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“Curitiba, cidade linda e amorosa”, expressa Zelia Sell

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Zelia Sell com seu marido Luiz Carlos Rambusch Sell seus três filhos: Letícia, Marina e Guilherme e genro André Brik

 

Nos anos sessenta a minha Curitiba era a dos cabeçalhos dos cadernos de caligrafia, do repuxo da Praça Rui Barbosa onde a água iluminada mudava de cor e da casa de meus avós maternos na Rua 24 de Maio, com seus muros enfeitados por glicínias lilases e o nome “Victor Grein” no portão verde. Na frente, o casarão onde morou Juarez Machado quando ainda era cartazista no Canal 12 e na quadra seguinte a casa da dona “Popele”, mãe de Maria Luiza, Fernando e Maria Cristina Zilli. Ela bordava nas saias das filhas as mesmas papoulas que cultivava no jardim. E elas faziam sucesso na Festa da Cerveja do Clube Concórdia. Também naquela região os ancestrais Grein e Regattieri tiveram armazém, (de “Secos e Molhados”, se dizia) a poucas quadras de distância, sem imaginar que um dia seus descendentes se uniriam formando o clã.

Crescemos e fomos para o Sion, na Presidente Taunay, com o então governador Paulo Pimentel morando defronte com suas quatro filhas, nossas colegas. Às quintas feiras fugíamos para comprar biscoitos na feira. 

Será que Soeur Bernadette e Soeur Cristina sabiam? Rezávamos “Je Vous Salue Marie” e na saída enrolávamos a saia pregueada azul-marinho do uniforme para mostrar os joelhos, pois a moda era mini saia. Fomos as últimas normalistas. Minha irmã mais nova já se formou em “Secretariado”. E se nossa mãe foi aluna de Helena Kolody no Instituto de Educação, nós tivemos dona Honorata Setúbal, a pedagoga por excelência, como grande mestra.

Aos sábados saíamos mais cedo da aula e o destino era a Confeitaria Schaffer e as compras na Sloper e Etam para as festinhas. Depois vinha a “touca” no cabelo, o delineador plástico nos olhos e o perfume de “Lá No Luhm”. Tudo para dançar ao som de Johnny Rivers (“Do You Want To Dance?” ou Adamo (“F…Comme Femme). De rosto colado nem pensar: já era comprometedor, ficava “falada”!

 E as serenatas então? Eram lindas, os rapazes saíam das festas e iam tocar e cantar nas casas, E a gente “piscava” a luz para dizer que ouviu…

Aos sábados também os encontros no Tipiti Dog ou nas piscinas dos clubes, com direito a “Venha a Vontade ” depois.

  Na Santa Missa do domingo Padre Emir Kaluf reunia toda a juventude na Capela do Santa Maria.

E quantas famílias começaram ali, na ingênua Curitiba dos anos 60!

O que dizer da cidade onde vivemos toda a nossa vida, assim como nossos ancestrais?

Que Curitiba representa o caldeamento de raças diferentes que convivem pacificamente, desde os índios, habitantes primitivos até os refugiados do século vinte e um. 

   A nossa família bem representa esse caldeamento. Os França do Nascimento, com a avozinha indígena que tinha uma cruz no peito e rezava em latim, e que se uniu aos representantes da Península Ibérica num clã de mais de dez filhos.

Quase sempre um acordo do cacique da tribo para manter aliados. Depois os primeiros alemães, Peters, Grein, Maurer, aliados aos italianos Moletta, Regattieri, Casagrande. E os luxemburgueses Bley e Grein, pois a Europa era formada por reinos. Por parte de meu marido ainda os escandinavos Rambusch Sell, que se reúnem até hoje na Dinamarca para não perder as raízes. Mas o ramo brasileiro é só este. Do aventureiro escandinavo que serviu como médico na Guerra do Paraguai e teve apenas um filho, Eduardo.

  E raízes não nos faltam. Às vezes fico pensando na variedade de gostos na família, plenamente justificável por todas essas influências étnicas. E as receitas, então? Bacalhau, vinhos e doces portugueses, massas italianas, pães e salsichas alemãs, o Strudel da família, os sanduíches Smorebrog e os biscoitinhos amanteigados da Dinamarca…e o de mel da vó Madalena. Este não podia faltar no Natal!

   Curitiba, a cidade amorosa, acolheu a todos e deu oportunidades de crescimento. Armazéns de secos e molhados, consultórios médicos, farmácias que a todos serviam, jornalistas, escritores, empresários, professores primários e universitários, advogados, engenheiros. E a cidade linda amorosa da terra de Guairacá, jardim luz cheio de rosa capital do Paraná hoje resplandece no progresso e admiração de seus filhos.

 Uma verdadeira história de amor!

 

Zélia Maria Nascimento Sell é jornalista e pesquisadora e por quinze anos produziu e apresentou o programa radiofônico “Nossa História” na Rádio Educativa, recebendo vários prêmios inclusivo da UNESCO pelos resgates históricos.  É membro efetivo do Centro de Letras e do Instituto Histórico do Paraná e autora do livro premiado “Altdeutschen” que conta a história dos primeiros imigrantes europeus em nosso estado.  Atualmente dá palestras sobre temas históricos.

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