Curitiba, 29 de abril de 1990
LAÍS MANN; Uma da vozes mais bonitas do Paraná, com vasta experiência em comunicação, Laís é presença imprescindível na apresentação de eventos e principalmente no rádio, onde mantém· um programa de incrível audiência. Essa é Laís. Confiram.
lzza – Como você chegou a se envolver com a comunicação?
Laís – Eu comecei meio por acaso, mais ou menos em 1966. Me recordo que fui fazer um desfile no Canal 12 para a Mazer e o Sr. Adolfo – que era o proprietário – me fez dar uma entrevista. O diretor do Canal era Wilson Tomas, que hoje está em São Paulo. Fui convidada por ele para fazer o Jornal. Um pouco indecisa, fiquei de dar uma resposta posteriormente. Cheguei em casa, falei com a minha mãe, e confesso que foi bem difícil convencê-la. Ela achou a ideia absurda! Duas semanas se passaram e eu rompi com a Mazer, onde era vendedora e coordenava os desfiles. Me demiti e fiquei apavorada porque, a partir daí, estava desempregada. Voltei ao Canal 12 e comecei a fazer o Jornal. Imagine o que era há vinte anos atrás uma moça nova trabalhar em televisão, até “pegava mal”. Mais tarde, voltei para Mazer e fiquei com os dois empregos.
lzza – Quando você iniciou o trabalho na televisão, já tinha experiência no ramo? Como você chegou até o “Show de Jornal”?
Laís – Iniciei sem experiência nenhuma. O Show de Jornal, naquela época, era o que havia de mais “status”. Qualquer locutor ou apresentador local sonhava em conseguir o lugar. Quando falavam em Canal 4, Jornal, eu jamais pensei em conseguir o lugar. Era o máximo e, para mim, uma coisa tão intelectual. Osni Bermudes me chamou um dia para fazer um comercial no Canal 4 vi que as pessoas ficaram impressionadas comigo. Logo depois ele me chamou para que eu gravasse. Quando perguntei do que se tratava, me respondeu que estava montando um arquivo com pessoas que não fossem apresentadoras de TV. Ficou por isso mesmo.
Dias depois ele apareceu lá em casa, à noite, convidando para ir naquela hora ao Canal 4. Eu disse que não poderia ir por causa do horário, mas ele insistiu. Acordei minha mãe e nos dirigimos para lá. Toda a diretoria estava reunida, o Renato Schwaitzer, o Aderbal Fortes, Jamur Jr., JJ, Paulo Miranda que era o diretor geral da emissora. Eu nem sabia o que realmente estava acontecendo comigo. Disseram que já haviam assistido os testes e que eu tinha sido a escolhida para fazer o Show de Jornal. Perguntaram quanto eu queria ganhar. No Canal 12 eu ganhava muito pouco e achava que estava bom, pois era menina. Imaginei o que eu ganhava no 12, calculei o dobro e mais um pouco e notei que eles me olharam. Pensei ter pedido demais. Acho que nem imaginei a importância que era naquela época você ser apresentadora do Show de Jornal. Achar uma pessoa apta para isso na época era dificílimo porque não haviam apresentadoras. Me ofereceram duas vezes mais do que eu tinha pedido. Me senti então vivendo um conto de Cinderela, porque eu não tinha a menor formação acadêmica e nem sabia direito o que era comunicação. No dia seguinte comecei. Todos os dias, às 18 horas, o Osni me apanhava em casa. Eu chegava ao Canal fazia testes de fotogenia, etc. me arrumava. Comecei então a conhecer uma coisa chamada produção.
lzza – Você conseguia estar em frente às câmeras naturalmente?
Laís – A televisão, ou qualquer veículo de comunicação nunca me apavorou. Eu não me lembro de ter me sentido constrangida diante das câmeras. Claro que, às vezes, tive dificuldades; por exemplo, a nível de entrevistas importantes, me dava medo porque não tinha formação universitária.
lzza – Quem mais te auxiliou na época?
