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“Uma politica salarial justa” fala Ivanira Gavião Pinheiro

Postado em

Curitiba, 12 de Maio de 1991

 

IVANIRA GAVIÂO PINHEIRO; já foi advogada criminalista, agente de inspeção do trabalho e agora é presidente da Associação dos Agentes de Inspeção do Ministério do Trabalho, a primeira mulher a conquistar este cargo. Idealista, inovadora, lvanira também faz parte da Conselho da Condição Feminina. Esta é Ivanira. Sr. Jeli Pinheiro.

 

PESSOALMENTE

SIGNO: Câncer.

COR: Caqui.

PERFUME: Animale.

ADMIRAÇÃO: Pessoas que batalham, impunham sua bandeira com honestidade.

TEMPERAMENTO: Forte, idealista.

BOM: Viver. 

RUIM: Não saber viver.

lzza – Qual é a tua atividade?

Ivanira – Eu sou advogada e atualmente sou presidente da Associação dos Agentes de Inspeção (advogados do Ministério do Trabalho). Esta associação é a nível estadual. Engloba médicos, engenheiros e advogados que são os agentes de inspeção do trabalho.

lzza – Profissionalmente o que faz?

lvanira – Fiscalização das normas de proteção ao trabalho, atendimento ao trabalhador, etc.

lzza – Qual foi a proposta quando a tua chapa venceu?

lvanira – Procuramos fazer um trabalho novo mais democrático. Hoje, você chega lá, a associação está cheia de gente, pessoas discutindo, trocando idéias, é ótimo.

lzza – O momento está propício para este trabalho?

lvanira – Não, está muito difícil. Você não sabe realmente como está e como vai ficar a situação consequentemente o trabalho tem sido mais político.

lzza – o fato de você ser mulher te atrapalha em alguma coisa?

Ivanira – Não sinto nenhuma dificuldade pelo fato de ser mulher. Em outros campos às vezes a mulher é discriminada, mas na minha condição de presidente da associação eu não vejo empecilhos.

lzza – Desde que você entrou qual foram as inovações realizadas?

lvanira – A primeira foi uma chapa de oposição ter sido eleita. Segunda, inovação foi ter ganho, uma mulher para a presidência, o que antes não tinha acontecido. E dpois o espírito democrático que implantamos que anteriormente não existia. Parece que há mais diálogo, cobranças, esta foi a chave. Se solicitarmos algo do pessoal temos resposta porque as pessoas estão bem mais participativas.

lzza – Como você chegou a ser eleita presidente?

lvanira – Estou no Ministério dó Trabalho desde 1978 e em Curitiba desde 85. Sempre fiz política, inclusive na época de estudante e faço política partidária até hoje. O que percebi dentro do Ministério do Trabalho é que lá não se fazia política de classe, de categoria. Então começávamos a reivindicar coisas, brigar por certos direitos e assim fomos criando um grupo que era a oposição ao que achávamos que deveria ser quebrado. A candidatura saiu naturalmente. Chega um ponto em que temos que assumir as coisas pois não adianta você só criticar. Montamos uma chapa e começamos a fazer campanha.

lzza – Fazer campanha foi fácil?

lvanira – Não, realmente não foi fácil. Foi uma campanha dura porque não tínhamos dinheiro e não viajamos para nenhuma cidade do interior. Realmente vimos que a nossa proposta foi bem aceita e que as pessoas gostaram, assim ganhamos.

Izza – Você tem uma meta a alcançar no setor?

lvanira – Sim, pois agora estamos lutando pela isonomia salarial, este é o primeiro objetivo. Com a junção da Previdência e do Trabalho o que acontece; um fiscal previdenciário tem determinado salário, e um agente de inspeção do trabalho tem um salário bem inferior. Isto é inconstitucional. Este é o primeiro passo, brigar pela isonomia salarial. O assunto é muito restrito. Não há justificativa que num mesmo Ministério funções semelhantes tenham salários tão diferenciados. Estamos também fazendo um grande trabalho pela melhoria da imagem do agente de inspeção do trabalho que está um pouco desgastada.

Izza – Porque no Paraná, os salários são tão menores do que nos outros centros?

lvanira – Os salários são convencionados nas convenções coletivas de trabalho cada sindicato tem um piso salarial, o que é necessário saber é se estes pisos salariais estão sendo cumpridos. A convenção coletiva de trabalho firmada pelos sindicatos tem uma abrangência territorial, depois tem a Federação em cima. A mão de obra em Curitiba é mais barata em relação a São Paulo. Os salários sobem à medida em que os sindicatos fortalecem quando eles têm mais poder de negociação com o sindicato patronal.

