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“UMA VIDA DE EMOÇÕES” diz Stela Maris Gugelmin

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Curitiba, 8 de abril de 1989

STELA MARIS BOCUTTI GUGELMIN – Canceriana, agradável, extremamente elegante, nos relata com orgulho sua vida. Acompanhando sempre de perto e participando das emoções, com seu marido, Maurício Gugelmin, Stela sente-se feliz e realizada. Nesta conversa, ela nos conta por quê.

IZZA – Stela você é paranaense?

STELA MARIS – Eu nasci no Paraná, em Laranjeiras do Sul, mas desde os 9 anos estou em Curitiba. Vim para estudar.

IZZA – Como você chegou a conhecer o Maurício?

STELA – Eu o conheci através de meu cunhado, que na época era namorado de minha irmã. Eles eram muito amigos, e sempre no víamos, porém, de longe. Certo dia, eu estava num restaurante com amigas e minhas irmãs e, coincidentemente, na outra mesa estavam o meu cunhado, Maurício e vários amigos. Nos encontramos e começamos a namorar. Foram dois anos de namoro e agora fazemos cinco de casados.

IZZA – Afinal Maurício é catarinense ou paranaense?

STELA – Ele é catarinense, nasceu em Joinville e com três meses a família mudou-se para Curitiba. Ele afirma que é catarinense e paranaense.

IZZA – Quando vocês se conheceram, ele já corria?

STELA – Já. Quando começamos a namorar, ele estava se preparando para ir à Europa pela primeira vez, em 82. Ele já corria aqui, no Brasil, mas eu não acompanhava porque na época não havia interesse de minha parte no assunto. Depois que o conheci, meu interesse foi total, lia tudo sobre o tema, assistia corridas, me interessei pelos mínimos detalhes. Nesta fase, ele estava fazendo a Fórmula Fiat aqui no Brasil, em final de campeonato. A primeira corrida a que eu assisti foi depois de casada, na Europa.

IZZA – Quando ele está comendo, qual é a sensação que você tem?

STELA – Me orgulho de vê-lo fazer alguma coisa bem feita, e me sinto feliz de estar junto, participando, ajudando, porque acho que a parte da mulher é muito importante. Trabalho escondida, mas me sinto útil ainda mais que sei que ele está realizando seu sonho, pois desde pequeno sempre desejou um dia ser piloto. Ele deu muito de si para dar-se bem no que faz e agora que está fazendo todo este sucesso, é maravilhoso. No mais, sou bem tranquila. Claro que eu acho que, na medida que ele for crescendo, ficando mais competitivo, talvez eu vá ficando mais nervosa, porque vem muita coisa que influencia no estado de espírito. No ano passado eu ficava ansiosa antes da corrida, porém, durante, me sentia tranquila e calma, sem problemas. Agora no Rio, o meu maior nervoso foi na hora da largada porque é um momento super-importante. Já estou acostumada, o acompanho há cinco anos.

IZZA – Vocês moram na Europa? Onde?

STELA – Aqui no Brasil, nós ficamos na casa de minha sogra ou na casa de meus pais. Passamos temporada em Caiobá, onde temos apartamento. Na Europa, residimos na Inglaterra, mas a maior parte do tempo estamos viajando. Não é um mundo de sonhos. É cansativo, mas é ótimo e me considero uma privilegiada por ter essa oportunidade de conhecer tantos locais diferentes.

IZZA – Qual é a sua participação?

STELA – Eu o ajudo no que posso, no que esteja a meu alcance. Durante a corrida estou atenta para ver se ele está precisando de alguma coisa, água, camiseta para trocar, se precisa que eu fale com alguém, etc. Estou sempre pronta para o que ele necessitar, por isso não existe monotonia em minha vida. E, além disso temos a oportunidade de conhecermos muitas pessoas interessantes, de várias línguas diferentes, o que torna mais fascinante as relações de amizades. Até agora aprendi a dominar o inglês completamente; o francês e o italiano estou aprimorando.

IZZA – No começo, quando vocês foram morar na Inglaterra, sentiram muitas saudades?

