Curitiba, 3 de Junho de 1990
Ela sempre é destaque, pois classe, elegância e inteligência fazem parte de sua pessoa. Foi professora universitária na área de Sociologia, por muitos anos. Ajudou na implantação da Faculdade de Turismo e é atualmente a diretora feminina da Federação Paranaense de Golfe. Esta é Gilka, Sra. Norberto Franchi Feliciano de Castilho.
lzza – Conte-nos sobre as suas atividades:
Gilka – Eu comecei a trabalhar com dezoito anos e, durante vinte e oito anos fui professora na Universidade Federal do Paraná, na área de Sociologia. Minha vida de profissional realmente foi esta. Depois tentei me dedicar um pouco à política porque me achava na obrigação de participar da vida sócio-política do estado e do país. Finalmente, a minha outra atividade como lazer, é o Golfe.
Izza – E a diretoria feminina da Federação Paranaense de Golfe?
Gilka – Atualmente o Norberto é presidente da Federação e eu fiquei com a diretoria feminina, onde eu já estava atuando há quatro anos. Este é o quinto ano e de repente, há muitas coisas a fazer, além disso, é nosso dever prestigiar todos os torneios. Aqui no Paraná, eu não posso deixar de aparecer no Clube Curitibano e no Graciosa Country Club – o que significa que a minha presença é indispensável todas as terças-feiras no Curitibano e todas as quintas no Country, nos finais de semana é opcional. Deveria ainda jogar em Ponta Grossa onde há outro campo de golfe que completa a nossa Federação, mas infelizmente eu só estive lá a passeio e não tive oportunidade de jogar.
Izza – Quantos campos de golfe existem no Paraná?
Gilka – Estes três. O do Curitibano, do Graciosa e o de Ponta Grossa. Atualmente estão construindo outro em São José dos Pinhais, um hotel com campo e outro em Londrina. Será ótimo para nós, porque tudo o que se precisa é movimentar os esportes, principalmente o Golfe, que é ótimo porque exige muita disciplina.
Izza – Por que o golfe é visto por algumas pessoas como um esporte para pessoas mais velhas?
Gilka – Engano, porque os melhores golfistas ultimamente são os jovens. Os rapazes hoje, estão se destacando. O Carlos Eduardo Rosenman, com três meses de Golfe, começou a ganhar todos os torneios. O José Maurício Rego Barros também é um dos nossos campeões. O Eduardo Pesenti joga no Country. Ele e o José Maurício classificaram-se em 12 e 22 lugares em São Paulo, num campeonato importante que exige classificação. Eu os acompanhei (inclusive no mês de junho) quando eles se reuniram para um jogo entre pré¬juvenis e juvenil e vi 400 crianças, rapazes e meninas desembarcando com as suas malas de Golfe. Foi sensacional!
Izza – Como se explica o fascínio que as pessoas têm pelo golfe?
Gilka – No golfe não existe monotonia. Numa tarde você anda de seis a oito quilômetros .para jogar. As pessoas acham que é muito rotineiro, mas nós carregamos a mala com quatorze tacos e cada um deles tem uma utilidade diferente. Só com o tempo você conseguirá calcular as distâncias, saber o que precisará usar e como usar. veja, 18 a 20 de Maio vieram umas moças de fora, jogar aqui. Além de serem as primeiras do “ranking” do Brasil, são quase as melhores do mundo, pois sempre se destacam nos mundiais. O jogo delas é maravilhoso! São bonitas, batem com classe, isso tudo nos motiva muito. Inclusive no Country conheço muita gente que deixou outro esporte e foi para o Golfe e se deu bem. É superinteressante.
Izza – Aqui em Curitiba existem muitos golfistas?
Gilka – Acredito que existem uns 600. O Country, que só tem nove buracos, já está pequeno para torneios internos, e quando há torneio maior é feito em dois finais de semana. O Curitibano já tem dezoito buracos e então, em cada jogo, você consegue pôr 200 pessoas no campo; está belíssimo e, dizem os entendidos, que é um dos campos mais bonitos do Brasil. Eu tenho um pouco de dúvida porque considero o da Gávea um dos mais lindos pela escalada que se fez para jogar e pela vista que é maravilhosa com muitas montanhas. É lindíssimo, mas puxado.
Izza – Você é jogadora assídua?
Gilka – Claro, tenho inúmeros troféus. Aqui em casa, atualmente, eu e o Norberto jogamos. A Letícia jogou até fazer o vestibular e o Rafael vai fazer o vestibular agora, então está praticamente há um ano e meio sem jogar. Tenho 150 taças. Nunca fui campeã do Estado e nem do Clube. Sempre havia uma amiga minha que levava a taça. Eu fui vice-campeã. Foram realmente os melhores títulos que tive. Confesso que já fui melhor neste esporte, antigamente. Parece que quando a gente tem uma ocupação, arranja mais tempo para tudo e a partir da hora em que você não tem mais uma ocupação certa, horário, etc., a sociedade exige mais de você. Você não pode esquecer nascimento, enfermidades, visitas, datas. As pessoas nos incumbem de muitos compromissos porque pensam que estamos desocupados. Eu nunca me nego a nada.
