Curitiba, 6 de maio de 1989
JOESETE FOLADOR – Gosta de ter amigos, de trabalhar em prol dos menos favorecidos e confessa ser uma verdadeira dona de casa. Ativa, trabalha com seu marido
Luiz Carlos Folador, no ramo de transportes coletivos. Com toda a sua simpatia, Joesete nos dá a oportunidade de sabermos um pouquinho de sua vida.
IZZA – Joesete, como vai a vida?
JOESETE – Ótima. Você sabe que eu sou uma verdadeira dona de casa. Adoro cuidar de meu marido, de minhas filhas, de minha casa, acho que pelo meu próprio signo. Sou canceriana, e dizem por ai, que as pessoas deste signo, digo as mulheres, são as próprias mãezonas. Curto a casa, o jardim, reformas. Aliado a isso, tenho o meu trabalho na empresa, no setor de bancos etc. Ajudo meu marido, que esporadicamente está fora.
Trabalhamos no ramo de transporte coletivo. O que tem que ser feito aqui em Curitiba, eu faço, sempre com otimismo. O importante é crescer, e isso só é possível com dedicação e companheirismo. Trabalho â tarde, consequentemente a manhã é minha, para os meus afazeres, E importante termos um período do dia para nós mesmos. Assim divido o meu tempo entre o meu espaço, minhas filhas Fabiana, com treze anos e Heloísa Helena, com doze anos; meu marido, e o meu trabalho.
IZZA – Me contaram que além destas atividades, você também é artista?
JOESETE – Imagine, que eu cheguei a fazer vestibular para “Belas Artes”, mas a época era outra, e meu pai não me deixou entrar, apesar de eu ter sido aprovada, porque achava que o meio não era o ideal para uma moça. Não deixei por isso mesmo, e agora sou uma autodidata. Pinto óleo, pouquinho de aquarela, trabalhamos em bico de pena, art nouveau. Inclusive aqui em casa, tenho coisas feitas por mim.
Reconheço que sou um pouco preguiçosa. Em primeiro lugar está sempre a minha família, por isso não me dedico muito, faço quando tenho vontade, sem pressa, Fiz vários cursos inclusive com a Lélia Brown e outros. Também gosto muito de bordar, desenhar tapeçaria. É incrível ver o trabalho ir surgindo, aparecer, se transformar. O que acontece comigo é que eu adoro presentear as pessoas que gosto com meus trabalhos, porque reconheço que não sou nada comerciante, por isso gosto de fazer descompromissadamente.
IZZA – E o apoio às obras assistenciais?
JOESETE – Isto me fascina, ainda mais quando contamos com um grupo coeso unido. É muito bom, gratificante. Eu sempre trabalhava quietinha, sem aparecer, mas agora, depois do convite da Anice Messmar, assumi a presidência do Conselho da Acese que é uma associação Filantrópica que auxilia a escola Epheta, de surdos-mudos e que tem me deixado muito feliz. Aquela gentinha miúda, querendo falar e não podendo e depois progressos, a criança querendo balbuciar alguma coisa. Saíram já da escola dois engenheiros formados. Pela própria falta de audição, estas pessoas são muito inteligentes, são excelentes desenhistas, bons datilógrafos, etc. Fora deste trabalho, existe também o apoio à família porque não adianta somente levar a criança para aprender a falar se a família não souber lidar com o problema. Trabalhar com a família é tão importante quanto trabalhar com as crianças.
As crianças mais afetadas são as da periferia, acho que contribui o fator alimentação, desde a gravidez da mãe. Pegamos esta entidade quinze dias antes do natal em cima da hora e conseguimos fazer um natal maravilhoso com o papai Noel, mágicos, doces, balas presentes. Valeu a pena ver a expressão de felicidade estampada em cada rostinho. E, depois, a minha maior admiração para aquelas professoras divinas, que tenho certeza que merecem ganhar o céu, por toda aquela dedicação e amor às crianças. São admiráveis. E emocionante. Graças a Deus, as portas de Curitiba estão se abrindo, dando-nos oportunidade de fazermos o que tanto desejamos em prol desta entidade. Temos até um carne, as pessoas contribuem como desejam. Já estamos planejando “Uma noite Brasileira”, para início de outubro. O mais importante é pensarmos limpo, transparente com todo o amor e dedicação.
IZZA – Fora este trabalho da Acese?
JOESETE – Há muitos anos trabalho em Filantropia, desde menina. Logo que me formei, trabalhei em Uberaba, num barracão, e me lembro que, do salário eu comprava material didático. O meu horário era de manhã, mas eu era muito idealista e às vezes ficava o dia todo. Foi uma fase muito interessante porque conhecí uma realidade bem diferente. Foi ai que comecei mesmo a gostar deste tipo de trabalho e aí fiquei sete anos. Depois eu tive que me dedicar a minha família. Quando eu entro numa atividade, é para valer.
IZZA – Você não acha que para trabalharmos com pessoas carentes é necessário termos uma estrutura forte para não deixarmos que esses problemas nos afetem emocionalmente?
