Curitiba, 4 de setembro de 1988
STELA ABUJAMRA FARRACHA, simpática, bom papo, diz adorar a vida social e a organização de festas, arte esta que entende muito bem e desenvolve com perfeição, há três anos, como primeira dama do Graciosa Country Club. Esta é Stela, Sra. Carlos Alberto Farracha de Castro (Deco).
IZZA – Há quanto tempo você atua no Graciosa Country Club como primeira dama e organizadora de festividades?
STELA – Como condição de primeira dama, três anos, mas eu já colaborava com o Deco, há dois, porque ele participando há mais ou menos dez anos da Diretoria do Clube, e você sabe, sendo eu uma pessoa dinâmica e ativa estou sempre a seu lado, auxiliando em todos os casos. O Deco já foi secretário, Diretor Social, e eu sempre colaborei e agora como mulher de presidente minha atuação é imensa. Gosto muito, as pessoas, às vezes, se admiram porque não canso, mas acho que quando fazemos alguma coisa de que gostamos e que nos dá prazer, tudo caminha direitinho.
Acredito que tenho jeito para isso, pelo meu temperamento. Adoro lidar com pessoas e o faço com prazer e com amor. É uma responsabilidade muito grande porque tratamos com pessoas que depositaram confiança em nós. Nos propusemos a fazer um trabalho difícil e sério. Às vezes estamos meio na berlinda e um pouco na plataforma, porque as pessoas estão sempre de olho em nós esperamos que façamos cada vez melhor. Por exemplo, o baile das Debutantes. Já fizemos alguns realmente lindos, mas sabemos que este ano, temos que oferecer ainda mais. E uma expectativa grande. De qualquer forma é uma coisa realizadora, produtiva, porque damos muito de nossa capacidade, da energia, e, se conseguimos nos superar, é ainda mais positivo. Está sendo ótimo para mim em termos de vida
IZZA – Realmente Stela, quando mencionamos o Graciosa Country Club, automaticamente, fazemos ligação com a Stela e o Deco.
STELA – Esta colocação eu acho muito interessante. Por sermos unidos e trabalharmos juntos, aqui as pessoas nos vêem como um todo. Associam o Deco a Stela e a Stela ao Deco. Dividimos as tarefas. Eu cuido da parte social e da parte feminina e ele, de todo a outra parte, mas realmente estamos juntos sempre. Esta associação que causamos nas pessoas é muito positiva e estamos felizes de que seja assim, porque as pessoas aqui sempre se sentiram em família. De uns tempos para cá, as coisas cresceram muito, mas os associados continuam se sentindo em casa. Como falei, esta ligação nossa com o Country é positiva e assustadora porque deixa a gente com, de uma responsabilidade muito maior, em termos de sucessão. Estamos satisfeitos porque conseguimos dar ao clube o tom e o clima de antigamente. Digo antigamente, porque todas as pessoas se conheciam, estavam à vontade e consequentemente se divertiam mais por se sentirem entre conhecidos e amigos. E, posso afirmar que conseguimos isto novamente.
IZZA – Vocês têm um amor incrível pelo Clube, não é?
STELA – O Deco sempre se referia ao Clube como sua segunda casa. Eu, antes de colaborar, sempre dizia que iria mandar a mala dele para cá, porque ele sempre teve paixão por isto aqui, desde pequeno, foi do Flamingo etc. Há uns 8 anos atrás, eu até era contra ser da diretoria porque ainda não tinha tanta vivência em Curitiba. Claro, frequentávamos, mas eu ainda não compreendia bem o apego que o meu marido tinha pelo Graciosa. Ele então começou a fazer parte da diretoria. Foi cogitada a idéia de ser presidente. Eu não quis, e ele continuou na diretoria, até que realmente os amigos movimentaram sua candidatura. Aí comecei mesmo a colaborar e me entrosar neste espírito graciosano que é realmente uma coisa contagiante. Atualmente, não digo que gosto tanto como o Deco, mas é uma coisa que faz parte de minha vida, me sinto muito bem, porque aprendi a gostar do Clube, trabalhando nele ao lado de meu marido.
