Curitiba, 14 de agosto de 1988
NORMA CAMARGO, destaca-se pelo dinamismo, desenvolvendo inúmeras atividades no campo comercial. Responsável pela “Natan” proprietária de duas boutiques, relações públicas do Shopping Mueller, Norma faz do seu dia-a-dia constante acúmulo de conquistas. Mãe de Rui, Mareia e Ângela. Esta é Norma, Sra. Marins Alves de Camargo Neto.
IZZA – Você acha vantajoso ter uma loja no shopping?
NORMA – Acho, mesmo que mais dispendioso aparentemente, mas oferecem a vantagem da segurança, estacionamento na porta, promoções e se é mais caro, é justo que seja. Saio de noite, fecho a porta e vou embora. Volto na manhã seguinte e está tudo bem, e depois se a loja vende bem, não interessa o aluguel que se paga. O importante é vender, talvez, se não for o caso, seja mais interessante estar fora, onde os gastos são menores. Aqui dentro, o Shopping se encarrega as promoções; lá fora já não existe esta tranquilidade.
Se pusemos tudo isso na ponta do lápis, dá no mesmo, e com mais uma vantagem. Acho que este é o lugar de mais vendas porque aqui dentro não temos somente o cliente curitibano de dentro da cidade, e sim os de fora também, do Estado inteiro. Quando uma pessoa vem a Curitiba, a primeira coisa que faz é entrar no Mueller. Vejamos por nós mesmos quando vamos a São Paulo e dispomos de pouco tempo, entramos no Iguatemi ou no Ibirapuera, porque circular na Augusta, Oscar Freire, na Consolação, com o objetivo de achar alguma coisa, leva muito tempo. Entramos num lugar onde podemos encontrar todas as lojas.
IZZA – E a concorrência aqui dentro não atrapalha?
NORMA – Acho que deve existir a concorrência porque se não houver, não impulsiona, e mesmo com toda esta concorrência acho que o lojista devia caprichar mais em sua loja. Algumas não são tão bonitas como deveriam ser e isso não é culpa do Shopping e sim do próprio lojista. A Natan, por exemplo, é uma loja lindíssima, de destaque, mas veja você, pode-se contar nos dedos as que, realmente se destacam aqui dentro por serem de alto padrão. Inclusive já observei pessoas que têm também lojas fora daqui e que são mais bonitas, pois o próprio lojista fez esta diferenciação. Quando entro neste assunto, me respondem que aqui deve haver preço, mas acho que manter o padrão é o mais importante. Mas já temos lojas maravilhosas e atualmente creio que o MIX do Shopping já está sendo formulado por- que a ideia é oferecer o máximo em qualidade. Sei que muita gente pensa que aqui os preços das lojas são impossíveis, mas eu te pergunto, será que alguém gostaria de vender a sua? Os que vendem bem jamais se desfariam. Temos que concordar que as vantagens são inúmeras.
IZZA – Esta marca “New Captain” é idéia sua?
NORMA – Eu estou lançando uma marca porque a New Captain está começando. E veja, eu tenho que ficar conhecida. Aqui dentro ela já existe, brevemente estará também no Batei e depois quem sabe, na cidade, em Florianópolis ou em outros centros. Em Curitiba, não existe nada no gênero e eu acho que as pessoas adoram e pretendo até sofisticar. Associei tudo isto ao meu filho, ao meu marido, que curtem loucamente mar, barco, e é por isto que esta marca nasceu. As duas lojas já existem há dois anos e a da minha filha é só de moletom, malhas, e não ê só minha, é da Tereza Meyer também. Roupa Jovem.
IZZA – Você morou no Rio de Janeiro. Lá você já trabalhava?
NORMA – Não. Morei sete anos no Rio de Janeiro e lá não tinha atividade específica, era só consumidora e nunca havia pensado em trabalhar. O trabalho surgiu em minha vida por circunstâncias. Creio que estava na hora porque meus filhos estavam criados, meu marido havia tido alguns probleminhas e eu então resolvi começar. Não me arrependo porque foi a melhor coisa que fiz em minha vida. A gente aprende o que é a vida, cresce. Não é somente em lanchinhos, passeios, que chegamos realmente a saber o que é viver. Começamos a viver na hora em que a vida nos chama. Iniciei por acaso. Como me dava bem com a filha do Natan, me propuseram trabalhar e eu me dei melhor do que esperava.
IZZA – Norma, você não acha que o dom de vender nasce com a pessoa?
