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“Meu Hobby é minha profissão” declara Helô Gouvêa

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Curitiba, 14 de Abril de 1991

 

HELÔ GOUVÊA; Atriz, bailarina, professora, traz consigo um invejável histórico de suas atividades. Paulista morando em Curitiba há sete anos, tomou-se conhecida e admirada pela sua competência em tudo que realiza. Helô tem três filhos e é esposa do Dr. Luiz Fernando Gouvêa diretor do Banco Chase Manhatam.

 

Izza – O que você faz ultimamente?

Helô – Sou esposa, mulher, mãe de três filhos. Atriz, coreógrafa e bailarina acima de tudo.

Izza – Por que você diz que é bailarina acima de tudo?

Helô – Porque uma das coisas que mais gosto na vida são as minhas aulas e as minhas alunas, não há nada que pague o carinho, aquela coisa gostosa de nos darmos bem, conversamos. É uma energia do começo ao fim. Dificilmente falto a uma aula a não ser que esteja realmente impossibilitada de comparecer. Tenho a sorte de fazer do meu hobby a minha profissão.

Izza – A tua atuação no Studio D, é intensa, você da somente as aulas?

Helô – Coordeno toda parte ligada ao jazz e ajudo a Dora Paula Soares nos grandes eventos como a Oficina de Dança que foi um sucesso.

Izza – Este ano acontecerá novamente a Oficina de Dança?

Helô – No ano passado fizemos a primeira. Tentamos agilizar este lado de aulas com bailarinos de fora, dando assim a oportunidade para que as pessoas se aprimoras-sem assistindo o Work Shopp. E depois é importante descentralizar o eixo Rio-São Paulo. Para o evento todas as pessoas poderiam vir, inclusive do Sul, 600 pessoas participaram, quinta, sexta, sábado e domingo. Você imagina o que é pensar exclusivamente em dança alguns dias? O clima foi uma coisa fantástica. A Oficina de Dança não poderia deixar de acontecer novamente este ano.

Izza – Como começou a tua paixão pela dança?

Helô – Eu tinha 4 anos, quando comecei, portanto danço a minha vida inteira. dou aulas até uma semana antes de ter os meus filhos o que quer dizer que nunca interrompi a minha atividade.

Izza – E os curso nos Estados Unidos?

Helô – Fiz vários mesmo não contando na época com o incentivo de minha família que realmente não apreciava a minha opção. Atualmente os preconceitos quase acabaram, pois tenho alunas de excelentes famílias que fazem dança inclusive com o intuito de serem profissionais. Participei de cursos nos Estados Unidos com Betsi, Phil Black, Cunnegham, Martha Grahan, Fred Benjamin e Jojo Smith em sua época áurea quando ele coreografava John Travolta.

Izza – E o famoso Frank Hattchet?

Helô – É realmente um nome de peso, vanguardista do Jazz. Fui a primeira mulher a fazer aulas com ele. Eu e mais 20 homens numa pequena academia.

Izza – Eu soube que você foi assistente de Lenie Dale. Como foi esta época?

Helô – Foi em 82 e atuei com ele durante 6 anos. Foi uma experiência maravilhosa, inclusive nesta época recebe-mos Frank Hattchet que ficou um mês trabalhando conosco. Infelizmente foi a última vez quê ele esteve no Brasil.

Izza – Por que a última vez?

Helô – Você sabe que os patrocínios são difíceis e ele não teve mais convites por serem dispendiosos. Falta incentivo nesta parte, mesmo que a gente queira trazer gente de fora, é muito caro e para as academias fica difícil.

Izza – Você acha que aqui no Paraná há gente boa no ramo?

Helô – Acho e o fato de sair daqui as vezes não faz um bailarino. Por exemplo, quando eu fui para os Estados Unidos eu já tinha 15 anos de dança Na primeira vez passei 6 meses e já tinha técnica e conhecimento. Claro que o verniz adquiri lá, pois tomei conhecimento de novo vocabulário e ampliei a minha visão.

Izza – O dom da dança nasce com a pessoa?

Helô – É nato. Existem pessoas que tem uma série de dificuldades físicas por exemplo não tem corpo dotado para a dança mas com muito trabalho chegam lá, porém talento você não adquire, nasce com ele; explora ou não.

Izza – Em teatro você já participou?