Laís – Neste começo, eu fui um “desastre”. Todos os dias quando o Jornal acabava o Aderbal Fortes vinha super alterado me dizendo: “Você é um horror, incompetente, matou o Jornal, pronunciou errado, você é uma negação … ” Então eu me sentava com o Jamur Junior – que muito me ajudou no início de minha carreira – na sala de maquiagem e fazíamos todo o jornal de novo. Ele me ensinava e me corrigia. Bem, não fazia nem um mês que eu apresentava o jornal quando, numa das crises do Aderbal, eu quis ir embora, me demitir, porque a pressão era muito grande. Realmente, naquela hora, eu não queria mais nada. A minha surpresa foi grande quando ele me respondeu: “Não é nada disso, você está enganada. Você é ótima eu estou fazendo isso porque você precisa levar uma sacudida. Há alguma coisa em você que precisa vir para fora. Exatamente esta explosão que você teve comigo é que você deve libertar, ter amor pelo que você está fazendo”. Aí senti que o compromisso que eu tinha era muito maior do que eu imaginava. O compromisso da notícia, do veículo, aquela responsabilidade de trabalhar na emissora de um governador – a televisão-modelo – como era considerada na época. A partir daí, comecei a olhar as coisas com outros olhos e tentar “sentir” o Jornal. Acho que eles acreditavam no meu potencial de voz, de fotografia, em alguma coisa de empatia que eu tinha com o público. Cada dia mais fui me identificando com o telespectador que deu-me depois o crédito que eu precisava para ser uma apresentadora.
lzza – Pela importância do Show de Jornal, na época, ele mudou a sua vida?
Laís – Ele mudou toda a minha vida. Eu existi antes e depois dele porque eu convivia com pessoas como o Renato Schaitzer e o Aderbal Fortes que, na minha opinião, são os melhores textos até hoje para a televisão. Comecei então a ver que eu estava no meio de feras e aprendi a tirar as coisas deles para mim; ao invés de me deixar simplesmente levar pelo processo, eu comecei a fazer parte daquele esquema e a usufruir do profissionalismo deles e aquilo mudou a minha vida porque houve entrosamento. Até quando Ducastel Nicz – que foi o criador do Show de Jornal – declarou que o jornal foi uma das coisas mais sérias que ele havia criado e que naquela oportunidade ele se sentia feliz porque o Canal 4 TV Iguaçu tinha conseguido trazer para o Show a apresentadora certa. A partir desta declaração do Ducastel, as pessoas mudaram em relação a mim e eu também passei a acreditar mais em mim mesma. Muitas apresentadoras boas já tinham passado, a Lota Moncada, a Hortencia Tayer e a Delzi Captain. Fiquei até o final.
lzza – Então você continuou no 4?
Laís – Não, eu estava indo para o Canal 6 quando o Martinez me convidou. Lá fiquei dois anos mais ou menos, fui mudando e trabalhando em todos os veículos de comunicação menos no Canal 12, a minha primeira casa. Eu tinha com eles uma “coisa” muito bonita, uma “coisa” gostosa. Agora eu nem quero mais fazer televisão pois acho que o telejornalismo acabou no Paraná e em todos os Estados.
lzza – Por que você acha que o telejornalismo acabou?
Laís – A rede matou o telejornalismo em televisão. É uma briga que eu acho que todos os profissionais brasileiros tinham que levar adiante. Veja bem: quando temos uma notícia no Estado, de repercussão nacional, ela vai com destaque para o Jornal Nacional. Ela vem de onde nasce a rede, do Rio de Janeiro para nós. Quando damos aqui o rabicho de jornal, a notícia já foi dada e está desgastada. É a grande diferença que existe da época em que existia o Show de Jornal. Nele nós fazíamos a notícia, ela nascia, era divulgada, e o povo consumia a notícia através da televisão local.
Atualmente não acontece mais isso. Por exemplo, eu tenho pena de ver o que é telejornalismo aqui no Paraná. E uma coisa vazia, ôca, apresentadores sem recursos de expressão porque o “Plim Plim” dominou tudo. E o que você vê são apresentadores com a mesma linguagem, com a mesma forma de expressão. Nem dá para notar quando muda 0 apresentador, porque a notícia é dada da mesma. forma com a mesma entonação. Os jornais locais são insípidos, as notícias são inexpressivas, em função das redes que mataram a televisão local.
lzza – Você acha que isso acontece somente em telejornalismo?