STELA – Moramos em Londres pertinho do aeroporto, o que facilita muito. No começo, quando nos mudamos, existia a barreira da língua, apesar de eu ter estudado bastante antes de ir, mas no próprio local é bem diferente. Adoro Londres. E muito bonito e lá existe muita cultura. Lógico que sentimos muitas saudades, porque Brasil é Brasil, por isso sempre que podemos, passamos alguns dias aqui com a família. Lá, é outra vida, outros costumes, outra língua, outro povo. Os amigos que temos, são ligados às pistas de corridas, porque fora disto é difícil fazer amizades. Geralmente o inglês tem outro sistema de vida e é meio frio, fechado. Sei que este ponto depende da ocasião, do estado de espírito, etc. Mas em Londres a vida é bem diferente daqui.

IZZA – E os filhos?

STELA – Ainda não temos e, por enquanto, seria muito difícil tê-los. Pretendemos, é claro, porque gostamos muito de crianças, mas vamos esperar porque estamos começando agora.

IZZA – Vocês vêm para Curitiba frequentemente?

STELA – Não temos nunca nada marcado. Voltamos quando dá, a não ser no Natal, que é sagrado. Natal, ano novo passamos com a família. Assim que acaba a temporada de Fórmula 1, a gente vem. O Maurício fica no vai-e-vem por causa dos testes, e eu fico em Caiobá. Só sei que quando surge qualquer oportunidade, optamos por Curitiba.

IZZA – É difícil ser esposa de um piloto?

STELA – Não. Basta ter força e vontade, gostar e acompanhar. Assim as coisas se tornam mais fáceis. Deve ser difícil para aquelas que não participam poque o casal fica muito dividido. Acredito que neste caso seja complicado.

IZZA – Vocês devem estar super gratificados com esta recepção calorosa:

STELA – Foi incrível, porque é a primeira vez que o Maurício subiu no podium e a conquista foi dobrada por ter sido no Brasil. O sonho de todo o piloto é ganhar no seu próprio País. Perto de seu povo. E a conquista foi melhor ainda porque é uma prova de que as coisas estão melhorando e que a partir de agora, ele tem mais condições de pontuar cada vez mais. O que está acontecendo no momento é muito gratificante para ele que começou cedíssimo. Aos seis anos de idade, ele se apaixonou pelas pistas e na continuidade arrebatou muitos troféus. Teve sucesso em todas as categorias. Corria de Kart brincando, depois de carro e se tornou profissional quando foi para a Europa.

IZZA – Como é seu dia-a-dia com tantos compromissos?

STELA – Num final de semana de corrida, trabalhamos quatro dias praticamente; e os mais puxados são o sábado e o dia da corrida, domingo. Acordamos bem cedo, viajamo na quarta-feira ou quinta se for perto, e se o local for mais distante viajamos antes para nos acostumarmos com a diferença de horário, etc. Vamos para as pistas cedo. Ficamos o dia inteiro, logicamente que Maurício não fica o tempo todo na pista. Somente das 10 às 11h30min. e das 13 às 14 horas, mas o que demora são os preparativos, os acertos. Saímos sempre às 18 horas. À noite, às vezes temos compromissos. O incrível é que as pessoas só olham a parte glamurosa da coisa e pensam que as festas são diárias, mas não é assim. Às vezes temos um jantar com patrocinadores ou com amigos, mas as festas não são tão frequentes.

Em Mônaco sim, é agitado porque é um dos mais tradicionais “Grande Prêmio”. Lá sim há muita festa: todos os patrocinadores oferecem um coquetel ou jantar, e temos que comparecer. Existe o lado de trabalho, atendimento a jornalista, repórteres, e outro lado que é o atendimento aos patrocinadores. O meu dia aqui no Brasil é de férias, descanso. Fiquei em Caiobá, no dia 31 de dezembro, janeiro e fevereiro. Adoro o sol, estava ótimo. Curtimos muito a família. Na Inglaterra procuramos descansar quando estamos em casa, porque as viagens são muitas é, quando regressamos ao lar, queremos mais é relaxar. O Maurício assiste televisão, faz exercícios. Precisa descansar para estar bem para a próxima corrida Geralmente as corridas acontecem de 15 em 15 dias.

IZZA – É admirável a tranquilidade do Maurício. Ele é sempre assim?

STELA – Ele é muito tranquilo, calmo. Até nos apelidaram do “casal da fala mansa”, assim se referem os repórteres a nós Maurício tem boa vontade e é muito queridos pelos amigos.

IZZA – E atrás dos boxes, o clima é calmo?