Helô – É um lado meu que me deixa um pouco frustrada. Não pude desenvolver esta parte. Comecei na época do teatro de vanguarda. Em 75 tínhamos um grupo Scapus. As pessoas tinham chegado do Mudra que era um movimento do Benjardt e eu era a caçula. Tive várias oportunidades no ramo, porém quando surgiam ou eu estava grávida, ou era teatro vanguardista demais, inclusive com nus. Como eu não me sentia bem neste papel me voltei inteiramente para a dança.

lzza – E a televisão você curte?

Helô – Muito a nível de propaganda; Agora, com contrato de exclusividade, já fiz muitos comerciais como Banestado, Prosdócimo, Café Alvorada, Todeschini, etc., depois comecei a fazer o Coletão.

Izza – Entrar na televisão foi difícil?

Helô – Sim, porque fui sugada pela ausência de pessoas no campo. O sotaque de Curitiba prejudica a nível nacional. Nenhuma atriz do Paraná pode gravar um filme a nível nacional, não pela falta de trabalho ou pelo mau desempenho muito pelo contrário, é pelo sotaque que regionaliza a propaganda. Esta é realmente a linha divisória.

Izza – Com tantas atividades, como você distribui o seu tempo?

Helô – Sozinha. É só fazer tudo num ritmo mais acelerado que o normal. Não digo que tenho um dia tranquilo, mas a noite estou plenamente realizada porque, não falta em casa nada do que a minha família gosta. Eu já acordo sabendo tudo o que eu tenho que fazer o dia todo.

Izza – O que você acha da liberação da mulher?

Helô – Eu acho que nenhum homem merece que a mulher se anule. Entre 10 casamentos eu conheço 9 que não deram certo porque o homem quis que a mulher se anulasse, conseguiu e depois deixou de amá-la. A mulher não deve diminuir o seu espaço por que dificilmente irá retomá-lo. Apesar da liberação a doação no casamento continua sendo cem por cento da mulher e 60 por cento do homem e as que pararam no tempo acabaram ficando para trás. É uma luta insana. Eu trabalho porque gosto de ter meu salário, de fazer o que aprecio e principalmente de ter mais condições para realizar e adquirir o que eu desejo. Mas trabalhar para algumas mulheres parece uma coisa difícil por isso não entendem porque as outras atuam.

Izza – Com a moda da aeróbica a dança não perdeu muito?

Helô – Claro que o Ballet perdeu muitos alunos com a aeróbica, com essa loucura do modismo principalmente no campo do Jazz. Acho que as pessoas acharam que era parecido. Principalmente em São Paulo estão voltando em massa para as academias e noto que aqui também.

Izza – Como você se sente com a quantidade de alunas que procura ter aulas com você?

Helô – Super gratificada, pois, estou com todas as minhas classes lotadas e dou 15 aulas por semana inclusive para a turma do baby jazz que são umas gracinhas. São pequenas, tem vontade de aprender e curtem as aulas.Elas tem muita energia e prosperam num trabalho ordenado e progressivo.

Izza – Aqui em Curitiba, como anda a dança no geral?

Helô – Poucas pessoas lutando por ela. Poucas academias sérias. O Guaíra que era sempre indicado, enfrenta agora um período de estagnação, mas acredito que seja somente por pouco tempo.

lzza – Sendo você de fora, teve boa acolhida em Curitiba?

Helô – Já fazem 7 anos que estamos aqui. O começo foi difícil, porque não conhecíamos as pessoas. Confesso que vim com a firme convicção de me tomar conhecida o que é muito importante na minha profissão. Em pouco tempo alcancei os meus objetivos. Eu não gostaria de ir embora daqui, mas sei que da mesma forma que viemos para cá, poderemos ir a outro lugar devido o emprego de meu marido que hoje é diretor do Chase. Sou muito apegada as coisas e gosto muito de Curitiba, não existe qualidade de vida igual. Só quem vive aqui sabe.

Izza: -No tocante a dança o que te dá mais satisfação?

Helô – O resultado e o progresso de minhas alunas. Isto é importante. Em São Paulo quando eu dava aulas no Joyce, preparei a Claudia Raia, o Márico do Los Angeles, a Rosemary e muita gente famosa e fiquei feliz por ter contribuído para que eles se preparassem. A responsabilidade também é grande porque você acaba sendo um vínculo das alunas com a dança. Na época eu tinha 350 alunas e quando vim para Curitiba, muitas não foram para outras academias e sim pararam de dançar.

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