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“Advogacia e arte” comenta Adaline Caron

Postado em

Curitiba, 17 de Março de 1991

 

ADALINE CARON; Formada em direito em 1953 pela Universidade Federal do Paraná, atuou na área até se aposentar. Dedicou-se então às artes, fazendo diversos cursos aqui e no exterior entre eles a escola de arte e restauro em Firenze. Proprietária da Consultoria de Artes, Adaline tem como objetivo levar a arte ao povo, meta que tem conseguido com sucesso. Esta é Adaline, Sra. Dr. José Manoel Macedo Caron.

 

lzza – Como vai a Consultoria de Artes?

Adaline – Vai muito bem e já completou três anos de atuação.

Izza – Como e por que surgiu a ideia de mudar de advocacia para as artes?

Adaline – Advocacia é a minha vocação e a arte , a minha paixão. Me aposentei e decidi me dedicar inteiramente a minha paixão.

Izza – Qual foi o teu principal propósito ao abrir a Consultoria?

Adaline – Eu quis mudar o cenário das artes onde o artista não encontra o seu espaço. O meu principal objetivo foi abrir uma galeria diferente.

Izza – Em que consiste esta diferença?

Adaline – Por exemplo: quando faço um vernissage, não apresento as obras somente. O artista é apresentado por um crítico de arte que faz com que os presentes tenham conhecimento de suas obras. Esta forma didática faz com que as pessoas entrem no espaço da criação do artista, o conheçam o entendam o seu trabalho.

Izza – O curitibano absorveu a ideia?

Adaline- Graças a Deus deu certo, pois as pessoas gostam, fazem perguntas e participam ativamente.

Izza- A Consultoria de Arte participou de exposição no Shopping Mounif Tacla. Qual foi o objetivo da mostra?

Adaline – Levar a arte ao povo. As pessoas de menor poder aquisitivo nunca entraram dentro de uma galeria de arte, e algumas nunca foram convidados para uma exposição. O objetivo desta exposição foi exatamente dar-lhes a oportunidade de acompanhar desde a confecção da tela até o final da pintura. As pessoas participaram e adoraram.

Izza – A exposição na Brasholanda teve o mesmo objetivo?

Adaline – Nesta participaram cinco artistas. Foi interessante porque foi vista por todos desde os executivos até os operários.

Izza – Então você acha que a arte aqui no Brasil é dirigida somente a uma camada social?

Adaline – O que eu acho é que as pessoas mais simples não tem acesso as obras, exposições nem a criação do artista a não ser que trabalhem num atelier ninguém promove a arte diretamente para o povo. Mesmo que a mostra seja aberta ao público, os convites nunca chegam às fábricas, por isso ela aqui é dirigida a elite intelectual e a elite abastada.

Izza – O principal motivo não seriam os preços altos?

Adaline – Também, mas aqui na Consultoria de Arte temos preços super acessíveis. A minha principal clientela são os recém casados. No Natal inclusive, oferecemos a oportunidade de aquisição de telas de artistas excelentes a preços muito convidativos. Os melhores artistas locais apresentaram bons trabalhos a partir de Cr$ 3.000,00.

Izza – Os resultados foram satisfatórios?

Adaline – Muito, porque as pessoas em vez de levarem um quadro, saiam com quatro ou cinco. Os artistas colaboraram porque a idéias foi boa. Entre eles; Dulce Osisnki, Rosa Bruinge, Everli Giller, Rosana Guimarães.

Izza – Arte é investimento?

Adaline – É o melhor investimento. Minhas lojas são os meus quadros. É mais fácil vender um bom quadro do que ouro. Claro que o comprador deve saber investir naquele artista bom que esta começando. Geralmente quando acredito num artista compro para mim e um trabalho para cada filho. quando surgiu a Helena Wong, comprei vários quadros dela que ainda era desconhecida. Atualmente estes trabalhos alcançaram um preço de mercado.

Izza – A tua galeria é a única que oferece curso de História da Arte. como funciona estes cursos?

