresas. Somos uma família. Sempre estamos de portas abertas. Se um empregado de- seja conversar, ele tem livre acesso. Queremos que as pessoas se sintam à vontade, exigimos o maior respeito, mas desejamos que se sintam em casa e trabalhem satisfeitos, não existem barreiras. Além disso sempre estamos circulando nas diversas seções.
IZZA – A situação atual não afetou este tipo de serviço?
EULÉZIA – Damos atendimento para mais de cem empresas. Sou uma pessoa extremamente otimista. Com estes problemas governamentais, claro que temos alguns probleminhas assim como todas as empresa, impostos, salários, etc., mas se o País está passando por eles, temos que agüentar juntos. Com calma, tudo se ajeita, tenho certeza de que esta crise vai ser superada. A nossa preocupação não é só nossa, como empregado também, pois vive de salário e sabemos avaliar as necessidades. Atendemos e auxiliamos no que pudermos, na medida do possível.
Temos até uma Associação com o nome de meu pai Daniel Brambilla, que empresta certa importância para aqueles que precisem no momento. Veja, diretamente, são oito mil empregados; mas indiretamente são quarenta mil pessoas que vivem dependendo da empresa, por isso lutamos por ela que está sustentando muita gente. Nossa responsabilidade é enorme, tudo deve ser muito bem pensado e calculado. Tem sido gratificante, nestes anos todos, sabermos que a empresa dá emprego e assiste tantas pessoas. É um ideal que realizamos com sucesso. Sei que a abertura da empresa deu certo também porque a época era outra Atualmente deve ser bem mais complicado porque as dificuldades aumentaram. Hoje, iniciar um negócio sem capital, como nós iniciamos, deve ser quase impossível.
IZZA – E o Conselho Permanente da Mulher Executiva?
EULÉZIA – Fui convidada para fazer parte do Conselho e foi uma das coisas boas que me aconteceu. Lá conheci pessoas que de outra forma não teria oportunidade de conviver, porque hoje em dia a vida é muito atribulada, cada um cone em função de seus afazeres. Eu sou uma pessoa muito simples, e adoro novos conhecimentos. As participantes são formidáveis, é um grupo interessante que luta pelos mesmos ideais, muito unido. Nos reunimos, jantamos fora ou nos encontramos na casa de uma ou outra. Além disso temos a possibilidade de estarmos sempre bem informadas.
Sou também diretora financeira do Banco da Mulher, cuja presidente é a Marina Taniguschi. É um projeto muito importante porque auxilia e incentiva novos negócios, um empurrão decisivo para quem tem vontade de subir. Participo das reuniões da Associação das Mulheres de Negócios e Profissionais do Paraná. Acho todos estes movimentos femininos sensacionais, porque a mulher deve conquistar o seu espaço e é capaz de executar qualquer serviço. Quando ela se propõe a fazer algum trabalho ela o faz com dedicação.
IZZA – Quais são seus planos mais imediatos?
EULÉZIA – Concretizar o que está em fase de lançamento, o mais depressa possível; ampliar o nosso espaço físico para maior conforto no trabalho, porque o nosso escritório tem mais de cem pessoas e o espaço como tempo vai se tomando pequeno.
IZZA – Como mulher, a Sra. sentiu certa discriminação quanto ao trabalho?
EULÉZIA – Sim, ainda mais que eu atuava como relações públicas. Há 20 anos atrás, eu sentia certas barreiras, mas procurava ignorar esta parte, e ir direto aos meus objetivos. Graças a Deus, agora a coisa é bem diferente. Quando estávamos para iniciar o setor de vigilantes, requerendo alvará etc, no contrato constava o nome de três mulheres, minha mãe, Donaide, minha irmã Euclair e eu, as três sócias. Todos nos olhavam admirados; achavam impossível que três mulheres dirigissem uma firma de vigilantes, mas fomos em frente. E conseguimos.
IZZA – Em sua opinião, todas as mulheres deveriam trabalhar?
EULÉZIA – Cada mulher tem a sua maneira de pensar. Algumas acham que é melhor ficar assim, sem fazer nada, outras têm vontade de trabalhar, mas precisam de incentivo. Penso que, se tiverem vontade devem ir em frente, porque com certeza vão vencer. Em termos de realização pessoal me considero realizada, mas sempre há muito o que fazer. Tenho 64 anos e grande vontade de fazer sempre mais. Quero continuar ativamente e principalmente ajudar a quem precisa. A minha parte profissional nunca afetou a minha vida no lar porque sempre em primeiro lugar fui dona de casa e em segundo, empresária. Administro, cozinho se necessário, pois com boa coordenação tudo é possível.