IZZA – É verdade que ele não poderá ser reeleito?
STELA – É uma norma estatutária. Só pode haver dois mandatos, e ele já está no segundo. Só temos mais um ano. Somos bastante felizes nisso mais não sei se teríamos saúde para mais um mandato. Realmente é muito desgastante, desafiante, porque, por mais que se faça, é impossível contentarmos a todos. Este é um problema normal em todas as áreas.
IZZA – Qual é o ponto que você achou mais válido agora em todo este trabalho?
STELA – Tivemos a felicidade de aglutinarmos outra vez o Clube em tomo do próprio Clube. Muitas pessoas voltaram a sentir prazer em frequentar, e o que ajudou muito também foi o incentivo à parte feminina. Hoje em dia as mulheres da sauna têm o seu churrasco igual aos homens. A parte feminina do tênis, do golfe, do vôlei tem suas programações. Tudo isto contribui muito para que o Country tenha esta efervescência e imagem alegre. A frieza ficou de lado. Os jovens voltaram para o Clube. Todos os dias contamos com a presença e muitos deles, seja jogando, ou apenas conversando ou tomando uma coca-cola.
Agora ele não é considerado um Clube apenas de determinada faixa de idade e sim um Clube de todos. Isso nos gratifica demais. É um ponto de encontro, de referência. A juventude tomou conta e temos dado muito incentivo para isso. O Flamingo reviveu de novo, e no próximo ano completa 30 anos, e já estamos programando uma festa grande para comemorar. Sinto que agora todos os departamentos estão agradáveis e completos porque as pessoas têm onde se acomodar, os bares são lindos e simpáticos e concorridíssimos.
IZZA – E antes deste trabalho. Você curtia muito a vida social?
STELA – Sempre adorei a vida social, mais do que o Deco. Ele adora a parte administrativa, de obras etc., mas eu gosto de badalação, muita movimentação. Agora estamos nos movimentando em torno do Baile de Debutantes. É o quarto que organizamos. Apesar do trabalho, é uma delícia. Faço questão de cuidar de tudo pessoalmente.
IZZA – Quais são os pianos para este Baile?
STELA – Estou vendo se me esmero bastante porque é o meu último baile. Estou com mil idéias na cabeça. Creio que tudo sairá perfeito. Sempre trabalho com a “Flor de Liz”. Estamos com vários esboços, mas a Orquestra já está contratada, as fotos das meninas já estão tiradas e pretendemos fazer uma montagem bem bonita. Quanto ao estilo, como o Country tem um estilo bem inglês, sempre parto para o tradicional que é o que mais se adapta. No ano passado foram usadas na de- coração dez mil orquídeas. Foi lindo, e diferente. São 35 debutantes. É um número bom.
IZZA – Q que você pensa sobre as pessoas de fora considerarem o Clube um mito ou uma coisa inacessível?
STELA – Acho que existe muito disso ainda. Para uma grande parte de pessoas, o Country é inatingível, ou que dá um tremendo status. O que existe realmente, é um pessoal antigo, de tradição. E fechado realmente. Mas temos que levar em conta que é um Clube pequeno. Sei que muitas pessoas gostariam de fazer parte, mas se assustam um pouco. Talvez esta imagem tenha sido criada por termos poucas ações patrimoniais, somente 1800, e com as famílias correspondentes são aproximadamente sete ou oito mil pessoas. Observo que muitos têm uma ideia errônea, principalmente as que não conhecem ou que nunca vieram aqui, porque as que já vieram com certeza, já mudaram sua impressão.
IZZA – Essa impressão das pessoas viria da dificuldade do ingresso de novos sócios ao Country Clube?
STELA – Bem, ainda existe o sistema de aprovação, de bola preta ou bola branca como antes. Mas acho que, sinceramente uma das maiores barreiras, é o fator econômico, por- que tudo gira em tomo de OTN, e não fica muito fácil. Fora isso, há a votação da Diretoria. Em nossa gestão tivemos pouquíssimos sócios porque é uma das propostas do Deco, em termos de Clube, foi fechar cada vez mais, devido ao espaço físico. A população flutuante do Clube não é grande, mas existem as famílias, filhos que vão aumentando. O Deco fechou com essa elevação de taxas. Tivemos somente 5 ou 6 sócios novos. Devemos reconhecer que ser sócio daqui é um investimento pessoal enorme.