Adaline – Estes cursos são voltados a História da Arte Moderna. Normalmente os investidores não tem boa informação da história da arte por isso funcionamos com os cursos que tem a finalidade de educar e fazer com que as pessoas entendam o que estão vendo ou comprando.

Izza – O que as pessoas realmente preferem?

Adaline – Elas estão mais voltadas às artes de linguagem visual e de fácil leitura. Compram mais o acadêmico do que um artista de vanguarda.

Izza – O que você acha da arte acadêmica?

Adaline – É uma página que virou e que com o advento da fotografia foi desbancada. É bonita mais já teve a sua época.

lzza – E a Arte Moderna?

Adaline – E uma arte mais de interior, mais expressiva. A . leitura não é tão fácil. Você pintar uma figura é mais fácil do que pintar um pensamento. Entender o pensamento de outro é ainda mais difícil.

Izza – Você não sente certa rejeição do curitibano em relação a arte moderna?

Adaline – Ela atinge uma camada mais elitizada.

Izza – O artista local é devidamente valorizado aqui em Curitiba?

Adaline – Poderia ser mais. Um dos pontos são os decoradores. Poucos tem escola de decoração, são improvisados e não tem formação de escola de arte, por isso não promovem o artista plástico paranaense. Preferem vender artistas de fora o que é uma pena.

Izza – Pessoalmente qual o gênero que você prefere?

Adaline – Aprecio mais a arte moderna porque devo ser aberta para o que está sendo feito hoje.

lzza – A consultoria de arte trabalha também com esculturas?

Adaline – Sim, desde que comecei trabalho com esculturas e acho que são bem aceitas. Entre os escultores vendo muito as de Elvo Benito Damo, para mim um dos melhores escultores do Paraná.

Izza – E quanto as Galerias, você acha que elas estão dando abertura para os nossos talentos?

Adaline – A maioria trabalha comercialmente com a arte de rápido consumo que tenha leitura fácil, o que não é o meu caso. A arte é a minha paixão por isso me dou o luxo de trabalhar somente com as pessoas que acho que tem valor e que fazem um trabalho sério.

lzza – Quais são teus planos quanto a galeria?

Adaline – Continuar levando a arte ao povo e funcionar com cursos durante todo o ano, voltados ao entendimento da História da Arte.

Izza – Pessoalmente o que mais aprecia na vida?

Adaline – Adoro gente, viajar, bater papo, receber amigos e cozinhar. Tenho prazer em brindar amigos com pratos feitos por mim.

Izza – Eu soube que você tem sete netas. Como é a Adaline avó?

Adaline – São lindas e a mais velha tem doze anos e a menor três anos, me dou maravilhosamente bem com todas.

Izza – Você achaque o gosto pelas artes, é uma constante em sua família?

Adaline – Acho que sim. Meu pai desde que éramos crianças nos incentivava a conhecer e entender a historia da arte atreves da leitura. Ele era colecionador e tinha enorme visão. A educação e a formação influem nas pessoas. Eu adoro arte, minha irmã, Adalice Araújo é crítica de arte e escritora, os meus filhos gostam muito e a minha neta de doze anos acaba de adquirir seu primeiro quadro.

Izza – O que você admira nas pessoas?

Adaline – Admiro as pessoas que não param de crescer, de investir em si próprias e que estão constantemente se aprimorando.

Izza – Você é saudosista?

Adaline – Temos que viver a atualidade. sou moderna e penso que a vida deve ser vivida aqui e agora.

Izza – Você é vaidosa?

Adaline – Sou vaidosa mais ao mesmo tempo tenho outro lado, levanto as cinco horas da manhã e faço tudo, inclusive pinto a casa, lixo móveis e me agito na hora de sair faço questão de estar bem arrumada.

Izza – O que você acha da posição atual da mulher?

Adaline – Ela conquistou um grande espaço. Eu jamais senti em minha vida profissional qualquer dificuldade pelo fato de se mulher. Inclusive na minha época de Faculdade eu era a única mulher da turma e sempre conseguias primeiras notas. Sou contrária a ideia de Nitch que diz que a mulher é um bípede de cabelos longos e de idéias curtas. Acho que ela é tão inteligente ou até mais do que o homem.

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