Izza – Nas convenções coletivas briga-se muito por maiores salários?

Ivanira – Claro que sim, mas existem também outros pontos importantes pelos quais as pessoas não brigam muito. Por exemplo: quando veio a licença maternidade de cento e vinte dias, muitos já tinham esta licença estipulada em convenção não à lei. O vale refeição, o auxílio creche são salários indiretos. Se você somar o vale refeição mais o auxilio creche e mais o seu salário, verá que, às vezes é mais proveitoso negociar estas coisas do que o salário em si. Existem alguns mecanismos.

Izza – De forma geral com está a situação?

lvanira – Todos estão ganhando mal com raras exceções. O salário está achatado, para o funcionalismo público federal; tivemos um aumento em fevereiro de 90, pegamos uma inflação de 80% em março mas não tivemos aumento até o final do ano. Aí houve outro aumento de 30% e em janeiro mais 67% quando outras categorias vinham negociando e obtendo reajustes.

Izza – O que poderia ser feito para melhorar neste sentido?

lvanira – Uma política salarial honesta e justa porque não existe política salarial no País. Com o salário mínimo de dezessete mil e livre negociação como fica? Como vai haver livre negociação se não existe emprego? Por exemplo: eu quero aumento de salário, a negociação está aí, mas o patrão diz que não dá e aonde você vai arranjar outro emprego? A livre negociação é válida para uma situação econômica estável, na nossa situação não funciona. Se você não tem emprego, há recessão, como vai negociar livremente?

Izza – Como fica esta situação?

lvanira – Não será resolvida a curto prazo, é uma situação preocupante. Qual será o nosso futuro profissional? A coisa não está bem delineada. Ninguém quer ganhar muito, mas quer receber o justo condizente com o seu gabarito.

Izza – Em casa existem cobranças por você trabalhar demais?

lvanira – Sempre existem. Principalmente dos filhos. Mas isso é normal ainda mais quando se trabalha num ramo absorvente como este. Eu sempre trabalhei e isso facilita, a família já está    acostumada. Comecei estagiando na época de faculdade, me formei em São Paulo, e depois trabalhei cinco anos em Criminologia e entrei no Ministério do Trabalho.

Izza – Fihos, quantos?

lvanira – Dois, Rivadavia e Rebeca. Dezessete e quatorze anos.

Izza – A tua família aceita sem problemas o teu lado profissional?

lvanira – Aceita porque quando os meus filhos nasceram eu já trabalhava fora de casa e eles foram convivendo com isso. Na época da eleição eles acompanhavam passo a passo. As vezes eles reclamam um pouco de minha ausência, mas no geral aceitam bem. Meu marido é engenheiro e me apóia.

Izza – Eu soube que você participa do Conselho da Condição Feminina ? 

lvanira – Lá eu sou conselheira . e fui coordenadora da Comissão de Legislação e Direito. Acho os movimentos femininos importantes.

lzza – Em tua opinião porque são importantes?

lvanira – Principalmente os movimentos populares independentes. Através dos movimentos independentes que a Constituição de 88 colocou a licença maternidade de 120 dias, a obrigatoriedade da creche, etc. Há muito a ser conquistado. Que bom será o dia em que não houver necessidade do Conselho da Condição Feminina e nem da Delegacia da Mulher, aí os direitos já estarão iguais.

lzza – Como você concilia a vida profissional com a pessoal?

lvanira – Temos que ser objetivos. Frequento salão de beleza uma vez por semana, faço ginástica, jogo tênis depois das seis da tarde ou antes das nove. Durmo tarde e acordo cedo, é meu costume. 

Izza – Você acha que tudo isso está valendo a pena?

lvanira – Acho que sim, fiz uma boa avaliação, inclusive antes de me candidatar a presidente da associação e achei e continuo achando que está sendo gratificante. Só o fato de ter conseguido democratizar a associação já é uma alegria. A partir daí as coisas acontecem sequencialmente.

Izza – Vida social você curte?

lvanira – Muito. Gosto de teatro e cinema, de festas e tenho muita disposição para sair e adoro Curitiba, e não pretendo sair daqui.

Izza – O que você acha que deveria ser mudado no mundo?

lvanira – O que eu acho que ainda não está bom, mas já está melhorando é a consciência do povo. Ela ainda não é plana mas está melhor. As pessoas estão mais conscientes de seus direitos. O outro passo para ficar melhor é cobrar aquilo que é de seu direito.

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