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“A DEDICAÇÃO E O AMOR CONTRIBUEM PARA A REALIZAÇÃO DOS IDEAIS” diz Izabel Fanaya

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Curitiba, 22 de maio de 1988

IZABEL FANAYA – É uma pessoa personalíssima. Calma, segura de si, tem como sua principal característica, a autenticidade. Filha de dona Ilza e do sr. Alcindo Fanaya, nos fala com elegância e empolgação de suas lembranças e de seus propósitos. Izabel tem muito para nos contar, por isso, ela é a nossa entrevistada.

 

IZZA – Izabel, você pertence a uma família tradicional curitibana. Eu soube que no início do mês, houve uma homenagem a seu avô João Alfredo Silva. Conte-nos como foi.

IZABEL – Comemoramos o centenário do nascimento dele, e para nós, foi muito importante porque, (além de reunirmos toda a família), o motivo principal foi para que os jovens chegassem a saber exatamente, quem foi o avô deles. Acho muito bom dar ênfase às pessoas, porque o que representamos e somos hoje devemos a nossos antepassados, nossos pais e avôs. Atualmente, a sociedade é muito dirigida a jovens, e os mais velhos muitas vezes são vistos como fardos, pessoas superadas que não entendem ou acrescentam mais nada, e eu acho realmente o contrário. Eles devem ser valorizados porque são a sabedoria da família e seus ensinamentos, transmitimos aos nossos filhos. A experiência que eles nos deixam deve ser cultuada pela família. Essa reunião foi maravilhosa, pelo congraçamento familiar.

IZZA: Você, como neta, conte-nos um pouco de João Alfredo Silva.

IZABEL – Meu avô era alagoano, veio ao Paraná com dezenove anos de idade. Teve quatro filhos, Jofre Cabral e Silva, llva e llna. Fundou a Rádio Clube Paranaense, a PRB2, a primeira rádio emissora do Paraná, inclusive em sua casa aconteceram as primeiras transmissões da emissora. Foi a segunda rádio instalada no Brasil. Fundou também com Avelino Lopes a Escola Prática de Comércio Analfred, que foi mais tarde administrada pelo seu irmão De Plácido e Silva e transformou-se na Escola Técnica de Comércio De Plácido e Silva. Esta escola teve até uma filial no Rio de Janeiro dirigida por Adelino De Benedito.

Estudou medicina formando-se aos quarenta anos, e mais tarde, com uma excelente equipe de médicos participou da Fundação da Casa de Saúde São Vicente da qual foi o primeiro diretor. Foi também diretor do Hospital Vitor do Amaral e do Hospital da Criança. Teve uma grande paixão, o Clube Atlético Paranaense. Construiu o Ginásio do Atlético que hoje tem o seu nome. Foi Cidadão Honorário de Curitiba, escreveu crônicas que foram publicadas no jornal Gazeta do Povo e depois transformadas em livros, “Uma Excursão pela Europa” e “Meu Nordeste” e por esses trabalhos, foi admitido na Academia de Letras José de Alencar, indicado pelo escritor Vasco Taborda. Morreu durante um jogo, vítima de seu coração rubro-negro em 1966. Por tudo isso, essa comemoração acontecida no dia 7 de maio foi importantíssima. Vieram primos de três Estados brasileiros, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Foi uma maneira linda de cultuarmos sua memória. Vejo que nos países desenvolvidos eles são muito valorizados e em nosso País, infelizmente não. Nosso País não tem memória em todos os sentidos.

IZZA – E você, Izabel, desenvolve alguma atividade?

IZABEL – Eu participo na Fundação Alcino Fanaya Junior, fundada por meu pai há dez anos. Em 1970, tivemos uma grande tragédia na família, a perda de meu irmão de quinze anos de idade. Foi um abalo muito grande e logo depois, meu pai Alcindo Fanaya quis, em homenagem a meu irmão e a sua memória, ajudar os carentes, e ai está a Fundação Alcindo Fanaya Junior.

