Curitiba, 29 de novembro de 1987
Sinônimo de elegância e personalidade Aliete nos conta o “Porquê” de seu sucesso. Como empresária, proprietária da SOCIPAR, vem há 15 anos auxiliando a mulher a tornar-se cada vez mais bonita. Vice-presidente do Conselho Permanente da Mulher Executiva da Associação Comercial do Paraná, Aliete coleciona méritos.
IZZA – Como nasceu a SOCIPAR?
ALIETE – Senti a necessidade que, Curitiba, já na época em pleno crescimento, exigia em relação ao trato, à beleza, e ao aprimoramento da mulher. Na ocasião, não havia nada onde a mulher pudesse usufruir e juntar uma série de atendimento relacionados à estética e ao aprimoramento social.
Sentindo essa necessidade, procuramos contato com a SOCILA do Rio de Janeiro e partimos para um esquema de treinamento, e assim, demos início ao trabalho. Durante cinco anos estivemos com eles. Depois deste tempo, nos desligamos, porque não havia mais necessidade, já havíamos adquirido nossa experiência. Sentindo as carências da mulher curitibana diferente da carioca, nos adaptamos e nos tomamos independentes.
IZZA – Você resolveu trabalhar por ter necessidade de exercer alguma atividade, ou porque estava já certa de sua vocação para executiva?
ALIETE – Sempre fui uma pessoa bastante agitada e ativa.Já tinha tido muitas idéias mas achava cedo porque havia ainda três crianças em casa então esperei até a hora que senti que a dependência deles para comigo, era bem menor. Procurei ouvir pessoas, opiniões de pediatras em relação ao fato de me ausentar de casa para trabalhar e a conclusão que cheguei foi de que, dependendo da faixa etária, não seria a quantidade e sim a qualidade do tempo que dispendesse com eles o fator mais importante. Quando passei a trabalhar, consegui suprir as horas de ausência. Acho que melhorei, e também pela perspectiva de futuro, de repente me senti dentro de casa só com os afazeres domésticos me achando com grandes possibilidades de fazer algo mais para mim mesma e para a comunidade. Comecei dando aulas de yoga O grupo foi aumentando e tive também o incentivo das alunas, e a partir disso resolvi dar início a SOCIPAR.
IZZA – Sendo a SOCIPAR novidade na época, a curitibana aderiu facilmente?
ALIETE — Não. Sentimos bastante dificuldades normais no início de qualquer atividade. A curitibana é uma mulher exigente: precisamos provar primeiro para depois recebermos o crédito. Inclusive, havia pessoas que sabiam que o nosso esquema estava montado e funcionava a contento, mas se sentiam mais à vontade em passar o mês de julho no Rio de Janeiro, acreditando e usando os mesmos serviços que estávamos prestando. Curitiba é tida como cidade teste e felizmente a mulher curitibana testou e aprovou, porque já contamos com 15 anos de atuação.
IZZA – Todos as funcionárias eram treinadas no Rio de Janeiro?
ALIETE – Sim. Principalmente a primeira equipe, doze funcionárias da qual você fez parte, não é Izza? Como professora de postura e andamento. As que tinham mais responsabilidade, principalmente, no tocante à escola, foram treinadas lá para adquirirem, somarem seus conhecimentos, se aprimorarem mais e melhor.
IZZA – Por que uma escola como esta 6 procurada a nível não só profissional, mas como aprimoramento em etiqueta, andamento e postura, maquiagem, etc.?
ALIETE – A nível profissional, de alguns anos para cá a procura tem sido bastante grande, porque a menina-moça deslumbra a possibilidade de um trabalho como manequim e modelo fotográfico. A nível de outra faixa etária, temos sentido procura constante pela necessidade que a mulher tem de aprimorar-se na parte de etiqueta, pela vida social e profissional “em moda”. Importante para que ela tenha noções de quando e onde vestir cada tipo de roupa de acordo com o seu tipo físico, personalidade. No andamento e postura, para adquirir mais elegância nos gestos e atitudes. Na maquiagem, noções que podem a favorecer em certas ocasiões nas quais ela não tenha condições de buscar um profissional, às vezes até por falta de tempo. E a própria “etiqueta” que apesar e parecer “démodée”, com a evolução do mundo, continua sendo muito importante em qualquer setor da vida das cada pessoas, tanto social como profissionalmente. Assim, conseguimos transmitir à mulher coisas que realmente ela sente que existem, e o mundo de hoje exige dela maiores conhecimentos.
