Curitiba, 22 de Maio de 2018
Sou um intruso nesta cidade.
Paulistano de nascimento e curitibano por adoção, aqui criei raízes profundas que me fazem sentir um pouco parte de tudo isso.
Como muitos, procurei Curitiba para estudar e iniciar minha profissão, é uma fase da vida com muitas descobertas e também foi a época que começou minha paixão por esta cidade tão peculiar e multicultural. Não se conhece Curitiba assim rapidamente, ela exige tempo, gastar sola de sapato percorrendo suas ruas históricas, suas praças e parques, peregrinando de igreja em igreja, seus largos, suas ruelas.
Acho interessante compara-la com uma verdadeira Dama, uma imigrante com educação europeia que encontrou um clima parecido com a terra natal e por aqui ficou. E foi assim que aconteceu comigo também, fui conquistado aos poucos pela educação, respeito e uma incrível arquitetura que me chamou atenção desde o primeiro encontro.
Fascinado pelo casario da Rua XV de novembro e arredores, não demorei muito para tentar reproduzir detalhes na forma de esboços em meus cadernos de desenho, minha paixão. Não tenho dúvidas que foram estas fachadas que me deram o empurrão final para escolher minha profissão de arquiteto.
A cidade vivenciava uma grande transformação, uma nova geração de arquitetos aqui formados se destacavam nacionalmente e transformavam Curitiba em referência no assunto, para mim, uma oportunidade única! Como não se inspirar na cobertura curva do Teatro Guaíra e suas rampas laterais? Nos grandes planos envidraçados do palácio do Governo e todos os demais edifícios cívicos em seu entorno? Para mim, estudante, Curitiba sempre foi muito generosa em referências de vanguarda.
Fui desta forma definindo meu gosto pela arquitetura moderna, pela arte e pelo mobiliário na arquitetura de interiores, preferindo aqueles em madeira maciça ou compensado curvado, tão corriqueiros em Curitiba devido a grande oferta da matéria prima e de uma indústria moveleira em franca expansão.
Curitiba me ensinou muito, não só nos assuntos da minha profissão mas sobre os próprios curitibanos, aquela mistura boa de tantas descendências, tantas culturas comprimidas num só tecido urbano e humano. O Curitibano é quieto e observador mas adora uma estória bem contada, uma crônica da cidade e de si próprio, vários dos conhecidos autores dedicaram-se à descrever este comportamento tão inusitado, alguns são meus preferidos e sempre que possível faço uma breve leitura dos textos de Dalton Trevisan, Helena Kolody e Paulo Leminski.
Estes ilustres fazem parte da cultura local e souberam muito bem descrever praças e logradouros, da mesma forma o comportamento e a personalidade dos moradores locais, às vezes gente, às vezes vampiros. Me conecto muito com estes escritores que retratam o cotidiano porque também tive que decifra-lo quando recém chegado, e compartilho meu ponto de vista com as narrativas que o descrevem.
Curitiba, aqui vai minha expressão de paixão por esta cidade de araucárias, com suas áreas verdes tão divulgadas mundo afora, transporte publico inovador e consciência ecológica pioneira. Como não ama-la mesmo que escondida na neblina baixa de inverno, onde galhos secos de Ipê nos lembram que meses depois as ruas estarão repletas do amarelo de suas flores. A Curitiba dos guarda chuvas segue em frente, olhando sempre para o futuro, plantando árvores e esbanjando charme! Fica aqui meu eterno agradecimento a esta incrível cidade!