NORMA – Acho, não sei se isso tem alguma relação, mas quando eu era pequena adorava brincar de armazém. Sou deste tempo, em que as pessoas compravam no açougue, no armazém, e mandavam anotar no caderno. Eu tinha paixão, adorava brincar disto e arranjava sempre alguém que vinha comprar e achava aquilo uma maravilha. Certa vez no Rio de Janeiro, levei algumas camisolas para casa a fim de oferecer para amigas e consegui vender todas, inclusive para minha amiga, a filha do Natan. Certa vez, ela comentou que ficou impressionada por eu ter conseguido vender para ela. Dois anos depois, surgiu a idéia de voltarmos para cá e ela lembrou disto e me ofereceu trabalhar com a Natan. Acho que uma das coisas mais fantásticas, é alguém entrar na loja querendo um colar de pérolas que idealizou, e sair com um anel porque não temos o colar pretendido. Vender aquilo exatamente que se quer vender.
Acho que isto nasce com a pessoa. Não se aprende porque não existe este aprendizado. É necessária muita força para isso, e muita sutileza A venda deve ser feita com muita sensibilidade. Temos que sentir o que o cliente está querendo e, às vezes, ele não está nem querendo nada ou não sabe o que quer. A arte está no induzir sem forçar. Não é qualquer um que se dá bem em vendas. Aqui na loja a venda é dirigida digo as maiores vendas. Quando trago uma peça, já sei para quem devo oferecer, quem gosta o poder aquisitivo, etc. Sinto que tudo está indo muito bem e adoro vender, e isto começou de repente e me sinto realizada fazendo o que faço.
Não trocaria por nada, em pela vida de Vieira Souto, praia etc. Nada disto. Claro, foi também uma época maravilhosa, tempos de Oscar, mas passou. Hoje em dia levo uma vida tranquila, dando satisfações realmente às pessoas que me cercam, meu marido, meus filhos e meus pais também, sempre com otimismo. E estamos aí, meus filhos independentes, cada um trabalhando, ganhando seu dinheiro sem maiores problemas, encaminhados. Por isto tudo, me sinto realizada e quero continuar assim por muito tempo porque minha mãe trabalha há trinta e cinco anos, tem uma ótima cabeça, creio que isto tudo é o trabalho. E eu sempre vou estar vendendo alguma coisa, seja Natan, seja New Captain ou SP.
IZZA – O fato de trabalhar fora nunca influiu na família?
NORMA – Quando comecei, meus filhos já eram grandes, a mais moça já estava com 12 anos. Claro que no início eles devem ter sentido falta porque estavam acostumados a me verem o tempo todo. Passei a sair de casa às 10 horas da manhã e voltar somente às 10 horas da noite, e no fundo ficaram ressentidos, mas eu peguei uma idade em que eles já eram um pouco independentes. Acredito que se fossem pequeninos seria diferente porque um bebê necessita muito da mãe, mas ao mesmo tempo acho que toda a mulher que tenha organização consegue fazer as duas coisas.
IZZA – Você como boa virginiana que é, gosta de organização?
NORMA – Sou super organizada, gosto de tudo certinho, nem que isto exija bastante esforço e estou atualmente num ritmo que consigo encaixar tudo, até a vida social que adoro.
IZZA – Você consegue ter a vida social depois de um dia de trabalho intenso?
NORMA – Consigo e adoro. É intensa e, além disso, faz parte do meu negócio; quem não aparece não é lembrado. Faço questão de cumprir todas as minhas obrigações sociais, que não acho que sejam obrigações, e sim um prazer estarmos com as pessoas que admiramos. Só não compareço quando realmente não posso, caso contrário estou sempre presente onde sou convidada e retribuindo na medida do possível. Fora disto ainda dedico algumas horas para mim mesma para me cuidar um pouco, na Socipar.
IZZA – Sei que é difícil, mas fale um pouco sobre você.
NORMA – Eu como mulher adoro me arrumar, inclusive falam que eu sou muito arrumadinha. Eu faço questão de estar sempre assim, porque fui criada desta forma. Filha única e minha mãe também sempre foi assim, e além disto sou extremamente vaidosa e esta é obrigação de toda mulher em meu ponto de vista. Me curto e adoro estar com meu peso, com o cabelo sempre arrumado, bem estruturada. Isto também faz parte do meu trabalho. A boa apresentação é muito importante. Tenho poucas amigas, mas sinceras, e eu como amiga sou também muito fiel. Nunca tive uma infinidade de amigos porque me importa mais a qualidade, me preocupo com os outros e na minha vida particular me dedico a minha família, para dentro de minha casa.
Sou extremamente otimista porque não consigo ver nada negro em minha frente e quando acontece um mal-estar eu já trato de mandar para cima. Uma vez fiz o curso da Cristine Yufon e ela sempre dizia uma frase que me marcou “As pessoas sempre jogam a bola numa atura que podem aparar e eu sempre jogo a minha muito alto e procuro aparar lá em cima”. Acho que a vida já é tão complicada que se não tivermos força e otimismo, as coisas se tomam muito difíceis. Acho que o ser humano tem a capacidade de puxar as coisas boas ou más para si próprio. Temos que procurar porque nada acontece, se não dermos uma força para que aconteça.