Izza – Qual é a tua função como diretora feminina da Federação?
Gilka – Eu sempre digo que depende muito da pessoa que ocupa o cargo. Sou ativa por princípio, principalmente porque comecei a trabalhar cedo e não sei ficar parada; por isso quando procuro organizar esses campeonatos femininos sei que, se não contar com o auxílio de ninguém, eles sairão da mesma foma. Nisso tudo vejo que a mulher é discriminada em vários setores na vida profissional. Geralmente as pessoas acham que ela deve ganhar menos que o homem. Na vida social ela é sempre a mulher do marido e nunca ela mesma. Até dentro do Golfe, neste caso eu seria a mulher do presidente. Os grandes torneios recebem o patrocínio de grandes empresas e bancos mas, se o Torneio for de mulheres, não é fácil. Quem nos tem auxiliado nestes dois anos é o Boticário, que nos tem dado as taças – que é uma parte dispendiosa do torneio. As outras coisas conseguimos na base na esmola, pedindo ali e aqui. Ate neste ponto a mulher sofre, pois para os homens é mais fácil. Mas fico pensando: no caso do patrocínio de um banco, eles não enxergam que geralmente é a mulher que movimenta a conta. Disso os banqueiros esquecem: além do mais as pessoas que vêm de fora jogar aqui acarretam custos, pois precisam ser hospedadas em algum lugar, recebem auxílio pequeno. Eu, pessoalmente, adoraria dar mais do que rege a Confederação, porque elas não têm remuneração por não serem profissionais, pelo contrário, têm obrigação de representar o Brasil lá fora.
Izza – Algum brasileiro já trouxe do exterior um grande prêmio?
Gilka – Com certeza. Considerando os juvenis brasileiros, eles sempre que participam de torneios lá fora trazem um bom prêmio. Nós temos ainda, entre os profissionais, o Jaime Gonzales – cujo pai também é profissional – o Priscilo Diniz, etc. As moças estão colocadas sempre em terceiro lugar ou quarto lugar, em países que o Golfe é considerado esporte de elite. Isto quer dizer que, aqui, elas não tem os mesmos recursos que as outras jogadoras de outros países. Nos Estados Unidos, o Golfe é super popular, você viaja e pode constatar. No Japão, na Inglaterra, nem se fala. Também em outros países da Europa o Golfe é muito praticado.
Izza – E o equipamento? É verdade que no Brasil não existe?
Gilka – Não temos sequer a liberdade de importar equipamentos sem uma taxa elevada, vem tudo de fora. Aqui você consegue comprar o de segunda-mão que não é ruim, para começar. Nos Estados Unidos existe material acessível para todos os bolsos e eles tem tradição na confecção de tacos; os japoneses também são muito requisitados. No Brasil, o pior de tudo, é que não existe uma fábrica de bolas. A que existe, chamada Mercury, não tem qualidade. Para trazermos de fora, o peso é incrível; mesmo que você viaje a passeio e queira trazer, é impraticável! Antigamente era permitido importar equipamentos que o Brasil não produzisse; com esta convenção e, atualmente com o governo Collor, pode-se trazer mas a taxação é muito alta, então o material chega a preços astronômicos. É uma pena.
Izza – qual o seu envolvimento com o curso ele turismo?
Gilka – A professora Cecília Westphalen que era a diretora do setor de Ciências Humanas, me encarregou de estudar a viabilidade de um Curso de Turismo no Paraná. É evidente que, provar que o Paraná precisava de um curso de turismo, foi muito fácil, basta olharmos para Foz do Iguaçu. Era necessário dar ao Turismo um cunho sério porque, realmente, os profissionais da área são improvisados. Por outro lado, foi muito difícil porque não contávamos com profissionais formados em Turismo, pois não havia um curso anterior. Então, tivemos que procurar pessoas que tinham cursos no Exterior – de hotelaria ou administração, etc. e outros professores com boa vontade que dentro de sua área, se propunham a ensinar.
Izza – Você sempre foi muito badalada. Houve uma época que parecia frequentemente em colunas sociais. Como foi esta fase?
Gilka – As pessoas têm uma época que talvez apreciem mais, ou não prezem tanto a sua vida particular. Eu até hoje gosto, mas me sinto até constrangida em dizer a quantidade que tenho de recortes de jornais, é inacreditável! É muito gostoso. Hoje é até melhor porque quando apareço é por alguma coisa diferente,de trabalho, ou numa festa importante de pessoas queridas. Antigamente eu tinha mais fôlego. O colunista passou agora a divulgar não só eventos sociais; ele cresceu muito e aborda todos os campos. Se você lê uma boa coluna social fica informada do que está acontecendo na cidade inteira, então eu acho que a vida modificou a sua postura. É muito gostoso pegar uma coluna, ver fotos dos acontecimentos, o que se passou na sociedade e na comunidade.