Laís – Não, em tudo. Tivemos até um debate no Canal Livre sobre a importância da Televisão na vida moderna, que importância que a televisão pode ter para nós paranaenses. Vamos analisar. Quais são os programas regionais que temos? O Canal 6 tem alguma coisa local, acho que mais de 50%. É uma exceção, quando isso deveria ser a regra. Elas deveriam ser obrigadas. Parece que existe até uma lei que vai novamente tramitar no Congresso no sentido de que cada emissora dedique duas horas de sua programação para a TV local. E um absurdo que isso não mais exista, o regionalismo. Você vê apresentadores com sotaque “carioquês”, Curitibano tem que falar carioca porque a televisão nos ensina isso, então o nosso sotaque e a nossa origem que é bonita e “chic”? Fora daqui, as pessoas curtem porque pronunciamos bem as palavras.
lzza – Por que você não gostaria mais de fazer telejornalismo?
Laís – Porque eu iria me sentir aviltada, violentada ao pegar um roteiro de rabicho de jornal. Os jornalistas profissionais que fazem isso não têm culpa nenhuma, muito pelo contrário. É importante que haja quem faça para que a coisa não morra de uma vez, mas eu não me submeteria mais a isso. Em 1987 eu fazia um programa de quinze minutos no Canal 4 e, de repente, fomos chamados pela Diretoria e recebemos a notícia que a partir do dia seguinte nosso programa estava cancelado. Em nosso lugar entrou o Bozo. Por isso, por essa falta de consideração, parti para o rádio.
Izza – Como é trabalhar no rádio?
Laís – É bonito, me realiza, mas acontece uma coisa complicada com ele. O que acontece hoje com as emissoras de rádio? Estão tomadas pelos falsos pastores, falsas Igrejas e pelos políticos que querem fazer dele o seu comitê eleitoral. Pegue o horário nobre do rádio, as programações matinais e o que você vê? Só dá candidato. Fiquei uma época em Brasília de 82 a 87 e, quando voltei, vi que institucionalizou-se que radialista ganha eleição. Quando cheguei tentei retomar um espaço que eu havia deixado há cinco anos atrás, sabia que ele já havia sido ocupado mas nunca poderia imaginar que ele tivesse sido preenchido de uma forma tão imprópria. Claro que, se eu sou profissional de televisão ou de rádio, vou procurar as minhas origens para atuar, os canais competentes para retomar as minhas atividades.
Todos me achavam ótima, competente, maravilhosa, boa locutora, mas espaço não havia. Por que não havia espaço? Porque eu, como profissional da área, teria que receber para trabalhar. Claro que se você desenvolve uma atividade tem que receber por ela; é a tua gratificação, o reconhecimento pelo teu trabalho, é a remuneração financeira e, de repente, as rádios não precisavam mais disso porque os políticos – além de ocuparem o espaço – pagam caro. Isso alterou todo o sistema, me deixou desiludida porque a cada dia que passava eu via mais remota a possibilidade de voltar a fazer alguma coisa que eu sabia e queria fazer. Até que aconteceu a proposta da Rádio Eldorado, onde estou até boje, e que teve uma posição diferenciada das outras rádios preferindo ter profissionais da área. Não me consta que tenha havido da parte do sindicato dos radialistas qualquer movimento no sentido de se respeitar o profissional de rádio. Hoje você nem sabe mais se foi o político que se tornou radialista ou se foi o radialista que se tornou político.
lzza – Como está seu desempenho na Rádio?
Laís – Hoje eu faço um programa de 3 horas, no horário nobre, que é pela manhã. Não tenho compromissos políticos, a emissora deu-me liberdade para trabalhar. Se ela não existir o radialista não consegue fazer nada. Se a rádio impuser normas você fica limitado. Eu tenho essa liberdade. como profissional na rádio Eldorado, e sem ser candidata. “A Cidade é Sua” é um programa típico de rádio AM com participação de ouvintes, telefonemas, queixas, denúncias, reivindicações. Eu adoro!
lzza – Qual é a diferença, para o profissional, entre o rádio e a televisão?
Laís – A diferença é muito grande. A televisão cria mito, imagem. Você é aquela pessoa produzida que aparece na tela e está sempre bem. Você vende uma imagem e as pessoas não sabem realmente quem você é e o que você pensa. No rádio é diferente porque eu conto tudo para os meus ouvintes. Se eu estou bem ou mal, se o meu filho reprovou na escola, seu eu fui explorada na feira, etc. O que existe entre o radialista e o ouvinte é uma cumplicidade muito grande. Eles aprendem a confiar na gente através de nossa voz; por isso, a comunicação do rádio é uma coisa delicada e é lamentável que ela esteja tão desvirtuada hoje. O ouvinte de rádio nem sabe o que acontece na televisão. É aquela importância que a rádio tem como o veículo que traz a notícia e que acabou perdendo esta característica porque hoje está se prestando a fins eleitoreiros, assistência social que os candidatos fazem através dele para conquistarem votos. Qualquer radialista que tenha um programa AM de duas horas por dia se elege facilmente e a prova está aí, vereadores, deputados que são sempre os mais votados em qualquer eleição.
lzza – Você já foi candidata, o que te trouxe esta passagem pela política?
