Nasci nesta cidade, assim como meus pais, meu filho e meu marido. E praticamente toda a minha família. Então, escrever sobre você Curitiba é uma tarefa muito prazerosa, que me leva a resgatar ótimas lembranças de infância e a apostar num futuro brilhante para nossa cidade. Sempre que retorno para cá, depois de alguma viagem, procuro te enxergar como se a estivesse vendo pela primeira vez. E esse exercício mental sempre me surpreende positivamente. Desde o aeroporto moderno, bonito e funcional, até as ruas e avenidas por onde passo até chegar em casa, criam um impacto muito positivo.
A impressão que sempre fica, destacada também por aqueles que a visitam, é que a chamada “Cidade Sorriso” é limpa, planejada, multicultural e organizada. Temos problemas, como toda grande cidade, mas também temos características que dificilmente são encontradas em outros locais. Mudei do Champagnat (ou Bigorrilho, como queiram) para Santa Felicidade há 15 anos, e a sensação foi de sair de um centro urbano para ir morar numa cidade do interior.
Não há prédios (isso é ótimo), há muitas áreas verdes e, curiosamente, diria que a maior parte dos habitantes do bairro se conhecem entre si ou são parentes, descendentes dos italianos que chegaram ao final do século XIX. Também me incluo nesse grupo porque uma bisavó veio da Itália nessa época, assim como um bisavô, francês. Vieram no mesmo navio, chegaram e aqui se casaram. Como em tantas famílias curitibanas antigas, sempre há alguns antepassados que vieram de longe e aqui se estabeleceram.
Os sinais dessa mescla de etnias e influências estão espalhados por toda a cidade. Gosto muito de caminhar e visitar os parques, edifícios e monumentos que estão trazendo cada vez mais turistas para nos conhecer: Bosque Alemão, Parque Barigüi, Tingüi, Tanguá, Ópera de Arame, Museu Oscar Niemayer, e tantos outros. Mas sem dúvida, o mais especial e marcante para mim, é o Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná, eleito recentemente símbolo de Curitiba. Explico: o autor do projeto original de 1912, em estilo neoclássico, foi o meu avô paterno, Engenheiro Militar Guilhermino Baêta de Faria, que veio para cá oriundo de Minas Gerais, no início do século XX, e deixou seu legado em terras paranaenses através de diversas obras e empreendimentos.
Uma pena que o prédio original da UFPR foi reformado e foi retirada a grande cúpula central de inspiração francesa. Lembro de minha avó reclamar das mudanças feitas na fachada e da retirada da placa comemorativa à inauguração do prédio, onde constava o nome do meu avô. Provavelmente, por ouvir muitas histórias sobre os projetos e obras que ele realizou e por gostar muito de matemática, resolvi cursar Engenharia Civil depois de fazer o curso de Letras-Inglês, ambos na UFPR.
Algum tempo depois, morei no Rio de Janeiro, depois no Canadá, onde comecei meu mestrado e, posteriormente, nos Estados Unidos, onde conclui os créditos e defendi minha dissertação. Essa época foi de muito trabalho e dedicação, mas deixou ótimas lembranças. Houve convite para ficar por lá e, em muitos aspectos, talvez fosse melhor por questões de segurança pública, saúde, educação, etc. Mas não trocaria você Curitiba por nenhum outro lugar. Aqui estão minhas raízes, minha família, meus amigos, minha vida. Sem dúvida, aqui é o meu lugar!
Vivian Curial Baêta de Faria – Engenheira Civil, Master of Science in Civil Engineering (Colorado State University-USA), Assessora da Presidência do Crea-PR