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Foto de Raul para Iza Zilli

“ Para Curitiba, de seu filho adotivo ” comenta Raul Alberto Anselmi Júnior

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Foto de Raul Alberto Anselmi Júnior para Iza Zilli

 

Curitiba, 09 de Julho de 2018

 

Para Curitiba, de seu filho adotivo.

Nasci em Paranavaí, noroeste do estado. Minha relação com (você) a capital paranaense começa na infância, quando vinha do interior passar as férias no litoral e ficava sempre alguns dias na cidade. Eu não tinha outra, (Você) Era a minha Miami! Tudo era lindo, tudo diferente. A primeira vez que andei de escada rolante foi nas lojas Murici, no centro. A primeira vez que andei de elevador foi aqui também, e foi marcante em minha vida a ponto de me lembrar sempre deste momento.

Essa novidade da modernidade, ia descobrindo a cada viagem para cá durante a infância e adolescência, pois morei em várias cidades do interior antes de vir fazer o ensino médio aqui na capital. Fui então estudar no colégio Dom Bosco, onde lecionava o famoso professor Coronel Amaury Ribeiro, que ensinava com uma calma tamanha que esquecíamos da competição que éramos expostos já precocemente na vida. Minha relação contigo nessa época era sob o olhar de um estudante obstinado / bitolado, e não percebia todas as maravilhas que você me mostrava. Neste período também conheci a capelinha de Schöestatt, no Campo Comprido, onde com um grupo de jovens consagrei minha vida à Nossa Senhora, fato que repercutiria em toda minha vida.

Pois bem, após uma incursão breve na engenharia, no CEFET, segui o caminho da medicina. Um dos dias mais importantes de minha vida foi quando decidi me tornar médico. Não havia nem feito vestibular ainda, e foi um daqueles momentos de felicidade que lembramos sempre. A engenharia não me dava a parte humana que sentia falta. O comprometimento com o outro, com o ser sofrente norteou minha vida profissional desde sempre, e o primórdio foi na decisão de abraçar a carreira médica. Fui assistir a uma aula de bioquímica no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) a convite de amigos, e pensei comigo mesmo: é isso que quero pra mim. Uma vida um pouco menos cartesiana. Uma vida com mais contato com o outro, com o ser humano.

Quando entrei na faculdade de medicina, fui fazer a inscrição caminhando careca pela rua XV, até atravessar a praça Carlos Gomes e ir rumo ao edifício da UFPR na Rua Dr. Faivre esquina com Amintas de Barros. Lembro-me exatamente da caminhada que fiz nesse dia, rindo a toa, com o futuro inteiro pela frente.

O curso de medicina era locado inicialmente no Centro Politécnico, Setor de Ciências de Saúde, no Jardim das Américas, e depois no Hospital de Clínicas da UFPR, no Alto da Glória. Fiz amizades para a vida inteira durante o curso. A nossa “turma C” ficou, e nos comunicamos e nos visitamos até hoje.

Fui fazer residência médica no Hospital Nossa Senhora das Graças, onde havia antes sido acadêmico durante o quarto ano da faculdade. Como especialidade na residência fui para a Cirurgia Oncológica, na época chefiada pelo Dr. Calixto Hakim, e passei a praticamente morar no hospital das religiosas filhas de caridade de S. Vicente de Paulo, nas Mercês.

Após a residência fui para Milão, aumentar a especialização oncológica por um ano, e voltei para trabalhar no meu hospital de origem. Aí aconteceria um fato que mudaria minha vida. Conheci Karina. Minha avó dizia que eu conheceria minha esposa na igreja ou no trabalho. Eu conheci no trabalho. Ela, uma residente de Ginecologia, belíssima, me parecia inatingível. Eu, um cirurgião em início de carreira. Um dia a convidei para sair. Ela aceitou. E aí começou nossa história. Em um ano e 2 meses estávamos casados, e ela mudou minha vida para melhor. Deu a mim dois filhos, Lorenzo e Henrique, meus amores, nascidos no mesmo hospital que estudei, que nos conhecemos e que trabalho até hoje, nas Mercês. Estamos casados há 15 anos. Você, Curitiba, proporcionou isso.

Bem, eu e Karina fomos estudar por mais um ano na Europa, e voltamos mais animados com a profissão. Quando voltamos fiz mestrado e doutorado, este na PUC-Pr, e me aprofundei no tratamento cirúrgico do câncer, ensinando jovens médicos residentes no Hospital Nossa Senhora das Graças, onde tenho o privilégio de conviver com pessoas que admiro e estimo, como Dr. Julio Coelho e Dr. Paulo Andriguetto.

Nos raros momentos de folga costumo ir ao Mercado Municipal, onde como uma deliciosa comida japonesa no restaurante Take, e encontro o “seu Cláudio “ Dona Júlia”, casados e sócios de uma banca de verdura e outra de azeitonas, queijos e temperos, de quem cultivo uma terna amizade. Andar pelos corredores do Mercado, com aquele movimento de pessoas e o cheiro de frutas frescas ou especiarias no ar me dá um raro prazer. O parque Barigui também é outro local que procuro ir semanalmente, para dar uma boa corrida. Tenho certeza que isso me deixa mais vivo. 

Moramos no Parque Tingui, local maravilhoso, como outros parques da cidade, e próximo do nosso trabalho. Quando podemos vamos à missa na igreja de Santa Teresinha, no Batel, onde casamos. 

Passeamos pelos parques, vamos aos centros comerciais de primeiro mundo que temos aqui, andamos pelas suas ruas por vezes estreitas, mas charmosas, e temos uma sensação de bem-estar por viver aqui.

Curitiba, você por vezes se esconde por trás de nuvens ou névoa, mas sua personalidade, sua vibração é apaixonante. Você me trouxe as coisas mais importantes de minha vida. Sinto-me um filho adotivo muito amado. Obrigado.

Autor:

Raul Alberto Anselmi Júnior

Cirurgião Oncológico

Cirurgião do Aparelho Digestivo

 

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