Laís – Me trouxe duas coisas: uma desilusão muito grande e, paralelamente, uma satisfação enorme. A desilusão vem quando eu penso que pretendi ser candidata de um sistema corrupto como é o político. Não se faz política no Brasil sem um padrinho poderoso que queira de fato te eleger e eu, ingenuamente, pensava que política se fazia com idéias, discursos e propostas concretas, e isso infelizmente não acontece. São poucas as pessoas que conseguem se eleger a nível de seu discurso e idéias. A minha satisfação foi ver que tenho aqui em Curitiba uma coisa que político nenhum nem instituição alguma pode me tirar que é a minha popularidade com o público curitibano, com o povo mesmo. As pessoas que votaram em mim o fizeram porque acreditam e gostam de mim. Atualmente continuo filiada a este partido por uma questão de princípio meu, pessoal.
lzza – Você enfrentaria uma candidatura novamente?
Laís – Eu não quero mais ser candidata mas quero fazer política, porque gosto. Ela, na sua essência, é uma das coisas mais bonitas que conheço; inclusive, hoje desenvolvo trabalhos políticos, mas é um trabalho mais a nível de prestação de serviços para políticos. Tenho uma produtora de vídeo onde faço cursos preparatórios para políticos. Tenho uma experiência de vinte anos que me dá a tranqüilidade de saber falar em frente a uma câmera de televisão – saber o que e a hora de dizer. Alguns políticos não têm isso, primeiro porque ninguém tem a obrigação de saber falar na televisão e segundo porque essa coisa de mídia eletrônica para político surgiu agora, há pouco tempo, no Brasil. Nós vimos nas eleições presidenciais o quanto contou pontos o político que sabia se direcionar em frente a uma câmera, que sabia para onde olhar e o que dizer. Isso alertou os demais e acredito que nas próximas eleições vamos ter homens mais preparados. Eles estão procurando isso. Diante do discurso bem dito o povo vai poder considerar o sincero do não sincero. Horário político é desagradável, então como já disse, televisão é imagem e esta imagem é um todo. Não adianta alguém querer me convencer que o político deve conservar seus vícios de linguagem, cacoetes, etc. No palanque pode ficar bem, mas na televisão não. Deve haver estética.
Izza – Você não acha que o dom da palavra é nato?
Laís – Acho mas ele pode ser aprimorado. A empatia com o público, nenhum comunicador vai fabricar. Muitos conseguem essa empatia tendo um tipo característico que, de repente, foge ao que seria um padrão ideal para a TV. Mas, a pessoa que tem este dom nato e que consegue transmitir isso de uma forma natural, é raríssima. Quando o político é carismático ele transmite isso no palanque mas, às vezes, não transmite na televisão – que é um veículo técnico, frio. Muitas vezes, o melhor de uma entrevista ficou lá atrás nos bastidores, antes de ter sido acesa aquela “luzinha”. O que posso transmitir são técnicas, maneiras de como ele pode ser mais agradável para o telespectador e, consequentemente, passar melhor a mensagem.
Izza – Como é que você consegue exercer tantas atividades?
Laís – Sei que sou uma espécie de faz-de-tudo. Em primeiro lugar porque a vida de uma mulher não é fácil e a vida da mulher profissional é mais difícil ainda. E a vida da profissional que tem uma atividade que aparece é ainda mais complicada. Você corre o sério risco de ser rotulada. Trabalha em televisão? Só sabe fazer aquilo. Por isso eu sempre fiz questão de diversificar muito as minhas atividades. Eu posso te dizer que já passei por diversas profissões e é isso que dá o embasamento, cultura, condições de lidar com a vida.
Izza – De todas estas atividades, qual te realiza mais?