IZZA: Como foi o início dessa Fundação?

IZABEL – Nunca ninguém realiza sozinho. Graças a Deus existem amigos que auxiliam na caminhada e estão sempre ao nosso lado. Uma grande incentivadora foi Luizita D’Albuquerque Teixeira que indicou a papai uma escola de surdos do Governo, aqui em Curitiba, que estava no momento no mais completo abandono, sem aparelhamento adequado e contando somente com esforços de abnegados que ali trabalhavam. Então meu pai resolveu investir e ajudar essas crianças. Comprou aparelhos, montou salas, mandou professoras para São Paulo com a finalidade de se aperfeiçoarem, porque aqui, na época, não existia aperfeiçoamento no setor.

Lá aprenderam a lidar com os aparelhos, e toda a forma de tratarem com crianças surdas. A semente nasceu ali, numa salinha da escola. Em seguida, ele continuou insistindo com autoridades do Governo para a construção de uma escola adequada.Ele batalhou muito, com vários amigos a seu lado e foi no Governo de Jaime Canet que saiu a construção da escola na Vila Izabel. Outro grande colaborador foi Arnaldo Busato e outros que muito fizeram. Foi inaugurada a escola e, para surpresa de nossa família, o governo a chamou de Alcindo Fanaya Junior pelo trabalho que meu pai, Alcindo, teve na construção, e por seu incentivo. O próximo passo foi criar a Fundação para podermos arrecadar dinheiro e auxiliar as crianças, e essa Fundação, agora, completa dez anos.

Sem a colaboração de amigos nada teria sido construído. Aqui em Curitiba, acho que existe muita confraternização. Atualmente papai apesar de doente, continua presidente da Fundação e meu irmão Nelson Fanaya como vice-presidente. Minha mãe llza colabora muito e eu dedico grande parte de minha vida a esse trabalho com muito prazer e também porque não queremos deixar morrer esse sonho de meu pai. Ele fez com ideal e carinho muito grandes, tantas coisas foram conseguidas com seu esforço. É gratificante. A doação e a bondade marcam sua personalidade. Hoje a Fundação aceita doações e frequentemente fazemos campanhas porque é com elas que podemos dar melhores condições a essas crianças.

IZZA – Todas as crianças são surdas?

IZABEL – Sim, todas. Algumas até chegando a um ponto importante, a expressão pela voz, graças aos vinte e sete profissionais, especialistas, pediatras, neurologistas, otorrinos, assistentes sociais, psicólogos, orientadoras educacionais, dentistas, assistentes sociais, músico-terapeutas e fonoaudiólogos.

IZZA – Quem mantém o Centro de Reabilitação da Audição e da Fala Alcindo Fanaya Júnior?

IZABEL – É a Fundação de Ação Social do Paraná – Faspar, órgão vinculado à Secretaria do Trabalho e da Ação Social com convênios de amparo técnico entre a Secretaria de Educação e Legião Brasileira de Assistência – LBA, através do programa de assistência ao excepcional. A criança é assistida em três fases: escolaridades especiais pedagógica, reabilitação da audição, e da fala e principalmente integração social com a comunidade e o mais interessante é que o nosso propósito é também incluí-las profissionalmente no mercado de trabalho, pois existem diversas opções para um deficiente auditivo.

IZZA – Quais seriam os primeiros passos para a recuperação da fala e dá audição?

IZABEL – O aprendizado dos primeiros fonemas individualmente, seria a fase individual, complementação da fala e expressão corporal e musical, seria a fase multidisciplinar, essa fase muito importante porque nela o aluno aprende a cantar e a dançar conforme a vibração dos sons.

IZZA – E sobre esses regimes adotados, após a criança atingir determinada idade, qual seria o caminho a seguir?

IZABEL – Após atingir essa faixa, ela vai para uma escola de crianças normais, é encaminhada para a comunidade. Temos alunos que chegaram à Faculdade, todos deficientes auditivos. É um trabalho muito bonito, uma Escola Modelo, orgulho para o Paraná. É constante e contamos com voluntários que muito no auxiliam.

