Curitiba, 16 de Setembro de 1990
DIANA ZIPPIN NASSER; adora pintar, há oito anos dedica-se intensamente às suas aquarelas, sempre interessada em aprender e se aprimorar cada vez mais. Mãe de Miguel Neto, Yasmin e Melissa, filhos que curte intensamente, aprecia boas amizades, admira o belo e adora acompanhar o marido, o empresário Miguel Nasser.
Izza – Além de ser mãe, quais são as suas atividades?
Diana – Em sapateio, jogo tênis e faço aquarela.
lzza – Você tem se destacado como pintora. É o teu hobby preferido?
Diana – Eu pinto há 18 anos, mas profissionalmente, há 8 anos. Fiz curso na Belas Artes de Pintura e Desenho e um curso com a Lia Folch que me deu a base de óleo e aquarela. Atualmente estou aprendendo sobre figura humana, com a Lélia Brown. Desde pequena gostava de pintar.
Izza – Você se considera talentosa?
Diana – Não sei. Penso que é essencial a transpiração, para conseguir vencer no ramo. Acho raro os que nascem com talento, quando acontece é um privilégio, alguém que vem com uma carga muito maior de conhecimento, trabalho, dedicação e estudo, que são três pontos super importantes. Tenho a impressão de que já nasci com o lápis e o papel na mão, desenhando, rabiscando; para mim é como respirar, tenho que pintar todos os dias. Quando chego em minha mesa de trabalho, relaxo, sou eu por inteira.
lzza – Como você programa seu trabalho diário?
Diana – Se eu pudesse pintaria o dia inteiro; não posso porque tenho 3 filhos, um casado e duas meninas que estão em casa em plena adolescência, exigindo companhia, conversa e muito trabalho de minha parte. Não troco isso por nada, porque não tem preço e gosto de participar. Tenho marido que chega em casa, quer atenção e adoro acompanhá-lo em viagens, vida social, etc. Mas todos os espaços vagos são dedicados à pintura.
Izza – Por que aquarela?
Diana – Como te contei, comecei também a ter aulas, passei por aquarela, óleo, carvão, etc. Certo dia, vi na casa da Lia uma aquarela. Fiquei muito empolgada e tentei. Emprestei o seu material e pintei de imediato, como se já conhecesse a técnica. Não tive a menor dificuldade em aprender e hoje sou só aquarelista. Sou muito crítica em meu trabalho. Procuro ter aulas, para poder me aperfeiçoar cada vez mais.
Izza – Como foi a sua primeira exposição?
Diana – Eu estava numa exposição da Lia Folch. Alguém falou para o Alcy Ramalho que eu pintava e ele me propôs que eu mandasse um trabalho para o Salão; fiquei um pouco inibida porque na época, pintava só para mim. A Johanna Di Bernardi veio até aqui em casa entregar um quadro que havia comprado em sua Galeria e viu algumas aquarelas minhas na parede, gostou e quis marcar o dia da exposição. Isso aconteceu em fevereiro e em dezembro fizemos a minha primeira individual. Antes disso mandei um trabalho para o Círculo Militar e para o Alcy, que foram aceitos. Aí as coisas ficaram mais fáceis.
lzza- Você acha que a situação econômica atual está favorável para o artista?
Diana – A situação não está boa para o artista. Eu tenho o privilégio de não viver da arte, pinto por prazer, porque gosto e não dependo da venda de um quadro para poder comer, mas vejo a dificuldade dos que vivem da arte, que não são poucos. Aliás, a APAP – Associação Paranaense dos Artistas Plásticos, hoje está dando um apoio incrível, fazendo convênios médicos, odontológicos, em troca de obras de arte, etc.
lzza -É compensadora a venda de uma aquarela?
Diana – A aquarela é caríssima. O preço que se paga por ela é irrisório porque o papel, os pincéis, as tintas são estrangeiras e custa muito caro para uma loja no Brasil importar esse material. Ontem eu estava lendo sobre o lberê Camargo, que há 30 anos luta para que o Governo diminua o imposto sobre material de pintura para que ele deixe de ser artigo de luxo. Isso possibilitaria o acesso para qualquer estudante de arte. Eu mando buscar ou trago, mas sei que é muito difícil para outras pessoas. O material para as artes, em geral, deveria ser bem acessível a todos porque o talento nasce em qualquer tipo de pessoa.
