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“Amor e dedicação à publicidade” fala Julia Paim Santiago

Postado em

Curitiba, 28 de outubro de 1989

 

JULIA PAIM SANTIAGO; diretora da JIPS Comunicação, dedica-se há quinze anos à publicidade e às promoções. Formada em Administração e Economia pela FAE e Comunicação pela Universidade Federal do Paraná, atualmente participa do Sindicato das Agências de Propaganda do Paraná – SINAPRO. “Publicitária do Ano” (Diário Popular) e homenageada com
o prêmio “Profissionais do Ano”, entre outros prêmios, destaca-se dia-a-dia pela sua “garra” e dinamismo.

 

Izza – Júlia; como você começou a atuar exatamente, nesse ramo de publicidade?

Júli – Foi há quinze anos atrás. Comecei trabalhando no Badep, cursei Faculdade de Comunicação e comecei a trabalhar com o José Carlos Gomes de Carvalho, no Corujão. Ele tinha uma agência e eu, automaticamente, comecei a atender e me envolver com campanhas, etc. Nesta época quase não havia agências em Curitiba; eu fui gostando e me interessando cada vez mais.

lzza – Como nasceu a JIPS?

Júlia – Ela nasceu quando a Cidade Industrial se instalou aqui. Muitas empresas multinacionais precisavam angariar pessoal para trabalhar e eu comecei a atuar mesmo (trabalhei para a New Holand e outras). Depois fechamos contrato com a Modelar (que foi uma das minhas primeiras clientes), com a Irmauad, e começamos a desenvolver um trabalho mais técnico. Mas, eu sempre achava que, aqui em Curitiba, (mesmo tendo estudado Comunicação, Economia e Administração de Empresas) faltava mais alguma coisa. Então, parti para São Paulo para estagiar em várias agências em diversas áreas, principalmente na administrativa e financeira, muito importantes nesse ramo; para mim, esse aprendizado foi fantástico em São Paulo porque o que aprendi implantei em minha agência. Depois, nós fizemos uma associação com a Sales Interamericana e isso me deu muito conhecimento, muita “cancha”. Hoje, mantemos um excelente vínculo profissional, o que facilita nosso acesso a cursos e estágios e muito nos ajuda no desenvolvimento de um bom trabalho.

lzza – A JIPS tem sido muito premiada ultimamente. Quais foram esses prêmios?

Júlia – Fui homenageada corno a “Publicitária do Ano”, prêmio que me deixou surpresa e feliz; há um ano, recebemos outro destaque com “Profissionais do Ano”, prêmio este que o Paraná nunca havia ganho. A festa foi no Gallery, em São Paulo. A campanha responsável por esta homenagem foi aquele comercial da Provopar, sobre a violência contra a criança. Foi badaladíssimo!.

lzza – Você, como mulher, teve muitas dificuldades para conseguir espaço profissional?

Júlia – Em primeiro lugar, era uma profissão masculina e mulher não atuava neste ramo. Jamais houve uma mulher dona de agência e, por isso foi muito difícil. Eu sempre apresentava um bom trabalho e, como tinha aprendido muito fora daqui, tinha condições de passar meus conhecimentos para o pessoal; o resultado era uma campanha maravilhosa para o cliente! O grande problema nesta época eram os veículos de comunicação. Na hora da negociação, os preços para mim eram mais elevados (era mesmo uma tentativa de boicote). Nenhuma mulher havia entrado nesta área e eu tinha que mostrar competência. E mostrei! Hoje, os problemas não existem mais, a JIPS é respeitada como uma boa agência, não por ser de uma mulher, mas por ter demonstrado eficiência. Veja estes prêmios que nós ganhamos: saiu no Jornal Nacional e foi um acontecimento muito badalado cm páginas inteiras pela imprensa escrita. A maioria dos prêmios da JIPS vem de fora; eu atendi aqui, por muitos anos a Prefeitura de Guarulhos, São Paulo. Os preconceitos pelo fato de eu ser mulher também existiram mas, com o tempo, eles acabaram desaparecendo.

lzza – A JIPS sempre trabalhou com atendimento personalizado?

