Curitiba, 13 de Junho de 2018
Muito obrigado, Curitiba!
Eu nasci em Curitiba em 16 de março de 1966, há exatos 52 anos. Na época, a cidade tinha 370 mil habitantes. Nasci no Hospital Nossa Senhora das Graças, nas mãos de um jovem médico chamado Abdala Sarraff Neto.
Sou de uma família numerosa, resultante de imigrantes italianos. O décimo filho de Zaira e João Vitola (ambos já falecidos). Tenho nove irmãs, todas mais velhas. Nasci em uma família trabalhadora, mas modesta nos recursos financeiros. Minhas primeiras memórias da infância são de aproximadamente 1970/71 (com quatro ou cinco anos). Morávamos em uma casinha alugada, na rua Estados Unidos, ali próximo à rua México. Na época chamava-se Vila América. Hoje, pertence ao Bacacheri. Quem passa ali não imagina que havia uma rua não pavimentada, toda empoeirada, com valetas e esgoto a céu aberto, onde meninos como eu, bem pequenos, jogavam bola de pé descalço no meio da rua! Passavam poucos carros. Aquela era considerada a periferia de Curitiba.
Na nossa casa, meus pais dormiam no quarto da frente e nós, filhos, todos juntos em um quarto mais atrás, cheio de beliches e caminhas. Meu pai, um funcionário do Ministério da Agricultura, com função de fiscal, trabalhava muito e ganhava pouco. Minha mãe, sempre muito ocupada com a filharada (cozinha, limpeza, tanque de lavar), ainda fazia trabalhos como costureira, complementando a renda da família. Era um lar simples, mas repleto de amor, afeto e carinho.
Passei dez anos estudando fora de Curitiba, em pós-graduação (a maior parte nos Estados Unidos, na Universidade de Vanderbilt e na USP, na época do doutorado no Incor). Sempre estudei em instituições públicas – municipal, estadual e federal. Essas instituições foram a minha base. Fui aluno do Colégio Estadual do Paraná, depois da UFPR.
Eu saí do Brasil médico recém-formado e fui competir com os médicos americanos por uma vaga nos programas de residência mais concorridos dos Estados Unidos Foi dificílimo! Foi extremamente competitivo! Essas vagas são custeadas com recursos financeiros dos Estados Unidos, seja da origem privada ou do governo americano, e não facilmente concedida a estrangeiros, principalmente, lá no Tennessee.
Estima-se que minha educação custou mais de meio milhão de dólares ao governo americano. Havia (e acredito que ainda haja) um acordo em que a universidade recebia recursos do governo para que os médicos residentes cuidassem dos pacientes no hospital de veteranos de guerra, e esse recurso era usado na educação dos médicos que circulavam nos dois hospitais. Meus colegas de residência, praticamente todos graduados em universidades americanas, perguntavam quanto era a minha dívida pela educação médica que eu havia recebido na universidade no Brasil. Eu respondia que nada, eu tinha uma dívida moral, mas não financeira! E explicava a eles o que era a UFPR, aqui em Curitiba. Isso surpreendia a todos, que deviam em média 200 mil dólares pela educação de nível superior dos Estados Unidos. Eu agradeço ao Brasil por ter me proporcionado educação de qualidade sem ter me deixado um jovem endividado.
Hoje, é com grande alegria, que posso com o meu trabalho e o trabalho do time de profissionais da Quanta Diagnóstico por Imagem, retribuir o pouco que recebi e recebo desta cidade.
Muito obrigado, Curitiba!
Autor
João Vicente Vítola é cardiologista, diretor geral da Quanta Diagnóstico por Imagem, presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia (2018/2019) e recebeu o título MASNC (Master of the American Society of Nuclear Cardiology), a maior honraria da Sociedade Americana de Cardiologia Nuclear, pelo seu trabalho dedicado ao desenvolvimento da Cardiologia Nuclear no mundo.