Curitiba, 2 de Setembro de 1990
Arlete Vilela Richa; é tranquila, suave porém dinâmica e atuante .. Sempre conviveu com política acompanhando seu marido. Ela nos conta hoje, como desempenha o seu papel e como pensa. Esta é Arlete, Sra. José Richa.
Izza – Como a Sra. vê a participação da mulher na vida pública?
Arlete – É importante que a mulher participe, até para equilíbrio da família, Na vida pública também acho essencial, pois assim ela se toma mais ativa e consciente dos problemas pessoais.
Izza – O que lhe trouxe de bom a experiência política?
Arlete – Pela experiência que tive no contato com as mulheres dos prefeitos, para interesses comunitários, adquiri mais segurança. Eu sei que uma das prioridades do meu marido Richa é a área social, juntamente com a saúde e educação, etc. E é importante que o idoso, o carente, tem o meu maior respeito e o meu trabalho.
Izza – A experiência do último Governo Richa foi gratificante?
Arlete – Quando eu coordenei o Provopar implantei coordenações integradas e voluntárias em todos os municípios. Implantei também o 1 º Núcleo Experimental, atendendo crianças na faixa etária de 7 a 17 anos, dando a eles o atendimento dentário, médico, reforço escolar, lazer, enfim, tudo que o ser humano precisa, uma formação integral e social. Todo esse trabalho digno e sério deve ser retomado com mais empenho e entusiasmo.
Izza – No período de 83 a 86 a Sra. participou ativamente?
Arlete – Eu sempre participei muito da vida política porque desde que casamos, o Richa sempre foi um homem político. Não deixei nunca de cuidar de meus filhos, de minha casa, mas sempre fui companheira. com isso adquiri experiência.Nunca deixei ninguém sem resposta.
Izza – A Sra. entraria diretamente na política?
Arlete – Não, porque já tenho um em casa e sei que é uma vida árdua. Apesar de meu marido tentar conciliar as coisas, política e casa, nos privamos de sua companhia frequentemente. Nem sempre o tenho a meu lado. É uma vida exigente, de muita responsabilidade e desde que ele resolveu entrar, já sabíamos que seu tempo· seria tomado por suas funções. Somos casados há 25 anos, portanto, já me acostumei.
lzza – Como a Sra. vê as agressões comuns numa campanha?
Arlete – Eu fico bastante triste quando vejo e ouço as pessoas atacarem o meu marido, mas ao mesmo tempo sou feliz porque sei que ele sempre fez um trabalho participativo, sério e honesto. Isso me alegra e me faz ignorar os ataques dos adversários.
Izza – Como a Sra. desenvolve a sua campanha?
Arlete – Eu participo sempre e na medida do possível, atendo aos pedidos, Ontem participei de três inaugurações. Tenho notado que o trabalho das mulheres tem sido expressivo e consciente. É básico e seu voto é expressivo.
Izza – O que a Sra. acha dos movimentos femininos?
Arlete – Movimentos femininos, eu respeito, mas quanto aos feministas acho que o homem e a mulher não devem lutar entre si e sim, unir forças. Para o equilíbrio da mulher é importante que ela participe. Aliás, foi no primeiro Governo Richa que foi criado o Conselho Estadual da Mulher e inúmeros outros municipais. A conquista maior foi a criação e implantação da Delegacia da Mulher, também com Richa governador. Mas há outros passos a serem dados com a garantia do atendimento jurídico às mulheres, uma estruturação mais sólida da Delegacia, o abrigo para mulheres e seus filhos quando violentadas e uma intensa dedicação às creches.
Izza – Em sua opinião o que merece destaque no último Governo Richa?
Arlete: Entre muitas a criação das frentes de trabalho. Na emergência, nós do Provopar para as famílias não ficarem sem ter o que comer, mobilizamos a comunidade, conseguimos alimentos, e eu os distribuí para os desempregados. A campanha da Solidariedade, Campanha para os desabrigados das enchentes, Campanha do Natal, etc. Sempre vamos atendendo a população. No tempo em que meu marido foi governador, as greves – que foram mínimas – eram de pronto solucionadas, porque havia diálogo entre as partes envolvidas e o bem comum era sempre prioritário.