IZZA – Então você acha que as mulheres, dia-a-dia sentem mais necessidade de um aprimoramento?
ALIETE – Lógico, porque o campo profissional da mulher cada dia adquire mais abertura. Em Curitiba, há 15 anos atrás sentíamos um número muito pequeno de mulheres que exerciam alguma atividade profissional ou em determinados setores onde esses pontos seriam mais necessários. Com a maior busca da mulher pelo desenvolvimento, seja financeiro ou profissional o campo foi se estendendo. Daí a maior procura pelo aperfeiçoamento de forma geral.
IZZA – Com toda esta evolução você não sente que as mulheres andam se cuidando mais esteticamente?
ALIETE – Claro, é uma exigência porque ela almeja tornar-se independente. Há mais ou menos 5 anos atrás surgiu a palavra “feminista” que não tem nada a ver com “feminino” apesar de se mesclarem. Ela compete no campo profissional, mas a estética acaba somando. Sim, a mulher concorre em muitas situações de trabalho com o homem, mas nunca pode rá deixar de seu lado feminino, consequentemente aí entra a estética, com seu visual e maneira de portar-se, É o feminino bonito da coisa, porque queira ou não, a mulher participando da luta do dia a dia, como acontece com milhares, enfeita qualquer ambiente. Aí vem a obrigação de manter-se bem de forma geral.
IZZA – Qual o critério que a SOCIPAR adotou e adota em seus serviços?
ALIETE – Este é o ponto mais importante do meu trabalho, porque desde o início, a responsabilidade e a confiabilidade das clientes para conosco e nossa para com as clientes é enorme queremos que elas sintam que realmente proporcionamos determinados trabalhos com muito critério, sem nunca prejudicá-las no tocante à saúde, dando-lhes os resultados com extrema responsabilidade. Isto felizmente é provado pelo grande número de clientes que usaram nossos préstimos durante estes 15 anos. Conseguimos atingir nossos objetivos.
IZZA – E a concorrência?
ALIETE – A concorrência sempre existiu. E válida porque impulsiona nossa preocupação em sempre querermos atender melhor e inovar nossos serviços. A única coisa preocupante é a concorrência estabelecida nos mesmos parâmetros, critério, qualidade e responsabilidade. Quando surge algo nesse sentido, respeitamos o concorrente. Quando sentimos a ausência dessas condições, para nós não chega a ser uma concorrência. Atualmente a SOCIPAR é um complexo único em Curitiba e quem sabe, pelo Brasil afora. Poucos locais reúnem todos os serviços num só estabelecimento.
IZZA – Quais seriam as dificuldades que uma empresa enfrenta tendo mão-de-obra feminina?
ALIETE – Aqui 90% são mulheres. Isto seria até como na mensagem a outras empresas que barram muito a mulher profissionalmente. Não é fácil. Acredito que realmente até seja um pouco mais difícil, mas na maior parte das vezes a mulher trabalha pela necessidade de dar melhor sobrevivência à família, consequentemente, ela se dedica e acaba sendo uma excelente profissional, mesmo tendo sua situação complicada pela maternidade e falta de atendimento a seus filhos. Infelizmente, o país não está dando condições melhores à mulher que trabalha, sendo que a mão-de-obra feminina atualmente é a maior força dentro do país.
Ela luta com extrema dificuldade por carência de atendimento assistencial. O Governo poderia facilitar as próprias empresas este tipo de atendimento, mas os encargos sobem tanto e de repente, o dinheiro que poderia ser canalizado dentro da própria empresa para auxiliar seus funcionários, se esgota. Não houvesse tantas obrigações, a empresa poderia arcar com departamento médico, dentista, creches, etc. Este é um problema social muito sério, porque somente as grandes empresas teriam condições para isso.
IZZA – Com a situação atual do Brasil? Como reage uma pequena empresa?