JOESETE – Por mais que tentemos segurar a barra, às vezes ficamos nervosas e tristes. Confesso que é difícil, mas vamos em frente. O nosso contato com eles não é diário atualmente. Nos reunimos alteradamente, nos revezamos. A nossa parte é mais leve do que a parte das professoras, pessoas maravilhosas, como já falei. A realidade é que são poucas as que conseguem dedicar-se totalmente, por- que temos que reconhecer que além de ser uma profissão nada fácil, elas geralmente não ganham o suficiente e são pessoas como nós, que também têm família. Acho que estas pessoas deveriam ter mais reconhecimento porque são realmente abnegadas.
IZZA – E a badalação social?
JOESETE – O dia em 24 horas e ainda sobra tempo para frequentar e receber em casa, ir a lanches, etc. Vou muito pouco, já estou na fase de receber aqui em casa, curto mais. A badalação é inevitável, temos que ir porque temos amigos muito queridos. A mola que impulsiona tudo é o otimismo.
IZZA – E na política, você entraria?
JOESETE – Se mudassem as coisas, até eu entraria, mas agora não. Maus políticos, muito casamento de partido, muito divórcio de partidos etc. Tudo muito confuso. Pessoalmente, acho que a democracia daria certo se tivesse começado no berço, na saúde, boas escolas, comida. Você sabe que o índice maior de mortalidade de crianças ainda é a fome? Num país não preparado como o nosso, democracia é sinônimo de bagunça. Por isso eu não teria vontade de entrar na política.
IZZA – Em sua opinião qual seria a saída?
JOESETE – Ainda temos a última década, e talvez as coisas mudem um pouco. E a última década deste milênio, quem sabe, as pessoas comecem a cultuar uma cultura aberta ao novo, sem fechar os olhos para o passado. O que eu quero dizer é o seguinte: a mudança deve ser radical porque de nada adianta trabalhar em cima do ranço da história. Começar a criar raízes, novos valores, e olhos abertos, para não cairmos nos mesmos erros. Dizem os entendidos que temos dívidas desde Dom Pedro. Imagine…
IZZA – E as perspectivas para as próximas eleições?
JOESETE – E difícil. Como, onde, quem? temos boa intenção, mas acho que falta liderança. Ontem conversando com uma amiga sobre isso, ela me disse que achava que não faltam líderes, o problema são as pessoas que não deixam com que esses líderes cresçam. Mas ao mesmo tempo penso que se eles são líderes natos, não poderiam deixar-se influir. Creio que um líder que esteja firme, prepara- do, vai em frente apesar dos empecilhos.
Eu quero acreditar nesta nova geração que está vindo forte, cheia de força e idealismo. Eu sempre digo para as minhas meninas que a vida é muito rápida, curta, efêmera, um filme, e o mais importante é alimentarmos o espírito, procurarmos ser transparentes, honestas, cultivarmos as amizades, que acho importantíssimas. E tão bom podermos contar com amigos com quem possamos desabafar. O lado espiritual é primordial e dá força para todas as situações.
IZZA – Nas horinhas de folga, o que você curte?
JOESETE – Viajar, me atualizar através de boas leituras porque é o grande veículo de informação. Ler e saber ouvir. Existem excelentes revistas, muito acessíveis e muitas mulheres somente folheiam. Estas revistas Cláudia, Interview, Elle, Veja, Exame têm que ser lidas, assim como outras, mas observo que até nos salões de beleza, que geralmente dispõe de todas, a maioria das mulheres vêem somente os modelos, as figuras e dificilmente leem um artigo até o fim. Claro que não estou falando de todas, mas de uma grande parte. Também adoro televisão, principalmente debates, Marília Gabriela por exemplo está maravilhosa. Um dia desses vi Marília Pera, uma mulher maravilhosa. Nestas horas me sinto orgulhosa de ser brasileira. Um talento.
IZZA – E os teus objetivos de vida?
JOESETE – Encaminhar minhas filhas, quero o melhor para elas. Vê-las felizes. Desejo que elas peguem uma época melhor. Fazer com que elas saibam o valor da simplicidade, da transparência, e que elas sejam o que realmente são, verdadeiras em tudo o que façam.
IZZA – O que você acha da moda atual?
JOESETE – Claro que gosto de ver coisas bonitas. Me preocupo mais com estilo do que propriamente com a moda, porque o estilo é a mola que impulsiona a moda – É necessário critério tanto para quem faz como para quem compra, porque o exagero é prejudicial. Eu não sou de comprar muita roupa. O fato é que sei transar bem as peças. Não tenho um estilo próprio porque gosto de variar. Tenho uma certa tendência ao esporte chic, bem estruturado porque é mais versátil. Sou fascinada por Valentino, Ives Saint Laurent, os estilistas brasileiros e os nossos curitibanos que deram um verdadeiro show de moda no último desfile.
IZZA – Você que deve ter lido a última Veja, acha razão para ter havido polêmica em torno do assunto “Cazuza”?
JOESETE – Do ponto de vista da revista, existe a questão faturamento e nada melhor do que uma tragédia humana para isso. Realmente eu acho que deveria ter havido mais respeito humano, porque a vida do Cazuza foi exageradamente devassada, se bem que sabemos que ninguém é santo. Acho que o pessoal da revista deveria ter dado uma segurada. Veja bem, não estou dizendo que a revista exagerou, apenas contou a realidade, mas o que acho como falei, é que deveria ter havido mais respeito, muito sensacionalismo, o que comprometeu. Foi a forma com a qual foi exposta a matéria.