Laís – O rádio, eu adoro. Para que você tenha uma ideia eu tenho pavor de acordar cedo e quando faço rádio consigo levantar cedo e de bom humor. Isso é inacreditável, existe um estímulo para que eu acorde. A justificativa é muito boa. Sei que existe um programa de rádio me esperando. Como é gostoso chegar lá e dar aquele bom dia para meus ouvintes e saber que a forma do meu “Bom Dia” vai mexer com a cabeça das pessoas que me ouvem, porque a ligação entre o ouvinte e o locutor é tão grande que eles captam o nosso humor. Eu posso ter as maiores dificuldades fora dali mas esqueço e me isolo completamente. Jamais levo o lado negativo para o meu trabalho.
Izza – A popularidade de uma comunicadora não interfere em sua vida pessoal?
Laís – Bem, a imagem que as pessoas têm da gente é que nunca temos problemas. E aquela coisa de mito, da mulher que aparece. As pessoas começam a idealizar a tua vida em cima das necessidades que elas têm. Ficamos comprometidas com a popularidade, mesmo que ela seja restrita. Me atrapalhou bastante. Eu confundia muito isso. Eu sou espontânea, alegre, brincalhona, tenho uma personalidade solta e quando trabalhei na televisão eu tinha toda uma imagem formal que as pessoas esperavam de mim e eu achava que teria que corresponder aquela imagem, fazer um tipo. Era um estereótipo mesmo. Eu pensava: eu sou o que as pessoas esperam que eu seja. Eu posso ser na medida em que eles me concedem ser. Isso me atrapalhou a nível de relacionamento conjugal, com meu círculo de amizades, etc. Nunca prejudicou-me na minha convivência familiar porque este convívio era a minha origem. Quando casei já tinha adquirido aquela personalidade pública e daí complicou, foi uma confusão e só fui conseguir resgatar a minha verdadeira personalidade agora. Você acaba sendo a mulher da televisão, pode ficar fora vinte anos e continua sendo a mulher da televisão. Então você não se liberta, só no momento em que corta o laço. Hoje eu resgatei a minha personalidade primária e comecei a ser a Laís mesmo e voltei a exercitar a minha espirituosidade. Quero que as pessoas me aceitem do jeito que eu sou: uma mulher normal que tem uma atividade como qualquer outra mulher.
Izza – Como você conciliou o seu lado profissional com o pessoal?
Laís – Tenho dois lados muito distintos e fortes. De um lado sou a mulher que gosta de trabalhar fora, ter sua atividade, seu dinheiro, a sua vida. Adoro a minha liberdade, a coisa que mais prezo. E por outro lado, eu sou muito “a fêmea” dentro de casa. Sou a mãe que gosta de fazer tudo para eles e tê-los sempre à minha volta. E em função dessa vida pouco convencional, eu sofro a ausência de meus quatro filhos e isso me aniquila totalmente. Quando um deles não está comigo por determinado período fico com a cabeça doente. Tenho três homens, de 17, 14 e 8 anos e uma menina de cinco anos. Chego em casa, às vezes de um compromisso profissional, toda arrumada, tiro tudo e vou para o fogão, ou lavar roupa na máquina. Convivo legal com isso e vivo bem. Inclusive acho que este fator dá à mulher uma visão mais ampla do que a visão masculina. O homem se restringe a ser o profissional fora e dentro de casa onde é uma continuação daquilo. Ele não sabe conviver com fraldas, panelas, etc. filhos doentes, professora que te chama ao colégio. A mulher tem uma força fantástica, um poder que a faz dominar e harmonizar tudo isso. Ela é que exerce seus poderes de cidadã, profissional, mãe, esposa, amante, companheira, amiga. É desgastante, o preço é alto, mas vale a pena.
lzza – Me conte: o que você está planejando agora?
Laís – Pretendo fazer o que faço. Não tenho aspirações de ficar rica. O dinheiro realmente não é a coisa mais importante para mim. Muitas coisas vêm antes dele. Evidentemente, ele é necessário para que você possa usufruir das outras coisas que são importantes como a paz dentro de casa, harmonia com os filhos, com o parceiro, amigos. É disso que eu gosto. Sua vida profissional vem completar isso, uma pessoa não vive sem ter uma profissão, uma função, senão ela será inútil. Quero continuar trabalhando sempre e esquecer que existe uma idade para parar de trabalhar. Detesto a palavra “aposentadoria”. Quero morrer exercendo uma profissão e por isso peço a Deus que ele me dê condições para continuar fazendo exatamente o que faço agora.