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“EM NOSSO ESTADO, O BOM EXEMPLO VEM DE CIMA” expressa Maria Francisca Vellozo

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Curitiba, 10 de julho de 1988

MARIA FRANCISCA MAEDER VELLOZO é uma mulher realizada em termos de atuação. Querida por todos, simpática e falante, foi a primeira mulher gerente de banco em Curitiba. Seu curriculum é extenso, principalmente na área empresarial. Bilíngüe, desenvolveu também seu trabalho em Assessoria e Organização de eventos para empresas. Coordenadora Administrativa da Orquestra Sinfônica do Paraná, diretora administrativa e financeira da Paranatur, diretora técnica da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Mulher, membro do Coind entre outros. Atualmente Maria Francisca é a chefe do Cerimonial do Governo Álvaro Dias, cargo esse que desenvolve com seriedade e competência.

 

IZZA – Como foi a sua vida pública até chegar ao cerimonial?

MARIA FRANCISCA — Em 85, eu desenvolvia uma atividade independente de assessoria e organização de eventos para as empresas, e atendia entre elas, a área bancária, onde atuei por muito tempo. Nesta oportunidade, uma das vezes que fui ao Teatro Guara, onde a Orquestra Sinfônica do Paraná tinha recém estreado, os diretores me perguntaram se eu teria interesse em dar continuidade ao trabalho como coordenadora. Seria um novo desafio em minha vida, e como desafio é comigo mesmo, aceitei. Foi minha primeira experiência na vida pública, e essa experiência foi muito gratificante. O meu contato maior era com as artes plásticas. Com a música, eu pouco conhecia, a não ser ouvir autores famosos como Mozart, que eu adoro, Wagner, enfim eu não sabia o funcionamento do dia-a-dia de uma orquestra. Foi um ano muito proveitoso.

IZZA – Qual foi o próximo passo?

MARIA FRANCISCA – Quando o João Elísio assumiu o governo do Estado, me convidou para assumir a diretoria administrativa e financeira da Paranatur. Passei nove meses lá. É um órgão estatal muito bem estruturado. Foi uma gestão maravilhosa e sai muito feliz também por ter colaborado na conclusão de obras que vinham se arrastando de ano para ano. Inauguramos a Escola de Hotelaria e o Terminal Turístico de 1º de Maio. No final do ano soube que seria aproveitada na equipe do governador Álvaro Dias, que havia conhecido na época da campanha política. Em janeiro de 87, o governador formalizou o convite para assumir o Cerimonial.

Aceitei, pois seria mais um desafio. Possuía algum conhecimento na área não do protocolo em si, o meu maior conhecimento era na parte de eventos. Eu sabia que o Cerimonial também teria muitos eventos. Fui a Brasília e lá fiquei uma semana, estagiando no Itamaraty. Foi uma semana proveitosa onde tive a oportunidade e ter um contato multo próximo com o protocolo, as cerimônias. Vi realmente como era um “Cerimonial do Itamaraty*. Também fui conhecer de perto o do Planalto. Estagiei um dia com o atual chefe do Cerimonial do Palácio do Planalto, o ministro Julio Cesar Gomes dos Santos. Voltei a Curitiba e comecei a me estruturar para assumir o novo cargo. Com o convite veio com dois meses de antecedência, deu para me esquematizar bem, inclusive com a equipe que iria fazer parte da minha gestão aqui.

IZZA – Você não acha que multa gente em uma visão errônea sobre um Cerimonial?

MARIA FRANCISCA – Acho, porque se fosse realmente só Cerimonial, atenderíamos à parte protocolar do governador, mas ele ê mais amplo. Atendemos as viagens do governador, convênios, compromissos fora do Palácio, o Corpo Consular no seu entrosamento com o governo.

IZZA – O Cerimonial é dividido em setores?

MARIA FRANCISCA – Fazem parte do Cerimonial, quatro divisões. Uma delas é assuntos estrangeiros que faz essa ponte com a área consular e também com o Itamaraty, visando as visitas com os embaixadores. Outra é de assuntos internos, que cuida da administração e das homenagens que o governador presta. Temos de promoções e eventos que cuida da agenda de viagens do governador e eventos locais, e a de serviços gerais que atende a copa, cozinha, e também uma parte da residência oficial. Como você pode ver, o Cerimonial é um setor bem abrangente, não se limita, não é somente um conjunto de normas que se deve seguir numa solenidade. E, para atender a tudo isso somos uma equipe de quinze pessoas entre assessoras e assistentes. Administramos inclusive a sonorização das solenidades.

IZZA – Você sempre apreciou essa Área?

MARIA FRANCISCA – Gosto porque o contato com pessoas de diversos segmentos é permanente. O universo de conhecimentos se toma mais ampla O campo em si ê espinhoso porque requer muita habilidade no trato, principalmente com os políticos.

