Curitiba, 21 de outubro de 1989
NINI BARONTINI; proprietária da Nini Barontini Galeria de Arte, ela vem há 4 anos fazendo sucesso no ramo. Descobridora de novos talentos, confessa adorar o meio em que vive e ter inúmeros amigos .. Simples e espontânea, esta é Nini.
lzza – Sendo você uma “Expert” em arte, do que realmente você gosta?
Nini – Não gosto somente do que me agrada a vista, e sim daquilo que me “toca”, porque há quadros que te emocionam e outros que te deixam indiferente. Sentir é o que importa. Pode ser até um problema de ativismo, lembrança de algo que você já passou, uma coisa boa ou às vezes ruim que, talvez no subconsciente, já tenha até aconteci¬do. Se você sentiu amor à primeira vista por uma tela, se puder, adquira, senão você vai se arrepender.
lzza – Algumas galerias preferem trabalhar com artistas consagrados. Isso não torna difícil o acesso para os novos?
Nini – Eu não acho certo porque quem já é consagrado, já vem com o preço altíssimo. Veja bem, acho que as galerias devem ter essas obras mas, o principal, é apoiar quem está começando; a descoberta de novos talentos. E existem muitos que ainda não tiveram oportunidade, faltou aquele “empurrão”, mostrar a pessoa certa. Veja o Celso Coppio, veio de São Paulo, chegou aqui e seu início foi difícil. Quando ele me mostrou seu trabalho, já vi, a princípio, que ele teria muito sucesso. A pessoa que tem galeria tem que saber enxergar além daquilo que vê ali, se o artista vai ser bom ou não, saber o que vai acontecer. Agora eu vou lançar um novo, em novembro. Senti que, a cada 60 anos, nasce um com igual talento.
lzza – E o mercado curitibano?
Nini- Acho fantástico! As pessoas gostam de arte e alguns colecionadores são até vidrados. Às vezes uma pessoa ganha de presente um quadro, põe na parede e se apaixona. A partir daí, toma o gostinho e começa a comprar, visitar frequentemente as galerias.
lzza – Você não acha que aqui em Curitiba a admiração pela arte está mais acentuada, ultimamente?
Nini – Eu posso dizer que já vivi num período no qual não me interessava por arte, mas nós éramos vizinhos do Guido Viaro. Meu pai era professor na Escola de Belas Artes e convivia com muitos artistas. Eles se queixavam do quanto era difícil o mercado, isso há 15 anos atrás. Trabalhei há 15 anos na Eucatex e foi naquela época que senti que o mercado estava melhorando. Acho que o público estava querendo, mas talvez não tivesse despertado. Tudo vem na época certa. Os que já gostavam, hoje possuem pinacotecas incríveis com quadros de Maria Amélia Assumpção, Nisio, Bakum. Mas esses artistas lutaram muito. Alguns até morreram sem assistir seu próprio sucesso.
Izza – Há quantos anos você convive com a arte?
Nini – Tenho doze anos de Eucatex mais 4 anos de Galeria – isso comercialmente. Eu nascei com a arte porque meu pai era crítico. Me lembro que, quando pequena, já adorava folhear os livros e quando meu pai dava aulas com audiovisual eu ia sempre junto.
lzza – Difícil para uma artista paranaense expor fora daqui? Quais seriam as dificuldades?
Nini- Acho que o artista paranaense é muito acomodado. Poucos têm aquele “clan” de pioneiro. Veja, o Dárcio Lima – de São Paulo – está expondo na Itália, na embaixada. O Celso Coppio esteve na Europa o ano passado c agora vai voltar para lá. Acho que eles têm que sair, do contrário ficam amarrados aqui e quando vão para outro lugar do Brasil, não têm resposta porque seus quadros só são valorizados aqui. Alguns “marchands” de fora, vêm, compram muitos quadros, mas vendem lá – por um preço baixo – não promovem, etc, O Victor Hugo, de Porto Alegre, faz muito sucesso lá, veio até Curitiba porque quer expor aqui e isso é ótimo. Depende de cada artista se ele quer ficar no livro dos grandes ou ficar num só local. Sabemos que eles às vezes batalham, sofrem, mas conseguem.
lzza – No tocante à escolha dos artistas, qual é o seu sistema na galeria?
Nini – Às vezes o artista vem a mim e às vezes faço contato telefônico. O Leon Basco – que vai ser o meu presente de Natal para meus clientes – apareceu, mostrou-me seus quadros e eu me impressionei. Paranaense, fez dois anos de Escola de Belas Artes e continuou sozinho. ele é ótimo! Sinto que ele vai fazer sucesso. Dizem que o verdadeiro artista tem o hábito da arte e a mão que treme. O que importa é sua síntese. Não gosto de desanimar ninguém. Alguns, a princípio, apresentam coisas deploráveis, mas dá para sentir o talento que com o tempo ele acaba lapidando. Existem também os que não levam jeito, não vão para frente de forma alguma.
lzza – E você, já se dedicou à pintura?
Nini- Pintei no atelier livre do Viaro, eu adorava e ele até achou que eu tinha talento. Depois eu me afastei porque tive que lutar pela sobrevivência e aí ele mesmo me aconselhou a partir para fotografia. Fiquei conhecida, me dei bem. Mais tarde ele me encontrou e sugeriu que eu voltasse. Pena que, uma semana depois, ele faleceu. Mais tarde tentei novamente, mas acho que o recomeço é pior que o início e a pintura é como o Ballet, o piano, o violino, exige muita dedicação – 6 ou 7 horas diárias – e como para mim isso não era possível, desisti.
lzza – Como foi a tua fase de fotógrafa?
Nini – Eu fotografei as meninas do Curitibano, Concórdia, Country, Thalia, de clubes de fora, mas minha saúde não aguentou. Eu dormia 4 horas por noite porque fazia tudo sozinha. Tirava a foto, fazia as provas, retocava, entregava. Depois começaram a aparecer debutantes de Santa Catarina, etc. Reconheço que eu já não tinha tempo nem para comer, dormir, para as minhas coisas. O resultado foi um “stress” violento e foi difícil a recuperação.
lzza: E a família? Nesta época, como você dividia o seu tempo?
Nini – Nesta fase eu só me dedicava ao trabalho e à minha família, e os meus filhos foram super bem orientados porque eu nunca fui mãe ausente.
lzza – Como é a Nini a nível pessoal?
Nini – Gosto muito das pessoas. Procuro ver nelas o lado bom. Isso depende da gente mesmo, saber tirar o bom. Não posso me queixar de ter encontrado alguém mau. Muitos me ajudaram quando precisei. “Curto” meus filhos, meus quatro netos. Quando me dedico a alguma coisa vou fundo.
lzza – E os planos futuros?
Nini – Isso a gente sempre tem. Aquele sonho que fica lá dentro e que às vezes custa para se realizar. Confesso que meu sonho seria realmente fazer uma viagem para Gênova, onde nasci e tenho família. Devido aos afazeres tem sido impossível e no final do ano é muito frio, e isso me assusta. Em consequência das exposições programadas eu não consigo me afastar e, depois, somente ficar 30 dias é muito pouco. Sei que lá eu teria muitas pessoas para falar, muitos sonhos para relembrar. Mas sei também que quando um sonho persiste muito tempo ele acaba sendo concretizado.