STELA – Acho que por mais amizade que tenham os pilotos entre si, a competição existe, porque todos querem ter um bom resultado. Isto é uma consequência da competição. Fora das pistas eles são amigos. Pelo menos não vejo problemas, principalmente da parte de meu marido. Existem os mais explosivos que não se controlam, mas isso vem do temperamento da pessoa o que não é o caso do Maurício.

IZZA – Vocês têm planos imediatos?

STELA – Agora o mais importante é voltarmos para a Inglaterra para que o Maurício teste o carro novo, para ver se o motor aprova. No dia 23 de abril está marcada a corrida na Itália.

IZZA – Nestes cinco anos, qual foi o momento mais emocionante?

STELA – Foi a corrida do Brasil, porque a emoção foi enorme e a repercussão foi incrível. Fiquei emocionadíssima, dei um banho de champanhe no Maurício mas na hora eu estava tão nervosa que espirrei tudo nos olhos dele. Ainda bem que no momento da emoção, tudo vale. Nossos amigos vibraram, a família dele estava toda lá, por isso foi maravilhoso. Outra emoção tivemos no ano passado na Inglaterra quando ele recebeu a 1ª pontuação em Silverstown, onde tirou o 4º lugar. Tudo o que é 1º marca e traz muita emoção.

IZZA – Como foi a recepção aqui em Curitiba?

STELA – Muitas pessoas foram recebê-lo no aeroporto, depois foi procuradíssimo para dar entrevistas. Virou herói nacional. Lá no Rio depois da corrida formos todos jantar fora em uma churrascaria.

IZZA: Muita gente não sabia que o Maurício era casado:

STELA – Eu não sou de aparecer muito e tudo depende do interesse das pessoas. Eu estou sempre junto com ele. Já saí muitas vezes na TV mas acho que é tudo muito novo e a divulgação até agora foi pequena. Já demos entrevistas para a Revista Quatro Rodas, mas existem pessoas que não curtem o automobilismo, por isso não estão por dentro do assunto.

IZZA – Pelo que pude observar, o Maurício trabalha com a família não é?

STELA – O irmão Alceu Gugelmin é o empresário dele. O pai trabalha no escritório aqui em Curitiba. A irmã é secretária, e são muito unidos, por isso trabalham juntos. Desde que chegamos, o Maurício tem dado várias entrevistas. A estrela é ele, e conta sempre com o apoio e o incentivo da família que é importantíssimo.

IZZA – De todas estas viagens qual te encantou mais?

STELA – No ano passado fomos para o Japão. Adorei, isso em termos de turismo. Tudo é tão diferente, que fascina. As pessoas geralmente pensam antes em viajar para os Estados Unidos ou para a Europa e deixam o Japão para depois, mas eu afirmo que vale a pena. Tókio é uma maravilha, mas para mim a cidade mais linda é Kioto, tipicamente japonesa, com muitos templos. A comida também é divina.

IZZA – Sendo a moda da Inglaterra tão diferente da nossa, como você transa suas roupas, uma vez que sempre tem que estar bem vestia?

STELA – Para o meu estilo de vida, uso muito mais a roupa esportiva, a não ser em festas. Não me acerto muito com a moda inglesa, que acho demasiadamente tradicional, então compro na Itália, ou deixo para fazer meu estoque aqui porque a nossa moda é mais descontraída. Inclusive para Mônaco, fiz o meu traje em Curitiba com a dona Carmem Dalla Bona. O clima europeu também é diferente, oscila bastante. Só faço compras lá quando vejo realmente uma coisa bem diferente, porque acho que a nossa moda nada deixa a dever a outros centros.

IZZA – Fora desta movimentação toda, o que você gosta de fazer?

STELA – Izza, quando eu comecei a decorar o apartamento em Caiobá, descobri que adoro decoração. Contratei uma firma, mas idéias quem deu fui eu. Escolhi tapetes, etc. Curti bastante, foi uma descoberta nova. Aprecio também jogar tênis, se bem que não jogo há muito tempo, por falta de disponibilidade. De vida social, gosto, mas não é uma prioridade, para tudo existe um limite. Sou contra o alpinismo social. Tudo isso é uma consequência. Onde vou, não compareço para aparecer e sim para me distrair.

IZZA – E a próxima vinda já está programada?

STELA – Se tudo der certo, no final de maio. Até lá…

 

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