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“ CARTA A CURITIBA ” escreve Hildegard Taggesell Giostri

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Curitiba, 27 de Junho de 2018

 

CARTA A CURITIBA

O primeiro contato com a bela Curitiba ocorreu quando eu contava sete anos de idade, sendo que o elo inicial – de uma união que perduraria por décadas (e até hoje) –, deu-se, quase de imediato, no momento em que, pela vez primeira, me vi diante do imponente e austero edifício da Universidade Federal do Paraná.

Para uma criança vinda do interior de Santa Catarina (Lages), a beleza daquelas colunas gregas era quase sufocante e, na sequência, me remeteram aos inesquecíveis enredos da mitologia grega, leitura obrigatória em nossa casa, tão logo aprendíamos a dominar o alfabeto, e conforme a rígida, mas benéfica, determinação paterna.

O impacto que a majestosa visão causou naquela criança de sete anos perduraria através dos tempos, e para sempre, e de uma maneira tão intensa que, anos mais tarde, quando para lá me dirigi, com os documentos necessários para efetivar a inscrição no vestibular, e já contando 17 anos, não foi possível fazer a dita inscrição naquele dia, pois o reencontro com o impávido edifício branco foi tamanho que me faltou coragem de adentrar suas respeitosas e imensas portas.

Não me sentia digna de galgar os vários degraus, até seu final, e ainda invadir aquele interior com imponentes escadas de mármore e vitrais multicoloridos, reluzindo à luz do sol, o qual ali entrava sem pedir licença, mas compondo o ambiente e deixando-o ainda mais belo…

Com o coração batendo descompassada e aceleradamente, me permiti ficar, uma vez mais, sentada nos degraus iniciais, por um longo tempo, respirando a beleza daquela escadaria e a incontestável imponência de suas colunas, frente à minha inegável pequenez…

Novas lágrimas, da mais avassaladora emoção, rolaram pelo meu rosto, mas eram lágrimas de felicidade, por ter, finalmente, chegado o meu dia de poder estudar naquele templo de sabedoria e de beleza ímpar.

Na inexorável caminhada do tempo, décadas se passaram, vieram os filhos, e depois os netos. Cursei outras Faculdades, em diferentes cidades, agora bem longe de Curitiba (Rio de Janeiro, Umuarama, e cursos em Londres e Paris). Até que, em um determinado dia do ano e 1993, lá estava eu, novamente, defronte à bela escada da saudosa Universidade Federal de Curitiba. Ela sempre jovem e bonita, quanto a mim, nem uma coisa, nem outra…, apenas portando vários e novos documentos, a fim de efetuar matrícula para tentar uma vaga no Mestrado em Direito.

E o inevitável, como num passe de mágica, ocorreu: o mesmo antigo e forte sentimento retornou e novamente fui consumida pela mesma emoção já vivida, ali mesmo, décadas atrás, pela menina de 7 anos e pela adolescente de 17. Uma vez mais, sentei na respeitável escadaria e uma vez mais, também, as lágrimas tomaram conta de mim, rolando sem nenhuma cerimônia, mas com a mesma intensidade. De alguma maneira eu era, novamente, aquela menina, pequena demais (ou insignificante demais), para adentrar aquele imponente templo do saber…

Não sei precisar quanto tempo fiquei ali sentada, vendo os minutos rolarem, sem pressa… Só sei que a felicidade que sentia não merecia ser interrompida. E, de igual maneira como ocorrera, décadas atrás, precisei retornar no dia seguinte para, só então, administrar minha sensação de pequenez e adentrar aquele majestoso ambiente – sem lágrimas no rosto…

Os três anos, que ali passei, foram não só de felicidade, mas também, de muita emoção, pelo volume de novos conhecimentos adquiridos e de vivenciar a adorável experiência de ter as primeiras obras publicadas, as quais são como filhos “temporãos” que chegam para agregar um novo tipo de felicidade e dar mais sentido à nossa vida.             

      Outros três anos se passaram e concluímos o Doutorado no mesmo amado ambiente. Não sem menor emoção, mas, pelo menos, mais contida…

E, como um filme predileto, que se o assiste inúmeras vezes, sem jamais se cansar de seu enredo, ainda hoje, cada vez que tenho a oportunidade de percorrer, a pé, a Praça Santos Andrade, faço-o bem lentamente, na direção do maravilhoso e nobre edifício da amada  Universidade e me dou, de presente, preciosos minutos para relembrar os momentos felizes ali vividos, o conhecimento adquirido e os inesquecíveis Mestres por alguns instantes, a imagem daquela menina de sete anos me vem à mente e, como não poderia deixar de ser, uma furtiva lágrima não hesita em se fazer presente. Mas, tudo valeu a pena e nada foi perdido.

 

Obrigada querida Universidade. Obrigada linda e amada Curitiba.  

Autora:

Mestrado e doutorado em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Escritora, pesquisadora, professora e palestrante. No Direito atua nos temas responsabilidade civil, responsabilidade médica, obrigações, ética e cirurgia plástica

 

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