Curitiba, 29 de abril de 1989
NEUZA MADALOSSO. É uma pessoa simples e autêntica. Curte a vida, os filhos, o trabalho, e ser como é. Confessa estar numa boa fase, onde o equilíbrio predomina. Hoje, ela nos conta sobre si mesma, sua família e sua atividade ao lado de seu marido. Esta é Neuza, Sra. Carlos Madalosso.
IZZA Neuza, conte-nos sobre a sua atividade, a sua colaboração no Restaurante Madalosso.
NEUZA – Faz muito tempo que trabalho aqui no restaurante, cuidando da loja de vinhos, artesanato etc. Quando casamos, eu e o Carlos, eu havia feito faculdade de Letras, mas fiquei um tempo parada, curtindo a casa. Aqui, ao lado do restaurante já existia uma loja, que somente vendia vinhos para os turistas principalmente, que tendo provado, queriam comprar. Como eu, nesta época ficava em casa, comecei a fazer algumas coisinhas para levar para a loja e vender, e devagarinho fui gostando e me empenhando.
Aumentamos, pusemos “O Boticário”, depois os “Chocolates De Vilella” e a minha loja também foi aumentando. Agora participo bastante, orientando tomando conta desta parte de compras, e escolhendo os produtos. No restaurante às vezes dou uma assistência, principalmente aos domingos que acho uma delícia. É lindo ver as famílias almoçando ou jantando juntas, este clima familiar dá um toque especial à casa. Depois, temos várias pessoas, agora amigos que constantemente estão marcando presença, e já são considerados da casa. No momento estamos construindo outro Madalosso e creio que no novo projeto, a minha contribuição será maior. Adoro trabalhar, e depois meus filhos já estão maiores, e conseqüentemente, disponho de tempo para me dedicar.
IZZA – Quantos filhos Neuza?
NEUZA – Quatro. A mais velha tem quatorze anos, a Giovanna. Depois vem o Lorenzo com onze, o Carlos com oito, e a caçulinha Izadora com apenas dois anos. Curto muito os quatro, porque eles foram bastante esperados e até o nome deles foi cuidadosamente estudado com todo o carinho. Dizem por ai, que a gente sabe a idade dos pais pelo nome dos filhos. Nas quatro vezes, escolhemos nomes que não fossem comuns ou de moda, e por incrível que pareça, cada um deles tem muito a ver com o nome que escolhemos, combinou com a personalidade deles.
O que acho interessante é o fato de termos filhos de várias idades porque a minha atividade fica totalmente diversificada. As vezes levamos a Giovanna a uma boatinha, e no dia seguinte estou numa festa infantil. Eles são ótimos e por isso posso acompanhar muito o meu marido em festas e viagens, o que acho importantíssimo. É uma arte desempenhar bem o papel de mãe e o de esposa. Me sinto feliz por ter conseguido. Algo dentro de mim me diz que estou certa neste sentido. Creio que uma mulher só consegue este equilíbrio quando curte e está bem com as duas partes, não deixando faltar atenção e carinho para nenhuma delas. Quando saímos, os deixo com a minha mãe e quando estou presente, minha dedicação é exclusiva. Mais vale a qualidade da atenção que dispenso a eles, e não a quantidade. Por isso o nosso relacionamento é fantástico.
IZZA – Você é de temperamento bem calmo não é?
NEUZA Sou. Dá para notar pelo lugar em que vivo não é? Aqui tem em Santa Felicidade, é uma maravilha, porque ainda existe paz e quase nenhum ruído. Nós morávamos na cidade e quando mudamos para cá confesso que estranhei a tranqüilidade, mas depois me acostumei e agora não trocaria por nada. ê difícil falar sobre o nosso próprio temperamento, mas acho que não sou uma pessoa difícil, porque gosto de tudo, procuro sempre ver primeiro o lado bom das coisas e acho que quando estamos com bom astral tudo se toma mais bonito e agradável. O essencial é estarmos bem interiormente e no momento estou me sentindo bem, talvez por isso eu valorize as coisas nos mínimos detalhes. Um dos pontos que dão felicidade, é termos primeiramente saúde e o segundo, é o trabalho, ânimo, pique para desenvolver alguma atividade.
IZZA – Você acha que dá certo trabalhar no mesmo ramo que o marido?