IZZA – Qual é a tua contribuição?

IZABEL – O elo é meu irmão Nelson Fanaya. Ele não tem o tempo disponível que gostaria de ter diariamente e eu, faço um elo entre a Fundação e meu irmão, o substituo quando ele não está por motivos de viagens, etc. Adoro porque vibramos quando vemos uma pessoa pronta, apta a seguir o seu caminho. Às vezes voltam para casa porque nossa preocupação é também a de orientar a sua família. Há clube de mães onde elas aprendem trabalhos manuais, trabalhamos a própria família do deficiente também. É feito um estudo global de cada criança, seu ambiente. E tudo muito bem organizado. E em alguns casos tentamos conscientizar a família de que a criança deficiente não representa realmente um problema.

IZZA – Qual é exatamente a ligação com CRAF?

IZABEL – Ela auxilia o Craf. O Centro de Reabilitação Alcindo Fanaya Junior é uma escola do governo e a Fundação auxilia em tudo que o governo não tem condições de suprir, não por não querer, mas sim por não ter condições para atender. Nós complementamos as necessidades da escola, transportes, presentes, festas, roupas, etc.

IZZA – Porque foi feito um projeto com a finalidade de auxiliar o governo?

IZABEL – Meu pai sempre falou que, nos Estados Unidos as famílias usavam muito e usam, fazer doações ao governo, heranças, para as instituições, para pesquisas científicas, etc., e aqui no Brasil não temos esse costume. Meu pai, Alcindo, idealizou assim, baseando-se nos moldes americanos. Também não podemos esperar que o governo consiga resolver todos os problemas, não é? Nós também temos que auxiliá-lo. Temos que contribuir também.

IZZA – Você se lembra com destaque de algum fato que tenha te emocionado mais nesses dez anos?

IZABEL – Nós já tivemos vários fatos emocionantes, inclusive houve uma época em que a própria Fundação mantinha um apartamento alugado para as crianças, já adolescentes, que tinham atingido o limite de idade, para facilitar seu progresso, estudos e o que fosse necessário, somente com o auxílio de pessoas maravilhosas. Foi gratificante acompanharmos os alunos além a escola. Eram adolescentes que realmente tinham condições de irem além.

A força de vontade deles era maior. Ultimamente, pelas dificuldades tivemos que acabar com esse recurso, mas o nosso propósito é, trabalharmos dobrado para que possamos continuar. A inflação é muito galopante e isso é real. Tenho certeza que sempre haverá uma continuidade porque transmitimos a nossos filhos e eles sempre demonstraram interesse de prosseguir a jornada. Mesmo sendo uma fundação pequena, todo o auxílio é maravilhoso. Porque um pouco de cada um resulta em fatias que no final aparecem e tomam nossa causa provável e bem-sucedida. O fim filantrópico é um trabalho árduo, mas recompensador. Nossa ideia não é badalar, nem visar lucros, somente auxiliar de coração e de boa vontade.

IZZA – E essas doações, para onde são enviadas?

IZABEL – Primeiramente é requerido à Fundação, um recibo e depois feita a doação para o Banco Bamerindus em qualquer agência do Brasil.

IZZA – E você, Izabel mulher, o que conclui de tudo isso?

IZABEL – É importante que na vida, mantenhamos sempre a noção da beleza e esperança. Eu acredito e sou feliz por isso e tenho orgulho pelo fato de meu avô e de meu pai sempre trabalharem por esses princípios. Não poderia deixar de mencionar as figuras de minha avó Isaura e de minha mãe liza, as quais com dedicação e amor contribuíram para a realização dos ideais mais caros de seus maridos. Igualmente completando minha felicidade, meus filhos Guilherme e Izabella, os quais espero, venham trilhar caminhos que floresçam beleza e esperança.

 

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