Izza – Fora da época de campanha política, a Sra. se dedica à filantropia?
Arlete – Eu ajudo uma casa de menores em Campo Comprido. São 240 crianças. Senti o problema do menor e construí este centro de integração Social, o qual foi inaugurado em 28 de maio de 1985. Na situação atual, há muito por fazer nessa área e sei que minha experiência será extremamente válida.
Izza – Qual seria o objetivo do Centro de Integração Social Arlete Richa?
Arlete – Esta escola sempre foi a minha “menina dos olhos”, conseguimos encaminhar muitas crianças, resgatando-lhes a cidadania. Lá eles tem todo o tipo de tratamento, lazer, etc. O objetivo desta escola é dar formação integral e social para o menor da periferia, tirando-o das ruas e lhe oferecendo educação integral, preparando sua formação. No final do governo fiquei preocupada com seu prosseguimento e entreguei para as irmãs, que dispõem de tempo integral e atendem todos os problemas que surgem. No local, Campo Comprido, predominam as casas da Cohab e o problema social é grande. As crianças frequentam num turno a escola e no outro, este Centro, onde aprendem uma profissão. Vários projetos foram feitos e continuam vigorando.
Izza – Essas crianças chegam ao centro com muitos problemas?
Arlete – Geralmente sérios, mas a dedicação das irmãs é tão grande que tudo toma-se contornável. A frequência é obrigatória e isso é muito bom, porque diariamente a criança está vinculada à escola. É feita uma triagem e a família tem que ter renda baixa. Temos Assistentes Sociais que fazem essa triagem e nos mantém em contato com os pais dos alunos. É trabalhoso, mas gratificante.
Izza – E os filhos colaboram?
Arlete – Estão muito entusiasmados com a campanha do pai. Temos 3 filhos, José, Carlos Roberto e Adriano , 26, 25 e 24 anos. Dois já são engenheiros e o mais novo, que está no último ano de direito tem uma atuação dinâmica à frente da Associação dos diabéticos. Tem a veia política do pai, facilidade de comunicação. Todos ajudam muito.
Izza – E a Arlete avó?
Arlete – Tenho 2 netos: André e Marcelo que alegram a nossa vida. Lá em casa, predominam os homens.
Izza – Qual é o seu passatempo preferido?
Arlete – Eu fazia natação. Quando estou bem, paro para acompanhar meu marido. Quando volto estou destreinada e não consigo acompanhá-lo. Adoro esportes, gosto de ler, mas o tempo é curto.
Izza – Dizem que a mulher exerce sempre grande influência nos afazeres do marido. A Sra. influencia em algo?
Arlete – Em casa, tenho só filhos homens e eles nunca pedem nada diretamente ao pai, só por meu intermédio. Quando querem algo ou tem algum problema, primeiro falam para mim e eu reconheço que com jeitinho, consigo contornar a situação.
Izza – E a vida social?
Arlete – Não tenho, não sou de badalações. Gosto de ir à igreja. A religião e a fé ajudam a superar muitos problemas.
Izza – Neste tempo de política o que mais lhe emocionou?
Arlete – Uma pessoa de quem gosto muito, minha tia, uma mulher bastante querida, de Irati. Ela não teve filhos, mas criou 20 filhos alheios. Hoje ela tem 86 anos e quando meu tio faleceu ela doou tudo para uma instituição de caridade, para padres e freiras. Fez ato de pobreza. Isso me emociona! O trabalho dela faz com que ela seja conhecida como a “Mãe dos Pobres”, Mariquinha, minha madrinha de batismo.
Izza – Quais seriam seus planos futuros?
Arlete – Eu pretendo retomar e dar prosseguimento a todo aquele trabalho que já fiz, apoiando paralelamente o trabalho de meu marido, de descentralização administrativa e participação popular. Seremos milhões de paranaenses integrados num trabalho que vai elevar ainda mais o nosso Paraná.