ALIETE– Com muita dificuldade, porque o grande empresário conta com giros e investimentos maiores. O médio e o pequeno empresário, com a situação de crise, estão sufocados. O Governo teria que analisar este problema, tentando ajudar e incentivar este gerador de mão-de-obra que é o pequeno e médio empresário.
IZZA – E essa crise afeta a frequência na prestação de serviços?
ALIETE – Afeta de modo geral todos os segmentos de nossos serviços. Também sentimos, por desdobramentos diversos, como menos procura porque a movimentação é menor. Por isso a mulher se vê sem tanta necessidade de determina- dos recursos, mas precisando manter-se em forma, atualizada esteticamente, sentir-se bem. Nessas condições, ela nos procura. A crise afeta porque, se a pessoa usava determinado tipo de serviço duas vezes por semana, passa às vezes a usar uma só vez. O que mais nos preocupa é a hora de passarmos a lista nova de preços, porque sabemos como a mulher empresária, dona de casa, tem o bolso afetado pela situação atual.
IZZA – A curitibana se cuida sempre em cima da hora, ou está constantemente mantendo a forma?
ALIETE – Este é um problema climático, porque quando passamos 9 ou 10 meses sentindo frio e estamos agasalhadas, não sentimos tanta necessidade quanto uma mulher de clima mais tropical. Quando a estação muda, elas procuram recursos desesperadamente, e isso nos dá certa preocupação, porque esteticamente a pessoa para se manter tem que ter um atendimento constante, e de repente, num prazo de um ou dois meses tudo o que ela poderia ter usufruído gastando menos, deixa de acontecer porque o nosso resultado não poderá ser tão satisfatório num período relativamente curto. Nossas clientes mais frequentes, quando chega o pique da estação, já estão em forma e não necessitam de recursos de choque. O milagre não existe, e é princípio nosso não prometer o que não podemos cumprir.
IZZA – Sobre o SPA, é o primeiro de Curitiba?
ALIETE – Além de ser inédito em Curitiba e no Paraná, foi um lançamento em comemoração aos nossos 15 anos, pois foi um trabalho muito bem elaborado com equipe muito bem treinada para montar um tratamento de emagrecimento da forma mais saudável possível. Consiste num semi-internamento a partir das 8 horas da manhã. A cliente entra, toma seu café, inicia um condicionamento físico, alongamento, caminha, faz ginástica e parte para departamento onde vai ser cuidada da cabeça aos pés. Também recebe orientações sobre maquiagem, andamento e postura, etc. De repente, a mulher se dá o direito de dispor de cinco dias por semana para cuidar de si mesma, coisa difícil. Os resultados têm surgido não só na parte física como psíquica.
IZZA – Como você enfoca a conciliação família e trabalho?
ALIETE – A conciliação não é fácil porque a mulher que trabalha é obrigada a enfrentar muitos problemas, porque ela continua sendo esposa, mãe, dona de casa. É uma batalha grande. Não é uma ideia de valorização maior do que o homem porque acho que todos têm o mesmo mérito. Temos que reconhecer que o envolvimento da mulher é bem mais pesado, porque na cultura brasileira o homem não está acostumado a dividir tarefas com a mulher dentro de casa.
Eu sempre tive a sorte de contar com o apoio e compreensão do marido e filhos. Acho que, para que possamos somar os deveres de esposa, mãe e dona do lar, há necessidade de que os homens compreendam mais a situação da mulher. Observando minhas funcionárias, na maioria mulheres, dá para sentir que elas saem daqui, chegam em casa e desempenham toda a tarefa A mulher trabalha pela sobrevivência financeira. Vejo casos em que elas desempenham suas funções com garra, tendo o marido desempregado. Atualmente ninguém trabalha por hobby.
IZZA – Falemos sobre Aliete mulher. A que você atribui todo este sucesso?
ALIETE – Eu parto do seguinte princípio; para qualquer coisa social ou profissional, temos que estar bem conosco mesmas. A cabeça é o ponto mais importante. Ao nos visualizarmos, temos que nos sentir bem. É uma soma. As vezes dizemos que determinada pessoa tem boa aparência e, muitas vezes, não é tanto pela parte estética mas ela está bem consigo mesma complementando extremamente. Deve haver equilíbrio.