IZZA – Stela houve alguma inovação nos estatutos?
STELA – Houve uma que acho importante. Por exemplo, se uma mulher tem uma ação, antigamente, se ela casasse, esta ação seria passada para o nome do marido, e se ocorresse uma separação, ele ficaria, e ela não. Agora é diferente. Se ela casar, o marido fica dependente dela, e no caso de separação, ela continua sócia e dona da ação. Acho isto justo. Essas mudanças foram ótimas: são conquistas femininas.
IZZA – Agora vamos falar de você?
STELA – Tenho três filhos, grandes. Tenho uma filha de 19 anos que está no 29 ano de Direito e já trabalha com o pai, Patrícia Depois vem o Carlos Alberto com 17, e a pequena que é a Vanessa com treze. No começo, quando o Deco foi eleito pela 1ª vez, minha filha tinha acabado de debutar e eles apesar de gostarem muito daqui se ressentiram com a minha falta de casa porque passei a ter mais compromissos, e nunca havia trabalhado fora Como sou muito ativa, sempre participava, me envolvia colaborando quando me pediam. Mas essa minha ausência até fez bem para meus filhos porque aprenderam a ser mais independentes.
IZZA – E quando acabar essa fase do Clube, você tem algum piano de atuação?
STELA – Pode ser que eu faça alguma coisa na área de relações públicas, assessoria ou, não sei. Por enquanto, o importante é acabar bem esse trabalho. Fora desta movimentação, gosto de ler, de jogar tranca, me distrai. Sempre que podemos, viajamos. Não sempre, porque quando temos alguma programação aqui no Clube, não dá. Uma vez por ano viajamos os dois e o verão passamos em Caiobá.
IZZA – Você não é curitibana, não é?
STELA – Não, minha família é de São Paulo, mas eu nasci em Jacarezinho, Norte do Paraná. Meu avô materno fundou Jacarezinho. Praticamente conheci Curitiba quando casei, porque minha mãe estudou aqui, e tinha aqui raízes muito fortes. Acho que é uma coisa de destino, pois quando eu estava com minha vida toda programada para estudar em São Paulo, por acaso viemos para cá e, mal cheguei, já conheci o Deco e casamos. No início achei meio provinciano e quadrado e fiquei meio assustada. No primeiro ano foi difícil. Hoje eu amo Curitiba e não gostaria de morar em outro lugar.
Uma cidade ótima, onde temos mais qualidade de vida, meu marido almoça em casa, temos mais condições de vivência familiar e chegamos rapidamente a qualquer lugar. A sociedade é ótima, me sinto muito bem. Claro que é fechada, estruturada em bases antigas. Para quem vem de fora, deve ser difícil, mas eu adoro porque aqui todos sabem quem é quem, todos se conhecem. Veja aqui dentro, até existem algumas pessoas que trabalham aqui há muitos anos, o Juquinha, o Manequinho, a Edith, a Negrinha que já fazem parte do Clube, são conheci- dos e conhecem um por um, e isso nos outros centros é mais difícil.
IZZA – E para finalizarmos esse bate papo?
STELA – Eu gostei muito de conversar com você e estou sempre às ordens porque gosto muito de conversar, talvez peio meu jeito assim comunicativo. Tenho uma alegria de viver muito grande, faz parte da minha personalidade do meu temperamento e tenho sempre prazer nas coisas que faço, principalmente com meu trabalho agora. Também acho que a minha família contribui muito, e se eu tivesse que casar novamente, seria com ele, o Deco, apesar daquela pitadinha de machismo curitibano, mas que já melhorou bastante (isto é típico, mas com a contribuição das mulheres já está diferente). Sou uma dona de casa e mãe, com muitas atividades e com uma postura como qualquer empresária. Consigo aliar as duas coisas e isso me faz sentir feliz e importante.