Júlia – A JIPS funcionava em outro local, numa casa imensa e com um número grande de pessoas. Resolvi, há seis anos, reduzir a estrutura e o número de clientes, e parti para uma proposta diferente, ou seja, poucos clientes e um atendimento excepcional. Atuamos há três anos com urna conta de varejo muito grande. E, desde esta época, a minha agência funciona corno se fosse uma extensão da própria casa dos clientes. O entrosamento e a intimidade com a agência são plenos, inclusive a nível de gerências e chefias. Todos se conhecem, sentem e vivenciam as mesmas emoções e experiências de sucesso. Isso é um diferencial nosso.

lzza – É difícil fazer com que essa estrutura funcione perfeitamente?

Júlia – Não é fácil. Você lida com artistas, com pessoas que às vezes não têm o ritmo de vida normal mas, em compensação, você também lida com o cliente que é super exigente e perfeccionista. Atualmente, o pessoal que trabalha em propaganda já não é visto como excêntrico. Hoje, vemos homens responsáveis com sua vida estruturada e que se dedicam a esse trabalho fazendo dele o seu meio de vida.

lzza – Você acha que Curitiba ainda está atrasada em termos de publicidade?

Júlia – Acho. No Sindicato estamos pensando em fazer muitas coisas. Primeiro, achamos que há uma falta de oportunidades para novas pessoas pois poucas agências abrem suas portas para estagiários. E aí que se consegue formar um bom pessoal, uma vez que a faculdade não forma; no final do ano é grande a fila de pessoas que pedem estágios. Reconheço que é oneroso para urna agência mas, em contrapartida, se você não formar, você não terá profissionais é o que está acontecendo no Paraná. É uma falta incrível de pessoal (de nada adianta sair com o diploma debaixo do braço pedindo emprego). Graças a Deus, o nosso Sindicato permite estagiários e até incentiva. Nós sempre os aceitamos e fico feliz em dizer que muitos se profissionalizam conosco. O Paraná já está bem mais profissionalizado do que foi antigamente, talvez pela proximidade e pelo contato com São Paulo. Lógico que aqui nós não temos o volume de verbas que São Paulo tem e talvez não tenhamos feito certos tipos de trabalho devido a esse fator  (imagine a verba de uma Volkswagen)!. Além do mais, a criatividade de nosso pessoa aqui no Paraná está prejudicada pela ausência de verbas vultuosas.

Izza – Em meio a todo esse trabalho como fica sua vida pessoal?

Júlia – Ótima. Tenho uma filha Juliana, com 8 anos, que é companheira e inteligente. Me dedico muito ao trabalho e, esporadicamente viajo para arejar um pouco. Na minha ausência, tenho ótimos profissionais que tomam conta da JIPS; desde que você confie no teu pessoal e tudo esteja bem estruturado. As atividades são desenvolvidas a contento.

Izza – E em relação à família?

Júlia – Em relação à família, acho que já vai longe o tempo em que a mulher fica cuidando dos mínimos detalhes da casa. Hoje em dia, você pode contar com a escola para os filhos no período em que você trabalha. Há mulheres que não trabalham e não conseguem estruturar uma rotina para sua casa e outras trabalham, têm três ou quatro atividades profissionais e dão conta de tudo; isso depende muito da pessoa, entra o “pique”. Assim como há homens que só trabalham, moram sozinhos e não se destacam, enquanto que outros moram com filhos, trabalham e são sensacionais. Se minha filha tem a cabeça que tem hoje é justamente porque ela aprendeu a agir sozinha muito cedo. Eu jamais acompanhei os deveres escolares dela, pois penso que, se ela não consegue fazer a lição sozinha é porque a professora não ensinou direito; então se eu estivesse sempre junto, em casa, eu iria assumir uma parte que a professora não cumpriu. Aprendi que a criança precisa de segurança e amor e quando tem essas duas coisas não precisa de mais nada. Como o terceiro item, eu diria que o tempo não importa, pois tem gente que fica com os filhos dez horas e não se dedica. Quando eu chego em casa não tenho absolutamente mais nada a fazer a não ser me voltar exclusivamente para a Juliana e este período é somente dela. Atualmente num país difícil como esse, temos que fazer com que eles aprendam a tomar atitudes próprias porque o futuro deles não vai ser fácil, não podemos prever nem o nosso.

Izza – Você se sente gratificada?

Júlia – Deu certo e pretendo ficar no ramo. Ser a maior agência do Paraná não é o meu objetivo mas, sim, continuar sendo uma das melhores agências do Estado.

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