Izza – O que você pensa sobre o grande número de pessoas que estão tentando conquistar o seu espaço nas artes, atualmente?
Diana – Eu admito uma maçã quadrada azul de Picasso, porque acho que quem pintou como ele durante anos, coisas reais, maravilhosas, verdadeiras e depois passou para o sonho, modificando o desenho, tem todo o direito. Mas acho muito engraçado, quando uma pessoa desenha uma. maçã quadrada e azul e diz que é maçã porque ela não sabe fazê-la redonda e vermelha. Este tipo de pintura não me agrada e tenho a impressão que engana por um período muito curto, torna-se repetitiva, não cresce e é eliminada naturalmente. Você pode notar que às vezes surge um novo artista, faz duas ou três exposições e desaparece porque não tem consistência.
Izza – Como você considera a crítica?
Diana – Como crítico de arte, aqui em Curitiba, eu admiro profundamente o Aurélio Benitez porque sua crítica é sempre positiva. Se ele não pode falar bem do artista ou ajudá-lo a ir para frente, ele se recusa a falar e não destrói ninguém. Existe um tipo de crítico que não me agrada, o que critica sempre negativamente. Há uma grande geração de artistas que, graças ao Aurélio continuaram e estão aí fazendo sucesso. Todos que ele apadrinhou foram bem. Não concordo com os extremamente radicais que têm uma linha da razão somente deles.
Izza – O que você acha das galerias de arte de Curitiba?
Diana – Eu trabalho com excelentes galerias e acho que aqui há boas, mas como em todos os lugares, também existem as fuleras que não vendem nada. Fecham as portas um dia depois da exposição, se auto-promovem nos jornais dois ou três dias antes e se você não levar seus convidados, nada acontece. Acho até que as boas são em maior quantidade e além do mais, Curitiba é uma cidade culta onde as pessoas participam e apreciam arte.
Izza – E o movimento artístico atual dos artistas paranaenses?
Diana – Cresceu muito de alguns anos para cá. Os artistas paranaenses têm excelentes condições, tanto quanto os de São Paulo, Rio, etc. São pessoas que estudam, se dedicam. Temos aquarelistas do nível de Tereza Koch que pode expôr em qualquer lugar do mundo. Só acho que aqui em Curitiba faltam cursos, deveriam existir cursos relâmpagos que são bastante interessantes.
Izza – Como você encara a concorrência?
Diana – Acho que existe, mas não tanto aqui em Curitiba. Sou feliz neste ponto porque os artistas daqui, com os quais eu me dou bem são pessoas fantásticas. Ajudam, prestigiam, comparecem nas exposições para dar força. É uma coisa emocionante, uma comunidade muito agradável.
Izza – Você como artista, não se apega às telas que faz?
Diana – Tenho um ciúme louco de meus quadros e gosto de saber com quem eles vão morar. Tenho sorte, porque gostei de todas as pessoas que os adquiriram. Cada quadro é um pedaço de mim.
Izza – Como é á Diana como pessoa?
Diana – Sou muito alegre, positiva, bem humorada, atualmente muito preocupada com a violência urbana. Quem tem filhos vive em constante sobressalto, mas isso não interfere em meu temperamento. Sempre acho que as coisas vão dar certo.
Izza – E os filhos?
Diana – São três: A Yasmin, o Miguel Neto e a Melissa. Yasmin é mais mignon e tem 20 anos; a Melissa é mais extravagante, com 14 anos, e o Miguel já é casado e está com 21 anos. Agora estou esperando ser avó, que é uma coisa gostosa. Sou mãezona. Adoro pintar, mas antes da pintura vêm os filhos. Penso que eles são nossos quando pequenos, entram na adolescência, começamos a curti-los e eles saem de casa. O tempo é curto!
Izza – Você gosta de vida social?
Diana – Tenho poucos e bons amigos, porém não sou muito de vida social. Gosto de sair para jantar ou para uma festa, às vezes. Sou muito caseira e aprecio bastante a minha casa. Adoro receber e sou uma pessoa do dia, não sou noturna.
Izza – O que você gostaria de dizer para um artista que está começando?
Diana – Que se ele realmente gostar, nada vai tirá-lo do caminho, nem a palavra má de um crítico, nem uma exposição mal planejada. Quando a gente gosta, ficamos felizes só por poder pintar e este dom é dado por Deus somente a algumas pessoas. Poder pôr a natureza numa tela, poder sonhar, é uma profissão maravilhosa.