NEUZA – Claro que sim, porque estamos sempre juntos e compartilhamos dos mesmos ideais. Além disso, o meu trabalho é bom porque me dá a oportunidade de viajar, ver as coisas novas, escolher mercadorias em São Paulo etc, e estar pesquisando novidades. Nossas férias sempre acontecem fora do perfodo normal, porque janeiro, fevereiro e julho são meses de muito movimento aqui, e de enorme afluxo de turistas e a nossa presença é fundamental.
Este ano não vi verão. Estivemos na praia em dezembro, mas infelizmente só choveu. Isso não me abala porque trabalhar com retomo é bem mais compensador, não importa a época, e férias sempre dá para tirar mais adiante. Inclusive uma vez por ano viajamos só nós dois. Em questão de negócios, o maior interessado sempre é o dono e o sucesso de qual- quer empreendimento depende da dedicação do proprietário.
IZZA – E a vida social, vocês curtem?
NEUZA – Bastante. Eu pessoalmente gosto, mas não é uma prioridade, e sim uma conseqüência de nossas amizades. É bom, mas não vivemos em função disso. Existem pessoas que fazem da badalação a coisa mais importante da vida. Acho que atualmente os valores mudaram bastante, mas cada um tem os seus. E esses valores atuais estando tão diferentes a gente sofre até para educar bem os filhos. Por exemplo, ensinamos os nossos valores, o que achamos certo mas, eles vêem lá fora que estes são na prática os pouco usados. Aqui em casa somos mais favoráveis a educação tradicional.
Tentamos repassar aos filhos as coisas boas que tivemos na nossa educação, sem castrar ou reprimir. É uma orientação. Eu sou filha de judeu polonês e o Carlos é italiano. Do jeito que a vida anda, acho que a única instituição ainda em que confiamos, é a família, a que permanece, porque em outros planos há muita confusão e descrédito. Cada vez mais sinto que as pessoas procuram o ambiente familiar, tentando resguardar mais esta parte, preservá-la.
IZZA – Você sendo uma pessoa elegante, qual é a sua preferência em matéria de estilo?
NEUZA – Não sou uma pessoa clássica. Acho que a mulher tem que se cuidar depois de certa época, para não exagerar nas roupas jovens demais. Curto o moderno com um toque de clássico, aquelas roupas que favorecem, dão um ar descontraído sem serem sérias demais, e que principalmente não caem de moda. Aqueles clássicos chemisier, tailleur não me encantam.
O importante para a mulher, é ter noção do que pode ou não vestir de acordo com sua idade, independente da vontade que tenhamos de usar algo mais arrojado. A mulher de meia idade, e minha opinião, tem que ter pique para se vestir porque nesta fase, ou ela pode aparentar quinze anos a mais, pela seriedade das roupas ou parecer bem mais jovem. Envelhecer ou rejuvenescer. Conseguir o meio termo, o equilíbrio é uma arte.
IZZA – Você é favorável a esse culto ao corpo que está tomando conta das pessoas atualmente, ginástica etc?
NEUZA – Quando eu estava com dezoito, dezenove anos isso não existia, nem ouvíamos falar em ginástica aeróbica, muito menos em musculação para mulheres. Me recordo que naquela fase o que mais me chamava a atenção era as coisas que vinham da cabeça, do espírito, eu adorava conversar sobre artes. Era uma época de contestação, do Taiguara. Chico Buarque, os valores eram outros, a gente se voltava mais para literatura, teatro. Atualmente os jovens curtem os esportes, a ginástica e isso é ótimo, sinal dos tempos. Acho excelente desde que os outros valores não sejam deixados de lado, sem fanatismos independente da idade. Admiro muito pessoas mais velhas que façam o seu exercício se isso as faz se sentirem bem.
IZZA – E os planos futuros?
NEUZA – Conforme o meu temperamento sempre de querer aprender mais, às vezes penso que eu gostaria de pintar, ser uma pintora. Sei que ainda há tempo de começar qualquer coisa que eu queira. Por exemplo, escrever, eu adoro, gosto de tudo o que mantém a parte intelectual porque isso a gente mantém até o final de nossa vida, independente de fase ou de idade ou de circunstâncias. O prazo não existe. Quem sabe… Fora disso, pretendo sempre me aprimorar fazendo cada vez melhor aquilo que faço.