IZZAVocê tem que estar constantemente presente?

MARIA FRANCISCA – Sim, em geral divido minhas atividades aqui, com as viagens pelo interior acompanhando o governador. Desenvolvemos um trabalho de equipe. Sozinha não conseguiria cobrir as distâncias que ele percorre num final de semana, utilizando o automóvel como meio de locomoção. Para acompanhá-lo é preciso ter pique e estar sempre com disponibilidade de tempo.

IZZA – Você imaginou algum dia, chegar a um cargo essa importância?

MARIA FRANCISCA – Nunca imaginei, principalmente porque eu sempre estive mais ligada a iniciativa privada. Não por falta de interesse, mas sim por falta de oportunidade. Acho bom que existam pessoas da iniciativa privada na área pública, para justamente ajudar a dinamizá-la. Essas pessoas possuem outra visão daquela normal do funcionário público. A gente está constantemente aprendendo, é uma escola diária porque sempre surgem fatos novos, situações, muitas vezes em que temos que improvisar.

IZZAE como fica a sua vida com tantas responsabilidades?

MARIA FRANCISCA – A gente esquece da vida particular, porque desde a hora que se aceita um convite desses, já não se é mais dona de si própria. A responsabilidade que o cargo exige, estar disponível 24 horas por dia, às vezes não temos sábado nem domingo, é um trabalho constante não só para mim, mas para todos que trabalham no Cerimonial.

IZZA – As mulheres se ocupando mais em cargos, não esquecem um pouco do outro lado, casa, marido, filhos, etc.?

MARIA FRANCISCA – Depende da forma como ela foi criada. Eu pude, nesses anos todos, conciliar a minha vida familiar com a profissional. Tenho dois filhos e eduquei-os sem crise, sem problemas. Hoje meu filho é advogado, e minha filha, técnica em turismo. Atualmente passa temporada em Londres, adquirindo experiência na área de hotelaria.

IZZA – Como seus filhos vêem a sua parte profissional?

MARIA FRANCISCA – Eles se criaram praticamente com a mãe fora de casa e com isso, se tomaram muito responsáveis desde cedo. Muita coisa que fiz na minha juventude eles nem puderam fazer, porque suas responsabilidades vieram antecipadamente. Minha mãe me ajudou na educação dos dois e eles têm um carinho especial por ela. Não tive problemas nesse ponto. No início, quando eram pequenos, sentiam minha falta, mas à noite, eu sempre estava em casa na hora do jantar, e com o carinho dobrado, acho até, que filhos de pais que trabalham são mais responsáveis, justamente por ver em que a vida hoje não é fácil e que todos disputam um lugar ao sol e que eles também vão ter que lutar para consegui-lo.

IZZA – Você ficou um bom tempo na área bancária, não é?

MARIA FRANCISCA – Fiquei treze anos. Entrei em 1971 no Banco Nacional, convidada pelo Glower Duarte. Na época foi criada a primeira agência feminina e eu fui a primeira gerente mulher. Essa fase marcou porque, para fugirmos um pouco da rotina do banco, o Glower teve a idéia de montar uma galeria de arte no Banco, para atrair mais clientes, inclusive para financiamento. Além do atendimento normal ao público, funcionava na sobreloja uma galeria de arte. Os pintores que vendiam suas obras através de uma conta-corrente, passaram a receber no banco, no ato, os financiamentos dessas obras.

Na época, financiávamos até 24 meses. Conheço muita gente que possui coleções maravilhosas adquiridas assim. Foi uma inovação. Os pintores se sentiram muito gratos e valorizados. Promovemos pintores de renome no Paraná e lançamos novos valores. Encerrei minha carreira bancária em 83, quando montei minha firma individual de assessoria e organização de eventos para as empresas. Foi muito bom, pois com os conhecimentos na área empresarial e na política, me sai bem.

IZZA – Como você arranja tempo para estar sempre bem?

MARIA FRANCISCA – Há um descrédito muito grande por parte do povo em relação aos governantes. Quando os elegemos, esperamos que eles levem a sério a coisa pública, principalmente quando envolve o dinheiro do povo, que deve ser respeitado. No nosso Estado, o bom exemplo vem de cima. Com a definição do mandato do presidente Sarney, o que se espera é que ele o cumpra satisfatoriamente.

IZZA – Finalizando, o que você teria a dizer?

MARIA FRANCISCA – Todas as áreas pelas quais passei, tiveram seu lado positivo, gratificante. Experiência se adquire vivendo o dia-a-dia. Acho que a mulher precisa participar mais em tudo, deixando a timidez de lada Só assim ela será respeitada e admirada na sociedade atual

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